Faz um tempão que não via Vinhas da Ira, este clássico de 1940. E mais tempo ainda que não leio o romance do John Steinbeck em que foi baseado. Li o livro em inglês na minha adolescência, e fiquei impressionada. Tanto que um dos primeiros artigos "acadêmicos" que escrevi na minha vida (quando eu tinha 16 anos) foi um comparando Steinbeck com Graciliano Ramos, Ratos e Homens com Vidas Secas (outro livro que amo de paixão). Porque, pô, há montes de semelhanças: ambos escreveram na mesma época sobre as desgraças dos sem-terra dos anos 30. E em ambos a polícia aparece como aparato puramente repressor. Mas, enfim, não era sobre isso que eu ia falar. Vinhas da Ira. Lembro até hoje do final do livro, absolutamente marcante. Rosasharn, irmã do protagonista, é uma moça mimada e individualista. Seu marido a abandona grávida. No fim, ela dá à luz a um bebê natimorto, no meio de uma enchente, em que sua família mais uma vez perde tudo. E nessa hora a moça aproveita o leite que sai de seu peito para amamentar um homem morrendo de fome. Obviamente, amamentação de adultos não entrou no filme. Hoje não entraria, imagine setenta anos atrás. Mas, apesar dessa parte fundamental (em que uma personagem individualista aprende o sentido de comunidade) ter ficado de fora, a versão pro cinema é um filmaço.Começa com Tom Joad (Henry Fonda, pai de Jane e Peter, avô de Bridget), recém saído da prisão, tentando encontrar a família de lavradores pobres em Oklahoma. É a Grande Depressão, embora ninguém mencione essa palavra. A casa continua lá naquele pedacinho de terra que sua família cultivou durante cinquenta anos, mas seus parentes tiveram que se mudar. A terra é de uma empresa agora, e a empresa quer tratores, mais eficazes que meros trabalhadores rurais. Todas as famílias do local são mandadas embora. Um sujeito, dono de sua terrinha, quer saber em quem atirar. Quem é o responsável pela fome de sua família? Não há um responsável. O carinha que lhe entrega uma ordem de despejo é apenas um empregado. O outro que chega com um trator pra derrubar as casas é um morto de fome, contratado para fazer esse serviço sujo (“Se eu não fizer, há milhares que farão”). Mas e aí, e o dono da empresa? Não, quem manda nele são os bancos. Ah, então eu vou ao banco e atiro no dono, pensa o novo sem-terra. Não, quem trabalha lá é apenas um gerente que mal sabe o que está acontecendo. É bem a face do capitalismo: um monstro sem face, sem responsáveis. Sem que haja um culpado, fica mais fácil acreditar que esse sistema de exploração é natural, que é assim que as coisas são e sempre serão. Como se a Depressão de 30 ou a nossa última crise, de 2008, tivesse caído do céu!Quando Tom encontra sua família, todos estão indo tentar a sorte na Califórnia. Afinal, receberam um panfleto dizendo que lá se paga bem na colheita de frutas, e que 800 empregados serão contratados. Não sabem que dez mil desses panfletos foram impressos, ou que vinte mil sem-terra apareceram, ou que o salário pago não será suficiente para bancar sua sobrevivência. Tal e qual nossos retirantes nordestinos, a família Joad parte em busca da Terra Prometida. No mesmo pau-de-arara. Os avós morrem no caminho, as crianças passam fome. E, quando chegam à Califórnia, deparam-se com um sistema prontinho pra explorá-los. Por exemplo, um empreendedor vai procurar no acampamento de desabrigados mão de obra barata para trabalhar em sua colheita. Um lavrador pede por escrito qual será o salário, ao que o empreendedor responde: “Ah, isso depende. Veremos”. Um policial já está ao lado dele para “manter a ordem” (pois é, qual ordem?) e prender o “agitador”. O sujeito tenta fugir, e o policial atira nele, atingindo uma mulher. Os Joads vão de campo em campo, passando fome e vendo só miséria e repressão policial à qualquer tipo de revolta. Finalmente, vão parar num acampamento com condições tão boas que parece piada. O diálogo entre o diretor do acampamento e Tom é mais ou menos assim:- Fiquem com a cabana número 25. Lá vocês vão encontrar luz e água corrente.- O quê? Água corrente? Poderemos lavar nossas roupas?- Isso. E, depois, se vocês quiserem, podem participar das comissões que fazem e mantêm as leis do acampamento.- Como assim, comissões? Quem manda aqui são as pessoas que vivem aqui, não a polícia?- São as pessoas. A polícia não pode nem entrar aqui. Apenas em caso de tumulto. Você pode falar com os membros da comissão no baile de sábado e...- Baile? Vocês têm bailes? - Os melhores da região. Todo sábado.- Mas... Mas quem é responsável por este acampamento?- O governo.- E por que não há mais acampamentos como este em todo lugar?- Não sei. Talvez você descubra e possa me dizer. Juro que não tô inventando! Nessa hora me lembrei do pessoal que quer acabar com o Bolsa Família porque só dá o peixe e não ensina a pescar. Mas voltando: o diretor do acampamento, no fundo um servidor público, é o primeiro personagem no filme inteiro que trata bem à família Joad. Mas Tom logo vê que há alguns problemas. Tipo: um cartaz do lado de uma torneira diz “Mantenha limpo o acampamento e conserve água. Feche a torneira”. Uma mulher acaba de encher um balde e vai embora, deixando a torneira aberta. E há os agentes infiltrados. Num dos bailes, policiais à paisana entram no baile com a intenção de provocar um tumulto. Assim, a força policial poderá invadir o acampamento, esmagando os agricultores (não sei porquê, mas esse negócio dos policiais à paisana me fez lembrar do protesto dos professores em São Paulo). Com a força da comunidade, esses agentes conseguem ser detidos e colocados pra fora antes que o tumulto comece. O filme todo mostra o longo aprendizado de Tom. No fim, ele vira líder sindical. Ok, sindical talvez não, mas comunitário, com certeza. Ele diz pra sua mãe que andou pensando na injusça que é uma só pessoa ter um milhão de acres e explorar cem mil trabalhadores para trabalhar nela, pagando-lhes salários de fome. E que se talvez todas essas pessoas se unissem e gritassem, juntas... Ele acha que cada pessoa não tem uma alma individual, mas um pedacinho de uma só alma gigantesca, comunitária. E olha só a última linha do filme, dita pela mãe (interpretada por Jane Darwell, que mais parece uma figurante tirada de alguma obra comunista do Einsenstein): “Os ricos aparecem e somem, e seus filhos não prestam e somem também. Nós somos as pessoas que sobrevivemos. Eles não podem nos varrer da Terra. Nós continuaremos pra sempre, porque nós somos o povo”. Só faltou tocar a Internacional Socialista na trilha sonora!
Lembro de quando o banco Santander financiou parte de um prédio na UFSC em troca de exposição permanente. Houve muita reclamação. Aquilo foi denunciado como um início de privatização de um espaço público - uma universidade federal. Mais tarde, houve uma campanha para que gente do banco fosse impedida de ofertar cartões de débito dentro do campus. Afinal, o que um banco, interessado no lucro, teria a fazer num lugar de pesquisa e conhecimento? A Maíra tem uma história parecida pra contar. Maíra tem 21 anos, é estudante de Letras da UFRGS, e faz parte do Conselho Universitário da universidade gaúcha. O que ela narra vem acontecendo em outras universidades públicas. É preciso tomar cuidado. Hoje, ao contrário de dez ou doze anos atrás (auge das privatizações do governo FHC), não se fala mais em cobrar mensalidades de alunos públicos, ou de entregar as universidades federais para instituições privadas. Mas a presença maciça de empresas particulares não seria também uma forma de privatização? Fique com o relato da Maíra. Durante as últimas férias, foi colocada na pauta de uma reunião do Conselho (que é o órgão máximo das decisões na universidade) a votação para aprovação de um Parque Tecnológico. Segundo o projeto, o parque seria construído em uma área do campus que é de preservação ambiental. Além disso, o objetivo do parque é abrigar incubadoras para empresas privadas que pagarão salários baixos pela mão de obra qualificada dos estudantes da UFRGS e patentearão o resultado das pesquisas ali realisadas. Também serão isentos de alguns impostos. O movimento estudantil combativo, é claro, se posicionou contra isso. Como seria natural nas férias, não houve número suficiente de conselheiros para haver a votação. Para o último conselho antes do início das aulas, porém, foi marcada uma nova votação. O Movimento Estudantil organizou uma vigília em frente à reitoria e impediu que a reunião do conselho acontecesse. Foi decidido então que haveria discussões com a comunidade universitária para que a grande massa dos estudantes entendesse o que era esse tal de Parque Tecnológico, pois a divulgação do projeto e o debate democrático não havia ocorrido. Houve de fato a votação, pouco mais de quinze dias atrás. O Parque Tecnológico passou com poucos votos contrários. Isso já era esperado por nós, mas não é por isso que deixaremos de lutar. Já faz muito tempo que os estudantes solicitam a ampliação do Restaurante Universitário (que serve refeições a R$ 1,30). No início do ano passado essa ampliação foi anunciada, mas está acontecendo a passos de tartaruga, enquanto que a área que abrigará o Parque Tecnológico já estava cercada mesmo antes da aprovação do projeto. Mesmo antes do referido parque Tecnológico, já há muita privatização do conhecimento gerado na UFRGS. Muitas pesquisas são financiadas por empresas privadas como a Gerdau, que ficam com a patente e não produzem conhecimento para a comunidade. Um bom exemplo disso é uma pesquisa da faculdade de Farmácia da UFRGS que foi financiada, se não me engano, pela Avon. Essa pesquisa desenvolveu um protetor solar com fator 100, que servirá apenas para dar lucro para a empresa, sendo que o conhecimento desenvolvido na universidade deveria servir à comunidade. Por exemplo: o governo poderia financiar a produção do protetor solar e vender a custos baixos para profissionais carentes que se exponham muito ao sol na sua jornada de trabalho. Isso tudo é indício de uma "privatização" das universidades públicas. Coloquei privatização entre aspas pois não significa algo como vender a UFRGS para a PUC, mas de privatizar espaços e pesquisas da universidade. Alguns espaços que eram para ser Centros de Vivência para estudantes na UFRGS hoje são lanchonetes, por exemplo. Acho que é hora dos estudantes tomarem consciência da situação e lutar ativamente por seus direitos.
Recebi este email da LPP, uma leitora de Angola. Como não sei responder, peço ajuda de vocês. Eis o email da moça, publicado após sua autorização.
"Leio seu blog todo dia aqui em Angola...e tenho uma dúvida.Eu so trabalho com homens, vou e volto do trabalho com seis homens numa van, são 38 homens e cinco mulheres.Me sinto orgulhosa de ter vencido numa carreira totalmente masculina (sou consultora de TI), sem levar desaforo para casa.O problema é este: surgiu uma oportunidade de promoção para gerente, mas meus diretores alegam que eu não tenho maturidade, e eles não querem perder uma excelente técnica e ganhar uma má gerente.O problema, eles dizem, é que falo demais... que num último e-mail a eles, para provar que eu tinha razão, eu colei até uma lei.Eles alegam que eu descontruo tudo, em pró da razão, e isso humilha as pessoas; elas se sentem burras e agredidas.A questão toda é que eu até concordo que às vezes é melhor ser mais política e deixar a razão em segundo plano, tem momentos para tudo... Mas o que pega é que estes mesmos homens que me julgam são o espelho do Capitão Nascimento – brigam, berram, mandam.Mas para os homens isso é permitido e para as mulheres isso é proibido. De nós só se espera que a gente sorria e acene como os pinguins no filme Madagascar.Minha duvida é... como falar isso sem mais uma vez mostrar que tenho razão e eles se sintam humilhados?"Ajudem, please, porque é uma ótima dúvida, que aflige a tantas de nós.
E aproveito para passar a sugestão de um excelente artigo (do Tim Wise, em inglês) que várias leitoras me enviaram ontem. Tem tudo a ver com o email da LPP, já que é sobre privilégios. Mulher liderando e dizendo o que pensa é grossa, mandona, sargentona (como a direita anda chamando a Dilma)... masculina, enfim. Homem fazendo exatamente a mesma coisa é um líder nato, competente, assertivo... e muitíssimo bem-preparado pra comandar, seja a empresa ou o país. Sounds familiar?
Opa, isto aconteceu em dezembro, mas esqueci de contar. Eu fui disputar a atenção do maridão com a TV (perco sempre, não dá pra ganhar). Ele tava vendo Globo Esporte, e passou uma reportagem sobre uma Letícia que perdeu toda a família num acidente de carro quando tinha 10 anos e ficou paraplégica, e aos 24 começou a nadar, e hoje, aos 27, é campeã internacional em sua categoria. E como ela comemorou sua vitória? Sorrindo (se não conseguir ver o vídeo, veja aqui). Claro que essas reportagens são feitas pra emocionar. E desnecessário dizer que, farrapinho humano que sou, elas me pegam sempre. Eu até resisti bravamente. Só no final começou a queda d'água, quando a repórter diz que Letícia reage a tudo sorrindo. O maridão olhou pra mim, viu o dilúvio, e emendou: “Ao contrário da Lolinha, que não reage exatamente sorrindo...”. Eu: “Viu só? Eu choro sempre vendo essas coisas. Como você pode dizer que sou uma insensível?”Ele: “Não, meu anjo, não confunda as coisas. Os cascas-grossas também são sensíveis. Veja o caso dos rinocerontes. Eles são casca-grossa, mas é só olhar praqueles olhinhos que a gente vê um poço de sensibilidade”.Eu (enxugando as lágrimas): “Imagino que estou sendo comparada a um rinoceronte...”Ele: “E os jacarés? Esses também são casca-grossa, mas são sensíveis”.Eu: “Hmm... Eu adoro jacarés e crocodilos e rinocerontes, mas aí sua comparação não foi boa. Porque tem aquele negócio de lágrimas de crocodilo pra denotar falsidade...”Ele: “Tudo intriga da oposição. Você sabe como o povo fala...”Eu: “O povo fala sobre outras cascas-grossas também?”Ele: “Fala. Mas as lágrimas dos jacarés e das Lolinhas são sempre legítimas”.
Como o marceneiro está instalando nosso primeiro armário embutido (no quarto), fomos a uma loja comprar puxadores (até porque as portas são altas, e sem puxador eu sofro, tenho quase que me pendurar na porta pra conseguir abri-la. Algum dia tiro fotos pra vocês verem). O dono da loja e uma representante comercial que estava lá entregando os produtos de uma linha específica nos convenceram, mostrando fotos e tal, que era melhor colocar os mesmos puxadores maiores tanto pras portas grandes quanto pras pequenas (o que chamam de maleiro, é isso? Não entendo absolutamente nada do assunto. Aliás, certeza absoluta que nunca comprei puxador nos meus 42 anos de vida!). A gente estava pensando em comprar puxadores maiores pras portas grandes e pequenos pras portas pequenas, sabe? Mas o pessoal realmente se empenhou pra que comprássemos os maiores pra todas as portas. Imagino que é porque sejam mais caros, lógico. Mas, pelas fotos que vimos, ficou bonito ter todos os puxadores do mesmo tamanho. (Falar tão extensamente neste tópico me lembra o Eliot Ness em Intocáveis achando incrível que sua mulher se preocupe com a cor da parede: “É surpreendente que neste mundo ainda exista gente preocupada com a cor da parede”, ou algo assim). Mas os argumentos que os vendedores usaram não foram dos melhores. Um era que, quando a gente for trocar de puxador, é muito mais fácil pedir todos de um só tamanho. Opa, como assim? Trocar de puxador?! Eu: “Trocar por quê? Eles estragam?”. Mulher: “Não, claro que não! É só que quando a gente quer dar uma repaginada no visual, aí, ao invés de trocar o armário todo, troca só os puxadores”. Putz, eu tenho cara de quem vai querer dar repaginada no armário? Expliquei pra ela que definitivamente não havia esse risco. Mas o pior veio depois, quando o dono da loja foi buscar os puxadores que escolhemos (todos do mesmo tamanho, maiorzinhos) no depósito. A vendedora, falante e simpática, decidiu completar o raciocínio: “É como eu sempre digo pra todos os meus clientes. Colocar um puxador mixuruca num armário lindo é como uma mulher se maquiar toda e esquecer de colocar o batom! Não dá pra desprezar os detalhes, não é mesmo?”. E eu e o maridão: “Hm”. Um homem sorridente, que estava no balcão ouvindo a conversa, já falou logo: “Gostei da comparação!” (claro que gostou, honey). Mas a vendedora deve ter percebido a nossa cara de velório e perguntou: “Vocês não acham que armário sem puxador decente é como mulher sem maquiagem?”. Aí, pô, como ela me perguntou diretamente, eu tive que falar: “É que eu não acho muito legal comparar um troço passivo, um puxador, um objeto, com uma mulher. Eu sou feminista. Não dava pra comparar armário sem puxador bom com alguma coisa, não com mulher?”. A vendendora, confusa, se pôs a explicar o seu exemplo... repetindo o mesmo exemplo. E eu fico na dúvida: será que apontar a besteira da frase dela nessas horas ajuda? Adianta alguma coisa? Será que ela vai parar de usar o tal exemplo? Ou será que ela continuará usando o troço, agora acrescentado de “A última vez que eu disse isso uma mulher ficou brava! Mas também, era uma feminista!”?Às vezes até dá vontade de ser uma porta.
Suzanne Eggins, em sua Introdução à Linguística Sistêmico-Funcional, nos lembra que, quando começamos uma conversa, qualquer coisa, mesmo que seja um “oi”, estamos esperando uma atitude da outra pessoa. Que a pessoa nos ignore também é uma resposta! Toda vez que alguém inicia uma interação, ela põe a outra pessoa na posição de se a pessoa quer ou não interagir. Ou seja, quando alguém determina o seu papel, determina também o da outra pessoa. Ao ler isso, só pude pensar nas cantadas de rua.
Por exemplo, quando um cara grosseirão fala alguma besteira pra uma mulher na rua, qual a reação que ele espera? Duvido que um carinha que grite “Você é a nora que minha mãe pediu a Deus” espere que a moça se vire e diga “Que legal! Você também é o genro que minha mãe pediu. Me leva já pra conhecer a sua mãe!”. Será que ele espera que a moça diga: “Ok, meu telefone é tal, me liga”? Em geral ele não espera nem um “Obrigada”, e muito menos um “Vai pentear macaco” (minhas gírias decididamente são do século passado). Ele espera que a mulher permaneça calada, quiçá fique encabulada, quiçá enrubesça, e siga andando. Se a mulher para e fala alguma coisa, ela está saindo do seu papel de submissão, de objeto pra ser visto, admirado e avaliado ― e quem avalia está na posição de poder, sempre. O cara fica perdido, não sabe bem como seguir com a interação que iniciou. Às vezes responde com violência, mas quase sempre finge que não é com ele.
Os linguistas acreditam que o maior indicador de poder é quem fica sendo a pessoa que fala, e por quanto tempo. E quem começa. Note que, no caso do idiota que fala gracinha pra uma mulher na rua, o poder é todo dele. Ele que inicia, ele que fala. Talvez por isso que um carinha fique tão furioso quando uma mulher o manda passear: ela está tirando seu poder, deixando de ser um objeto pra se tornar um ser com autonomia de decisão.
Por coincidência, bem quando escrevia este texto, recebi um email de uma leitora de 21 anos de Jundiaí, SP, que reproduzo com sua autorização: “Eu estava indo trabalhar, descendo a rua de casa, e passaram dois moleques de no máximo 18 anos, e começaram a fazer psiu. Eu ignorei, e o cara começou a berrar do outro lado da rua: 'não vai olhar não, gostosa? Vamos lá em casa...' Me subiu o sangue... e olha que sou bem tranquila. Mostrei apenas o dedo do meio pra ele, e ele com a maior indignação do mundo começou a me xingar de horrores,de p*ta pra baixo... Tipo assim, ele acha que é um direito dele invadir verbalmente uma pessoa que está passando na rua, e ficou claro que o motivo da raiva dele foi o fato de uma mulher ter se manifestado contra a falta de educação dele. Sabe aquela coisa de se esperar que a mulher aguente todo tipo de violência e desrespeito quietinha, porque se não for pra eu virar e falar: 'Uau gatão! Isso era tudo que eu queria ouvir, vamos lá na sua casa, já que eu estava na vitrine mesmo!', deveria ficar quieta e engolir. Será mesmo que esses trogloditas acham que alguma mulher se sente lisonjeada com essas cantadinhas na rua? Eles não percebem que isso é INVASÃO?”.
Perceba como funciona o que a leitora descreve, que no fundo é a busca pelo poder: o “moleque” inicia a interação, e exige uma reposta. Não permite ser ignorado. Como a resposta não é a que ele gostaria, ele reage com agressividade. Assim, tenta se manter no poder.
Mas, respondendo à pergunta da leitora, acho que os homens percebem sim que isso é uma invasão. São treinados pra dizer coisas pra mulheres na rua e “avaliar o material”. Mulheres são treinadas pra baixar os olhos, não responder, e ter medo (obviamente não estou falando de paquera).
Sabe um comercial de bronzeador que eu odeio? Mostra um menininho olhando fixo pra uma garotinha que passa na praia rebolando, enquanto o guri ao lado dela põe seu braço nas suas costas, em posição de posse. E a locução é “Viu? Criança aprende rápido!”. Sem dúvida que aprende. A menina aprende a rebolar, o menino aprende a secar, o outro aprende que mulher sozinha é de ninguém, ou de todos, e portanto precisa ser de um homem só. Quantas vezes já vimos comerciais e filmes onde o menino aprende (geralmente através do pai) a cantar uma estranha na rua, e isso é visto como algo totalmente positivo? Quase nunca temos o ponto de vista da menina, ou a aprendizagem que ela recebe sobre como lidar com a cantada. Ah, e é tão ingênuo quem pensa que meninas de dez anos só recebem cantadas de meninos de dez anos...
Acontece que este é um claro processo de dominação, de manter o status quo. Menina aprende desde cedo que o mundo é uma selva, que é um perigo sair na rua, e que ela deve se ater ao ambiente doméstico, ou no mínimo descolar um macho para protegê-la... de outros machos. A gente vive sob o risco iminente de um estupro. A grosseria na rua (que, inclusive, muitas vezes envolve passar a mão) faz parte desse terrorismo. É um jeito do homem lembrar quem manda, quem fala e quem cala, quem avalia e quem é avaliada.
Ao nos mantermos caladas, deixamos que eles perpetuem esse poder.
O PSB, atual partido de Ciro Gomes, o forçou a desistir de se candidatar a presidente, alegando que não haveria alianças para apoiá-lo. Ciro saiu da disputa, mas saiu atirando, como é do seu feitio. Disse ontem que, embora Dilma seja melhor pessoa que Serra, o tucano é mais preparado pra governar que a petista. E também não poupou Lula: disse que o presidente estaria navegando na maionese e sentindo-se o Todo Poderoso. Ou seja, Ciro está revoltadíssimo. Você nunca leu neste blog qualquer elogio a Ciro. Aliás (deixa eu fazer uma busca rápida; oops, eu o menciono rapidamente aqui), nenhuma crítica tampouco. Ciro simplesmente não me parece um personagem importante pra que eu fale sobre ele, pro bem ou pro mal. Mas nem sempre foi assim. Em julho de 2002, eu escrevi uma crônica sobre o sujeito. Ela foi publicada no A Notícia, jornal pra qual colaboro há doze anos. Leia a crônica, lembrando sempre que é de oito anos atrás (eu volto embaixo). CIRO NÃO É COLLOR É revoltante perceber que algumas pessoas insistem em ver semelhanças entre Ciro e Collor. É óbvio que Ciro e Collor são tão diferentes como água e água, quero dizer, água e vinho. Não têm nada a ver, fora a primeira letra do nome de registro da candidatura. Tudo bem, os mais provocadores podem afirmar que ambos vêm do Nordeste, representam a oligarquia de lá, nasceram em berço de ouro, estão filiados a partidos minúsculos (se bem que o PPS é um tiquinho mais sério que o PRN, pero no mucho), têm o suporte da mídia, começaram suas carreiras no PDS, e hoje são apoiados pelo que existe de mais retrógrado na política brasileira, ou quase, já que alguns dos retrógrados ainda balançam entre o Serra e o Garotinho, e não vamos esquecer o PL, que infelizmente apóia o PT. Mas tudo isso é irrelevante. Tudo intriga da oposição! Trata-se apenas de coincidências esdrúxulas entre C&C. O que pega mesmo é que tanto Ciro quanto Collor são jovens, altos, bonitos (gosto não se discute), e nervosinhos. Parece que nenhum dos dois tem papas na língua, o que não interfere em nada, afinal, pra quê diplomacia quando se ocupa o cargo central do país? Apesar desses detalhes ridículos, Ciro não é Collor. E vou explicar tintim por tintim por que.Pra início de conversa, Ciro não anda de jet ski. Ainda não descobri o esporte predileto dele, mas tenho certeza que saberemos já nos primeiros dias de sua posse. Outro grande diferencial é que o tesoureiro de Collor foi o célebre P. C. Farias, que Deus o tenha, e o de Ciro é outro poço de honestidade, o Martinez, que vem sendo acusado de corrupção, mas boto fé que o Ciro vai prender e arrebentar quem continuar espalhando essas calúnias. No entanto, a principal distinção entre Ciro e Collor é que Patrícia Pillar não é Rosane. A Rosane é uma jeca total, veste-se mal, é dentuça... E a Patrícia é linda, boa atriz, e ainda por cima está vencendo o câncer. Patrícia pra presidente! Quero dizer, Collor. Opa, Ciro! Como dá pra confundir os dois?! Voltei. Então. Como todos sabem, Lula venceu as eleições em 2002, aleluia. Mas em julho daquele ano Ciro ainda despontava nas pesquisas, e deve ter sido por isso que me revoltei o suficiente para escrever a crônica. Muita coisa mudou de 2002 pra cá. Ciro virou ministro do governo Lula. Parte do que existe de “mais retrógrado na política brasileira” passou a apoiar o PT (estou pensando no PP, partido do Maluf, e no Sarney). Claro que existe uma diferença entre ter um vice-presidente do DEM na sua chapa (o que ocorreu nos dois mandatos FHC, quando o DEM ainda era PFL), e ter políticos retrógrados apenas como ministros. Bom, já falei sobre isso aqui: por mim, o PT não faria alianças com nenhum desses partidos asquerosos. E nem com o Collor, se bem que o ex-caçador de maracujás está longe de fazer parte do governo. Ele é apenas um senador que vota com o governo no Senado. Mas também seria impossível o PT governar sem apoios.Considero um erro o PT ter feito lobby agora, em 2010, para que Ciro não fosse candidato a presidente (queriam que fosse candidato a governador de SP, o que, convenhamos, lhe daria menos votos que pra presidente). Essa é uma estratégia perigosa: e se os votos pro Ciro forem pro Serra em outubro? Quer dizer, acho altamente improvável que as eleições deste ano se definam num primeiro turno, e é importante pra Dilma ter apoios no segundo (Marina e seu PV quase seguramente apoiarão Serra). Mas, no fundo, não sei se o eleitor do Ciro votaria na Dilma no segundo turno. Inclusive, quem é o eleitor do Ciro? Não é exatamente um pessoal de esquerda. É tudo gente daqui do Ceará? Pra ser franca, nunca entendi quem vota no Ciro, o esquentadinho. E é difícil entender a revolta de Ciro. Será que ele achava que tinha condições reais de se eleger presidente por um partido minúsculo como o PSB? Ou ele queria ser o candidato do PT?
Ai, ai, gente, alguns comentários me cansam... Eu posso falar isso no meu blog ou a democracia e liberdade de expressão só valem pra quem discorda de mim? Isso ia ser um mero comentário, mas ficou tão grande que virou post. Acho incrível que eu tenha que explicar uma coisa tão simples, mas tentem reparar como acontece uma interação: 1) eu escrevo alguma coisa, assim como outros blogueiros escrevem outras coisas. É o meu blog, então escrevo o que tenho vontade. Não gosto de ser pautada. Inúmeras vezes atendo a pedidos de leitoras, mas eu não sou burra, apenas ingênua. Sei diferenciar quem vem aqui e comenta frequentemente e quem discorda educadamente (e são um monte os que discordam), de quem aparece aqui só de vez em quando, sempre com a mesma agenda (que é discordar de mim em qualquer coisa que eu falo), sempre bem agressivo (e quanto mais anônimo, mais agressivo. Por que será?). Se o assunto me parece relevante, eu escrevo sobre ele. No post que gerou este enorme comentário, uma leitora fofa, carinhosa, pediu pra que eu visse um vídeo funk chamado Surra de Bunda, e sugeriu que eu talvez escrevesse sobre ele. Putz, não dá. Não tenho a menor gana de escrever sobre o vídeo. Já foi uma tortura ver metade do vídeo. O que eu escreveria seria óbvio demais. Não teria nada a acrescentar: acho lamentável, só isso. Mas volta e meia aparecem leitores exigindo que eu escreva sobre coisas ocorridas quatro, cinco anos atrás. Eu já escrevi sobre o mensalão (dica: digite o que você procura na busca lá em cima, à esquerda. Costuma dar certo). O mensalão certamente não é meu assunto preferido. Deve ser o do Tio Rei. Não é o de gente que pensa que o PT tem a melhor proposta de governo. Assim como, imagino, tucano não deve escrever com muita frequência sobre o Apagão ou a compra de votos pra reeleição ou a cratera do metrô... 2) Então, eu escrevo algo. Alguém decide comentar alguma coisa nos comentários. Quando eu e você abrimos a boca para dar nossa opinião, estamos sujeitos a críticas. Tem gente que concorda com o que escrevemos, tem gente que discorda. Simples assim. A minha caixa de comentários está aberta a todos, ao contrário de caixas de comentários de blogs de direita, que deletam comentários discordantes. Aqui eu deletei no começo uns cinco comentários que achei agressivos demais de um escroque (sinto-me à vontade para insultar trolls) como o Oliveira (coisas do nível “Pena que sua mãe não fez um aborto quando estava grávida"). Ele foi o único que já deletei. Com o tempo, desisti. Ninguém o leva a sério mesmo. Dá mais trabalho deletar um comentário do que ignorá-lo. Mas voltando, tem gente que pode querer comentar o seu comentário, ok? E se essa pessoa discorda do que você escreveu, ela não está necessariamente sendo agressiva. Eu até gostaria de responder cada comentário (como fiz no primeiro ano e meio do blog), mas é impossível, não tenho tempo. Felizmente, rolam uns excelentes debates por aqui, mesmo sem a minha presença (ou talvez por causa da minha ausência). 3) Alguém comenta o seu comentário. Pode concordar, dizendo “É isso aí!”; pode discordar, apontando contradições, pode apenas acrescentar algo que julga importante. Se você considera a resposta ao seu comentário agressiva, deixe um outro comentário, ué. Mas não fique se fazendo de vítima, dizendo “eu fui agredido(a) ao discordar da Lola”. Sinceramente, eu estou me fazendo de vítima agora? Não que eu saiba. Estou explicando, com o máximo de paciência, como funciona uma interação.E acho estranho que comentaristas agressivos, como a Marciane, creiam ser o máximo em matéria de educação. A Marciane vem aqui com frequência, bate em quem quiser, e quando alguém lhe responde mais rispidamente (digamos, no mesmo tom de voz), ela se queixa da falta de educação alheia. Claro, podem dizer o mesmo de mim. Mas eu realmente gostaria de saber como eu insulto, ofendo, e xingo (eu, xingar! Eu que não falo palavrão!), principalmente já que respondo tão poucos comentários. Tipo, o penúltimo post. Quem eu chamei de troll? O Oliveira! O Oliveira não é um troll? Sério mesmo? Repito pela milésima vez: troll, pra mim, é quem é mal-educado, agressivo, quem comenta coisas que não têm nada a ver com o post, e que faz tudo isso insistentemente. É a frequência que define um troll. Portanto, eu repito sempre que, até agora, em quase dois anos e meio de bloguinho, eu tive a infelicidade de ter apenas três trolls. Talvez 3,5. Teve uma leitora, esqueci o nome, que apareceu por essas bandas pra trollar, mas não ficou tanto tempo. Não considero a Marciane, por exemplo, uma troll. Nem o Renato, nem o Daniel (são esses os nomes? Nem lembro d'eles terem comentado antes, apesar d'eles adotarem um discurso de que já foram maltratadíssimos por essas bandas), muito menos a Mirella, que até guest post já publicou aqui. Não, troll é diferente. Troll é gente com muito tempo livre, como o Oliveira. É gente com uma só missão: te calar. Fazer com que vc fique tão chateado(a) que pare de escrever. É uma coisa até meio contraditória, porque se eu parasse de escrever, o que o Oliveira faria da vida? Mas é uma relação de amor e ódio que os trolls têm pelos seus alvos de ataque. E praticamente todo santo blog um pouquinho maior tem sua cota de trolls. Eu até acho que tenho sorte, porque só tive três, e graças às boas deusas, não ao mesmo tempo. E insisto: por coincidência, todos os três trolls eram de direita, machistas, racistas, homofóbicos, elitistas — a escória mesmo. Não por discordarem de mim, mas por serem machistas, racistas, homofóbicos e elitistas. E, não à toa, de direita.
Um adendo: não conheço, nem conheci, meus três trolls pessoalmente. Provavelmente os nomes que usa(ra)m nem são de verdade. Como sei que eles são a escória? Por tudo que escreveram aqui. Lógico que, pra quem acha que o feminismo é uma praga que não deveria existir, ou que só é pobre quem merece, ou que gays são aberrações, esses trolls não são machistas, classistas ou homofóbicos. São heróis. Mas aqui eles não serão bem recebidos. Por isso que eu sempre recomendo cuidado com quem está do seu lado. E do lado de quem você está. O Oliveira, meu troll atual, nunca escreveu algo com que eu pudesse concordar. Ele só fala besteiras, como dizer que mulher é propriedade privada do marido. Pode ser que haja um montão de gente que pensa assim e que vota no PT. Mas, na minha experiência pessoal, o mais comum é gente assim ser de direita. O que não quer dizer que, se vc não vota no PT, vc é necessariamente de direita. Ou que todo o pessoal de direita é preconceituoso. Preciso continuar? Tem gente que confunde as coisas. E por falar em confundir as coisas... Desculpe, mas no meu blog, quem é mais importante? Um troll ou eu? Se eu parar de escrever, o blog acaba. Se o Oliveira parar de comentar, o blog só fica mais limpinho e cheiroso (homenagem às “massas cheirosas” da convenção tucana). O que eu quero dizer é que não estamos em pé de igualdade. Mas o Oliveira tem todo o direito de começar um blog próprio, e assim escrever sobre o que quiser, ao invés de simplesmente ofender quem não escreve o que ele quer ouvir. Eu não escrevo pensando no meu troll ou nos vários desafetos que tenho por aí. Escrevo pra quem eu gosto sobre o que eu quero escrever. Por que deveria escrever pra quem me odeia sobre algo que não tenho vontade de escrever? Sou assalariada de troll, por acaso? Também considero bastante infantil dizer: ah, você nunca concorda com nada do que eu digo! Ué, perdão, acho que perdi alguma parte: eu tenho que concordar? Eu tenho que mudar de opinião só porque vc comentou? Assim como vc não tem que concordar comigo nem mudar de opinião. Agora, se chamar alguém de “de direita” e “reaça” é ofender, é porque o complexo de inferioridade é grande mesmo. Se alguém me chama de “de esquerda”, juro que não me ofendo! No entanto, pra alguns comentaristas, parece que é assim: se dizem que sou intolerante, fanática, cega, burra etc etc, é só a opinião deles, e viva a liberdade de expressão. Se eu ou outro comentarista diz que quem não tá vendo é quem nos chamou de fanáticos e burros, é censura! É não querer acatar a opinião dos outros. Ah sim, há uma outra distinção recorrente que costumo ouvir: se um comentarista aparece pra concordar comigo, é um alienado, é puxa-saco, é claque, é cego pelo ídolo (eu, ídola de alguém!), é massa de manobra, não sabe pensar por si próprio. Se um comentarista aparece pra discordar, é um pensador independente, inteligente, e - tcharan! - SEM IDEOLOGIA! Ideologia só eu que tenho, entende? Os outros têm apenas opinião própria. Enfim, dá muita preguiça explicar a mesma coisa cinquenta vezes. O que alguns comentaristas não se dão conta é que dá pra concordar em alguns pontos, mesmo sem concordar em tudo (e o mesmo vale pra discordar). Por exemplo, essa campanha dos 45 anos da Globo é tão óbvia que precisa de muito esforço pra não ver. Aí surgem algumas pessoas pra falar mal do Lula e do PT. Putz, mas era isso que tava em pauta? A questão ambiental no governo Lula? O mensalão? Eu pensei que o post fosse sobre a parcialidade da mídia (da Globo, em particular). Entendo que, em ano eleitoral, isso vai acontecer com cada vez mais frequência. O que não quer dizer que eu tenha de gostar.Outro dia comentei alguma coisa sobre o golpe de estado na Venezuela em 2002, e já veio alguém dizer que eu AMO o Chavez e quero ter filhinhos com ele. Hmm... Houve um golpe de estado na Venezuela? Houve. O golpe foi do Chavez ou contra o Chavez? Contra o Chavez: ele foi preso e deposto (por poucos dias; o golpe fracassou). Quem esteve por trás do golpe? A mídia venezuelana e o governo americano (recomendo muito este documentário da BBC, A Revolução Não Será Televisionada). Olha, tenho um segredo pra te contar: vc pode não gostar do Chavez e da mídia venezuelana ao mesmo tempo! Que o Chavez seja um populista se perpetuando no poder não salva a cara da mídia venezuelana ou do governo americano, que volta e mexe patrocina golpes no seu quintal. Ou salva? Entender que a nossa mídia se inspira na mídia venezuelana e tenta, a todo custo, eleger seus candidatos, de acordo com seus interesses, não quer dizer que o governo Lula seja perfeito. Ou que eu adore tudo que Lula fez e faz. Mas pra mim não resta dúvida que seu governo (principalmente o segundo mandato) trouxe enormes conquistas pro Brasil. Eu quero que esse governo continue, e tenho memória pra poder compará-lo com o governo anterior. Por isso, vou votar na Dilma. Posso? Obrigada.
E quer saber? Às vezes eu acho que sou paciente e tolerante demais. E aí reflito se só não mando o pessoal ver se eu tô na esquina porque eu sou mulher, e fui condicionada a acatar tudo caladinha. Mas putz grila, até no meu espaço eu tenho que ser tão cordial? Acho que não. Portanto, tucanitos tendo faniquitos, vão catar coquitos!