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sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

CRÍTICA: SAGA CREPÚSCULO – AMANHECER, PARTE 1 / Bella é enganada

- Aposto como a Lolinha vai contar spoilers e estragar meu apetite!

Gostei dos três primeiros filmes da série Crepúsculo porque os achei muito sexy. Claro que os livros da mórmon Stephenie Meyer são propaganda da abstinência sexual (não os li, não tenho muita vontade, mas, acima de tudo, não tenho tempo). Só que os filmes tinham uma energia sexual latente e nada sutil. Bella queria transar com Edward. E também com Jacob. E claro que sou team Jacob all the way (todo mundo sabe o que é esse negócio de team Jacob, team Edward, ou, como disse uma leitora, team Bella being hit by a van? É a torcida por um ou outro). Jacob, além de ter sangue quente e ser muito mais bonito que Edward (e que Bella, vamos ser honest@s), parece ser mais equilibrado. Certo, há um forte espectro de violência doméstica rondando sua espécie lobística. E esse negócio de imprinting (não pergunte) é coisa de stalker, né? A verdade é que, sem a energia sexual, a história não vai muito longe. É o que acontece com Amanhecer, o quarto e pior exemplar da série.
Assim como tenho certeza que os filmes são bem menos conservadores que os livros, estou certa que os produtores da franquia sabem o que falam sobre ela. E existem umas falas nos filmes que dialogam com essas críticas, e que duvido que estejam nos livros (corrijam-se se eu estiver errada). Por exemplo, na véspera do casamento, Edward quer revelar a Bella um segredo terrível. E ela, sorrindo: “O quê, você não é virgem?” Mas não, o segredo é sobre seus primórdios vampirísticos, quando ele matava gente pra tomar seu sangue. Um flashback mostra Edward num cinema, muitas décadas atrás, e uma espectadora se levanta. E o meu alerta feminista já piscou: “Putz, ele era um serial killer de mulheres?! Só faltava essa!” Mas há um twist, e Ed no fundo mata um cara que iria matar a mulher que foi mostrada. Portanto, acho que há uma preocupação em tentar fazer de Edward alguém menos doentio. Porque, de fato, ele apresenta muitos sintomas de uma personalidade perigosa: é um stalker (quem persegue o alvo de sua obsessão), é obcecado por Bella, tem dificuldade pra se controlar quando está sexualmente excitado (ou no mínimo esta ameaça sempre é trazida à tona)... Pelo menos nos filmes ele não parece ser muito ciumento –- não se incomoda em “permitir” (sei que o verbo é ridículo) que Bella seja muito amiga e fique a sós com Jacob, que é quase um ex e seu rival em potencial. Neste quarto filme ele está muito mais sensível, no bom sentido, e seu comportamento está mais pra conservador que pra violento.
Ah sim, Amanhecer é de particular interesse pra gente porque algumas cenas foram filmadas no Rio. Essa parte carioca, embora curtíssima, respeitou bastante o Brasil. Nada de macaquinhos andando em cipós na floresta amazônica, ou de mulheres rebolando seminuas, como é de praxe. É só um cenário para Bella e Edward se divertirem antes de chegar à ilha (que não entendi onde fica). Mostra um montão de gente alegre, bebendo e dançando, e o mais incrível, gente de todas as cores, idades, formatos e classes sociais. Já tô até prevendo uma parcela da nossa classe média reclamando que o filme não representou bem o Brasil...
Tirando isso, o filme (a série, aliás) é a maior propaganda enganosa. Afinal, toda a explicação para Edward não transar com Bella é que ele, vampirão, muito mais forte, iria se descontrolar durante o sexo e matá-la. Por isso, com ele, só casando. Mas o negócio é que ele iria transformá-la em vampira e, como parece que os vampiros são tão monogâmicos quanto os pombos e os católicos, eles iriam viver pra sempre, transando sempre, sempre jovens, e com o mesmo nível de força. Era só por isso que eles não fizeram sexo antes, certo? Tá. Então Bella, no dia do seu casamento, conta a Jacob que ela e Edward terão sua primeira noite como vampiro e humana, e só depois ela será transformada em vampira. Hã? Pra isso não precisava ter casado com dezoito anos, menina! Jacob fica compreensivelmente irritado com a estupidez do casal.
Não vemos a noite de núpcias. Mas não somos poupados de todas as babaquices tradicionais que Edward, por ser uma espécime do século retrasado, ainda comete –- receber Bella do pai no altar, carregá-la pra dentro da casa, chamá-la de Senhora Sobrenome do Marido (ele é de outro século; qual é a sua desculpa pra continuar com esses ritos patriarcais?). Por isso que o início do filme é tão irritante, e tão antiquado como o modelo que a maior parte da sociedade ainda insiste em seguir. Vemos Bella aprendendo a se tornar mais feminina. Sua futura cunhada ou sei lá o quê exige que ela tenha um senso fashion adequado, e que ela chegue ao altar com sapatos de salto altíssimo que ela nunca usou. E ela é a única que não discursa no seu casamento! (é assim nos casamentos em geral, o noivo discursa, a noiva não? Tô por fora). Quem reclamava que Bella era passiva nas três primeiras partes da série ainda não viu nada.
A metade inicial de Amanhecer trata do aprendizado de Bella pra ser ainda mais submissa, que é como uma mulher (mórmon, imagino) deve ser. Aí chegamos à noite de núpcias, com Bella devidamente treinada. E vemos que Edward de fato perde o controle, porque ele arrebenta a cama de madeira. Mas aí, gente, primeira decepção: Bella não morre. Tá, tô sendo injusta. Diferentemente da minha leitora que é team Bella being hit by a van, eu não quero Bella morta. Mas a história toda não era que, se eles transassem sem que ela fosse vampira, ele iria acabar com ela? Então por que no dia seguinte ela acorda toda feliz e saltitante (Scarlett O'Hara feelings após ser estuprada por Rhett Butler), e só muito depois percebe que tem várias marcas pelo corpo? (Tenho certeza que tudo isso foi atenuado no filme, e que no livro a tortura a que ela se submete é muito mais gráfica). Recapitulando: Bella casa só pra virar vampira e poder transar com Edward; eles transam -– coisa que só vinham adiando porque ele é super conservador e jurava que iria matá-la sem querer se ela não fosse também vampira --, e ela sobrevive numa boa com alguns machucadinhos. Pô, eu me senti totalmente enganada. Mas, como disse o maridão: “Se você se sentiu enganada, imagine ela”.
Pouco depois, no entanto, descobrimos qual o único propósito de Edward fazer sexo com uma Bella ainda humana. É que, ao contrário dos pombos e dos católicos, os vampiros não se reproduzem. Não geram filhos. E essa noção de um casal sem filhos pelo jeito não cai bem pra definição de família que mórmons e demais religiosos conservadores têm (outro dia ouvi que eu e o maridão não constituimos uma família, porque não temos filhos). Então um milagre acontece e Bella engravida. Mas como?!, pergunta-se todo mundo no universo de Crepúsculo, menos Bella, que acha tudo aquilo lindo e natural. E começa a surgir um vampirinho em seu ventre, sugando-lhe toda a energia vital.
Nessa parte Amanhecer fica muito mais interessante, até porque vem acompanhado de toda uma discussão sobre aborto (sem que esse palavrão, aborto, seja pronunciado uma única vez). Assim que Edward fica sabendo da gravidez, ele diz pra Bella não se preocupar, que eles tirarão isso da sua barriga. “Isso?”, balbucia ela, horrorizada. Todo mundo é a favor do aborto, menos ela e uma outra cunhada sua, uma chata que corrige sempre que alguém trata o embrião monstrinho de feto (é baby, diz ela). Jacob vai até lá convencer Bella a abortar, porque ela não vai sobreviver ao parto. “Vou sim”, afirma Bella. “Eu sou forte”. Essa também é a única parte do filme em que ela sai de sua habitual passividade. Pena que é pelos motivos errados, porque ninguém acha que ter aquele filho é uma boa ideia. Primeiro porque ela vai morrer se o tiver. Ok, até aí, tinham falado isso pra ela sobre fazer sexo, e mentiram descaradamente. Mas, no caso da gravidez, ela já está morrendo. Quantos quilos a Kristen Stewart perdeu pra fazer aquelas cenas? Porque desde O Bebê de Rosemary (em que uma mulher magérrima contra todos também tá grávida de um feto não-humano) a gente não vê uma gestante tão frágil. Em Amanhecer a gravidez é pintada como algo abominável, que faz sofrer e pode matar -– mas fazer o quê, se é isso que as mulheres querem? Dá uma discussão fascinante. Se sou a favor da mulher poder fazer o que quiser com seu corpo, devo ser a favor que ela persista numa gravidez de altíssimo risco, se é isso que ela deseja.
O problema é que o risco é altíssimo não só pra Bella, mas pra toda a humanidade. O feto já está se alimentando avidamente de sangue humano. Sabe-se lá do que vai se alimentar, e em qual quantidade, quando nascer e crescer. A irmandade dos lobos decide que aquela aberração não pode nascer. E aí todos os Cullens, que até então eram a favor do aborto, passam a viver pra defender Bella e seu feto, perdão, bebê. Felizmente, por não ser uma gestação normal, ele nasce rapidinho.
E mais não vou contar, porque é desnecessário, previsível, e porque a parte final vem aí. E, é claro, porque todo mundo sabe como a saga termina, menos eu. Mas a boa notícia é que Edward parece que, com a paternidade, finalmente vira um vampiro melhor. A má é que Bella finalmente morre. Quer dizer, quase.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

SAGA CREPÚSCULO É MACHISTA, FEMINISTA, AMBAS OU NENHUMA DAS ANTERIORES?

Preciso confessar uma coisa: eu gosto do Felipe Neto! Ele é fluente, fala bem, e me faz rir. [Minha opinião mudou depois que ele virou meio que representante da classa média sofre e falou várias besteiras machistas]. Eu já tinha visto alguns de seus vídeos e, por mais que não concorde com boa parte do que ele diz, eu gosto (recomendo este sobre os trolls). Sua crítica à saga Crepúsculo está divertida, sem dúvida. Mas tem um detalhe que ele diz, e que muita gente vem repetindo, que não se sustenta – isso de que a Bella é totalmente desprovida de atrativos, então ninguém, ainda mais um vampirão de 109 anos, ficaria loucamente apaixonado por ela. Ok, não vou discordar da primeira parte da afirmação: Bella, tadinha, é uma nulidade (e ela não se torna uma nulidade por causa de Edward. Pelo jeito, ela nasceu assim!). Mas a segunda parte da sentença é problemática: como assim, ninguém se sentiria atraído por um zerinho à esquerda? Levante a mão quem conhece alguém que seja loucamente apaixonad@ por uma pessoa chata, burra, ou simplesmente babaca? Vamulá, quem não tem um amigo ou amiga que até se casou com alguém por quem você não dá um tostão furado? É super comum, vai! E, sinceramente, eu acho ótimo que esse tal de padrão de beleza (e de desirability; como traduzo isso pro português?, desejabilidade?) não seja tão padronizado assim. Nem mesmo anos de condicionamento podem moldar o desejo individual. Cada pessoa sente-se atraída por alguma característica. Não é igual pra todos. Isso chama-se química, ou, em linguagem mais popular, o velho “cada panela tem sua tampa”. A de Edward é Bella. Ajuda que ele também tenha uma personalidade difícil...
Gostei muito também deste vídeo do Mau Saldanha. Ele basicamente diz o oposto do Felipe, mas gostei dos dois, posso? Mau verbaliza o que eu já disse: que uma boa parte do desprezo pela saga Crepúsculo, tanto na literatura quanto no cinema, acontece por ela ser dirigida às mulheres. E nós, mulheres, como todas sabemos, somos seres lerdinhos e instáveis, dominados pela TPM, então vamos deixar que os homens nos digam o que é bom e o que é ruim, o que devemos ou não gostar. Isso vale tanto pro nosso acompanhante no cinema quanto pros críticos, já que a imensa maioria dos críticos é homem. Eles sabem o que é melhor pra gente! E ficam repetindo: Crepúsculo é péssimo, é péssima literatura, é péssimo cinema, é puro lixo, parem de ler/ver isso, nós proibimos! Eu sempre sinto uma benevolência muito maior por parte dos críticos para obras dirigidas ao público masculino. Queria lembrar que eu aparentemente fui a única crítica na face da Terra a detestar Senhor dos Anéis. Será que fui a única mesmo, ou os outros tinham medo de falar mal de um troço tão popular? Pois bem, ninguém tem medo de xingar Crepúsculo. Pelo contrário, é até o que se espera de você, se você for um crítico homem. Por isso acho corajosa a declaração do Mau. Eu não iria tão longe a ponto de afirmar que Bella é um símbolo da emancipação feminina. Não acho Crepúsculo (e só posso falar dos filmes, já que não li os livros da Stephenie Meyer) feminista, mas tampouco acho machista. O desejo de Bella é o ponto central da franquia. Ela quer transar, ela quer virar vampira, ela quer viver com Edward pra sempre. Não concordo com muitos de seus desejos (putz, viver com aquele mala por toda a eternidade?!), mas pelo menos ela tem seus desejos e diz claramente o que quer.
- Edward constantemente tenta controlar Bella. Ele é um stalker e tem todo o comportamento de um (obsessão pelo alvo escolhido, seguir a pessoa mesmo que ela não queira ser seguida etc). Mas ele não consegue controlar Bella. Uma cena emblemática disso em Eclipse, o filme, é quando ele pergunta pra ela: “Se eu te pedisse pra ficar dentro do carro enquanto eu vejo o que está havendo, você ficaria?”. E ela nem responde. Sai do carro antes dele.
- Gosto também da reação de Bella ao ser presenteada com um anel de diamantes que pertenceu à avó de Edward: ela não dá a mínima. Necas daquele comportamento melequento que vemos em todas as comédias românticas – aquilo da mocinha se derreter pelo anel e mostrá-lo a todas as suas amigas, para que morram de inveja. Bella nem quer casar, ao menos não tão nova. Ela diz que, no mundo de hoje, casar-se tão cedo, só se for porque a moça está grávida. Ela certamente não tem uma ideia romântica do sagrado matrimônio.
- O discurso de formatura dado pela amiga de Bella (Anna Kendrick, indicada ao Oscar de atriz coadjuvante por Amor sem Escalas) é tudo que uma mórmon não diria. A amiga fala em viver experiências múltiplas, em fazer várias faculdades, tentar empregos diferentes, se apaixonar dezenas de vezes, antes de optar por algo mais definitivo. Não sei como está no livro, mas no filme é um discurso ultraliberal, e aplaudido com entusiasmo por toda a escola (e inclusive por Bella).
- Alguém já falou sobre a saga Crepúsculo estar nas mãos de dois clãs? Um deles, o clã dos Cullen, é branco que dói, burguesão, vive como yuppie numa casa de vidro. Contra eles há os índios, marrons, lobisomens, que vivem na floresta sem nenhuma camisa, mesmo se a temperatura está negativa (e tem que estar – o negócio se passa no estado de Washington, fronteira com o Canadá!). Ambos os clãs são patriarcais, mas entre os pálidos vampiros parece haver mais voz feminina, ou, no mínimo, mais mulheres. Não sei onde quero chegar com esse meu raciocínio torto, mas existe uma tensão racial na história, não?
- O estupro, ou a ameaça do estupro, é algo muito presente na saga (e, pelo que me contaram, nos livros de Stephenie Meyer). No primeiro filme, Bella quase é estuprada por um grupo de machões. Além do mais, isso de todos os vampiros acharem que ela é apetitosa e quererem comê-la (no mau sentido) sem que ela queira lembra bastante violência sexual. No segundo, o estupro é substituído pela violência doméstica, esta sofrida pela mulher do líder dos lobisomens. Ela tem o rosto desfigurado porque seu marido se descontrolou numa ocasião (e continua com ele, o que é, sem sombra de dúvida, uma péssima mensagem pras espectadoras. Neste terceiro, Eclipse, o tema do estupro volta com força total. Não só Jacob tenta beijar Bella à força (e recebe um soco dela em troca), quanto ainda ouve uma lição de Edward: “Você não sabe que só pode beijá-la quando ela quiser?” E há todo um flashback de uma das “irmãs” de Edward, que adorava sua vidinha no século 19, era apaixonada pelo noivo, tudo que queria era casar e ter filhos – até ser estuprada pelo noivo e seus amigos. Ou seja, na saga Crepúsculo, como na literatura gótica em geral (e histórias de vampiros são sempre góticas), existe uma ou mais ameaças de estupro rondando a protagonista.
- Agora sem nada a ver com a discussão se Eclipse é machista ou feminista, ou ambos, ou nenhuma das alternativas acima: eu gostei do filme. Acho que David Slade, diretor de Meninamá.com e 30 Dias de Noite, faz um ótimo trabalho em trazer mais ação à saga (como disse um crítico americano, a segunda parte de Crepúsculo, Lua Nova, tem menos ação que um filme de arte húngaro. Lembre da Bella deprê com a ida de Edward: ela fica um semestre sozinha no seu quarto, olhando pela janela. Mas eu gosto do segundo filme também!). Pra mim, o maior indicativo que Eclipse funciona é que há três três flashbacks, e todos se integram à ação, ao invés de interrompê-la. Não são forçados. Eu gostei (bah, parece que hoje tô gostando de tudo! Aproveite!).

sexta-feira, 9 de julho de 2010

CRÍTICA: ECLIPSE / Bella balança com lobos

Triângulo amoroso entre lobisomem, humana e vampiro.

Sobre a saga Crepúsculo, alguém já disse que a abstinência sexual nunca foi tão sexy, mas ando vendo a série True Blood, em que a humana e seu vampiro de estimação ainda não transaram (ok, estou só no terceiro episódio da primeira temporada), e tenho minhas dúvidas. No entanto, os adolescentes que lotaram a sessão em que vi Eclipse, a terceira parte da franquia, certamente pensam que não há concorrência para seus vampiros virgens. Meninas e meninos devem ter saído roucos de tanto gritar. Histeria coletiva mesmo. Eu e o maridão só podíamos olhar um pro outro no escurinho do cinema e rir.
Mas fazer o quê? Eu, apesar de não ter lido nenhum livro da Stephenie Meyer até agora, gosto da saga. E vou morrer dizendo que a franquia cinematográfica não é machista. Não chegaria ao extremo de dizer que é feminista, mas pelo menos ela conta com uma protagonista mulher, o que já não é tão comum. E a saga é toda baseada nas vontades de Bella (Kristen Stewart). Ela quer transar com Edward (Robert Pattinson) desde o primeiro filme, isso é evidente. Mas com aquele vampirinho TFP (Tradição, Família e Propriedade), só casando. Ela o chama de velha guarda. Diz que o costume de mulher casar virgem, e a própria instituição do casamento, é mais que antigo ― é arcaico. Ele se justifica afirmando que vem de outra época, que nasceu há 110 anos atrás (menos que o Raul Seixas, mas ainda assim, ultrapassado pra chuchu).
Pra transar com o amado, Bella percebe que terá que virar vampira também. Isso significa viver pra sempre, sem envelhecer e sem comer (vampiros não comem chocolate!), longe das pessoas que ama. Mas quem ela ama mesmo é Edward. A vida dela não é grande coisa desde o início da série. Portanto, é isso que ela decide que quer já no primeiro filme: transformar-se em vampira. E aí Edward é que fica enrolando. Quer que ela termine a escola primeiro (o que é um ponto positivo ― quem quer repetir o ensino médio pra toda a eternidade?). Ele quer é que ela mude de ideia, porque não crê que ser vampiro seja algo cool.
O problema é que desse jeito, com todos os chega-pra-lá do Edward pra cima de Bella, a imensa tensão erótica que existia entre o casal não tinha como durar muito tempo. Os produtores sabem disso. Então, o que fazem? Pra começar, praticamente mandam o vampiro TFP pra escanteio no segundo filme, Lua Nova, introduzindo uma nova tensão sexual, desta vez entre Bella e o índio Jacob (Taylor Lautner), que tem o poder de virar lobo e odeia vampiros. E o que acontece neste terceiro capítulo? Um triângulo amoroso, claro. Edward fica todo carinhoso com Bella, mas ela já está visivelmente de saco cheio de tanto segurar mãozinha e trocar beijinhos. Tanto que ela prefere estudar do que namorar! (Não sei, mas quando uma adolescente interrompe um beijo pra ler poesia, é porque o relacionamento não está bem). Edward e Bella mais parecem um casal idoso, tipo eu e o maridão. Aliás, pior, porque ao menos eu e o maridão transamos no natal.
Mas Jacob aparece, diz pra Bella que ela não precisa amar apenas um, e que ele sente que o corpo dela o deseja. Edward, possessivo do jeito que é, tem ciúmes, lógico, mas ouso dizer que a verdadeira tensão erótica neste filme é entre ele e Jacob. A cena dentro da tenda de acampar, à la Brokeback Mountain, fez os adolescentes da minha sessão urrarem. Juro. Esta sequência altamente homoerótica começa com Bella congelando de frio, e Edward, que não tem sangue nas veias, lamentando não poder aquecê-la. Entra Jacob, que se deita embaixo do edredon com Bella, abraçando-a, e ainda lamenta que ela não esteja nua, já que seria mais rápido elevar a temperatura interna dessa forma. Edward fica só olhando, e Bella dorme, ou finge que dorme. E Edward e Jacob tem uma looonga conversa, em que o assunto principal parece ser Bella. Mas só parece. Porque no fundo eles estão conversando sobre a atração e repulsa que um sente pelo outro. E duvido que nas exibições-teste que os produtores realizaram não tenha havido a gritaria da minha sessão. Eles sabem o que fazem. Stephenie deve estar revirando-se no túmulo (opa, sem querer matei a autora. Ela vive! E seus livros estão em promoção pelo Submarino).
Gosto também que eles aprenderam a rir de suas próprias mazelas. Há muitas auto-referências, um prato cheio pras fãs. Por exemplo, Edward reclama sobre Jacob aparecer com o peito descoberto em 95% das cenas: “Ele não tem camisa?”. E, na tenda, Jacob já entra dizendo pra Edward: “I'm hotter than you” (“sou mais quente que você”). Ele está falando no sentido literal, mas também nas comparações que a mídia faz entre os dois astros desde Lua Nova.
Assistir a Eclipse numa sessão lotada de jovens foi uma experiência à parte. Na declaração conclusiva, em que Bella diz a Edward, comparando-o com Jacob, “Eu te amo mais”, alguns meninos na minha sessão não resistiram à emancipação feminina e fizeram um coro de “Galinha!”. Mas, em geral, eles ficaram do lado do bem. Meus adolescentes deram escândalo em inúmeras cenas. Gritaram a ponto de abafar o som da tela na primeira vez que Jacob aparece, no beijo entre Jacob e Bella (o que ela quer), na batalha climática, na cena pouco sutil em que Bella se esfrega em Jacob, versão lobo, e, como eu já disse antes, na conversa do acampamento. Ou seja: quem disse que Edward é o galã da história? O sangue de Bella, e do público, ferve por Jacob. Que graças a zeus não é um caretão.
Mais sobre Crepúsculo em geral, e Eclipse em particular, aqui.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

MAIS UMAS BESTEIRINHAS SOBRE LUA NOVA

Nem numa cama Edward se anima.

Mas, antes, sobre Crepúsculo, que acabei de rever (minha mãe pegou o dvd porque nunca tinha visto).
- Qualquer filme que termina com a protagonista (uma mocinha, excepcionalmente) dizendo "Eu sei o que quero" não pode ser considerado machista no meu livro. Inclusive, depois dessa fala, a última imagem de Crepúsculo é puro kick ass grrrl power. Fecha com a figura de Victoria, a vampira do mal. Não faz muito sentido que a última imagem seja dela, pois ela aparece pouquíssimo tanto aqui quanto em Lua Nova. Mas o que um personagem sábio fala sobre ela antes é "Não a subestime". Será que isso vale pra Bella também? (E reparem na decepção de Bella ao conhecer o quarto de Edward. Sua primeira linha é: "Não tem cama?").
- Tem um comp
onente importante faltando na equação "Bella como vítima de violência doméstica": o medo. A protagonista repete umas cinco vezes pro Edward que não tem medo dele. Em geral, mulheres que apanham ou são ameaçadas pelo companheiro têm muito medo. Tanto que, mesmo após anos separadas do marido, é comum que elas reajam exageradamente a qualquer detalhe do dia a dia, como um tapinha nas costas. Isso definitivamente não acontece com Bella.
E agora algumas observações que não couberam na minha crônica sobre Lua Nova:

- Seguem a pleno vapor as referências à gostosura de Bella. Um vampiro mal intencionado lhe diz que ela é muito apetitosa e o faz salivar. Mais tarde, um lobi fala: “Pode entrar, não vamos te morder”. Ao que um outro emenda: “Fale por você”. Quer dizer, todo mundo quer comer Bella, menos o Edward. (Ainda prefiro a fala de Crepúsculo do vampiro caçador pra Edward, sobre Bella: "Ah, você trouxe um lanchinho?").
- Por que todo mundo, inclusive Bella, fica tratando o pai como Charlie? Por que o pessoal não diz “Faça pelo seu pai”, ao invés de “Faça pelo Charlie”? Eu ficava pensando nos malditos vietcongues, que eram chamados de charlie pelos americanos.
- Sei que é absurdo mencionar isso num filme com vampiros, lobisomens, e adolescentes de 109 anos virgens, mas o mais inverossímil da trama inteira é um carinha vomitar no meio de um filme de ação. Nem em filme do Stalla alguém leva a ânsia às últimas consequências.
- Uma das falas românticas de Edward pra Bella é: “Largar você foi o pior erro que cometi em 109 anos”. O maridão nervosinho tinha brigado comigo antes do filme. Portanto, quando passou aquela cena, eu pus minhas garras no seu braço. E, na saída do cinema, mandei que ele dissesse: “Brigar com você foi a coisa mais ridícula que fiz nos meus 52 anos”. Ele: “Brigar com você foi a coisa mais ridícula que fiz nos meus 52 anos. Isso e assistir um certo filminho aí”.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

MAIS SOBRE OS FILMES DA SÉRIE CREPÚSCULO

Pouca roupa pra muita castidade: a sexy abstinência sexual da série.

Gente boa, é como eu disse: não li os livros, então não posso falar deles, só dos filmes. E não achei os filmes machistas. Tampouco os chamaria de feministas (machista não é o contrário de feminista, dá pra não ser nem um nem outro, certo?). Mas os filmes, principalmente o primeiro, têm uma carga erótica muito grande. E essa carga erótica é da parte de Bella, não do Edward ― que, pra não se descontrolar, simplesmente se abstem de transar. É raro mulheres serem retratadas no cinema como gente que deseja, que quer sexo. Quando há personagens assim, elas geralmente são femme fatales, ninfomaníacas que fazem do sexo sua arma, viúvas negras que causam a destruição do herói (a Sharon Stone em Instinto Selvagem, pra ficar num exemplo mais recente). E Bella não quer o mal do seu amor. Ela só quer transar com ele, sem interesses escusos por trás. E quer tanto que, pra isso, está disposta a virar vampira. “Virar vampira” também parece equivaler a apoderar-se, não? Os vampiros são muito mais fortes que os humanos, têm poderes especiais, leem pensamentos, e vivem pra sempre. Alguns, como Edward, veem isso como uma maldição, mas parece que aquele vampiro médico até gosta da ideia de ajudar os outros eternamente (e ele é o único vampiro que tem uma profissão!). Também há a sugestão de que os vampiros são monogâmicos e que, quando se juntam, se juntam pra sempre. Aqueles vampirinhos do grupo do Edward parecem ter uma vida sexual ativa. Sendo adolescentes e sem precisar casar pra transar! Mas com o chato do Edward, só casando!
Sei que a Bella é uma personagem insossa, bem chatinha, sem ambições. Mas ela não era assim antes de conhecer o Edward? Ela é uma adolescente, não uma mulher feita, cheia de projetos e planos definidos. Ela parece ser desinteressada a respeito de tudo. Só se interessa pelo Edward, depois que o conhece. Mas, e ele? Quais são seus projetos, suas ambições, seus interesses? Sua vida é um tédio, pô. Ele não transa e repete o segundo grau por toda a eternidade. Quando conhece Bella, ele também passa a viver pra ela. Seu passatempo passa a ser vê-la dormir. Em Lua Nova fica claro que ele praticamente nem existe sem ela. Ele some do filme, vira um fantasminha. Não quer viver sem ela, algo bem Romeu e Julieta mesmo.
Pelas pouquíssimas análises feministas que li a respeito de Crepúsculo (mais dos livros que dos filmes), as principais críticas à série são que Edward é um stalker e que Bella é uma vítima recorrente da violência doméstica. Sobre a primeira crítica, Edward ser um stalker, não concordo. Um stalker é aquele que persegue sua obsessão sem que ela queira ou saiba (quase sempre é um homem que se torna obcecado por uma mulher que não lhe dá bola e a segue, muitas vezes com resultados terríveis. O Colecionador é um ótimo filme sobre stalking). Admito que é bizarro que Edward fique olhando pra amada dormir, mas Bella sente que ele está sempre com ela e gosta disso. Então não é bem stalking, é? Sem falar que podemos dizer que ela também persegue o Edward. Quando ela virar vampira, pobre Edward se quiser algum momento de privacidade!
A outra crítica, sobre a violência doméstica, eu considero bem mais aceitável. Bella vive sendo ameaçada de violência, estupro e morte por parte de vários personagens (homens e algumas mulheres). Mas, se ela se tornar vampira, essas ameaças acabariam. Bella diz pro Edward que, com ela vampira, ela também poderia protegê-lo. E o patriarcal Edward dispensa esse comentário com um “Eu que tenho que proteger você”, como se fosse sua condição primordial de macho alfa (mas, digamos, ele vive pra isso. Sem Bella, ele não tem mais o que fazer da vida. A gente fica pensando como ele ocupou o tempo nos últimos 109 anos). Edward trata Bella mal. Ele é temperamental, muda de humor, fica de cara feia sem motivo, e a isola dos amigos. Em Lua Nova, ele até bate nela. É um acidente para protegê-la, mas vários maridos abusivos usam esse argumento do “é pro seu próprio bem” pra espancar suas mulheres. Definitivamente dá pra interpretar Edward como o típico marido abusivo, aquele que morde e assopra. E Bella sem dúvida sente-se atraída por tipos assim. Quando não está com Edward, está com Jacob, o lobisomem, que também representa um perigo pra ela. Em Lua Nova há uma personagem que aparece numa só cena, uma namorada ou mulher de um dos outros lobis, e ela tem parte do rosto desfigurado, porque o carinha zangou-se e perdeu o controle por um segundo. E ainda assim, lá está a mulher, sorridente e fazendo bolinhos. Essa sim é uma péssima lição pras meninas fãs da série, sem dúvida.
Mas a ideia toda é que, assim que Bella vire vampira (o que não depende só dela, e sim da decisão de um grupo em que mulheres também votam), todas as ameaças fiquem pra trás. Bella não liga pras ameaças, não têm medo de nada. Ela tem ideia fixa: virar vampira pra transar com Edward. Porque pra ficar com Edward como está ela não precisa virar vampira. Os dois podem viver de mãos dadas até que ela fique velhinha e morra. E Edward acha esse cenário totalmente okay. É Bella que tem outros planos, que incluem muito sexo. E não pra efeitos procriativos, porque vampiros se reproduzem por buraquinhos no pescoço e troca de líquidos vermelhos, ao invés de buraquinhos em outras regiões do corpo e outras trocas de líquidos.
Ao que me parece, os três personagens principais de Lua Nova ― Bella, Edward e Jacob ― são virgens (o que é super pouco realista, a gente sabe), e só Bella se incomoda com essa situação. Isso deve querer dizer alguma coisa.