Amor sem Escalas é um filme agridoce, que não é nem hilário nem dramático, nem totalmente cínico ou sentimental. E nisso de não querer se enquadrar ele é bem diferente. Gostei muito. Não creio
que gostaria tanto se o papel principal estivesse nas mãos de outro ator que não o George Clooney. Já falei que o George é o nosso Cary Grant atual, né? Ninguém mais tem esse charme. Ele consegue transformar um personagem fácil de ser repulsivo num carinha aprazível. Sério, imaginem outro astro no papel de um panaca sem amigos que vive de despedir pessoas, e me digam se daria pra gostar. Do George a gente gosta.
Amor começa com a vista aérea de várias cidades, e uma música cantando “This is your land”, “essa é a sua terra”, querendo dizer a América. O que é estranho pra gente,
que não é americana, ok, vá lá, estadounidense (isso é feio, parece palavrão!), e nem é muito benvinda por lá. Mas não dá pra notar de cara que a música é irônica pros próprios americanos. Amor lida com pessoas sendo expulsas do pedaço de terra que ocupam ― seus cubículos num escritório. Nenhum filme poderia ser mais apropriado pro momento econômico que os EUA passam.
Amor intercala o amadurecimento de seu protagonista com depoimentos de gente que perdeu o emprego. Vár
ias dessas pessoas não estão atuando. É gente de verdade. E não sei o que é mais devastador: alguém com filhos pra criar ficar sem o seu ganha-pão em época de depressão, ou alguém trabalhar demitindo funcionários porque seus chefes são covardes demais pra isso.
É esquisito que um sujeito com esse trabalho seja também um palestrante motivacional. Um dos méritos do filme é que, nas palestras do George, o diretor Jason Reitman (d
e Obrigado por Fumar e Juno, e filho do diretor Ivan, de Caça-Fantasmas) não faz o que todos os filmes fazem, que é todo mundo aplaudir o sujeito de pé, rir das piadas dele, estar totalmente apaixonado pelo que ele fala (pense num professor num filme e veja se não é assim ― toda aula que o cara dá é a melhor aula de nossas vidas). Aqui não. O pessoal não dá a mínima pro George. Ele é apenas mais um palestrante que os empregados são forçados a assistir.
As palestras de George ensinam como “carregar” o menor peso possível na vida. Sua receita é não se apegar a lugares,
coisas, ou pessoas, e não ter relacionamentos duradouros. Ele ensina que não somos cisnes, mas tubarões, e que fotos são pra quem não consegue ter memórias. George viaja uns 320 dias por ano, e adora viajar. Quando um comandante lhe pergunta de onde ele vem, ele só pode responder “daqui mesmo”. O que boa parte de nós odeia (aeroportos, quartos impessoais de hotel, ficar longe da família nos feriados) é justamente o que mais agrada a George. E só porque ele não quer relacionamentos sérios não
quer dizer que ele seja um eremita ou anti-sociável. E, vamos admitir, um cara como o George não vai ter problemas em arranjar sexo. Ele só não quer se envolver. Seu único compromisso na vida é colecionar milhas de voo. Não pra usá-las, apenas pra atingir uma meta. Pô, ele nem lê! Não consigo nem imaginar como deve ser voar, passar horas num aeroporto e num quarto de hotel, sem ler.
George aprende bastante com duas mulheres. Uma é uma jovem ambiciosa que desenvolveu um novo sistema pra despedir pessoas ― por video conferência. Ela passa a viajar com ele pra aprender os osso
s do ofício. A outra é uma executiva com quem George tem um caso, e que é meio como ele, versão de saias. A primeira é interpretada por Anna Kendrick. Sabem quem é? A que faz a amiga de Bella na escola na série Crepúsculo! Anna está sensacional. A segunda é feita por Vera Farmiga, atriz que tem a carreira que muita gente pede a deus. Ela já foi amante do Leonardo Di Caprio, do Matt Damon (no mesmo filme, Infiltrados), e agora do George. Também arrasa. Ambas foram indicadas a melhor atriz coadjuvante no Globo de Ouro e devem repetir a dose no Oscar. E, se for
em indicadas, vão perder, porque é difícil decidir qual está melhor.
Uma das cenas mais bem escritas é quando as duas conversam, e George fica só ouvindo, meio espantado. Outra é uma em que George e Anna demitem o J.K. Simmons (o pai de Juno, diretor do jornal em Homem Aranha, e um dos chefes em Queime Depois de Ler), que abdicou de seu sonho de ser chef pra tomar o caminho corporativo. É gratificante ver personagens com nuances, interpretados por atores de primeira.
Não dá pra negar, no entanto, que o terceiro ato de Amor seja moralista e conservador. George passa a ter dúvidas sobre seu estilo de vida. Ele se cansa de ser sempre o outro, o estepe. E até ele faz
uma defesa do casamento. Hmm... Pra mim, o segredo é tempo. Levar a vida que ele leva por alguns meses, ou até anos, parece bem legal. Pra vida inteira, de jeito nenhum. Sim, eu acredito que é impossível ser feliz sozinh@. Ok, claro que também depende com quem você está. A máxima “antes só que mal acompanhado” é igualmente verdadeira. Mas olha só como até esse lugar comum já carrega a ideia que estar só não é bom. E gente, não é. Pode ser por uma fase, não pra sempre. Sei lá, eu pessoalmente não consigo pensar num só lugar que gostaria de ir sem o maridão. Eu vivo melhor
com ele. Talvez na Suécia ele tivesse menos utilidade, é verdade. Mas o que George fala é real: quais foram os momentos mais felizes da sua vida até aqui? Geralmente são os que envolvem outras pessoas.
E se o filme fosse ultra conservador mesmo, a executiva (que, vocês vão descobrir no final do filme, faz algo bem condenável ― não vou falar aqui) seria punida pelas suas escolhas. Ela escapa ilesa, ainda bem.
Amor também me fez refletir sobre minha relação com o trabalho. Eu não teria a reação de desespero, medo e raiva de nenhum dos demitidos. Simplesmente porque nunca tive um emprego que me envolvesse emocionalmente. O máximo de tempo que fiquei numa empresa foi numa escola de inglês, primeiro como professora, e logo como coordenadora acadêmica. Eu gostava muito de lá, mas se eu tivesse sido despedida, iria embora numa boa (saí pra fazer mestrado). Ajuda, lógico, não ter
filhos pra sustentar. Essa é a vantagem de ser financeiramente independente: se um trabalho está te incomodando, você não tem que aturar. Levanta e vai embora. Mas, de fato, não sou o tipo de pessoa que seria demitida por um profissional em demitir pessoas. Isso é pra cargos mais altos, desses que eu jamais tive a ambição de ocupar.
Voltando a Amor, eu talvez tirasse toda a subtrama do casamento da irmã do George, que ameaça resvalar pro sentimentalismo. Bom, eu deixaria o negócio das fotos, à la anão de Amélie que é fotografado
em vários pontos do mundo. Mas mesmo essa parte é importante por um detalhe: depois de todo o esforço que George tem pra fotografar a colagem do casal em diversos locais, ele entrega as fotos à irmã, que manda colocá-las num mural cheio ― sem nem olhar pra elas! Pelo jeito, George não é o único a não se envolver.
Pra finalizar, só queria dizer: George, você vai sempre ter alguém te esperando em Fortaleza!

Amor começa com a vista aérea de várias cidades, e uma música cantando “This is your land”, “essa é a sua terra”, querendo dizer a América. O que é estranho pra gente,

Amor intercala o amadurecimento de seu protagonista com depoimentos de gente que perdeu o emprego. Vár

É esquisito que um sujeito com esse trabalho seja também um palestrante motivacional. Um dos méritos do filme é que, nas palestras do George, o diretor Jason Reitman (d

As palestras de George ensinam como “carregar” o menor peso possível na vida. Sua receita é não se apegar a lugares,


George aprende bastante com duas mulheres. Uma é uma jovem ambiciosa que desenvolveu um novo sistema pra despedir pessoas ― por video conferência. Ela passa a viajar com ele pra aprender os osso


Uma das cenas mais bem escritas é quando as duas conversam, e George fica só ouvindo, meio espantado. Outra é uma em que George e Anna demitem o J.K. Simmons (o pai de Juno, diretor do jornal em Homem Aranha, e um dos chefes em Queime Depois de Ler), que abdicou de seu sonho de ser chef pra tomar o caminho corporativo. É gratificante ver personagens com nuances, interpretados por atores de primeira.
Não dá pra negar, no entanto, que o terceiro ato de Amor seja moralista e conservador. George passa a ter dúvidas sobre seu estilo de vida. Ele se cansa de ser sempre o outro, o estepe. E até ele faz


E se o filme fosse ultra conservador mesmo, a executiva (que, vocês vão descobrir no final do filme, faz algo bem condenável ― não vou falar aqui) seria punida pelas suas escolhas. Ela escapa ilesa, ainda bem.
Amor também me fez refletir sobre minha relação com o trabalho. Eu não teria a reação de desespero, medo e raiva de nenhum dos demitidos. Simplesmente porque nunca tive um emprego que me envolvesse emocionalmente. O máximo de tempo que fiquei numa empresa foi numa escola de inglês, primeiro como professora, e logo como coordenadora acadêmica. Eu gostava muito de lá, mas se eu tivesse sido despedida, iria embora numa boa (saí pra fazer mestrado). Ajuda, lógico, não ter

Voltando a Amor, eu talvez tirasse toda a subtrama do casamento da irmã do George, que ameaça resvalar pro sentimentalismo. Bom, eu deixaria o negócio das fotos, à la anão de Amélie que é fotografado

Pra finalizar, só queria dizer: George, você vai sempre ter alguém te esperando em Fortaleza!