
O que não quer dizer que eu não me surpreenda. Sabe aquele mito que todo professor universitário é de esquerda? Então, é mito. Todo e qualquer professor universitário que já trocou meia dúzia de palavras com seus colegas sabe que há tanta gente de direita quanto de esquerda. Lógico que os de direita, só pra variar, não se consideram de direita. Nem o Tio Rei se considera de direita! E imagino que, se questionados sobre que lado do espect
ro político estão, meus colegas responderiam que essa divisão entre direita e esquerda acabou com a queda do Muro de Berlim, quando eles venceram, lógico. Ou você já ouviu alguém de esquerda dizer que “essa divisão não existe mais”? Não, né? I rest my case.
Óbvio que meus colegas professores universitários podem defender a ideologia que quiserem (e, só pra constar: ideologia não é só de esquerda. Tudo é ideologia. Aquilo que você vê como natural, “é assim que as coisas são”, também é ideologia). Mas me espanta um filme hiper de esquerda como Vinhas da Ira (1940) – um filme que não poderia ter sido feito oito anos depois, na época d
o Macartismo, porque seria taxado de comunista (inclusive, tanto Steinbeck quanto John Ford foram investigados pelo Comitê de Atividades Anti-Americanas por causa da defesa dos sindicatos exposta em Vinhas) – ser interpretado pelos meus colegas como... o triunfo individual de quem trabalha!
Putz, não é por nada não, mas é preciso muito esforço pra interpretar Vinhas dessa forma. Até porque não há triunfo nenhum. O filme termina com a família separada, dirigindo-se sabe-se lá pra onde, sem nenhum perspectiva. E já falei do discurso final, em que se prega a união de milhares de pessoas do povo contra um sistema explorador. Mas não, pra um professor presente (e não sei de que área s
ão esses docentes), Vinhas serve como um ótimo exemplo pra nós, brazucas. Porque os americanos passaram por tudo isso na Depressão de 30, e pouco tempo depois superaram as dificuldades e já eram o povo mais rico do mundo. Como já dizia aquele slogan partidário, o Brasil pode mais!
Um outro professor reclamou dos que pensam que o capitalismo está no fim, porque o capitalismo sempre dá a volta por cima. No capitalismo não há crises, há oportunidades! E deu um exemplo: em Fortaleza havia uma rua cheia de concessionárias de automóvei
s. Com a crise de 2008, quase todas fecharam. Só sobrou uma. Mas essa daí, se aguentar firme, quando a crise passar, ficará rica, pois será a única da rua. Não é uma maravilha? Eu respondi: “Ô. Pra quem sobrevive, deve ser ótimo”. E o carinha: “Exato: pra quem sobrevive!”. O ardor com que ele disse isso me fez lembrar de mais uma diferença entre esquerda e direita. Pra esquerda, darwinismo social e a sobrevivência do mais forte não são coisas positivas. Pelo contrário. Indicam um capitalismo selvagem, que não se preocupa com o ser humano. Mas, pra direita, não importa quem morre no caminho. O sobrevivente é um herói, um vencedor: he made it!
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professor afirmou que lá no norte eles só fazem greve quando realmente precisam (ao contrário de nós, aparentemente, que cruzamos os braços só pelo prazer da baderna), e um outro disse que hoje os Estados Unidos não permitem mais que seus empregados sejam tratados assim, do jeito demonstrado por Vinhas. Eu: “É, se o empregado for americano, não mesmo. Mas eles vão pra um país de terceiro mundo e agem exatamente desse jeito, usando esse mesmo sistema de exploração”. Meu colega não gostou, disse que não é assim, e que além do mais, quem são eles? Pois é, é bem isso que o filme tenta passar: que no capitalismo não há eles, não há um rosto. Ninguém pra culpar! (o excelente documentário A Corporação corrobora essa tese).
Daí um professor com uma cruz no peito sugeriu que o próximo filme exibido fos
se Lenin e Eu (ele se referia a Adeus Lenin): “Já que estamos criticando o capitalismo, é bom mostrar filmes que criticam... o outro lado”. Eu só não entendi o plural: quem “estamos criticando o capitalismo”, cara pálida? Que eu saiba, só eu estava (os outros eram ardorosos fãs do sistema). Ou melhor, eu e o filme que havíamos acabado de assistir.

Óbvio que meus colegas professores universitários podem defender a ideologia que quiserem (e, só pra constar: ideologia não é só de esquerda. Tudo é ideologia. Aquilo que você vê como natural, “é assim que as coisas são”, também é ideologia). Mas me espanta um filme hiper de esquerda como Vinhas da Ira (1940) – um filme que não poderia ter sido feito oito anos depois, na época d

Putz, não é por nada não, mas é preciso muito esforço pra interpretar Vinhas dessa forma. Até porque não há triunfo nenhum. O filme termina com a família separada, dirigindo-se sabe-se lá pra onde, sem nenhum perspectiva. E já falei do discurso final, em que se prega a união de milhares de pessoas do povo contra um sistema explorador. Mas não, pra um professor presente (e não sei de que área s

Um outro professor reclamou dos que pensam que o capitalismo está no fim, porque o capitalismo sempre dá a volta por cima. No capitalismo não há crises, há oportunidades! E deu um exemplo: em Fortaleza havia uma rua cheia de concessionárias de automóvei

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Daí um professor com uma cruz no peito sugeriu que o próximo filme exibido fos
