quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

CRÍTICA: A REDE SOCIAL / Importante é levar vantagem em tudo, certo?

Mr. Facebook ouve de Mr. Napster o segredo do sucesso.

Quando fiquei sabendo que seria lançado um filme chamado A Rede Social, pensei: putz, um filme sobre o Facebook? Pra quê? Vão fazer um filme sobre o Google também? Mas admito minha ignorância. Rede não é exatamente sobre o Facebook, mas sobre a criação desse troço que hoje reúne meio bilhão de membros (eu não estou entre eles). Mais do que isso, é sobre Mark Zuckerberg, esse rapaz que hoje, aos 26 anos, é o mais jovem bilionário do mundo. E mais até do que isso, é sobre a cultura americana. Portanto, vale muito a pena ser visto (sem falar que está sendo alçado às alturas pelos críticos ― que amam David Fincher ― e que deve concorrer a vários Oscars, talvez entrando até como favorito, o que considero uma injustiça com A Origem).
Rede começa com Mark (Jesse Eisenberg), então um aluno de 19 anos de Harvard, sendo um panaca com sua namorada Erica (Rooney Mara, que será a estrela do próximo filme de Fincher). Se você é do tipo que costuma chegar atrasad@ no cinema, faça o favor de não perder esta introdução que, embora fictícia (na vida real, Mark não tinha namorada), explica muito da motivação do personagem. É uma ótima cena, o jantar romântico que dá errado mais inspirado desde aquele em Felicidade (que você pode ver aqui). Mark diz a Erica que quer muito ser aceito para uma fraternidade, e que se isso desse certo, ele a apresentaria a pessoas que ela nunca teria a chance de conhecer. E ainda insiste que ela não precisa estudar porque não está numa universidade conceituada como a dele. Ou seja, Mark é um imbecil. Erica termina o namoro, o chama de babaca, e vai embora. Mark volta pro seu dormitório e, bêbado, depois de falar mal de Erica no seu blog, hackeia a internet para bolar um site que compara as alunas de Harvard no único conceito que importa, sua aparência física. O site é um sucesso total. Por causa dele, três colegas mais populares pedem para que ele progame um site para reunir alunos na faculdade. Mark os enrola, pede dinheiro emprestado para seu melhor amigo, Eduardo Saverin (feito por Andrew Garfield, que será o próximo Homem-Aranha), e cria o Facebook. Todos processam Mark. Contei muito do filme, você acha? Pois esses são apenas os quinze minutos iniciais.
O slogan de Rede resume bem o meu resumo: “Você não consegue 500 milhões de amigos sem fazer alguns inimigos”. Pois é, o chato é que Mark parece ter um único amigo, Eduardo, que além de ser brasileiro é a consciência moral da trama ― e o trai. Mas Fincher mantém uma abertura para que você decida se Mark é um paspalhão ou um gênio. Não preciso nem dizer de que lado estou, né? Lá pelas tantas, ele conhece um carinha que havia sido o criador do Napster (Justin Timberlake), e que vira seu ídolo e mentor. Napster (eu não sei o nome dele; de inventores internéticos famosos, só guardo os nomes do Bill Gates e do Steve Jobs) diz pra Mark que um milhão de dólares não é cool. Cool é um bilhão. Pois então, não pra mim, mas sei que sou minoria nisso. Bilionários não são pessoas especiais, na minha opinião, nem são gênios. Se dependesse de mim eles nem existiriam, porque haveria limite pra riqueza. Quando eu era adolescente, nos anos 80, várias pessoas pensavam como eu. Hoje qualquer sombra de idealismo desapareceu, e ninguém vê nada de imoral em viver num mundo em que um grupinho de mil bilionários tenha mais dinheiro que o PIB de dezenas de países juntos. Pelo contrário, o pessoal acha esses bilionários super bacanas por eles doarem a instituições de alguns desses países pobres.
Assim como ninguém vê nada de errado em que a enorme maioria desses bilionários seja de homens brancos. A ideologia se encarregou de fazer as pessoas acreditarem que é assim que as coisas são, e que vivemos num planeta com oportunidades iguais, e se todas essas pessoas bem-sucedidas são homens e brancos, bem, é sinal de que eles se empenharam mais, e que as minorias simplesmente não estão interessadas. Aliás, a falta de mulheres e negros entre os bilionários e inventores é usada como justificativa de como minorias não têm talento pra coisa (qualquer coisa). E Rede dá uma boa mostra do papel de homens e mulheres. Mark cria o Facebook para se vingar da ex, para saber em quais turmas as garotas gostosas estão, e para poder ingressar num clube onde será aceito (contrariando a lei de Marx, não do Karl, mas do Groucho, de que jamais entraria prum clube que o aceitasse como sócio). Napster, movido a sexo com moças bem novinhas, menciona que um sujeito inventou o Victoria's Secret para poder presentear a namorada com lingerie. Vivemos num mundo onde homens ricos criam apetrechos para se darem bem com mulheres bonitas. Uma cena emblemática acontece lá pelo meio do filme, quando duas moças estão numa reunião em que Mark e Eduardo delegam funções. E um dos rapazes nota a presença de duas moças sentadas num sofá e pergunta: peraí, quem são essas duas? E elas não são nada, apenas namoradinhas dos chefes. Elas querem saber se podem fazer alguma coisa, e a resposta óbvia é não, fiquem sentadinhas aí.
Mark julga todo mundo o tempo todo, e obviamente se sente superior. É um revoltado. Mas não revoltado com a desigualdade social no planeta, já que pra um sujeito que consegue pagar a anuidade de Harvard (50 mil dólares por ano), esse não é um problema. Não, ele é revoltado por não poder entrar na fraternidade que lhe trará garotas gostosas. No universo de Mark há castas sociais (ele aprendeu isso no high school, lógico): homens são medidos pela popularidade, que é medida pelo dinheiro e pelo número de amigos e de namoradas (que, obviamente, não pode ser qualquer uma. Precisa ser hot, ou o contrário seria tão negativo pra popularidade quanto ter um carro velho). Mulheres são medidas pela beleza. Só. Isso em pleno século 21. E numa das melhores universidades do mundo.
Essa mentalidade de frat boy (de universitários que pertencem a fraternidades, clubes separados por castas) que ensina que alguém, pra ser alguém, precisa ser bem sucedido, precisa ser popular, é uma marca registrada dos Estados Unidos. Por isso Rede é um filme tão americano. E tão masculino. E o que Mark quer é o que boa parte dos jovens brasileiros (e de outros países emergentes) de classe média quer também. Usam os mesmos tênis, os mesmos bonés, ouvem as mesmas músicas ― por que não copiariam os mesmos valores?
Mas claro, cada um verá o filme de acordo com seus valores. Tenho certeza que muitos mais entenderão a mensagem de que “o mais importante é levar vantagem em tudo para ser cool e bilionário” do que “dinheiro não traz felicidade”. Muito mais gente verá Mark como um modelo de vida do que como exemplo de arrogância e deslealdade a ser evitado.
Leia a segunda parte da crítica aqui.

42 comentários:

Fabiana disse...

Sabe, eu achei meio simplista essa interpretação do David Fincher. Acho que essa popularidade das redes sociais, encabeçadas pelo Face, deveria ser melhor explorada.

Mas concordo integralmente com sua leitura do filme.

Ághata disse...

Ah, já vi o trailler deste filme algumas vezes. Não vi muita graça.

Não tenho interesse algum em assistir.

Unknown disse...

Lola..

Eu achei o filme interessante, mas por outros motivos.. A narrativa dele é bem apropriada, os cortes das cenas com informações de tempos diferentes faz referência ao próprio modo como nós procuramos e recebemos informações na internet. Achei isso bem legal no filme.

Mas achei a sua análise muito boa, não tinha pensado muito bem nesse aspecto do filme, mas a sensação quando saí do cinema era bem a contradição: "ele é um gênio, mas é um bosta"

Quanto a essa cultura de levar vantagem e tudo há um outro filme, também bem ilustrativo, que conta a história dos moços Bill Gates e Steve Jobs.É o Piratas do Vale do Silício.

Giovanni Gouveia disse...

Eu colocaria no sub título:
"Ninguém fica bilionário sem pisar na cabeça de alguém" (Pareto confirma)

Amanda disse...

Eu odiei esse filme e so não sai no meio pq estava nevando e eu ia ter que ficar esperando meu namorado. Acho o cara um merdinha de gente e o filme de um machismo so. Todas as garotas do filme são tratadas como idiotas, exceto duas: essa que aparece no inicio do filme e outra que transa com o Napter. Fora isso, elas são esdruxulas. A cena em que o cara joga uma latinha pra uma menina e ela deixa cair duas vezes é ridicula. Como se em Harvard so tivesse garotas preocupadas com maquiagem. Serio, quero distancia desse mundinho de fraternidades. Mesmo em filmes.

Shiryu de Dragão disse...

Ufa... ainda bem que a Lola nunca vai ser presidente de algum país. Pq sou totalmente a favor da existencia de bilionarios. O que tem de errado em ser tao rico? Acho bom poder sonhar com isso.

Brivaldo disse...

Boa crítica,achei um filmaço(o melhor do ano, junto com A Origem), mas não concordo em alguns pontos. Acho que o Pedro Doria resume bem oq eu penso: http://blogs.estadao.com.br/pedro-doria/2010/11/22/por-que-%E2%80%98a-rede-social%E2%80%99-menospreza-zuckerberg/

Vivien Morgato : disse...

Eu quero ver, o tema rede me interessa muito. Acho a cultura digital fascinante.
Esse sistema de castas, como vc o chama, sempre me assusta quando o vejo em filmes.
E essa representacao parece ser descolada da nocao temporal, como se sempre existisse.
A naturalizacao disso ealto perverso. Aterrorizante.
Mas quer saber o que ainda e pior?
Alguns de meus alunos repetem isso,como se pudesse ser uma verdade no Brasil...ou melhor, como se fosse extremamente bacana se houvesse isso aqui.
Uns alunos elaboraram videos que deveriam supostamente analisar a representacao dos adolescentes na midia.
Fizeram os trabalhos e gostei.
Entretanto, os trabalhos tratavam essa representacao como real e presente na sociedade brasileira. Ignorando os problemas reais e cotidianos, trazia pra si, uma interepretacao exogena e chamava de sua.

Anônimo disse...

Vou ver o filme. Pela sua sinopse, concordo: o cara é um paspalhão. Provavelmente, é também um gênio. Uma coisa não exclui a outra.

Kaká disse...

Eu gostei muito do filme, a trilha sonora é fantástica. Gosto muito do trailer com Creep do Radiohead.
Acho que a frase mais importante é dita pela namorada no início: as pessoas não gostam de você porque você é nerd, é porque você é um babaca.
Fiquei com vontade de sair do facebook no fim do filme, mas acho que o Mark Zuckerberg é um gênio sim. Na verdade ele viu além do momento paquera/conhecer garotas, para ele todo mundo quer ser visto, e de certa forma ele tem razão.
Acho também que o dinheiro não era o objetivo principal dele, mas foi um bônus e uma estratégia muito bem feita. Ele só aceitou dinheiro de fora depois de estabilizada a empresa.

Dito isso, eu não adicionaria ele como amigo.

Amanda disse...

So completando, o cara não tem nada de gênio: o orkut nasceu antes do FB.

Giovanni Gouveia disse...

Sobre o texto:
Giovanni Gouveia curtiu isso... ;)

Anônimo disse...

Vi o filme e gostei (mas ainda não tive tempo de escrever sobre ele lá no blog, fessôra no fim do ano é dureeeza...). O problema é que o roteiro foi feito a partir do livro do Ben Mezrich, escrito sob o ponto de vista de quem se sentiu lesado pelo Mark Zuckerberg (Mark não quis dar entrevista para ele). Então a gente fica sem saber como exatamente as coisas aconteceram, só vê a história por um lado.
E, só pra constar, Mark acaba de ser escolhido Homem do Ano pela revista TIME.
Mônica
@madamemon

Brivaldo disse...

Me desculpe Amanda, mas o cara é um gênio sim. Uma coisa é inventar a roda, a outra é saber oq fazer com ela. Orkut, MySpace e outras redes sociais vem afundando com o tempo devido ao avanço e sucesso do "caçula" ousado chamado Facebook.

Ana Rute disse...

Lola, mesmo com sua crítica ainda não entendi porque o filme tá tão bem cotado.
achei tão... sem sal.
a história e o tema são interessantes, mas o filme não.

Giovanni Gouveia disse...

Ana Rute, lembrei de uma propaganda de uma peça de teatro:
"A crítica gostou, mas a peça é boa" :D

Bruno S disse...

Eu não vi ainda,

mas me parece que apesar de o cara ser provavelmente um babaca, ele teve uma ideia genial e soube lucrar com ela.

E isso é interessante sim. E o ponto sobre ele se tornar bilionário demonstra, para mim, o quanto de dinheiro que se movimenta em torno de sua empresa.

A despeito de ser justo ou injusto, é uma visão de nosso mundo.

Ana Rute disse...

Giovanni,
hahah é, talvez só eu que achei chato mesmo!

Vitor Ferreira disse...

Lola, eu nao curti muito o filme nao, como coloquei no meu blog logo que o vi, pra poder fazer uma itnerpretacao fresca dele, e nao entendo todo esse oba-oba em cima dele.

Falam muito do ator que fez o protagonista, mas achei ele muito monotonico. Menininho rico cheio do mimimi... Ele nao tem muita nuance. Enfim.

Se quiser ir lá dar uma olhada:
http://vitormcz.blogspot.com/2010/10/secao-cinema-critica-rede-social.html

Cirilo Vargas disse...

Achei o filme muito bom, como os outros trabalhos do David Fincher. O personagem principal e o criador do Napster (seu manipulador) me parecem dois gênios da informática. Mas pessoas deploráveis. Individualistas, ultra competitivos e gananciosos ao extremo.

Anônimo disse...

Maravilhosa sua análise, Lolita.
Um amigo fez uma crítica também negativa comparando o filme com Cidadão Kane, mas mostrando o quanto este é superior em enredo, em personagens, em história, em tudo. Não duvido, ainda não vi o filme, mas tenho certeza que é apenas mais um filme que para muitos loucos por dinheiro serve como um 'auto-ajuda', incentivo à "prosperidade". Pras picas com isso!

aiaiai disse...

Eu não sei se vou ver o filme...ando com preguiça de ir ao cinema (kkkkk)...mas não entendi essa parte do seu texto:

"Mark cria o Facebook para se vingar da ex, para saber em quais turmas as garotas gostosas estão, e para poder ingressar num clube onde será aceito..."

Como assim ele cria o facebook para se vingar da ex?
Vc disse que a cena é ficção...q o cara não tinha namorada nenhuma....
O filme criou a namorada só para ele poder se vingar? Se for isso, na vida real ele criou o facebook para quê? Para se vingar de todas as feminazis que não dão para ele? (como muitos dos comentaristas que vemos por ai afora????KKKKKKKKKKKKKKK)

Explica pra mim, tia lola, please!

lola aronovich disse...

Quiéisso, Dandi. Ñ tem nem comparação com Cidadão Kane, um dos grandes clássicos do cinema. Tudo bem, ambos os filmes falam de crápulas visionários que contribuíram pra criar algo midiático, mas Fincher nunca vai ser Welles. A sofisticação e a criação das tomadas de Cidadão não aparecem em Rede não!


Aiaiai, Rede é muito bom, e se vc não quiser ficar fora do Oscar (e não vai querer, vai? Vou organizar meu tradicional bolão do Oscar!), é melhor correr ao cinema. Sobre a minha frase, tem razão, a ex-namorada é fictícia, então na vida real ele não cria o Facebook pra se vingar da ex (aliás, é um salto que dou, porque ele se vinga da ex na noite que toma o fora, e só cria o Facebook meses depois), mas pra abrir um clube no qual ele seria aceito. E ele tem uma raiva imensa que as garotas não gostem dele. Mas aí é que tá: não gostam não por ele ser nerd, mas por ele ser boçal. Sexta publico minha segunda e última parte da crítica sobre o filme. Talvez aí dê pra entender melhor.

Pentacúspide disse...

Alguém comparou A REDE SOCIAL ao WALL STREET, o primeiro,

http://cinephilus.blogspot.com/2010/11/rede-social-titulo-social-network.html

e de facto a temática é o mesmo. Mas essa ideia de que a popularidade é o mais importante não é de agora, aliás. Embora agora com a velocidade de tráfico de informação se tenha agigantado.

Eu não acho o filme machista, segreguista ou algo do género, acho que isso é um problema da realidade e não do filme. Também não acho genialidade nenhum em Mark, apenas bom sentido de oportunidade, como Bill Gates e Steve Jobs (que caíram muito na minha consideração depois de ter visto o filme Os Piratas de Sillicon Valley). Além do mais, facebook teve a sorte de ter algumas celebridades que falaram dele há algum tempo, o que disparou muito a sua popularidade, sem levar em conta que agora não precisam sequer de patrocinar filmes para se referirem a ele, visto que é hoje impossível falar da net sem falar dele. É como o aparecimento do DVD, quando chegou os rappers começaram a cantar a dizer que tinham DVD e tal, como sinal de posse, e isso popularizou-o imenso.

Larissa disse...

Pra mim também é um sério candidato ao Oscar, porque a academia adooora filmes que mostrem a figura do "self-made man" que é tão símbolo da cultura norte-americana..
Só acho que a maior parte das suas críticas não são sobre o filme, mas sobre uma realidade que foi retratada ali e que também faz parte da nossa sociedade aqui no Brasil.. ou alguém aqui é valorizado quando faz tudo "certinho"? É sempre o idiota, o chato, o empata-foda, o caxias, há milhares de apelidos pra tratar quem se recusa a passar por cima de todos e levar vantagem em tudo. Já quem é poderoso e rico nunca é criticado e questionado...

The Oldscholler disse...

Eu achei ótimo o filme. Como bem disse o camarada aí em cima, o problema não o que o filme mostra,mas se existe um problema, este seria na sociedade. Essa história de "mundo de homens brancos bilionários heterossexuais" está meio ultrapassada, existem muitas mulheres bilionárias do mundo, tudo bem que a maioria delas são hedeiras, mas o capitalismo é um sistema que recompensa pelo mérito, nessa cena que o cara diz "não" a mulher que pegunta se pode ou não ajudar é o mínimo que Mark poderia fazer, a pessao em questão não estava apta a ajudar.O lamentável é que se fosse uma mulher que ficasse bilionáraia provavelmente estariam dizendo "ela coquistou tudo com seu esforço, uma guerreira", mas como é homem tem sempre há o que reclamar.

Vitor Ferreira disse...

Misantropo, qual o "mérito" de alguém que herdou alguma coisa? Só se for a sorte de ter nascido rico. Essa coisa de vangloriar o mérito é tão rasa pros meus conceitos, porque nivela todo mundo por baixo. Você acha que o Mark tinha as mesmas condições de enriquecer que alguma criança que tava se escondendo do tiroteio debaixo da cama no morro do alemão? Capitalismo é quase um sistema de castas. Pegam as ínfimas exceções e transformam em filmes pro povo se sentir bem e se iludir que algum dia pode fazer o mesmo.

E existe o problema na sociedade, claro. Mas o filme em nenhum momento questiona isso, seja pra apoiando ou criticando, o que só nos faz crer que ele apóia. Qualquer pessoa que discorde do sistema, se escrevesse algum roteiro como esse, o condenaria. Já dos atores não falo nada, porque são todos jovens, e ninguém nessa época escolhe filme, faz o que lhe contratam, querem trabalhar e pagar as contas, até virar, e se virar, um astro e ter o luxo de poder escolher o que quer fazer.

Eu nem entro da questão de gênero, porque esse povo que é rico normalmente nasceu assim e vai morrer assim. Seja macho ou fêmea. Mark não era nenhum pé-rapado, como já disse antes. E quantos Silvio Santos, que começou como camelô, existem por aí? E parece até praga do destino ele começar a falir agora, como se ele tivesse contrariado alguma lei da natureza e o destino dele era mesmo a pobreza. Mas vale ressaltar que a falência do Silvio Santos é uma bem diferente dos outros cidadãos. Ele nunca vai ter que contar moeda pra pagar a conta de luz.

Daniel disse...

Bem, o filme está na minha lista de "nem vi, nem verei". Não tenho o menor interesse no assunto, sei lá.

Mas uma coisinha que me chamou a atenção, Lola. No texto que se chega a partir do link em Victoria's Secret (esse aqui: http://escrevalolaescreva.blogspot.com/2010/04/o-clitoris-e-negacao-do-desejo-feminino.html), tu fala
"Não é irônico que a marca de lingerie Victoria's Secret (nome em homenagem à Era Vitoriana) seja quase sinônimo da nossa sexualidade atual? (irônico nada: Susan Faludi, no fabuloso Backlash, explica o sucesso da marca. Algum dia falo disso)"

Bem, que eu saiba tu ainda não falou disso, ou? Fiquei interessado. Se pudesse explicar um pouquinho...

jonas_cg disse...

Toda vez que assistia à chamada do filme, ficava com vontade de deletar minha conta no Facebook. Agora, depois de ler sua resenha, tô indo lá deletar agora mesmo (já que eu entro no facebook umas duas vezes ao mês mesmo, não vai fazer falta).

Ainda vou ver o filme, não sou do tipo que faz "não vi e não gostei", mas logo no primeiro trailer já deu pra perceber que esse Mark é um boçal e pra mim, boçais não merecem ficar bilionários, muito mais pisando na cabeça dos outros, como disse o Giovanni.

Letícia disse...

Ai, Lola, eu me irrito muito com essas posturas "xiitas" (dizer xiita é preconceito, mas todo mundo entende como "radical") de universitários e de adolescentes, como um todo. O pior é que o comportamento do universitário americano vem sendo amplamente imitado pelos brasileiros... uma crueldade totalmente direitista, militar, machista, ultrapassada.

Eu gosto do ambiente universitário em termos... bem em termos. É um espaço pra onde as pessoas trazem seus preconceitos e radicalismos infantis, mas agora as coisas ficam mais perigosas, pq todos são adultos (ou quase). Aí, o resultado são essas coisas que vemos sempre: trotes violentos, discriminação, "rodeio de gordas". Universitário não tem medo de ser incivilizado e de oprimir aquele que não se encaixa no grupo, no padrão. A questão da popularidade é muito importante, e quem fixa as regras para ser popular são sempre os "líderes" homens, brancos e héteros: portanto, ser homem, branco e hétero e requisito para os homens, e ser bonita é requisito para as mulheres.

Eu ODEIO isso. Sou contra trote, contra rituais, contra distinção entre "veteranos" e "calouros". Tenho uma amiga que foi violentada por um veterano em uma festa, simplesmente por existir essa hierarquia absurda. Não consigo aceitar que existam imposições no meio universitário, não consigo respeitar quem aceita tudo isso simplesmente porque "é tradição". Aliás, a maioria das tradições é burra, machista e opressora.

Quando ao endeusamento dos ricos... bom, é a cultura, não? Se as pessoas não acreditarem que todos são capazes de progredir, financeiramente falando, o capitalismo vai por água abaixo. Eu acredito na igualdade e na liberdade, mas parece que meus valores estão "ultrapassados" para a minha geração.

The Oldscholler disse...

Vitor Ferreira:
"Misantropo, qual o "mérito" de alguém que herdou alguma coisa?"

Nenhum, foi exatamente o que quis dizer; a maioria das mulheres bilionárias no mundo o são por herança, e não por ter coquistado isso, agora caras como Mark Zukerberg ficaram bilionários porque tiveram o mérito de criar algo que gerasse lucro, acontece nem todos teem o mérito, é evidente que não haver desigualdade em uma sociedade capitalista é impossivel, mas estas são as regras do jogo, o mínimo que se poderia esperar são condições dignas de vida para todos, o resto é utopia.

Letícia disse...

Lola, dá uma olhadinha nesse vídeo... divirta-se!

http://tvuol.uol.com.br/#view/id=cincia-do-sex-appeal--acessrios-para-chamar-aten-04029A3966E4A16307/mediaId=8649395/date=2010-12-15&&list/type=tags/tags=6931/edFilter=editorial/

Alice disse...

Lola só para corrigir...
Na verdade o Mark tinha namorada, o que é diferente na vida real é que ele nunca terminou com ela e eles estão juntos até hje.
Neste link você pode visualizar coisas que foram mudadas no filme: http://girouniversal.wordpress.com/2010/12/05/verdades-e-intrigas-sobre-o-facebook/

Vitor Ferreira disse...

J.anquevitti, eu nao gostei do filme, mas não dá pra julgar ninguem baseado em filme. Raramente as retratações são fiéis. Muita coisa no roteiro pode ter sido fantasiosa, pra ficar mais cinematográfica. Ou ele pode ser até pior, vai saber. Na verdade, no fim do filme dá pena dele. Muito mais do que repulsa.

Laetitia, te digo que essa visão generalizada dos americanos é muito baseada na política externa do governo, que sabemos ser deplorável. Americano é um povo como qualquer outro. Eles muito pouco sabem do que se passa fora de suas fronteiras, porque não é divulgado por aqui também. Igual o pessoal do S-SE que tem seus estereótipos diversos do N-NE. Eu faço faculdade aqui, e pelo menos aqui, os universitários são muito tranquilos. Os de graduação são bem infantis, mas inofensivos, longe dessa seboseira do filme e que todo mundo tem em mente. Eu moro em São Francisco, que não representa todo o país, claro, uma ilha liberal, mesmo sendo uma faculdade de arte, mas ainda assim, diz um bocado do povo porque os alunos vêm do país inteiro, o mais difícil é achar alguém que realmente nasceu e cresceu aqui.

Letícia disse...

Oi Lolla, tudo bom?
Eu assisti o filme na semana que foi lançado e gostei bastante. Mas não levo muito a sério o retrato feito do Mark. Como dizeram, o roteiro é baseado no livro, para qual o Zuckeberg não deu entrevista. O cara entrevistou várias pessoas que estavam bem putas com o Mr. Facebook e escreveu o perfil dele baseado nos depoimentos dados pelos entrevistados. Não acho justo, creio que muito ali foi aumentado mesmo.

O New Yorker publicou um artigo que eu achei completo onde eles entrevistam o Mark, o cara que escreveu o livro e o cara que escreveu o roteiro. Aqui o link para quem tiver interesse: http://www.newyorker.com/reporting/2010/09/20/100920fa_fact_vargas?currentPage=1

Jéssica disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Helena disse...

Mas Lola, eu achei que você não fez do personagem Mark Zuckerberg, fez a crítica da pessoa Mark Zuckerberg. Assim que assisti ao filme também fiz a mesma crítica (roteiro masculinizado), mas todos torceram o nariz (e eu continuei falando rs). O único que merece crítica é o diretor por direcionar uma mentalidade elitista, americanizada, de prevalecer as peripécias de moleques de irmandade, entre outras besteiras da cultura "primeiro mundo".
Não estou defendendo o lado de Mark Zuckerberg, mas digo que a historia apresentou (como sempre!) apenas um lado da moeda e... pra que não usar o corpo das mulheres para se promover e depois estaciona-los como um prêmio, não é?

Anônimo disse...

cs piraram né? nem os meus amigos mais burgueses riquinhos que adoram levar e contar vantagem acharam o que o Mark fez legal. Todos o acharam um fdp traíra.

O diretor não quis valorizar a paresonalidade de Mark, mas tb não quis nos chamar de idiota e falar "gente, o mark é mal", pq afinal, cada um com a sua opinião.

aff.

Fabio Burch Salvador disse...

Pô, Lola, mas como tu és impiedosa com o pobre nerd bilionário. Na realidade, eu vou te dizer: achei engraçadíssima a parte na qual tu dizes que o filme faz parecer que grandes idéias e empresas surgem de desejos adolescentes típicos de filmes na linha "Porky´s" e "American Pie". Mas, em grande parte, é isso mesmo.

Veja bem. Quando se é adulto, analisa-se essa necessidade de ser "cool" como uma babaquice. mas não dá para esquecer que quando se é adolescente, isso não aparece com muita clareza e, sim, nessa fase imatura da vida, ser "cool" é mais importante do que tudo.

Eu sei disso, obviamente, porque era o nerd que na hora em que todo mundo jogava futebol, eu ia para a biblioteca. Todo mundo falava de mulher, esporte e balada, e eu era da turminha dos computadores.

Daí, vou te dizer: virei professor de coisas bem cabulosas, passei em concurso público, fundei jornal, fiz rádio, me meti na política, me destaquei, publiquei livro. Tudo. E por quê? Porque era o jeito de usar minha "nerdice" para ser também popular.

Mas vou te falar. Como sofri. Sou até meio traumatizado com minha adolescência. Eu daria tudo para voltar o tempo, nascer com uns 20% a menos de capacidade de raciocínio, e colocar esses 20% do meu cérebro em habilidades sociais. Queria ter sido um daqueles babacas, inconscientes da própria babaquice, sarado, bonito, popular, e hoje seria um adulto com lembranças bem mais felizes dos anos que deveriam ter sido "os melhores de nossas vidas".

E vou te contar: nunca se supera isso. Não importa o quanto se torne popular ou bem sucedido depois, ou o quão feliz se chegue a ser, é sempre uma alegria com aquela mancha...

Fabio Burch Salvador disse...

Continuando o que eu dizia...

Eu acredito mesmo que alguém funde uma empresa e construa um império a partir de uma idéia besta qualquer. Sim. porque eu mesmo contruí uma vida e uma carreira baseadas no simples desejo de provar que, sim, eu poderia ser popular. Sou um jornalista razoavelmente conhecido aqui na cidade, e se me enveredo pela política, é só porque eu preciso comprovar que deixei de ser o nerd impopular do colégio, e que prova melhor do que conseguir uma votação expressiva?

Não fosse isso, eu teria feito uma faculdade tipo Administração ou Direito, que dão muito mais dinheiro, muito menos trabalho, mas muito menos fama e popularidade.

Por isso eu digo: guerras sangrentas, grandes revoluções e brilhantes invenções são fruto de neuras pessoas e desejos primais, como o de ser aceito, de se destacar, ou simplesmente de chamar a atenção.

Nina disse...

Eu sou Americana, sou formada em Sociologia, Eu nao tenho dinheiro, esse filme nao explica minha cultura. Americanos nao sao rico como todo mundo pensava. Com Bush muitos ricos ficavam melhor e trabalhodores ficavam em baixo. Estados Unidos mudava com Bush e nao para melhor. Muitos filmes nao monstra a vida como ela e de verdade. Eu concordo com voce, esse filme nao e importante como outros. Mais, Eu acho que precisa saber da cultura dos ricos.

Elaine Cris disse...

Já estava desanimada de ver o filme e depois de sua crítica desanimei mais ainda, rsrs...
Não pela crítica, que é ótima, mas porque detesto o facebook, acho uma rede social super sem graça e ainda saber que o que motivou a criação foi catalogar mulheres, esses objetos que às vezes insistem em dar uma de sujeitos, me desanimou mais ainda.