Acho que o primeiro concurso de blogueiras foi bem positivo, numa análise, aham, nada subjetiva. 195 pessoas votaram nessas duas semanas, o que é um bom número. Espero que mais gente ainda tenha conhecido os posts dos blogs que participaram (da Bru, da Carol, da Cris, da Dani, da Donna, da Inali, da Jaque, da Malu, da Nessita, da Paula, da Somnia e da Srta T). Como eu falei num outro post, quero que o principal objetivo não seja a competição, e sim a divulgação de textos excelentes escritos por mulheres. Tanto que o concurso não tem prêmio. Mas que foi uma disputa acirrada entre dois posts, ah, isso foi. Na minha opinião (agora posso falar, porque o concurso já acabou), o texto da Somnia, “Primeiro Vôo do Anjo”, sobre a sensação de deixar seu rebento na escola pela primeira vez, e o texto da Daniela, “Menina Vai pra Guerra”, sobre o racismo que começa pelo cabelo, foram os mais marcantes. Quer dizer, todos os doze posts eram ótimos. Mas os dois que mais me fizeram refletir foram mesmo o da Somnia e o da Dani. Ambas disputaram voto por voto e, no final, por uma margem pequena, a Somnia ganhou, com 59 votos, ou 30%, enquanto a Dani teve 52 votos, ou 26%. Só pra efeito de registro, pra gente não esquecer: 8) Imutavelmente diferente - Donna, Conjunções e Advérbios - 2 votos (1%); 7) Crueldade - Cris, Interpretar; As dores propositais - Jaque, Bom pra Você; A vida não é filme - Nessita, Diário Não Oficial; e Rasgaram a constituição - Paula, Mais um Palimpsesto, todas com 5 votos cada, ou 2%; 6) Seja benvinda - Malu, Demônio do Meio Dia - 6 votos (3%); 5) Então tá que foi D. Pedro - Carol, Menina Má; e Emails preconceituosos - Inali, Experiência Diluída , com 9 votos (4%); 4) Como todo moderno, odeio natal - Srta T, Calma que Fica Pior - 14 (7%); 3) Confissões - Bru, Verdade Inversa - 24 (12%); 2) Menina vai pra guerra - Dani, Histórias de Menina - 52 (26%); 1) Primeiro vôo do anjo - Somnia, Borboleta Pequenina na Suécia - 59 (30%). Parabéns, moças! E super obrigada pela participação de todas. E agora vamos começar as preparações do segundo concurso, a ser realizado na segunda quinzena de julho (já estamos no segundo semestre do ano, como é que pode?!). Alguém sugeriu nos comentários que o concurso fosse dividido em categorias. Tenho que concordar que é quase tarefa impossível comparar um post sobre racismo com um sobre maternidade, e determinar qual a gente gostou mais. Eles são totalmente diferentes. Então, vamos fazer o seguinte: vamos acertar um tema para cada concurso, e vocês indiquem (de preferência aqui neste post, ou nos próximos que farei pra convocar a participação de vocês) o post que queiram sobre aquele assunto. Pra começar, vamos adotar um tema bem amplo, feminismo. Ok, sei que esse tema pode englobar praticamente qualquer coisa, mas é que eu não queria fazer um concurso em que só três textos concorressem. Mais pra frente a gente fica mais específica e lança um concurso com o tema “Como me descobri feminista”, sabe? Mas, por enquanto, feminismo tá bom. Por favor, aceito todas as sugestões possíveis para temas futuros. Eu sou muito ruim nisso de categorias. Outra ajuda que peço é para o selinho do próximo concurso (e dos próximos! Quanto mais selinhos, melhor!). Designers consagradas e amadoras apaixonadas por design, mandem pro meu email (lolaescreva@gmail.com) suas sugestões. Então comecem a indicar posts de blogueiras que vocês gostem (ou podem indicar seus próprios posts) sobre feminismo. Não vale indicar o blog inteiro. Escolham um post só, tá? E, de preferência, algo dos últimos seis meses. Super obrigada, e vamos continuar mostrando que montes de blogueiras querem ser ouvidas, mais do que vistas.
Já falei que esta sessão tá nas últimas, né? Mas ainda dá pra espremer um pouquinho. Bem pouquinho. Tratando de medir a satisfação do leitor, dou nota pras buscas que chegam aqui. Nota 1 é pra quem quer esmurrar o computador. Nota 5 é pra quem ora pela minha vida. Opa, acho que são a mesma pessoa. Comasa Joinville só mora pobre - Pô, foi isso que te disseram do bairro onde moro? Comentei essa busca com um amigo e vizinho meu e ele ficou furioso. Falou pra eu te mandar passear. Pra começar, qualquer colocação com “só” é problemática, até “em favela só mora pobre”. O pessoal daqui do Comasa é classe média baixa. Fiz estágio numa escola daqui e a professora constatou esse crescimento no poder aquisitivo. Ela, que trabalha aqui há quinze anos e morou no bairro boa parte do tempo, disse que nos últimos anos tudo mudou muito. Que antes era comum ter aluno sem dinheiro pra trocar uniforme, então vinha sujo pra escola, e que vinha com fome. Hoje isso é raro, e mais da metade dos alunos têm computador com internet em casa, por exemplo. Na realidade, essa mudança representa o que se vê em todo Brasil. Se hoje 52% da população brasileira é classe média, pela primeira vez na história, isso fica visível em cada bairro, e o Comasa não é exceção. É fato: as pessoas estão estudando mais, ganhando salários mais altos, melhorando o padrão de vida. Alguma coisa o governo Lula deve estar fazendo certo, né? Eu acho legal que, pra quem odeia o Lula, quando cai um avião em solo nacional, a culpa é dele. Mas quando o país melhora, devemos agradecer à economia internacional e a conjunção dos planetas em Saturno. Nota 3.Me sinto mal de comer bicho morto - Você se sentiria melhor ao comer bicho vivo? Talvez seja melhor parar de comer bicho, ponto? Pra mim tá muito difícil virar vegetariana. Mas dou o maior apoio. Nota 2. Onde você estava que nem no google eu te achava - De fato, onde? Se qualquer coisa que o Google não consegue encontrar ele manda pra cá? Mas essa frase aí é uma cantada? Se for, gostei. Não sei bem o que você tentava encontrar, mas gostei. Nota 3. É verdade que Michael Jackson trocou de pele??? - Trocou, tipo, que nem uma cobra? Ou fez transplante de pele? Não acredito muito nisso, não. Aliás, como regra geral, vamos combinar o seguinte: toda vez que a pergunta for tão estapafúrdia que você tiver que colocar três pontos de interrogação no final, é porque provavelmente não é verdade. Nota 1.Optimus prime estuprado no final transformers 2 - Putz, eu vi esse filme no sábado, estou me armando de coragem pra escrever sobre ele pra amanhã, e não reparei nesse ato específico. Não sei, talvez porque Optimus Prime seja um carrinho. Mas acho que, entre os 1,357 tipos de violência perpetuadas no filme, o estupro talvez não esteja entre eles. Nota 2. Qual o livro da biblia que fala sobre comer e vomitar - Não, o Google só pode estar de sacanagem comigo. Eu tendo problemas com evangélicos (que me acusam de incentivar a homossexualidade, mas oram pela minha alma), e o Google quer que eu fale de bíblia?! Sinceramente, não tenho a resposta pra sua dúvida. Mas não sabia que a bíblia era assim, uma bíblia pras bulímicas. Utilizo e já nem sei porque, afinal, isso faz ou não parte do que sou, o que fui influi no que serei, ou apenas foi tempo perdido no meio de tantas outras coisas que foram... Mas devo dizer que sinto falta, ainda que não pareça, sinto falta do pássaro lindo que enfeitava minha vida com seu maravilhoso canto, e que hoje voa longe, talvez ainda assustado com algum movimento brusco... - E o Google levou o prolixo leitor ao meu post sobre a Susan Boyle. Porque tava escrito “faz parte”. Nota 1.
Quem tirou as (lindas) fotos foi o maridão. Eu amei participar da primeira parada gay de Joinville, que os organizadores preferiram chamar de Desfile da Diversidade. Antes de chegar em frente ao Centreventos, na Avenida Beira Rio, de onde a passeata devia partir, eu estava um pouco receosa. Primeiro porque, em alguns eventos ao redor do país, principalmente em SP, houve ataques homofóbicos. Há gangues que se infiltram para semear a desordem, sim, e relatos de brigas e assaltos não são raros. Meu segundo receio era pela falta de gente. Olha só: domingo à tarde, chuvoso (choveu a semana inteira), com jogo de futebol entre Brasil e EUA na TV. E se só comparecessem uns míseros gatos pingados? Alguns amigos da Fundação Cultural me confidenciaram que esperavam 500 pessoas. Apareceram cinco mil. Foi um momento histórico pra cidade. Seria impensável um desfile desses ser realizado cinco ou dez anos atrás. Joinville é uma cidade considerada média, com meio milhão de habitantes, mas, em muitos sentidos, como, aliás, todas as cidades médias, é bastante provinciana. Algumas horas dá a impressão de ter um certo “clima do interior”, o que traz vantagens e desvantagens. No que se refere à mentalidade de parte da população, é uma desvantagem. Fechar-se no seu mundinho e crer que Joinville não tem gays (ou negros) e que todo mundo é igual, “normal” (ou seja, igual a “nós” - nós quem, cara pálida?) não é uma atitude sensata.Mas o lado bom de viver essa ilusão é que pode-se acreditar que não existe preconceito. Afinal, se em Joinville não há gays nem negros, tampouco pode haver homofóbicos e racistas, certo? O incômodo que uma parada gay causa aos conservadores é justamente esse: com os gays saindo do armário, os reacionários têm que assumir seu preconceito. E é chato passar a vida toda achando-se uma pessoa esclarecida e iluminada pra de repente perceber seu ódio. Por isso tanta gente começa suas sentenças com “Não tenho nada contra os gays”. E aí vem um “mas” demolidor: “...mas não quero que eles apareçam”, “mas eles são anti-naturais”, “...mas quero que eles morram!”. Esses preconceituosos não aceitam ser chamados de preconceituosos. Eles só querem que o mundo continue sendo como sempre foi, ora bolas!Eu não presenciei absolutamente nenhuma esquisitice na parada, a menos que se considere esquisito ver um casal de homens, ou um casal de homens de mãos dadas, ou um casal de mulheres se beijando. Ou lindos go-go boys sem camiseta, dançando lambaerótica (requebrados que pra certa gente só fica bem em corpos femininos. Engraçado, eu acho tão mais sexy ver homens dançando assim!).Ou travestis e drag queens com suas belas roupas coloridas. E jovens de outras “tribos”. Eu também vi crianças, felizes da vida por estarem participando de uma manifestação popular. Fiquei contente em ver uma colega da faculdade. Encontrei alguns amigos heteros (incluindo a Taia, que me encontrou no meio da multidão. Um amor!), e alguns gays.Vi uma senhora chorando, comovida, por fazer parte de um momento que ela jamais podia imaginar em Joinville. Vi gente pulando, dançando, mas bem mais gente andando mesmo, numa passeata eminentemente política. E a hora em que a bandeira é estendida em cima da gente é fantástica. Como aquela bandeira com as cores do arco-íris é bonita!Uma coisa que eu definitivamente não vi foi gente julgando os outros. Nem um olharzinho de desaprovação a alguém por ser “diferente”. E talvez eu fosse a diferente ali! Eu, hetero, andando com o maridão de mãos dadas. E sendo acolhida com o maior carinho. Recomendo a todo mundo que participe da próxima parada gay na sua cidade (ontem, por coincidência, foi a comemoração de 40 anos de Stonewall, manifestação em Nova York que foi a largada do movimento LGBT). É uma lição de cidadania. É pedagógico, educativo mesmo. Faz a gente constatar que o mundo é tão maior do que supõe a nossa vã filosofia. Eu me infiltrei aqui. Perguntei se podia estar na foto, e elas disseram "Claro!".
Tem algo abalando meu frágil coraçãozinho. Tá, é o concurso na Universidade Federal do Ceará. A cada dia que passa, mais eu me sinto despreparada. Olha, vou comemorar se minha inscrição for aprovada, porque só isso já é dureza. No primeiro edital, cujo prazo ia até o dia 10, eu paguei a taxa (R$ 168) e mandei toda a papelada, incluindo uma declaração da UFSC dizendo que, na verdade, eu ainda não era doutora (exigência do edital), mas minha defesa estava marcada pra dentro de nove dias. Nine f***ing days, pô. Eles não quiseram saber. Felizmente, não houve número mínimo de doutores inscritos, então eles fizeram outro edital, pedindo apenas mestrado. E lá fui eu de novo. Paguei uma nova taxa (R$ 111, pra mestre é mais barato), anexei uma declaração dizendo que minha defesa havia acontecido (em outras palavras, que eu já era doutora), mas esperava que eles pudessem aproveitar o imenso envelope que eu tinha mandado dez dias atrás! Não é biscoito. Pra quem não sabe, tem que enviar requerimento, cópia autenticada em cartório da identidade, do diploma de graduação, dos diplomas de mestrado e doutorado, do histórico escolar. Mais três cópias de uma proposta de atuação acadêmica, e três cópias do currículo Lattes, sendo uma delas documentada (e eu devo ter esquecido alguma coisa no caminho). Meu currículo tem 14 folhas, não porque eu tenha montes de artigos acadêmicos publicados (não tenho), mas porque eu incluí alguns dos artigos de jornal que escrevi ao longo de onze anos (não valem nada, porque não são acadêmicos, mas podem contar alguns pontinhos, uma miséria). Se tá lá no seu currículo, “Apresentação de trabalho no congresso tal”, precisa incluir um certificado (em geral cópia autenticada) dessa apresentação, senão ela não conta. Em outras palavras, é um bocado de papel. O meu deu mais de um quilo. Calcule quanto custa tirar xerox disso tudo, mais as autenticações. Pelo menos uns cem reais por envelopão. Fora o sedex (R$ 76). Portanto, e como lá na secretaria da universidade eles vão simplesmente incinerar a papelada, eu pensava, ingenuamente, que não teria que mandar tudo de novo. Ledo engano. Eles disseram que não poderiam reaproveitar, e lá vai a Lolinha, a grande destruidora das florestas, gastar todo seu dinheiro pra mandar mais um mega envelope. Tomara que desta vez minha inscrição seja aceita. E que eles fixem logo a data das provas, pra que eu possa comprar minha passagem aérea pra Fortaleza. Ah sim, descobri, sem querer, que a área de Letras Estrangeiras da UFC é a única que comete a loucura de exigir que o candidato prepare quinze pontos. Em todas as outras áreas, são dez pontos. Fala sério: é pessoal. Aí, na mesma época, há mais dois concursos (viva o governo Lula, yay!). Um é pra Universidade Federal Tecnológica do Paraná, com campus em Curitiba. Aqui são “apenas” oito pontos: 1. Theory and practice in English teaching
2. Current Issues in second language teaching
3. The influence of different language concepts in teaching methodology/practice
4. The role of grammar in language teaching
5. Globalization and ELT in Brazil
6. Cultural studies in language and literature teaching
7. Literature and culture: the challenge of teaching literature
8. Literature and Criticism: from the classics to post-modernism in a globalized society Já mencionei os quinze pontos da UFC, certo? O interessante é que nenhum bate! O pessoal combina, tenho certeza. Eles se reúnem e falam: vamos escolher tópicos completamente diferentes pra cada um pra que a Lolinha não faça os dois concursos. O outro concurso é pra Universidade Estadual de Maringá, também no Paraná (eu não conheço Maringá, mas todo mundo diz que é uma ótima cidade). Desta vez são dez pontos: 1. Analyze the main elements in narrative with special reference to British and U.S. novels of the 19th and 20th century.
2. Investigate the tragic element and the comic stance in some of Shakespeare’s plays and in 20th century plays in English.3. Discuss the main topics of Post-Colonial Theory with special reference to Black British Literature and literatures in English from British ex-colonies.
4. Multiculturalism is a highly influential factor in the culture of the UK and the US. Analyze its origin, development and current debate on the issue.
5. Discuss the adequacy of teacher education (Letras courses – Licenciaturas) regarding literatures in English and the fundamental education in Brazil.
6. Discuss the main contemporary concepts of translation and their implications in the education of translators at university level.7. Discuss the idea of fidelity in literary translation.
8. Discuss the main concerns of technical translation and the necessities of the contemporary globalized world.
9. Discuss the role of translation in the foreign language teacher education (Letras courses) nowadays.
10. Present and discuss the main points regarding the rights and responsibilities of a professional translator nowadays....E, obviamente, nenhum deles confere com os pontos dos outros concursos! (pra este, metade é na área de Tradução, uma linha de pesquisa que sei bulhufas. Tive um pouco de teoria na especialização, e mais um pouco no mestrado, mas ainda assim é grego pra mim). Conclusão: se já é hiper difícil me preparar em um mês pra quinze pontos, pra 15 + 8 + 10 = 33 é humanamente impossível. Tem que ser um concurso por vez, sorry. Agora, uma coisa que muito me chamou a atenção foi que são três concursos consecutivos que não exigem graduação em Letras! Três! E aí eu penso: por que diabos então estou cursando Letras a distância? E você não faz ideia como estou tentada a dar um pontapé no curso. Ou, no mínimo, deixá-lo de escanteio por uns dois meses.
Quinta-feira não foi um bom dia pras pessoas famosas. Além das mortes do Michael Jackson e da Farrah Fawcett, circulou um boato que Jeff Goldblum (A Mosca, Invasores de Corpos, Jurrassic Park) teria caído na sua casa e morrido também. Felizmente, ainda não foi dessa vez. Mas então, não recomendo a ninguém bater as botas no mesmo dia da morte de um dos maiores ídolos pop de todos os tempos. Porque aí a gente nem acaba falando da Farrah, que foi outro ídolo pop, só que muito tempo atrás. Quem não viveu o final dos anos 70 provavelmente nem sabe. Mas lembra como a Jennifer Aniston influenciou o penteado da mulherada durante toda a década de 90? (cientificamente provado: a estrela de Friends moldou a cabeça das mulheres por dez anos. Perguntem no cabeleireiro!). A Farrah fez isso no final dos anos 70 e início dos 80. Todo mundo queria ter a vasta cabeleira loira, em camadas, da Farrah. Infelizmente, todo mundo mesmo: até quem nasce com cabelo negro e crespo num mundo que só reconhece como bonito cabelo fino e amarelo (a Daniela escreveu um ótimo post a respeito do que é ser negra num mundo desses. Está concorrendo ao concurso de blogueiras. Vote, se você ainda não votou, por favor!).O poster da Farrah dividia as paredes dos quartos adolescentes com o de Guerra nas Estrelas. Certo, não o meu quarto, que eu era uma garotinha prafrentex (acho), e sabia que eu e a Farrah não tínhamos o mesmo DNA. Eu nem lembro de ter posters no quarto. Mas havia um de uma moça sorridente, puros dentes brancos mesmo, segurando uma Coca-Cola. O poster todo era vermelho, e só aparecia o queixo pra baixo da modelo, e não sei porquê, aquilo era meu referencial (talvez por isso, anos depois, quando fui ler O Cobrador e sua obsessão por dentes, fiquei tão fascinada). Imagino que eu não era tão prafrentex assim pra entender que refrigerante cheio de açúcar e dentes saudáveis não combinam (se bem que nunca fui fã de refrigerante mesmo). Mas o que eu mais observava na Farrah eram os dentes, o sorriso. Em algumas fotos era o sorriso-referência-perfeita que todos deviam ter. Mas, em outras, eu até ficava um tiquinho traumatizada. Porque parecia um sorriso tão forçado, tão artificial! Era bem o sorriso de quem estava sendo obrigada a sorrir mesmo quando não quisesse. Um grande sorriso amarelo no meio daqueles dentes hiper brancos. Na época, eu gostava das Panteras também. Suponho que ver três jovens e lindas mulheres atirando e lutando fazia bem pro meu feminismo. Eu gostaria de acreditar que já naqueles tempos eu desconfiava que o único motivo d'elas existirem era que elas eram jovens e lindas, e que elas tinham dono: as “anjas do Charlie”, no título original. Tenho quase certeza que eu considerava um tanto ultrajante que elas largassem tudo que estivessem fazendo para atender o patrão. E que ainda tinham que atender um telefone sorrindo, e rir das piadinhas machistas do cara! Eca. No entanto, depois que a Farrah saiu e foi substituída pela Cheryl Ladd, a série caiu muito (se isso fosse possível). Não concorda com a minha interpretação? Veja o piloto!Farrah vai logicamente sempre ser lembrada como uma pantera. Em 77 ela disse numa entrevista, “Quando a série era número 3 no ibope, eu pensei que era por causa da nossa atuação. Quando subiu ao primeiro posto, decidi que era porque nenhuma de nós usava sutiã”. Iuhuu, acabei de descobrir que tem um filme pra TV de 2004 chamado Behind the Camera: The Unauthorized Story of Charlie's Angels, que conta a história mórbida da série, quando Farrah ainda era Farrah Fawcett-Majors (sobrenome do então marido Lee Majors, o Homem de Seis Milhões de Dólares. O que é a inflação, né? Toda vez que eu penso no título tenho que checar pra ver se é milhões ou bilhões, porque milhões parece gorjeta do Bill Gates hoje em dia). Mas eu lembro da Farrah fazendo papeis mais dramáticos e controversos, como em Extremities e The Burning Bed, em meados da década de 80. No primeiro ela interpretava uma vítima que matava seu estuprador. Era teatro filmado, mas ainda assim chocante e interessante. No segundo, ela fazia uma vítima de violência doméstica. Ano passado, eu vi pela primeira (e única) vez a trágica comédia do Michael Sarne, Myra Breckinridge, e fiquei surpresa ao ver a Farrah lá, tão novinha. Pra mim, contou pontos em seu favor que ela tenha aceitado aquele papel de moça acéfala (como é descrita por outros personagens).Na vida real, seu grande amor foi mesmo Ryan O'Neal, que foi um dos grandes astros dos anos 70 (Love Story, Lua de Papel, e o belíssimo Barry Lyndon, do Kubrick). Eles nunca se casaram, mas tiveram um relacionamento (turbulento, por causa do vício em drogas do Ryan) durante 27 anos, de 1982 até... quinta. O pobre Ryan foi forçado a repetir na vida real seu papel de Love Story, em que ele se apaixona por uma bela mulher que morre de câncer. Farrah tinha apenas 62 anos, e combatia seu câncer (retal) desde 2006. Recentemente, ela lançou um documentário, feito com câmera caseira, narrando sua luta. Pois é. Aí eu fico fula quando ouço pessoas dizerem que a Dilma tem que largar o governo, esquecer sua candidatura e, enfim, parar de viver, pra lutar contra o seu câncer. Talvez algumas pessoas achem que o melhor jeito de se combater um câncer é justamente exercendo outras atividades?..O documentário de Farrah, Farrah's Story, foi um enorme sucesso, com 9 milhões de espectadores nos EUA. Mas, claro, tem gente que acha que câncer (e outras doenças) devem ser escondidas, varridas pra debaixo do tapete, como se não atingissem tantas pessoas. Tenho grande admiração por Farrah por ela não ter feito isso. Além do mais, pra uma estrela que foi alçada à fama por sua beleza, deve ser ainda pior ter que conviver com uma doença que mexe tanto com a aparência. Bom, Farrah, se vale alguma coisa: eu sempre gostei de ti.
Eu não estou entendendo muita coisa. Esses dias a Semana da Diversidade andou rolando em Joinville, com vários eventos, debates, palestras e, inclusive, uma Mostra de Cinema e Vídeo. Fiquei com muita vontade de ir ver o festejado De Repente, Califórnia, sobre a descoberta da homossexualidade entre dois amigos. O filme, independente, americano, que passa agora em SP, foi eleito o melhor do Festival Mix Brasil de 2007. Mas, infelizmente, eu dou aula particular todo dia à noite, bem no horário do cinema. Domingo tem a Parada Gay a partir das 15 horas e eu, o maridão e La Mamacita estaremos lá. Espero que não chova e que não haja nada parecido com a violência presenciada em outros desfiles. Eu tenho um pouco de medo, sim, porque já recebi alguns emails de homofóbicos avisando que “estarão lá” pra impedir a marcha. Fico imaginando o que o pessoal realmente envolvido com a programação anda recebendo de ameaças... Mas então. Anteontem chegou um email de esclarecimento da Fundação Cultural de Joinville. Dizia que a intenção da mensagem era rebater comentários feitos a respeito do poster e “informar que esta é uma criação nacional e que em momento algum tem como objetivo ofender aos cidadãos. Como o próprio mote – impresso nos panfletos e cartazes – a campanha parte do conceito 'O QUE É ESTRANHO PARA VOCÊ?'. O trabalho feito pela agência da Associação Cultural Festival Mix Brasil de Cinema e Vídeo, em São Paulo, é reconhecido como uma obra de arte e seu papel é justamente o de provocar a reflexão sobre as diferenças e a diversidade, jamais excluir ou prejudicar. Assim, dentro de um conceito artístico, a figura feminina que aparece na campanha não necessariamente é a de uma mulher'. Achei estranho porque, pra início de conversa, eu nem sabia de que cartaz estavam falando. E quem estava reclamando? Os conservadores, que acham tudo uma pouca vergonha, que querem que os gays se recolham a sua insignificância, mas que se ofendem ao serem chamados de homofóbicos? Ou era a própria comunidade LGBT que estava reclamando? Pedi pra assessoria de imprensa me mandar um email com o poster. Tá aqui. Pra vocês julgarem (clique para ampliar). Não sei se vocês tiveram a mesma reação de “What the f***?” (ou, copiando o Mos Def, “What the duck?”) que eu. Mas isso é cartaz pra divulgar a Semana da Diversidade e combater preconceitos ou pra criar preconceitos? Putz, esse poster, apesar de esteticamente bonito, não parece ajudar em nada a divulgar a diversidade. Ok, não foi criação da Fundação Cultural daqui, mas a Fundação o aprovou. A gente não tem que baixar a cabeça e considerar um anúncio uma “obra de arte” só porque veio de SP, tem? Pra começar, a chamada, "O que é estranho para você?", não deixa claro se está dirigida ao público leigo (e, como vemos em Joinville, preconceituoso), ou aos gays e simpatizantes. Se for ao público leigo, o cartaz só atrapalha, reforçando clichês de gays como seres hedonistas, na piscina, com pouca roupa, interessados apenas em sexo. Pô, é exatamente assim que os homofóbicos vêm as paradas gays! Não é desse jeito, com essas imagens, que vamos conquistar corações e mentes. E não entendi mesmo o que a mulher-galinha quer dizer! Não sei se vocês repararam à primeira vista que a mulher tem pés de galinha (literalmente) e crista. Ela não olha pro casal gay, mas o casal gay olha pra ela... com estranheza! Que é justamente como não queremos que os gays sejam tratados. Mas qual é a mensagem? Que, perto de uma criatura que não existe, os gays até que não são tão estranhos? Que mulheres não se misturam com gays? E se a mulher-galinha da foto não representa necessariamente uma mulher, o que representa? Um travesti com pés de galinha? Piorou! Ou tem alguma interpretação que eu não pesquei?Não há dúvida que o cartaz provoca a reflexão. Só não estou certa que é a reflexão que desejamos. E claro que a Semana da Diversidade é muito maior que um simples cartaz, e espero que ela esteja sendo um enorme sucesso. Mas esse poster... Pelamordedeus, né?
Já ouviu falar sobre o governador da Carolina do Sul que sumiu durante uma semana sem que ninguém (nem sua família, nem seus assessores) soubesse onde ele estava? Ele reapareceu pra revelar que estava tendo um caso extraconjugal. Pegou mal pacas, até porque ele é republicano, partido cada vez mais à direita, que prega a moral e os bons costumes. E porque domingo, dia 21 de junho, foi Dia dos Pais nos EUA. E ele tem quatro filhos, e ficou com a amante. Mais um do time dos presidenciáveis americanos que joga a carreira no lixo. É por isso que a principal liderança conservadora nos EUA é o radialista reaça Rush Limbaugh. Que não concorre a cargo algum. Pra variar, o sarcástico Nate publicou uma notinha hilária sobre o assunto. Como o sujeito da Carolina do Sul opõe-se ao governo Obama, Nate levantou a hipótese que Obama mandou matar o governador. “O jeito mais fácil de resolver isso é encontrar o governador ou seu corpo em decomposição o mais rápido possível”, disse Nate. Felizmente, não há cadáveres. Só cadáveres políticos.Outra tirada do Nate foi comentar sobre a campanha pró-abstinência que a filha da Sarah Palin, Bristol, está lançando nos EUA. Parece piada: a adolescente ultra-conservadora que engravidou fora do matrimônio vai falar pros teens pra não transarem antes do casamento. Nate diz que é muito eficaz ela levantar o bebê para o auditório lotado e gritar: “Vejam! Isto pode acontecer com vocês!”. Para ilustrar, Nate pôs a foto de uma camisa pró-abstinência à venda nos EUA. A camiseta mostra uma mulher e as palavras: “Sou gostosa o suficiente para fazer você esperar”. Hã? Mas o que adorei mesmo foi o comentário de uma leitora. Ela queria saber onde comprar a camiseta escrito “Não fui gostosa o suficiente para fazer os garotos esperarem”. Ha, eu também usaria uma dessas! Seguindo essa guerra religiosa em que me meti (sem querer), um leitor indignado me escreveu, acerca do meu texto no jornal (ampliado, e publicado, no blog): “Cara Lola Aronovich, estou com uma pulga atrás da orelha. Você, se não me engano pela segunda vez, escreve algo sobre o tal livro The Abstinence Teacher, e com muita inteligência cutuca sem admitir quem segue esta religião. Sinceramente acho muito raso você, com seus comentários, colocar todos os cristãos no mesmo saco. Não sei qual seu objetivo, talvez cutucar os evangélicos devido à posição dos mesmos em não apoiar, ou incentivar, a prática homossexual, já que entramos na tal semana da diversidade. Falando em diversidade, desde que eu era pequeninho, respeitar a fé alheia, não fazer pré-julgamentos sobre coisas que não temos conhecimento, é premissa básica de convivência. Se você gostou do tal livro e das caricaturagens que o autor faz dos evangélicos, é um direito seu. Se voce acha um absurdo quem tem a abstinência sexual como opção ou prega sobre isto, ok. Mas cuidado, como defensora da diversidade sexual e, pelo visto, como intelectual liberal que é: fique sabendo que os evangélicos também pensam, fazem faculdade, escrevem livros e não são tão 'satíricos' como vocês pensam. 'Porque a loucura de Deus é mais sábia que a dos homens: e suas fraquezas mais fortes... E Deus escolheu as coisas loucas para confundir as sábias...01 Co 01;26:27. Estaremos orando por sua vida!”Eu respondi: “Obrigada pelo comentário. Olha, minha intenção em falar do livro foi simplesmente elogiar um romance do qual gostei muito, que vale a pena ser lido, e que vai virar filme daqui a pouco. Inclusive, achei que o autor foi respeitoso com os evangélicos, não satírico. Aqui no Brasil a situação não está tão dividida como está nos EUA, não estamos no meio de uma 'guerra cultural', que é o que ocorre lá. Porém, cada vez que os evangélicos e demais religiosos brasileiros quiserem perturbar a divisão entre religião e estado, mais conflitos teremos. Eu sou da opinião que o estado não deve se intrometer nas religiões, E VICE VERSA. As religiões devem ter liberdade, e o estado deve ser laico e tratar todos os cidadãos (incluindo aí os gays) como iguais. E sim, sou contra as religiões interferirem no currículo escolar. É realmente isso que queremos? Que o criacionismo substitua o conceito da evolução nas escolas? Pregação de abstinência sexual (que não funciona!) ao invés de aulas de educação sexual? É justamente esse fanatismo que está tornando os EUA um país cada vez mais atrasado em relação a outras nações ricas. Desde já agradeço pelas orações pela minha vida que, espero, ainda será muito longa”. Eu não falei que, desde Pulp Fiction, não consigo levar a sério quem cita a bíblia pra mim. Opa, acho que eu já não levava a sério antes. Soa muito citar autoridade pra rebaixar o interlocutor. Algo como “Você sabe com quem está falando?! Com Deus!”. Mas começo a pensar se não estamos no início de uma guerra cultural aqui no Brasil também. Recebi um outro email com a imagem da Marcha para Jesus, Joinville 09, cujo lema é “Família: um projeto de Deus”. Geralmente, quando se fala em família e Deus na mesma frase, o discurso é conhecido, e igualzinho ao da direita cristã americana: “God hates fags” (Deus odeia bichas). Ok, só a direita cristã mais cheia de ódio no coração diz isso. Mas todas as outras igrejas vêm com um discurso de “Não odiamos o pecador, odiamos o pecado”. Que é uma mensagem intolerante. E ao mesmo tempo essas pessoas que "amam o pecador" querem impedir que a primeira Parada Gay se realize em Joinville (neste domingo, às 3 da tarde. Estarei lá). Que tal a gente marcar uma trégua? Cada um realiza a marcha que quiser sem ser demonizado ou ameaçado pelos outros. Cada um cuida da sua vida, sem orar para salvar almas amaldiçoadas. Pode ser?