Fiquei radiante que várias blogueiras escreveram textos especialmente para este concurso com o tema “A origem do meu feminismo”. E o resultado foi excelente, como vocês vão poder conferir a partir de hoje. Que eu saiba (e digo isso porque posso ter pulado algum email, ou alguém deixou uma indicação de texto em outro post, não relacionado ao concurso, e eu não registrei), foram 16 inscrições. E, como pedir pra que vocês leiam 16 posts de uma vez só é um pouco demais, resolvi dividir o concurso em duas etapas (seguindo sugestões do último concurso, faz teeempo). Na primeira estapa, que é esta que você vê, os oito primeiros textos (em ordem alfabética de como a blogueira assina seu nome) estão aqui, para serem votados na enquete ao lado. Vocês podem votar (apenas uma vez por pessoa, se bem que, se você acionar o blog pelo Firefox e pelo Explorer, são dois votos) entre hoje e, hm, dia 13 de setembro, que tal? Daí, no dia 14 de setembro, ou seja, daqui a duas semanas, eu coloco a enquete para a segunda parte do concurso, com os outros oito posts incritos. “Classificam-se” os três posts mais votados de cada etapa, e aí a gente faz a etapa final, com uma enquete apenas para esses seis posts mais votados. A intenção do concurso, como vocês já sabem, não é competir ou premiar umas e excluir as demais. É divulgar blogs interessantes escritos por mulheres. É criar novas amizades. É convidar as minhas 50 mil visitas por mês (que não sei quantas pessoas são) a conhecer outros blogs. Então, por favor, peço para que vocês me ajudem a divulgar o concurso nos seus Twitters e blogs. Se puderem, coloquem o selinho acima, que foi feito pela Nathaly, nos posts sobre o concurso. E ponham sempre o link para este post, de preferência (ou seja, http://escrevalolaescreva.blogspot.com/2010/08/concurso-de-blogueiras-no-ar.html), não pro meu blog. Eu peço isso porque a enquete do blogspot não permite que links sejam colocados dentro da enquete, como seria o ideal. E, como pretendo seguir atualizando meu blog pelo próximo mês (tempo que vai durar este concurso, por aí), este post não será o primeiro a ser visto quando a página for aberta. Bom, como o objetivo é divulgação, vou colocar todos os 16 posts inscritos para o concurso neste post (e no do dia 14/9, que tratará da segunda etapa do concurso). Mas, na enquete ao lado, vocês só poderão votar nos oito primeiros, ok?Se você ficou com vontade de participar, não se preocupe, que teremos outros concursos. E acho que esse tema, A Origem do meu Feminismo, é muito rico. É fascinante como temos 16 posts, 16 origens diferentes e, quem sabe, 16 diferentes formas de ver o feminismo. Então vamos lá, vamos ler, votar, e se comunicar. E não se desesperem se a enquete não sair do zero por um tempo. Isso aconteceu nas duas últimas enquetes que realizei, problemas do blogspot. Mas uma hora os votos aparecem.
Primeira etapa do concurso (enquete atual)O feminismo que papai ensinou - Aline, Meus e OutrosComo um machista me transformou em feminista – Amanda, Petit Journal de la Porte DoréeO Feminismo & Eu - Bia, Groselha NewsAos 21, era muito mais feminista do que sonhava a minha vã filosofia – Clara, Gaveta VirtualFeminismo, ateísmo e outros “ismos” - Deborah, A Realidade, Maria, é OutraSobre a origem do meu feminismo – Ge, O Ângulo Mais BonitoO começo de tudo – Fernanda, Grito de FernandaFeminista graças a Deus (e olha que sou agnóstica) - Laurinha, Mulher ModernexSegunda etapa do concurso (para a próxima enquete)Mulheres, homens e mais mulheres – Leika, ProseandoFeminista, eu? - Leticia, Chá-TiceO dia em que me tornei feminista – Lúcia, MemóriasA anti-garota Anglo – Maíra, Como Assim?!Feminismo, hein? - Nanci, Lúdica e ÁcidaAntes que o galo cante - Renata, Agruras e DelíciasMenina pode sim – Rita, Estrada AnilA origem do meu feminismo - Wonderwoman, Coffeee, Clear Heels and Random Thoughts
Eu acho, sim, que a gente culpa o governo (qualquer governo, de qualquer partido, e tanto o federal, estadual ou municipal) por qualquer coisinha. E, se a gente parar pra pensar bem, o impacto do governo em nossas vidas não é tão enorme (pelo menos pra classe média, que tem plano de saúde e escola particular, e, às vezes, até segurança privada). Tem um monte de coisa que depende de nós, ou do nosso bom exemplo, pra ser implantada. O exemplo mais óbvio que eu vejo é o trânsito. Quem faz o trânsito somos nós. Carros e estradas são apenas acessórios. Quem causa acidentes, quem não respeita faixa de pedestres, quem corre mais do que devia, quem dá fechada, quem estaciona em vaga de idoso ou deficiente ou em cima da calçada, é o motorista. Se o trânsito é caótico (e é, na maior parte das metrópoles), não adianta culpar o governo. E o mais incrível: culpamos o governo por nos multar nas infrações que cometemos. Não quer multa? Respeite as leis! Não é difícil, basta seguir algumas regrinhas básicas. Não jogar lixo na rua. Recolher o cocô do cachorro. Cuidar bem do seu bichinho de estimação, nunca abandoná-lo e, se você for o feliz dono de um gato, castrá-lo. Ser simpático e sorridente (e isso vale pros nossos relacionamentos cybernéticos também. Pra quê ser estúpido?). Plantar árvores, e espalhar o verde o máximo possível. Nunca escutar música num volume que as outras pessoas possam escutar (quer ficar surdo? Use fone de ouvido! Poupe os outros). Não gritar. Não buzinar, a menos que seja estritamente necessário. Poluição sonora é uma causa de mal-estar tão grande quanto poluição visual. Não furar fila. Evitar julgar. Evitar fofocas maldosas. As pessoas gostam mais de quem as faz sentir bem. Dar espaço. Não transformar tudo numa disputa territorial. Reciclar. Economizar água. Colocar-se no lugar do outro.Vamos imaginar uma rua arborizada, limpa, bonita, tranquila, onde todos os moradores são simpáticos e solidários uns com os outros. Uma simples rua, um pedacinho de uma vizinhança. Quem não gostaria de viver numa rua assim? Agora vamos estender essa rua, transformá-la numa cidade, num país, e pensar no mundo que queremos. Queremos um mundo melhor? Começa pela gente.
Teve uma brincadeira deliciosa lá em casa ontem, mas nunca fui tão humilhada em toda a minha vida. Era aquele joguinho de mímica com nome de filme, sabe? A humilhação começou quando o Elton tentou passar Quanto mais Idiota Melhor pro seu grupo e, na hora de passar a palavra idiota, eu gritei, “Quero ver pra quem você vai apontar!”. E aí é lógico que ele apontou pra mim. Mas o pior é o quê o seu grupo interpretou. Vejamos... Burra? Boba? Até “p*ta” saiu da boca do Alisson! Mais tarde, eu vi a Manu se contorcer pra não apontar pra mim quando tinha que passar a palavra baleia (o nome do filme era Baleias de Agosto). Mas o pior mesmo, sem dúvida, a humilhação suprema, foi quando decidimos mudar os grupos. Como as quatro meninas juntas estavam arrasando (elas são telepáticas entre si, não é possível), minha ideia foi que cada uma escolhesse duas pessoas para a sua equipe. Assim elas ficariam separadas. Sugestão aceita, e cada uma começou a escolher uma pessoa. E sabe quando você percebe que você tá ficando pro final, no time do “ninguém me quer”? Tá certo que, ontem à noite, eu já havia falhado ao não conseguir passar dois títulos fáceis, Papai Noel Existe e O Poderoso Chefão 3. Eu sou bem fraquinha nas mímicas, eu sei, mas sou boa em adivinhar o nome dos filmes. Mesmo assim, ninguém me chamava pra sua equipe. Chuif. E o pior é que eu não fui nem a última a ser chamada. Não, a última até seria bom, em comparação. Triste mesmo foi que todos já haviam sido chamados, menos euzinha, e a Janice pergunta: “Faltou alguém?”. Faltou alguém? é muito mais dolororo do que se o pessoal tivesse olhado pra mim, com cara de pena, e dito "E a Lolinha pode ficar naquele time lá". Eu me senti nos tempos da escola, quando ninguém me queria no time de basquete! No final da noite ainda me redimi, porque acertei o Ata-me! antes de todo mundo e fiz minha equipe ganhar o jogo. Aplausos, palavras de incentivo, e, se não fosse os meus quilões a mais, até teriam me carregado nos ombros, à la Sociedade dos Poetas Mortos, mas o estrago já estava feito. Chuif chuif. Vou te contar: já estive mais bem cotada na praça, viu? Que venha o próximo jogo. Minha vingança será maligna!
Eis uma crônica minha publicada em 2002, sobre um dos jogos de mímica com amigos de SP.
CAPITANIAS HEREDITÁRIAS VS. ENTIS, O DUELO
Não sei se você já brincou de um jogo super legal de mímica em que alguém tem de passar uma palavra pro seu grupo. Em panelinhas de cinéfilos, a gente não passa qualquer palavra – passa nome de filmes. Se tiver disposição, pegue uns cartõezinhos e coloque um título em cada um. É diversão garantida, pra usar um clichê. Aí você pode estabelecer alguns códigos, como apontar pro olho pra dizer "o", ou pra boca quando é "em outra língua", ou algum indicativo pro plural.
Claro que o que mais me lembro das noites em claro dessas brincadeiras com amigos não são as dezenas de filmes que conseguimos passar eficazmente, mas as burradas. O maridão, por sinal, protagonizou uma delas. Ele começou fazendo o sinal do artigo. Falamos "o". Mas ele pediu em outra língua. Dissemos "the", depois "a", e finalmente "an" que, aparentemente, era o que o grande mentecapto queria. Para a próxima sílaba, ele apontou pra camiseta. Também desejava a tradução pro inglês. Gritamos "shirt", até que acertamos e falamos "t-shirt". Ele pediu pra separar, e comandou o plural, que deu "tes". Tínhamos a palavra "antes", ou melhor, na pronúncia correta, "entis". E o tempo dele caiu. Sabe qual era o nome do filme, do qual o maridão foi capaz de passar uma única palavra? Antes Só do que Mal-Acompanhado. Dá até vergonha de contar. Desnecessário dizer que ele quase foi linchado.
Na mesma noite, um amigo tratou de igualar-se. De cara, ele imitou alguém colocando sal numa pizza, ou algo assim, pra passar "sal". Até aí, tudo bem. Só que, em seguida, fez o mapa do Brasil com a mão, o que demorou um tempão pra descobrirmos. E, pior, apontou pra uma parte do mapa. E nós lá, boiando. Quando terminou o tempo, ele explicou que seu título era Salsa, O Filme Quente. De acordo com o gênio, o mapa servia pra mostrar capitanias hereditárias e Mem de Sá, de onde ele tiraria a segunda sílaba. Ahn, ganha um beijo quem imaginar uma maneira mais complicada de passar "salsa". Triste.
Hoje, a partir das 10 da manhã e até às 15 horas, haverá uma feira de adoção de animais no Shopping Benfica, pertinho de casa, aqui em Fortaleza. Se você quiser um gato ou cachorro fofinho pra chamar de seu, ou pra que ele te chame de seu, agora é a hora. Já eu tô querendo escrever este post faz meses, e vou aproveitar a feira pra finalmente deslanchar. Seguinte: eu sempre amei cães e gatos, sem preferência e sem essas frescuras de ter que escolher se sou um “cat person” ou um “dog person”. Sou os dois. Sabe aquele pessoal que se derrete ao ver um bebê e faz “Ahhhh que gracinha!”? Essa sou eu, só que com animais. Só que cresci numa família de classe média que, pra não atrapalhar a rotina da casa, negava-se a ter um bichinho de estimação. Até que eu fiz 18 anos e finquei o pé: não havia nada que eu quisesse tanto quanto um cachorrinho. Tanto insisti que ganhei um, um lindo Yorkshire, o Piteco, ou Pity, que foi um grande companheiro durante sete anos, até que foi vítima de um erro médico e morreu. Naquela época em que implorei ganhar um bichinho de aniversário, ninguém da minha família sequer cogitava ter um bichinho que não fosse de raça, com pedigree. Lembro que fiquei semanas pensando numa raça, que tinha que ser pequena, porque morávamos num apartamento, em SP. Salsicha pequeno não, que podia ter dor nas costas. Pinscher ou Chihuaua? Ambos meio histéricos. Beagle? Tem fama de destruidor. Cocker? Precisa cuidar muito das orelhas. Até que optamos por um Yorkie. Em nenhum momento passou pela cabeça da minha família adotar um viralata, um cãozinho de rua. Mas por que não? Tá cheio de bicho precisando de uma casa. Sem falar que não é bom encorajar criadores de cães e gatos, muitas vezes envolvidos com práticas anti-éticas (por exemplo, o que é feito com filhotes que não nascem saudáveis?). Eu até posso entender que, no caso de cães, a gente queira um pequeno, e às vezes viralatas são imprevisíveis. Mas gatos?! Tamanho de gato não varia quase nada! E alguém vai ter que rebolar muito pra me convencer que o seu Persa é mais bonito que o meu amarelo Calvin, ou a minha preta Blanche, ambos viralatas. Eu amo tanto animais que o que gostaria de fazer seria ter um centro que cuidasse deles, recolhesse os de rua, encaminhasse pra adoção... Mas sou acomodada. Felizmente, em vários lugares tem gente que faz isso por mim. Gente que faz tudo por bichos. Ao chegar em Fortaleza, quem me acolheu durante uma semana foi a Iolanda... e seus 45 gatos. Ela vive pra eles. É ativista animal e faz parte de uma organização, a APATA (Associação Protetora dos Animais para Tratamento e Adoção). Como todas as organizações que lidam com animais, a APATA vive no vermelho. Não recebe verba pública. Depende de contribuições e dos seus voluntários. Obviamente, não tem fins lucrativos. Quer apenas dar alguma esperança a dezenas de bichos que são abandonados diariamente pelos seus donos, ou cruelmente torturados por outros humanos, esses seres racionais. E a APATA ainda tem que ouvir aquela balela de “Por que vocês gastam tempo ajudando animais e não ajudam crianças?”. Essa balela que sempre vem de gente que não ajuda nem um nem outro, muito pelo contrário. Em Fortaleza, a maior fonte de renda da APATA vem das notas fiscais. Isso eu comecei a colaborar de cara, porque não custa nada. É só guardar os cupons fiscais acima de 5 reais (gastos com gasolina e bebidas alcoólicas não contam) e ou depositá-los em alguma urna da entidade, ou ligar pra APATA que algum voluntário vai buscar. Pra facilitar um pouquinho, eu separo os cupons por lugar de compra, somo cada listinha, e já entrego tudo pronto, porque são os voluntários que fazem isso, e dá um trabalhão. Mas vale a pena. Depois de três ou quatro meses, eles recebem 0,5% do valor. Isso cobre parte do que gastam em ração, remédios (a APATA não sacrifica animais), e castrações. Assim que comecei a receber salário, decidi contribuir com cem reais mensais. É o mínimo que posso fazer.Se alguém puder colaborar, seja com doações, com trabalho voluntário, com adoção de algum bichinho, ou juntando cupons fiscais, por favor, entre em contato com a Flávia, presidente da ONG, pelo fone 9981-5766, ou mande um email para apatece@hotmail.com. Vou estar na feira do Benfica hoje, tentando ajudar, ou ao menos tentando não atrapalhar muito (sou meio desastrada). Dêem um pulinho lá pra gente conversar e, quem sabe, encontrar um novo amigo. E uma nova amiga. Quem ama animais é da minha turma.
Eu vejo flores em você, democracia.
Ieeeiiii! Que demais! Semana passada recebi uma convocação do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará para atuar como mesária nas eleições! Estou muito feliz. Sei que pra muitos esse trabalho pode parecer como o inferno na Terra, mas, no meu caso, eu me voluntariei. Alguns meses atrás, quando eu e o maridão fomos transferir nosso título, de SC para CE, para não perdermos uma eleição sequer, vi um folheto pedindo voluntários. E eu sempre quis ser mesária, então preenchi uma ficha. E ainda perguntei pro maridão: “E você? E você? Você não quer? Vamos ser mesários juntinhos, super romântico!”. Mas ele disse que não, de jeito nenhum, “Vai você”. E quando eu quis saber por que diabos não, ele respondeu com aquela resposta típica de quem tem cinco anos: “Porque não”. (Vocês não têm ideia de como odeio uma resposta dessas! É de quem se nega a pensar, a argumentar!). Mas eu já estava radiante demais só por ter me inscrito pra ficar chateada com a negativa maridística. E perguntava pra ele: “Será que eles vão me chamar? Será?”. E ele: “Oferecida do jeito que você é, não tem como não te chamarem”. Oferecida é um elogio, né?
Eu quis ser mesária porque adoro votar. Porque eleição, pra mim, é um dia especial, um dia de festa, um dia em que me sinto inebriada mesmo, apesar da Lei Seca e de eu detestar qualquer tipo de bebida alcóolica (pelo gosto! A única bebida que eu amo é água. Sem gás). Eu só comecei a poder votar de uns doze anos pra cá, quando me naturalizei brasileira. Mas sempre participei das eleições. Eu amava de paixão fazer boca de urna, por exemplo. Acho um atraso de vida terem proibido, já que fere um direito de todo cidadão, que é o da liberdade de expressão. O quê que tem eu conversar com alguém sobre o voto? Tem um monte de eleitor que “decide na hora”, lá na urna, em quem vai votar. Um monte. A maior parte do pessoal que eu abordava me agradecia por conversar com ele sobre política. Sei que soa arrogante, mas é verdade.
Eu raramente entregava santinho. Era mais um adesivo mesmo pra pessoa colocar no peito, com orgulho do seu candidato. E eu quase sempre só fazia campanha pra presidente. E às vezes governador. E prefeito. Enfim, quase sempre pra cargo executivo. E quase sempre sozinha. Eu ia em algum comitê do PT, pedia adesivo pra distribuir, e ia pra frente da escola que eu quisesse. A única vez em que deixei que eles me colocassem onde quisessem, fui parar na frente de um clube esportivo de elite. Nojento. Fazer o quê num clube de elite? Lá o pessoal já tem seu candidato, que certamente não é o meu. Fiquei lá uns quarenta minutos antes de ir pra uma escola do meu bairro, de classe média baixa.
Continuei fazendo boca de urna depois que ela foi proibida, e nunca fui incomodada. De vez em quando os policiais até olhavam pra mim com cara feia, e pediam que eu me afastasse um pouco, mas era raro. Eu lembro quando chegava um outro militante e perguntava: “Você já votou? Tem que votar antes! Assim, se você for presa, pelo menos o seu voto já tá lá”. E, não sei porquê, eu não tinha a menor intenção em ser presa.
Tá mais do que na cara que a proibição da boca de urna foi uma forma de coibir a influência da militância petista. Como se sabe, só o PT tem militante; os outros partidos têm cabo eleitoral (ok, outros partidos de esquerda também têm militantes). E a diferença é gritante. Militante não recebe nada além de adesivo. Quando muito, vem uma camisa. Eu sou da época em que a gente tinha que pagar pela estrelinha e bandeira do PT. E militante é politizado, sabe argumentar, sabe convencer, já que está lá por convicção. Cabo eleitoral raramente vota no candidato que está promovendo. Pra ele, distribuir santinho e empunhar bandeiras é emprego burocrático. Já contei que a única vez na vida que recebi algo em troca da minha boca de urna foi quando fiz campanha pro FHC, pra prefeito de SP, em 1985? Recebi um lanche e uma camiseta. Foi a única vez em que fiz campanha pra alguém não do PT, e me arrependo amargamente de ter pedido “voto útil”.
Proibir a boca de urna diminuiu bastante a festa democrática que é uma eleição. É muito gostoso ver todo mundo conversando sobre política. Povo politizado conversa sobre política, e é isso que a gente deveria querer: um povo politizado, que fala sobre política todo santo dia, sabe em quem votou, pode cobrar.
Sei que ser mesária não tem nada a ver com fazer boca de urna. Mas é que sou daquelas que adora votar. E fico frustrada quando voto rapidinho demais. É anticlimático, sabe? Eu quero ficar lá, saboreando o momento. Sinceramente? Não imagino que alguém de direita possa entender isso. É preciso ter paixão política pra entender. Não só votar contra alguém, mas votar a favor de alguém, de suas propostas, de seu projeto.
Eu sempre ficava com invejinha quando ia votar no meu colégio eleitoral, perto da minha casa, em Joinville, e encontrava algum amigo como mesário. Ele fica lá o dia todo!, eu pensava. E meus amigos raramente reclamavam por serem mesários. Eles são daqueles que trabalham o dia inteiro da eleição de qualquer jeito, ora como mesário, ora como fiscal do PT (o maridão foi na última eleição, a que o Carlito ganhou. E até ele, que não é um animal político, gostou).
E agora chegou a minha vez! A carta de convocação diz que haverá um treinamento de duas horas num sábado de manhã, daqui a pouco menos de um mês. Massa! E avisa que “a participação neste evento a dispensará do serviço pelo dobro dos dias de convocação, conforme o art. 98 da Lei no. 9.504/97, aplicando-se este dispositivo tanto ao serviço público como ao setor privado”. Naquele folheto que li no dia em que transferi meu título também dizia que ser mesário dá direito a dois dias de folga. Mas se ausentar do trabalho por fazer algo prazeroso? Não parece lógico pra mim. Sem falar que meu trabalho também é prazeroso. Não vou faltar não, tenho mais o que fazer.
E gente boa, pra que eu não tenha nenhuma dor de cabeça nesse dia especial que será 3 de outubro, lembrem-se de levar seus documentos. A partir desta eleição, não é possível votar apenas apresentando o título de eleitor. Precisa mostrar um documento com foto também, como a carteira de identidade. E depois eu conto pra vocês todos os causos interessantes que a gente passa por ser mesária. Pode contar, certo? Não tem sigilo profissional ou coisa do gênero pra mesário, tem?
Momento histórico: o fim do Twitter. Atendendo a pedidos, pressões e, principalmente, subornos chocolatísticos, eu estou entrando no Twitter. Calma! Nada de festa ainda! Primeiro gostaria de avisar aos que estão me comprando com chocolate que não me vendo por pouco. Segundo que minha continha no Twitter vai ser bem mixuruca. Não esperem os rompantes de genialidade, ha ha (tô gargalhando agora), que vocês estão acostumad@s a ver neste humildérrimo bloguinho. E terceiro que vocês riem à toa, né? Pra que saudar minha chegada tardia ao Twitter se a ferramenta não deve ter mais que um mês de vida? Explico: eu fui oficialmente a última brasileira (há discordâncias acerca da minha nacionalidade. Intrigas da oposição!) a entrar no Orkut. Acho que aceitei o milésimo convite de alguém em 2006. E só aí descobri que já havia duas comunidades (fofinhas, de fãs, não de detratores) sobre a minha pessoinha no troço. Porque eu sou assim, rápida. Mas foi só eu entrar que surgiram os boatos de que o Orkut estava ultrapassado, que a rede de relacionamento não tinha futuro, que lá só tinha brasileiro, eca!, que o quente mesmo era o Facebook, e sei lá mais o quê. É sério: deram o atestado de óbito pro orkut um mês depois da minha triunfal estreia! (O Orkut continua vivo, sem muito prestígio, assim como a minha conta e as minhas duas comunidades. Eu entro no orkut uma vez a cada dez dias, se tanto). Portanto, não tenham dúvidas que o mesmo vai acontecer com o Twitter, agora que eu entrei. Espero que vocês não sintam falta. Mas dá pra sentir falta de um Twitter? Não sei, tem gente que vicia, juram as más línguas. Eu recusei entrar porque já gasto tempo demais na internet. Ter um blog atualizado diariamente, ler todos os comentários (ainda que não encontre tempo para respondê-los), visitar, mesmo que rapidinho, os blogs de pessoas queridas, checar emails, inclusive de leitor@s do blog, isso tudo leva horas. E, por mais que eu adore essas atividades, eu tenho que trabalhar. Então não preciso de mais internet pra me ocupar. Além do mais, alguém em sã consciência consegue me imaginar escrevendo algo com menos de 1,400 caracteres? No Twitter são sempre 140 estúpidos caracteres? Eles não abrem exceção pra ninguém não?Há outros motivos também, admito. Eu não estava no Twitter, mas de vez em quando lia algumas coisinhas lá. E não gostava muito do que lia. Pra saber notícias de último minuto, tenho certeza que nada bate o Twitter (logicamente que todo mundo que estava tuitando ficou sabendo da morte do Michael Jackson antes de mim). Pra passar links, deve ser o ideal. Pra fofoquinhas, talvez. Mas pro resto? Pelo pouco que vi, não parece um espaço bom pra conversar, e muito menos pra debater. Isso de ler as frases de cima pra baixo é muito estranho. E tem o limite de espaço, que pra uma pessoa prolixa como eu, é, ahn, limitador. Parece, não estou certa, que os tuiteiros deixaram de usar suas contas para anunciar temas de suprema importância pra humanidade, como “Comi um pão de queijo gostoso” ou “Vou ao banheiro”. Mas nem era isso o que mais me irritava. Eram as supostas pérolas de sabedoria. Gente que quer falar algo profundo em 140 caracteres! Acho até que é possível distribuir pérolas de humor em tão pouco espaço, com a vantagem de não soar pedante. Mas sabedoria não! E o meu preconceito era (é) também em parte por causa de uma forçação de barra, uma espécie de “porque sigo Fulano no Twitter tenho uma relação de amizade muito intensa com ele”. Eu acompanhei essa onda na época em que o William Bonner entrou no troço, e senti vergonha alheia. Era um tal de “Eu sou amigão do Bonner!” e “Boa noite, William”, que me deixavam constrangida. Benedict Anderson acertou na veia quando falou de “comunidades imaginárias”. Põe imaginário nisso! Quer dizer, eu li que o apresentador do Jornal Nacional pediu a opinião de seus seguidores sobre a cor da gravata que usaria numa noite. E esses seguidores, além de opinar, ainda escreveram que pautavam o JN! O Bonner liga pra nossa opinião! Estou interagindo com ele! Olha só, sem as mãos, mamãe! E eu lia muita birrinha também. Brigas intermináveis e infrutíferas, porque, ahn, preciso repetir, ninguém sai vencedor de um debate de 140 caracteres. Sem falar que isso de seguidores pode se transformar em concurso de popularidade, e quem precisa disso? Foi por esses motivos que me mantive afastada todos esses anos (a primeira vez que ouvi falar no Twitter foi no início de 2008, creio). Ah sim, e eu já era xingada bastante (algumas amigas me mandavam emails do tipo “Você viu o que Tal e Tal escreveu sobre você?”) sem estar no Twitter. Mas pessoas do bem (vocês não querem que eu considere quem me insulta pelas costas “do bem”, certo?) têm me falado repetidamente que o Twitter funciona, que sem estar no Twitter você não é ninguém na internet, que pra divulgar o blog o Twitter é mais ligeiro e eficaz que qualquer outra ferramenta (uma amiga me contou que uma conhecida dela ficava sabendo das atualizações do meu blog através do meu Hate Club no Twitter, acreditam?), que o Twitter aumenta a frequência do blog em até 20%, por aí vai. E teve a pá de cal de me oferecerem chocolate em troca da minha ida. Depois disso minha resistência virou pó numa questão de dias. Então... Eis aí o meu Twitter que, pra combinar com o meu email e lembrar o blog, vai atender pelo nome de @lolaescreva. Vocês que são querid@s e vivem colocando links pros meus posts, por favor, não parem. O Lord Anderson até criou um tag (se é assim que se fala) no Twitter pra esses links, escrevalola. Só pra me contrariar ele deixou meu nome por último! (dá pra mudar?) Eu não prometo uma atividade febril no Twitter, nem mesmo uma atividade minimamente interessante, mas estarei lá. Às vezes. Bom, pelo menos serei uma grande fonte de diversão, porque vocês podem esperar de mim no começo as mais atrapalhadas confusões, como fiz no bloguinho em 2008 (alguém lembra de quando tirei uma foto de uma tela do computador, porque não sabia que existia print screen? Espero que não!).P.S.: Foi a Jux que reservou o nome pra mim, e o Vitor que fez o layout (ele fez um colorido também; qual vocês preferem?). O maridão pegou umas fotos minhas e fez o melhor que pôde, bless his heart, mas não ficou bom (a colagem tá aí em cima, com a primeira versão no Twitter). Eu tenho colaborador@s maravilhos@s! Alguém se habilita a escrever mensagens de 140 caracteres pra mim?
Opa! Assustador: exigência dos dois documentos é a última esperança de Serra ir pro segundo turno. Uma nova lei, sobre a qual minha querida Aiaiai já vinha alertando faz tempo, exige que, nas eleições deste ano, sejam apresentados o título de eleitor e um outro documento com foto. Até hoje, era necessário apenas o título de eleitor. Agora, quem não levar um outro documento será impedido de votar. Vamos imaginar que o número de votos pra Dilma ganhar no primeiro turno seja pequeno. Nesse caso, essa exigência do segundo documento pode fazer diferença, já que o eleitor de classe mais baixa (que, desde 2002, costuma votar no PT) pode não ter esse documento, ou não saber que é preciso levá-lo. Carlos Augusto Montenegro, o diretor do Ibope, que antes jurava que Lula não conseguiria fazer seu sucessor mas parece ter mudado de ideia, diz que essa exigência vai tirar votos de Dilma no Nordeste, onde a falta de documentação é muito comum. Suponho que os autores dessa lei (que foram, por uma fabulosa coincidência, Eduardo Azeredo, do PSDB, e Marco Maciel, do DEM) sabiam bem o que estavam fazendo. Hmm... Isso me lembra o que fizeram os reaças racistas do sul dos EUA no século 19. Um tiquinho de história americana pra contextualizar: eles queriam separar o país para poder continuar tendo escravos, mas perderam a guerra civil e, em 1870, tiveram que acatar as imposições do norte. Uma delas era que todos os homens teriam direito a voto (pra mulheres, brancas e negras, ainda levou outros 50 anos para ter esse mesmo direito). Foi nessa época que começou a Ku Klux Klan, justamente para combater na força esses novos direitos dos negros. Os homens brancos do sul não queriam permitir de maneira alguma que os negros pudessem votar, ou que o voto deles tivesse o mesmo peso. Então inventaram mil e uma regras para dificultar esse processo, e conseguiram. Na teoria, os negros tinham direito a voto. Na prática, não podiam votar, já que a KKK impedia com violência a aproximação de eleitores negros (com conivência da polícia). Fora isso, havia testes para avaliar se a pessoa sabia ler e escrever. Imagine só: a maior parte dos negros era ex-escrava e analfabeta. Muitos estados do Sul também se encarregavam de cobrar uma taxa para votar. Só estava isento do pagamento quem tivesse pai ou avô que houvesse votado. Vamos raciocinar: se o direito a voto dos negros tinha acabado de ser sancionado, não havia muita chance de um ex-escravo, filho de escravos, ter tido parentes com direito a voto, certo? Pois é. Na prática, levou quase um século para que os negros americanos realmente pudessem votar. Bom, "pudessem votar" em termos. Quem viu o excelente documentário do Michael Moore, Fahrenheit 11 de Setembro, sabe que, nas eleições de 2000 — aquela em que Al Gore ganhou mas não levou —, montes de eleitores negros (que costumam votar nos democratas) foram impedidos de votar, ora por não terem se registrado antes, ora por não haver urnas suficientes em colégios de maioria negra, ora pela proibição de condenados pela Justiça (Justiça branca e nada cega, sabe como é) não poderem votar.
Parece que essa é uma velha prática, e bastante universal, até: se você não pode fazer com que os pobres votem no seu candidato, não deixe que eles votem, ponto. Problema resolvido! Afinal, o conceito dessa tal de democracia é muito relativo mesmo. Democracia é quando votam no meu candidato. Quando votam num outro, é uma ditadura do proletariado, que deve ser combatida de todos os meios. Se forem meios legais, amparados por uma lei que você mesmo fez e aprovou, melhor ainda.Bom, depois de ler esse dado sobre a derradeira esperança do Serra em arrastar a vitória do PT pro segundo turno, vi que a Aiaiai tá coberta de razão: devemos divulgar essa exigência dos dois documentos por todo o canto. Coloque no seu tuíter, no seu blog, e fale com as pessoas sobre isso. Ainda dá tempo pra quem não tem documento com foto providenciar um. Agora, alguém me explica como o PT foi deixar passar uma aberração dessas no ano passado...