A estudante no dia da confusão, com o vestido que começou tudo. Embora eu tenha algumas restrições a respeito do post que noticiou todo esse escândalo na Uniban, fico feliz que um blog tenha pautado a grande mídia, porque é muito mais comum o oposto. Demorou (o caso aconteceu no dia 22 de outubro), mas os jornais finalmente foram atrás. A melhor reportagem, a que parece mais detalhada e completa, é esta da Folha, que explica bem o que aconteceu. A moça que foi publicamente humilhada deu várias entrevistas, a mais longa sendo pra este site. E já pipocaram também fotos do vestido da discórdia, que, por favor, é um vestido curto, mas jura que ninguém nunca viu pernas de fora antes? (ontem ela apareceu no Geraldo Brasil, com rosto e nome). Os moralistas continuam argumentando que esses não são trajes para se usar num local de ensino, um templo da sabedoria como é uma universidade (e onde se veem cenas de turba), mas a moça diz que iria se encontrar com o namorado para ir a uma festa após a aula, e já estava vestida a caráter. Mas lógico que, se alguém tivesse se sentido incomodado com o tamanho do vestido da aluna, era só reclamar com a faculdade, que talvez pudesse pedir-lhe para, da próxima vez, usar algo mais longo (e convenhamos, mesmo essa atitude já seria estúpida). A Uniban parece ter agido da pior forma possível. Não só não conteve o distúrbio, como mandou seguranças à sala onde estava a moça. E a primeira medida dos seguranças foi... reclamar do vestido?! Sério isso? E agora a universidade tenta desesperadamente retirar todos os vídeos do YouTube. Vamos ver o que ela faz com os seguranças e com quem iniciou a bagunça. Não quero que ninguém seja torturado ou mesmo despedido ou expulso, mas seria útil se várias palestras fossem dadas a todos os alunos e funcionários sobre machismo, homofobia, e o perigoso comportamento das turbas. Se a faculdade interrompesse por algumas horas sua grade de “preparar pro mercado de trabalho” e abrisse espaço para discussões em cada turma sobre o que aconteceu. Inclusive, sobre a imagem da universidade. Sabe, usar um ambiente universitário pra se ensinar alguma coisa? É pedir demais?Assim que a notícia chegou aos grandes jornais, apareceram também os comentaristas dos grandes jornais. Que em muitos sentidos não são diferentes de comentaristas de blogs (não os deste blog, que realmente tem sorte com os comentários que recebe). Não resisto e preciso registrar aqui os comentários de leitores do Estadão, que aproveitam qualquer episódio (acidente de avião, marido que mata mulher etc) pra expressar sua indignação com os rumos deste país—leia-se, o governo Lula. Esse é o fio condutor por trás desses comentários. Mas outra constante é a tentativa de livrar a cara, no melhor estilo “É, o Brasil vai mal e essa é a cara do Brasil, mas o Brasil não somos nós!”. Eu coloco alguns comentários em itálico, tudo sic, e comento em seguida.- “Ela perdeu a dignidade no momento em que se vestiu de mini-saia”. Ouviram, mulheres? Todas nós que já usamos minissaia em algum momento da vida perdemos a dignidade. Nossa honra se foi e não volta mais. Notem também como isso exclui os homens, já que homem não usa minissaia. Só os travestis, que obviamente não têm dignidade, segundo esse pessoal.- “Eu acho essa atitude de reprimir esse tipo de vestimentas só pode vim de homossexuais, que não gostam do outro sexo. O certo era apoia essa garota, e as outras também usa esse tipo de roupa, por que elas são mais sensuais e bem vinda para os heterossexais.” Essa é uma forma ideal pra não sentir culpa: homem hétero não faz nada de errado! Todos que xingaram a moça eram ou mulheres ou gays. E que é isso de gay não gostar de mulher? Não querer transar conosco é sinônimo de não gostar da gente? Putz, pra alguns homens héteros, é. E meninas, vamos todas usar roupas curtas porque os homens aprovam, e vivemos em função deles. Quer dizer, pelo jeito nem todos os homens aprovam, né? Assim a gente fica confusa.- “Só tem bruaca e boiola na Uniban.” Misoginia e homofobia caminhando juntos mais uma vez. As mulheres que abrem a boca para reclamar de qualquer coisa são barangas e mal-amadas. Os homens, todos gays. Os homens héteros são meros observadores desses dois grupos bárbaros! E é bem desse jeito que vamos combater o preconceito: ofendendo todo mundo. - “É o que dá estudar na UNIBAN. Lá é quase uma escola pública de periferia. E o pessoal (Não todos! Que fique bem claro isso. Mas é a maioria.) se comporta de acordo com o meio em que está acostumado a viver.” Não, este não é um comentário elitista, imagina. Só diz que quem é pobre se comporta como animal. Mas não todos, que fique claro!- “Vêm pra Brasília loirinha. Aqui tem muita faculdade de turismo. Aqui as gatas andam roupa curta e todo mundo gosta! A água é limpa e o céu é lindo! haha. E vocês, UNIBAMBIS, se não gostam de mulher... manda pra gente! Faculdade de Frouxos! Aqui nós temos respeito pelas mulheres e sabemos como agradá-las!” Dá pra imaginar o respeito que eles têm pelas mulheres... Deve ser o mesmo que têm por outras minorias, como os gays. - “É fácil observar na vida que ninguém toma pedrada sem merecimento. [...] Uma pessoa de 20 anos que sairia da Faculdade trajada com mini-vestido para ir a uma festa após as 0:00, com certeza não é COITADA. SABEMOS MUITO BEM O QUE ROLA NESSAS FESTAS!” Ahá! Esse sabe tudo! O que será que rola nessas festas?! Sexo, drogas, orgias, música alta, ambiente esfumaçado? Como pode uma menina de 20 anos querer ir a uma festa?! Onde esse mundo vai parar, meu deus? Leia mais sobre o caso aqui.
É só isso, mas é suficiente. Juro que gostaria de escrever o maior post balizado e cheio de informações pra vocês sobre o This is it, documentário que mostra os ensaios pra última turnê do Michael Jackson. Mas pra isso eu teria que ser fã do astro pop morto em junho. E lamento dizer que eu não conhecia nenhuma das músicas. Só as dos anos 80 que todo mundo que não tenha sido um eremita conhece: Thriller, Billie Jean, e mais alguma aí que esqueci o nome (Human Nature?).Quero dizer, eu sou fã do homi em termos. Acho que ele realmente foi um astro de primeira grandeza, super profissional e competente no que fez, tanto como cantor quanto como dançarino e compositor. Mas como pessoa ele era esquisitão. E o Michael é um caso típico em que sua persona não conseguia se desvencilhar do artista. Vinha o pacote completo. Fã de verdade do MJ ama o cara inteirinho, do nariz deformado pelas cirurgias ao seu hábito de soletrar a palavra l.o.v.e (tá no trailer, e é patético, cafona pacas). No cinema pra estreia internacional do This is it tava cheio de fãs fieis. Não que a sala estivesse cheia, bem entendido. Não estava, tava até meio vazia na sessão que eu fui, na quarta. Mas quem tava lá, tirando eu e o maridão, era fãzona do cara. E sabe quando você percebe que não é gente que tem o costume de ir ao cinema? Meio como quem foi ver Dois Filhos de Francisco. Tem um pouco de elitismo estúpido na minha colocação, eu sei (e lamento). Até parece que só gente que não está aconstumada a ir ao cinema fala durante a sessão inteira! Não sei, e perdoem a heresia, mas quando as luzes se acenderam e eu vi um monte de gente chorando, eu me senti no final da sessão de A Paixão de Cristo. Fãs devotos mesmo.No entanto, eu gostei de This is it. Lógico que o troço não teria sido lançado se o Michael não tivesse morrido (e ainda mais jovem, aos 50 anos). Mas é um documentário honesto, cheio de louvação ao ídolo, feito descaradamente para os fãs. Não é pretensioso, não tem narração, não se beneficia de uma estrutura criativa, nada. São só algumas câmeras que registraram ensaios, e o filme tem a finesse de transmitir suas intenções de cara, ainda nos créditos. O chato é que o Michael dá muito pouco de si. Propositalmente, claro: ele diz que quer guardar a voz, e por isso prefere não cantar pra valer nos ensaios. E nem dançar tudo que sabe. Logo, o que vemos é bem meia boca, e é triste saber que ele estava se poupando para um momento que não veio (segundo fãs revoltados, ele estava doente demais para se movimentar no palco). Mas o filme compensa esse “desleixo” do Michael com cenas bacanas de dançarinos, guitarristas e músicos que têm que dar seu 100% o tempo todo. E não há dúvida que todos os envolvidos numa turnê dessa magnitude são os melhores em seu ramo. Principalmente os dançarinos. Ah, por mim o filme podia se centrar só neles, mostrando mais de que países vieram, como foram os testes, o que a aprovação significa para suas carreiras. Sabe, uma espécie de Chorus Line? Não o filme com o Michael Douglas, que deixa a desejar (embora eu goste), mas o musical que fez tanto sucesso em todo o mundo na década de 80. Eu vi a Claudia Raia em SP na época. As canções e os números de dança de Chorus Line são espetaculares. Ok, os fãs do Michael iriam chiar em ter que ver um bando de bailarino desconhecido. Mas é tocante como esses dançarinos louvam o astro pop. Sério, é bonito ver a felicidade de um grupo de excelentes profissionais que cresceram vendo e ouvindo seu ídolo podendo finalmente trabalhar ao lado dele. Dizem que a verdadeira consagração surge quando a pessoa é respeitada pelos seus iguais, e isso é o que mais se vê no documentário. Se bem que eu fiquei pensando: putz, todos esses caras dançam muito e eu idolatraria qualquer um deles (foi meio humilhante quando tentei estalar os dedos ao som de uma canção). Qual a diferença entre eles e o Michael, ou entre o Gene Kelly e o Donald O'Connor (que tem aquele número mágico em Cantando na Chuva, “Make Them Laugh”)? É porque um só dança, e o outro, além de dançar um bolão, também faz as coreografias? Nunca entendo isso.Mas enfim, não vá esperando um biopic contando a trajetória do ídolo. O filme não dedica um segundo sequer à vida pessoal ou à morte do Michael. Tudo é ensaio. É realmente como ver um pedacinho do show que ele iria apresentar em Londres. Por coincidência, eu tava lendo na edição da Vanity Fair de setembro umas transcrições de entrevistas que uma jornalista fez com o Michael durante quase vinte anos, de 1972 a 89. E o que ela conta é que, quando entrevistou o menininho de dez anos pela primeira vez, já avisou um amigo: “Esse menino será o maior cantor de todos os tempos, que nem o Frank Sinatra”. This is it confirma que foi justamente isso que ele foi.
Desde ontem tem um monte de gente pedindo pra que eu fale sobre o caso da Uniban. De acordo com o Boteco Sujo, numa faculdade particular de São Bernardo do Campo, a Uniban, uma estudante de Turismo foi às aulas vestindo uma miniblusa que funcionava como minissaia. Ela foi cercada por alunos, ameaçada de estupro, e teve que se esconder numa sala, até a polícia chegar. No You Tube há alguns vídeos do episódio que mostram a conglomeração de alunos antes da polícia chegar, e a escolta policial levando a moça pra fora. Eu relutei em falar qualquer coisa porque a única fonte é esse blog, o Boteco Sujo (que eu não conhecia). Nada contra blog dar notícias em primeira mão, muito pelo contrário, mas se você vai falar de um caso que não saiu noticiado em nenhum jornal, faça com um mínimo de seriedade. Não coloque um título nada-a-ver como “Os Polanskis do ABC”, ou comece o texto falando da Grã Bretanha na era vitoriana. Porque, pra mim, tira a credibilidade. Já começa com duas informações falsas, sabe? Além do mais, nos vídeos não há qualquer indício de spray de pimenta sendo lançado para conter os estudantes. Mesmo assim—e vou me guiar pelos vídeos, não pela história mal-contada do Boteco—, a história é perturbadora. O que vemos é um monte de aluninho rindo, gritando, e um coro de “Puta! Puta!”. Isso é agressivo, sem dúvida, e depõe demais contra os estudantes envolvidos e contra a instituição (onde estavam os professores e a diretoria pra mandar todo mundo voltar pras salas?). Mas não acho que, a partir disso, dê pra se afirmar que a moça foi ameaçada de estupro, ou que a turba reunida quisesse estuprá-la. Trata-se de um linchamento moral horroroso, de qualquer jeito. Essa turba que se vê no vídeo é isso mesmo, uma turba, atraída por qualquer movimentação fora do normal. Qualquer coisa que tivesse acontecido fora da rotina da faculdade faria um bando de gente ficar lá rondando, rindo nervosamente. Algo muito parecido no quesito “turba enraivecida” já aconteceu comigo. Eu contei aqui, mas vou resumir. Eu fazia Pedagogia e escrevia prum jornal catarinense (ainda escrevo). Escrevi uma crônica fazendo brincadeira sobre o estágio, e isso gerou grande indignação. A minha turma, e a turma de Pedagogia de outra faculdade (ambas particulares; em Joinville não há curso em de Pedagogia em universidade pública), escreveram cartas pro jornal reclamando da minha postura. A diretoria me ameaçou de expulsão se eu escrevesse novamente sobre o estágio. Eu considerei isso censura, e escrevi um texto falando não do estágio, mas dessa repercussão. Na manhã em que ele foi publicado, a turma de outro semestre de Pedagogia se reuniu frente a minha sala pra gritar palavras de ordem. Havia umas quarenta pessoas do lado de fora querendo me linchar. Não sei bem o que eles fariam se eu tivesse saído da sala. Eu estava lá dentro, sentada (era horário de recreio), lendo, quando ouvi o tumulto do lado de fora, mas não sabia o que era. Só fiquei sabendo quando minhas colegas entraram na sala dizendo, assustadas, “Não se preocupe que não vamos deixar eles entrarem!”. Foi altamente ridículo, e eu só pude rir daquilo tudo. Me senti a própria Salman Rushdie. A diretoria compareceu, dispersou a turba, e tudo voltou ao normal—não sem antes me acusarem por eu ter causado o tumulto. Tipo, a sua universidade de Pedagogia (futuros professores) tem um monte de gente que quer linchar alguém por um texto de jornal, e o problema tá com quem escreveu o texto?! Nos dias seguintes, vários dos “protestantes” vieram falar comigo, respeitosamente. Porque individualmente eles não agiriam do jeito que agiram. Foi num grupo que perderam o controle. Portanto, criar tumulto em faculdade é a coisa mais banal do mundo, e pra uma mulher ser chamada de “Puta! Puta!”, basta ser mulher. Parece que os alunos anseiam por qualquer coisinha fora da rotina pra poder matar aula e fofocar. E tem mais: não só numa universidade, mas em qualquer ambiente, ter um inimigo comum une um grupo. A minha turma de Pedagogia ficou muito mais unida depois daquilo tudo (imagina, precisaram se reunir pra escrever uma carta pro jornal). A gente vê essas alianças o tempo todo nas birrinhas de internet. Pessoas que não têm afinidades alguma podem se juntar pra repudiar um só inimigo. No caso da Uniban, as pessoas vistas no vídeo estão todas animadas, fazendo alianças com quem, provavelmente, não tinham o hábito de conversar. É uma velha estratégia que sempre funciona.De comportamento de turba eu espero qualquer coisa, sinceramente. O que é horrível é ler comentários (escritos individualmente, longe da confusão) reproduzindo esse mesmo pensamento impensado. Este site reproduziu a “notícia” do Boteco e recebeu cerca de mil comentários. Vários não completamente inúteis, como este (tudo sic):“eu estudo nakela facul, eu estava no momento, ela chegou por volta das 19:20, todos que estvam perto, começaram a mexer com ela, ela sempre vai com roupas assim, sempre decotes muito grande, soh que dessa vez, com a saia minuscula, quando ela foi no banheiro, alguns alunos viram e começaram a zuar ela, as meninas de outras salas tambem, ela volta para sua sala, e a multidão vai na prota, ela sorri dentro sa dala, até que os meninos começam a faze olas e gritos de torcidas, a policia chega, retira a moça, em nenhum momento ninguem tentou agarrar eu agredir a moça”. E muitos falando o certo (que, pra mim e pras leitoras deste blog, é o óbvio): que, independente do que a aluna estava vestindo, nada justificaria uma agressão. Que uma mulher deveria ter o direito de andar nua sem correr o risco de ser estuprada. Que é muito ruim pra imagem da universidade que algo assim tenha acontecido. Mas outros comentários mostram bem que o machismo continua firme e forte. Este foi escrito por uma mulher, uma típica “mulher barbuda”, categoria sobre a qual já escrevi aqui.“Caracas gente! Bem feito para essa 'mocinha'. Onde já se viu usar mini saia num ambiente em que todos estão lá (pelo menos na teoria) para simular um ambiente de trabalho. Será que quando ela for uma profissional vai se vestir da mesma forma? Vai ganhar os clientes dela com as pernas? É puta mesmo! E, acordem gente! Ninguém iria molesta-la. Tenho certeza de que, se realmente a ameaçaram, era para realmente mostrar indignação. Ela procurou, ela que arque com as consequências! Outra ainda: NINGUÉM é ameaçado de estupro. Ou se é estuprado, ou se é puta. ACORDA GENTE! Essa 'mocinha' não deveria ter se portado desta forma! Aliás, não deve ter sido a primeira vez! Apoiadooooo!!!! Se eu estivesse lá, ainda sugeria impalamento. E outra, não é instinto. Não é jogar a inteligencia de lado e se comportar como homem das cavernas não... É fazer-se ouvir numa sociedade em que todo mundo está adquirindo os mesmos VALORES que essa 'mocinha' de minisaia.”Os comentários abaixo foram escritos por homens mesmo, daqueles que dividem as mulheres entre santas e putas: - “Coitadinha da moça, ela tava com calorzinho....ha, ha, ha, ha, o problema é que tem uns panacas infelizmente que acham que tem o direito de fazer o que querem, eu por mim olharia dava uma babadinha se fosse gostosa(o que não é o caso pois é feia pra cacete!!!), mas deixava pra lá, nós gostamos de olhar mas na hora de escolher uma mulher sempre escolhemos uma mais séria que realmente queira fazer uma parceria pra vida toda, essas ai a gente usa só como objeto como latrina mesmo, bom pra olhar mas depois de um tempo enjoa, e também as vezes tem outros problemas tipo ela devia estar ovulando, tava com coceirinha, ou esta desesperada pra arrumar macho(que acho que não seja o caso), enfim elas podem se vestir do jeito que quiserem, problema delas, quem quer dar uma de diferente sempre vai pagar o pato, que esteja preparado pra isso e assuma os riscos.”- “Eu só quero mulher desnuda ou com roupa realçando as curvas da bunda perto de mim quando vou na zona, pois lá vou quando quero tratar de sexo. Fora de lá, seja na escola, na rua , no onibus, no metro, no trabalho, etc., não quero e não admito. Mulher que faz isso será sempre odiada e se tiver uma oportunidade eu agrido mesmo.”- “Quis ser puta, quis mostrar pra todos que é puta, foi tratada como tal. Absolutamente normal. Tem que esculachar mesmo, se o frouxo e inútil do pai não teve a competência pra ensinar valores e educação pra sua filha, outros lá fora se encarregarão disto. Foi muito bem feito, essas vadias acham que por serem mulheres podem tudo, podem andar e pisar a vontade que tudo está a mercê delas, que isso sirva de exemplo pra todos.” - “O que ha de errado em estuprar uma puta dessas? se anda com esse tipo de roupa, é porque inconscientemente (ou não) quer sexo; e é mulher, ou seja, por instinto quer adr pra alguém, é uma vagabgunda a mais, só isso. a culpada é ela.” Aquele velho blablablá que já conhecemos, e que repudiamos todos os dias. Outro preconceito que aparece tanto nos comentários ("bando de viados" etc) como num dos vídeos (em que estudantes gritam "Bicha! Bicha!" pra policiais, aparentemente) é contra os homossexuais, provando mais uma vez como machismo e homofobia andam juntos. Mas temos que abrir os olhos também para preconceitos elitistas, que proliferam nessas horas de “textos virais”. Por exemplo, como a universidade é particular, e como é localizada no ABC, surgem comentários como este: “Logico que tinha que ser em faculdade de pobre. Pobre é uma m****, so serve pra ser motoboy”. Certo. O pessoal que escreveu os comentários acima provavelmente não é pobre, não estuda na Uniban, e nem estava no meio de uma turba. Esses tiveram tempo pra pensar. E ainda assim repetem as mesmas asneiras que são ditas faz séculos.Mais sobre o caso aqui e aqui.
Isso é do meu Yearbook (livro registrando os alunos e professores de cada ano), mas juro que não fui eu que fiz esses rabiscos. O Dia da Professora (vamos admitir, a enorme maioria das pessoas nessa profissão é mulher) passou e eu nem pra me lembrar dele. Mas, em homenagem posterior (eu ia escrever póstuma), vou lembrar de duas professoras que tive.Lembrar numas, porque desta primeira que vou falar não me lembro nadinha. Nem nome, nem rosto, alguma característica marcante, nada. Lembro apenas que eu tinha sete anos e estudava na Escola Parque, no Rio. Hoje sempre que ouço falar na escola vem junto uma descrição, “escola de elite”, mas na época, obviamente, eu não sabia disso. E imagino que a escola deve ter mudado muito, porque nos anos 70, quando estudei lá, ela só ia até a sexta série. O lugar era lindo, cheio de árvores. O que mais lembro são as jacas. Sempre tinha jaca caída no chão. Enfim, um dia a professora levou a turminha pra uma aula ao ar livre, no meio da natureza da escola, e pediu pra que a gente desenhasse alguma coisa. Não sei se era homenagem à árvore, à natureza... Triste, até recentemente eu sabia contar essa história com mais detalhes. Mas o que lembro é que disse pra professora que eu não sabia desenhar direito, e perguntei pra ela se podia escrever um poema. E ela fez o que uma excelente professora deve fazer: não seguiu regras inflexíveis; pelo contrário, disse “Sim, fique à vontade”. Eu escrevi um poema, ela gostou, mostrou pra todo mundo, e esse foi o início da minha longa carreira poética, que durou até os meus dezenove anos, quando publiquei um livro, e depois, nunca mais. Se ela houvesse respondido algo como “Deixa de ser fresca, menina, e faz um desenho aí”, é bem provável que eu teria tomado gosto pela escrita do mesmo jeito—eu recebia muito incentivo em casa. Mas que esse foi um belo empurrão, não há dúvida. E tudo começou com um simples sim. Agora o contraponto, e deste eu me lembro muito mais. Depois que a gente se mudou pra SP e tivemos uma ou outra experiência mal-sucedida com escolas particulares rígidas (o oposto da Escola Parque), minha mãe decidiu que deveríamos estudar numa escola americana. E fomos parar logo numa escola católica, a Chapel, que de liberal não tinha nada (mas a essa altura do campeonato ter contato diário com o inglês tava no topo das prioridades maternas). Não vou reclamar, porque depois, principalmente no high school, a escola revelou-se ótima, e era uma maravilha fazer amigos de tantas nacionalidades diferentes. Mas, se eu tivesse filhos, eles não estudariam lá. Primeiro porque a escola é caríssima, e eu não teria nem como pagar (sem falar que meus filhos estudariam em escola pública, porque acredito que educação de qualidade é um direito do cidadão). E segundo porque, ahn, se a família não é religiosa, por que colocar os filhos pra sofrer em colégio católico? Mas eu divago. A Chapel (apelido pra Mary Immaculate School, capela, em português) tinha umas nove freiras quando entrei, acho. Todas davam aulas (uma até de Ciências, e ela era boa), e lembro que foi uma revolução quando, no final do meu tempo na escola, entrou uma freira brasileira, da Teologia da Libertação, e levou várias pra conviver com crianças pobres na favela, mas eu dr. jivago de novo. Eu lembro de uma freira louquinha, a Sister Benjamin, e de como um dia ela deu um tapa num menino que estava balançando a cadeira, e ele caiu pra trás. Mas o terror de todo o elementary school (séries iniciais, até a sexta série) não era ela, e sim a Sister Agatha. Havia duas sextas séries, uma com a Mrs. Crane, e outra com a nazi nun, a freira nazista, que foi o apelido carinhoso que eu dei pra Sister Agatha. Ela era americana-polonesa e tinha uma aparência hiper rigorosa de gente que não sorria nunca. E pequenos óculos nazistas, à la Caçadores da Arca Perdida (sabe o nazista que pega o medalhão, e a mão dele fica em carne viva?). Como ela tinha reputação de bater nos alunos, e como eu, com a minha sorte, não fui parar na turma da Mrs. Crane, meu pai foi falar com a direção da escola logo que soube que eu teria a Sister Agatha como professora. E avisou que, se a Sister encostasse um só dedo cristão em mim, ele a colocaria pra fora e processaria a escola. Ou algo do gênero. É muito, muito estranho escrever essas linhas com naturalidade, dizer “ela batia nos alunos” e ninguém fazer nada, e ela traumatizar turma após turma de crianças da sexta série e continuar lá. Imagino que hoje em dia bater em alunos não seja mais permitido. E não é por nada não, mas se você é pai, tá pagando uma grana preta pra escola, e vê que sua filha vai passar um ano inteiro tendo uma jararaca como professora, você não levaria a menina pra estudar em outro lugar? Não, porque ter contato diário com o inglês estava acima de tudo. Mas aquele ano foi um inferno. Aliás, encontrei um texto que escrevi pra algum curso no Chapel mesmo, já no high school (no início do high school, espero, porque o texto tá elementar, meu caro watson). Como minha memória estava mais fresca naquela época, vou traduzi-lo aqui:“Meu pior ano escolar.
Acho que meu pior ano escolar foi na sexta série. Aquele ano foi difícil para mim e para meus colegas, principalmente por causa da professora. A professora era a Sister Agatha, e ela fez com que gostar das suas aulas fosse impossível. Toda vez que passávamos pela porta éramos tomados por um sentimento de medo. O que ela vai dizer sobre a maneira como estou vestida? Ela vai começar o dia brigando só porque esqueci um livro no meu locker? [armário que cada aluno tem, que fica do lado da sala]. Quem ela vai escolher pra brigar hoje? Portanto, íamos à aula sem nenhum interesse. Ela adorava matemática, então tínhamos que estudar matemática durante metade do dia. Ela odiava qualquer um que não entendesse o que ela explicava. Ela adorava humilhar as pessoas. Lembro que todo mundo chorou na classe dela. Ela tratava todo mundo tão mal que todos nós tínhamos medo e a odiávamos também. Lembro de uma vez, quando eu não entendi um problema de matemática. Ela começou a gritar comigo, a me insultar. E eu chorei. Por que ela tinha que humilhar as pessoas? Às vezes ela tentava bater em alguns alunos. Esse foi meu pior ano, mas também foi o pior de todo mundo que passou pela sua aula”. O professor, corporativista, escreveu na minha redação: “Acho que não foi, porque alguém escolheu este ano como um bom ano de aprendizado porque a pessoa teve que estudar tanto”. Eu não sou adepta do estilo exército de que pra se aprender alguma coisa é preciso sofrer. Sinto muito, acho que dá pra aprender tendo prazer, com paz e amor. Tenho a impressão até que se aprende mais num ambiente pacífico que num campo de concentração.Bom, não sei o que aconteceu com a Sister Agatha. Ela torturou aluninhos durante mais alguns anos (meu irmão, inclusive, calhou de cair na classe dela também), e depois se aposentou, ou foi trabalhar numa penitenciária, sei lá.Ah, mas só pra terminar este texto quilométrico num tom pra cima, vou relatar uma das piores perguntas que se pode fazer a uma turma de alunos. Não é piada. Essa eu presenciei num estágio de quinta série, de uma professora de inglês numa escola municipal em Joinville. Prestem atenção à pérola que ela disparou a seus alunos, após uma explicação: “Todo mundo entendeu tudo ou tem alguém aqui que não entendeu e eu vou ter que explicar tudo de novo?”. Sério, o que essa professora espera da vida? Que algum aluno levante a mão?
Esse pessoal que jura de pé junto que não existe racismo no Brasil se contradiz demais. Não tem noção do ridículo. Primeiro, insiste que não há nada de racismo por aqui, só uma ligeira desigualdade socioeconômica. Mais pra frente, acaba dizendo que sim, lamentavelmente, existe racismo—mas da parte dos negros! Eles é que são racistas. E também são racistas pessoas brancas como eu e você, porque ficamos prestando atenção nesse negócio de raças. Se a gente visse todo mundo como humanos, não como negros, brancos, amarelos etc, esse tal de racismo automaticamente desapareceria da face da Terra, e todos nós poderíamos ser felizes nesse mundo cor de rosa em que é pura coincidência que mulheres negras ganhem um quarto do salário de um homem branco. Outra contradição que eu adoro é quando o pessoal branco que não vê racismo diz, indignado, que não aceita ser cobrado pelos erros de seus antepassados. Isso de escravidão é tão antigo, passou, não tivemos nada a ver com isso, troquem o disco. Mas geralmente, na mesma frase, a pessoa revoltada não com o racismo, mas com a acusação de racismo, vem com uma pérola dessas: “ninguém fala dos próprios africanos que capturavam negros e os vendiam como escravos”. O raciocínio é lógico: essa pessoa branca não tem responsabilidade alguma pelos seus tataravôs terem sido donos de escravos, mas os negros de hoje, esses sim, deveriam se envergonhar dos seus antepassados na África que venderam seus semelhantes como escravos. Venderam pra quem mesmo? Ah, isso não importa. No cartum, intitulado "Uma história concisa das relações entre negros e brancos nos EUA", um menino branco usa um escravo, negro, pra subir numa plataforma, enquanto afirma "Isso é pro seu próprio bem". Ao chegar lá em cima, diz pro negro: "Sinto muito por ter sido racista antes. Agora não sou mais". O negro responde: "Ótimo. Você pode me dar uma mão pra eu subir?". E o branco: "Claro que não! Isso seria racismo inverso". E emenda: "Veja bem, se eu consegui subir aqui sozinho, por que você não conseguiria?". Nossa história é muito diferente?
Veja o trailer aqui, se quiser. Fomos ver Bastardos Inglórios pela terceira vez em menos de duas semanas. Mas, quando eu estava lá, na fila (minúscula) da bilheteria (felizmente, eu não pago cinema, já que, pelo menos aqui em Joinville, tenho uma carteirinha de crítica, com direito a acompanhante. Mas preciso pegar ingressos de qualquer jeito), lembrei que teria de ver os mesmos trailers pela terceira vez seguida. E um dos trailers eu não gostei nem um pouco, que é o de Avatar, o novo filme do James Cameron. Sei que a expectativa é grande—afinal, é sua volta à direção após doze anos, desde Titanic—, e que muita gente espera algo fabuloso relacionado à internet e novas tecnologias, e lógico que vou ver o filme, mas o trailer não me inspirou nenhuma vontade. E já vimos o mesmo trailer umas sete vezes, no mínimo, no cinema. Eu já não aguento mais (dou nota 2, em 5, pro trailer). Então falei pro maridão na fila:“Ih! Quando passarem o trailer de Avatar, você vai ter que me beijar. Eu não quero ver aquilo de novo! Prepare-se pra quase três minutos de beijos ininterruptos”.Acho que uma mocinha ouviu o que eu disse e pensou que os dois velhinhos devem ter um relacionamento muito intenso. Felizmente, ela não viu o maridão revirando os olhos e fazendo careta. Mas o cinema tinha mudado todos os trailers. E quando vi que não iam passar Avatar, falei pro maridão: “Se safou, hein? Eles não vão passar o trailer. Agora você não tem que me beijar. Faça o favor de dizer 'Droga! Droga! Droga!'”.Ele: “Droga! Droga! Droga! [Pausa] ...eu gostava do trailer de Avatar!”
Comprem, por favor. Façam fila. Não fazemos fiado. Continuo sem saber quando vou pra Fortaleza, ou sequer se irei. Já pensaram o preju que será se eu não for chamada? Sim, porque só passar num concurso não é garantia de contratação. O prazo de validade do concurso é por um ano, ou seja, até agosto do ano que vem. Mas, como 2010 é ano eleitoral, e pela lei não se podem realizar novos concursos ou contratações até seis meses antes das eleições, quem não for chamado até abril dança. Meu nome saiu no Diário Oficial, e boto fé que eu seja chamada em dezembro. A UFC abriu um novo vestibular de Letras-Inglês à noite, e não há professores suficientes para tocar essa novidade. O governo Lula está investindo pesado nas universidades federais, e não vai andar pra trás logo agora que chegou a minha vez, vai? Portanto, acho que me mudarei pra Fortaleza, sim. Mas, caso não me chamem, há uma chance de trabalhar em Marabá, Pará (que minha mãe não me ouca. Ela tá louca pra ir pro CE). Salinha de casa. A mesa de xadrez foi o maridão que fez.Por enquanto, estou só em compasso de espera, aguardando ansiosamente. Já fiz quase todos os exames médicos, mas acho que terei que refazê-los quando chegar a hora. Ando dando uma olhada em algumas casas próximas à universidade, no bairro de Benfica, em Fortaleza. E minha casa em Joinville está à venda desde o comecinho de setembro. Infelizmente, até agora, só dois interessados vieram vê-la. Acho que tá hiper devagar, e a casinha é muito legal. Não vai ser fácil encontrar outra assim em Fortaleza.De repente alguém na internet queira comprá-la, então vou colocar umas fotos aqui. Aí minhas leitoras queridas(os) podem ter uma noção melhor de onde vivo. Não reparem na bagunça. Aqui, mais uma foto da salinha. Gosto de espaços com poucas portas.Esta é a sala de jantar, ou antesala, sei lá. Onde passamos muito mais tempo que na sala. E parte da cozinha. Mais cozinha. Viram que linda mesa? O maridão que fez também. Mas todo a concepção intelectual foi minha, óbvio. Opa, não dá pra ver direito. Mas a outra mesa é obra do maridão também. Concepção intelectual minha, de novo.Um dos quartos, que reservamos pros hóspedes. Em cima do sofá-cama, três cópias encadernadas da minha tese.Outro quarto, que usamos como escritório. Essa bagunça toda é do maridão. Vocês já viram este quarto aqui, quando gravamos uma crítica falada. Ah, e aqui também.Quarto onde dormimos. Já mostrei esse quarto nos mínimos detalhes neste vídeo. Gatos em cima da cama não inclusos.Banheiro. O maridão não é capaz de limpá-lo nem pra tirar uma foto. À esquerda tem um box, que já expus aqui, numa história de terror. A imobiliária avaliou nossa casa em R$ 128 mil, mas na realidade você compra uma casa de 80 m2 num terreno de 420 m2 e leva mais uma, de 60 m2.Então deixa mostrar a casinha dos fundos, onde mora minha mãe. Eu acho esse sobradinho um charme, e moraria ali tranquilamente.A cozinha da casinha dos fundos.Este é o banheiro da casinha. Adoro o espelho.O quarto onde minha mãe dorme. Fofo, não?A sala no andar de cima, que minha mãe usa como ateliê. Tá meio bagunçado, tem umas caixas aí, porque finalmente a convenci a doar sua coleção da Enciclopédia Britânica. Edição de 79.A sala vista por outro ângulo (observe a varandinha).Vista aérea do depósito em frente à casa dos fundos.Garagem com o nosso carrinho. Mas cabem dois ou três carros. Tem uma churrasqueira também, dá pra ver na foto?E esta é a vista da rua, asfaltada, arborizada (pelo menos a parte que nos toca), tranquila e tal. E aí? Você compraria uma casa usada de uma Lolinha?