Exterminador é, acredite se quiser, uma ficção científica superbem realizada de 15 anos atrás, com um orçamento relativamente baixo. Não confunda com a continuação, o arrasa-quarteirão de 1991, que, no fundo, é até melhor. O de 84 é praticamente um trash, feito por um então diretor desconhecido e um ator musculoso de nome impronuncíavel. Hoje, todos sabem de quem se trata. O diretor é James Cameron, o rei do mundo com Titanic, cujo filme anterior a O Exterminador do Futuro foi... Piranhas 2 (as que voam)! Digamos que, ahn, ele não estava por cima na época. E o ator era o ex-Mr. Universo Arnold Schwarzenegger, que até então tinha aparecido nos Conans da vida.
Se O Exterminador do Futuro é violento? Muito. Mas é uma violência de mentirinha, dessas de histórias em quadrinhos. E a gente sabe que é uma produção barata porque todos os carros destruídos em perseguições são velhos. A idéia é extremamente inventiva: um cyborg invencível é enviado do século 21 para eliminar a mãe de quem viria a ser um revolucionário. Este manda um homem para defendê-la, e este homem calha de ser seu pai. Parece meio complicado contado, mas é ver para crer como essa história funciona bem na tela.
De acordo com a saga, ocorre uma guerra nuclear ainda este século deflagrada pelos computadores, que se tornam independentes e decidem brincar de destruir o planeta (mais detalhes em O Exterminador do Futuro 2 - O Julgamento Final). As máquinas mandam para campos de extermínio os poucos sobreviventes, até que John Connor organiza a heróica resistência humana. E é este ser que deve ser abortado mesmo antes de ser gerado.
Há várias comparações com Maria, mãe de Jesus. Sarah, interpretada por Linda Hamilton, que depois se tornaria esposa do diretor (que era então casado com a roteirista e produtora do filme) por um curto espaço de tempo (ela apareceu no Oscar e se divorciou), é uma garçonete em Los Angeles. Loira e sem dar pistas de que seria uma supermãe, ela é praticamente virgem, seguindo uma tendência do cinema hollywoodiano - aquela de que marido bom é aquele com quem só se tem que fazer sexo uma vez, antes que o relacionamento entre em crise. Parceiro bom é parceiro morto, o que deixa a sementinha e muita saudade.
Dá pra notar que Schwarza ainda não era um megastar porque ele até mostra o bumbum. Aqui, ele tem o melhor papel de sua carreira. Como o exterminador, ele é uma montanha de músculos, um robô coberto de borracha e uma fina partícula de pele, e não tem que esboçar uma reação sequer. Seu desempenho atinge o clímax quando seu andróide perde um olho e ele disfarça usando óculos escuros. Até seu leve sotaque austríaco cai como uma luva: a gente percebe que existe tecnologia alemã atrás do Mal.
O Exterminador do Futuro é um barato e um modelo para outros filmes de ação. Revela a velha máxima americana: para salvar a humanidade, eles precisam antes destrui-la (vide Kosovo etc). Isso explica o imenso número de vítimas desta ficção. Na sequência de 91, temos o auge do cinismo. O cyborg é ordenado por Connor para não matar, apenas aleijar seus inimigos. Como resultado, a maior contagem de pernetas já vista. Mas, convenhamos: o futuro não deve ser assim tão sombrio se tudo que nos espera é um Schwarza mal-encarado. Falta uma eternidade para o fim do mundo.
Um comentário:
Adorei a crítica!
Acho esse filme horrivelmente ótimo, ou otimamente horrível, sei lá!
Um adendo: o Snegger consegue dar uma derrapada, mesmo no papel de robô monossilábico. Justamente nessa cena do óculos, ele AJEITA O CABELO.
Sem brincadeira. É ver de novo para você gargalhar!
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