Continuando a seção de perguntas e respostas que quero ressuscitar (porque vocês mandam tantas perguntas por email, e tantas delas são interessantes, e eu não tenho tempo pra responder), respondo à pergunta de uma leitora muito simpática, a Letícia. Antes, o email dela: Olá, Lola! Há algum tempo escrevi um e-mail que você publicou como "cafuné na Lolinha", e devo dizer o quão feliz fiquei com a oportunidade de ter minhas palavras no seu blog!
Devo dizer que apesar de não muito frequente nos comentários, continuo acompanhando seu blog fielmente, e, por esse motivo, queria te contar uma coisa: Por meio do Pró-Uni, consegui uma bolsa integral na PUC de Campinas, e adivinhe o curso que escolhi.... LETRAS!
Você deve estar se perguntando por que exatamente estou te contando isso, mas eu já explico: sempre gostei de inglês, e ver você, doutora em literatura inglesa, tão apaixonada pela língua, me inspirou bastante no processo de escolha. Além disso, gostaria de te pedir alguns conselhos, como o que esperar de uma universidade imensa (ainda mais eu, que sempre estudei em escola pública pequena), o que posso fazer para começar com o pé direito, enfim... O que você achar que me ajudará nesse momento de transição que eu considero tão difícil, apesar de essencial.Obrigada mais uma vez, Lolinha...Minha resposta, que de repente pode servir pra outr@s alun@s na mesma situação:Que legal, querida! Parabéns por conseguir bolsa! E sinto-me muito honrada por vc ter escolhido Letras!Olha, não sei bem que conselhos eu posso te dar. Quando eu era novinha e fazia faculdade (fiz metade de Propaganda quando eu tinha 19 anos e morava em SP e era redatora publicitária), eu fui péssima aluna. Acho que eu estava saturada de estudar no ensino médio, e levei a faculdade nas coxas, até largar. Por favor, faça o que quiser, mas NÃO siga meus passos! Faculdade é pra ir até o fim. Pode até mudar de curso (deve, se não gostar), mas agora que entrou, tem que sair com um diploma de qualquer jeito. E de preferência em 4 ou 5 anos, certo? A outra faculdade que eu fiz (Pedagogia, já em Joinville), depois dos 30, eu fiz só pra poder seguir pro mestrado. E não acho isso bom, fazer faculdade pelo diploma. Aproveite sua graduação!Hoje em dia, tem cada vez mais gente terminando a graduação e indo direto pro mestrado, e depois pro doutorado. Isso é possível. E é uma realidade pra muitos jovens. Pra gente que é de Letras, e que vai provavelmente trabalhar no meio acadêmico, é algo pra se pensar mesmo. Olha só, vc pode se tornar doutora com 30 anos. E aí conseguir um bom emprego numa faculdade, ganhando um bom salário... É uma possibilidade.Claro, um passo de cada vez. O importante é vc estudar. Quando vc tiver que ler algo pra uma aula, LEIA. Se tiver que escrever, escreva. Se tiver que preparar algo pra apresentar, prepare. Faça tudo que te pedem. E faça mais. Leia muito, por conta própria. Leia o que te interessar. Vá adquirindo uma bagagem. Participe das aulas, faça perguntas, dê seus comentários. Professor@s ADORAM alun@s participativos. Eu, pelo menos, amo. E questionadores também. Portanto, não tenha vergonha, não seja tímida, fale mesmo. Claro, sem ser cri-cri. Seja uma pessoa legal, bem humorada, articulada, que vc fará muito sucesso entre suas/seus colegas e entre o corpo docente. Não se diminua. Não se sinta inferior. É bem comum entrar numa faculdade (e depois num mestrado, e depois num doutorado) achando que todo mundo é um gênio, menos vc. A maior parte é gente absolutamente na média, que tem esses mesmos pensamentos que vc. Mesmo o pessoal arrogante só está sendo arrogante pra disfarçar sua insegurança.Lógico que haverá disciplinas que serão muito mais fáceis, e outras mais difíceis. Faça o possível pra superar as difíceis, e brilhe nas fáceis.Em vez de competir, coopere. Tem lugar pra todo mundo.Evite ao máximo faltar às aulas.Seja idealista. Queira mudar o mundo. Se você não quiser isso quando é jovem e tá cheia de energia, vai querer quando?
Faça contato com alun@s de outras áreas também, e até de outras universidades. Enfim, seja acessível. Faça parte do seu Centro Acadêmico, participe da política, seja representante de turma. Se houver grupos feministas ou quaisquer outros que sejam do seu interesse, entre neles. Se não houver, comece um!Não tenha medo. Lembre-se que, apesar do ensino superior ser um desafio, é também um privilégio. Ainda existem poucos brasileiros com nível superior. E poucos jovens que estão na universidade. As universidades desejam formar alunos. Ninguém quer que o aluno desista, o que infelizmente é muito comum. A maior parte dos professor@s quer ajudar.
Bom, acho que só falei o óbvio. Ou pelo menos descrevi o tipo de estudante com quem eu gosto de conviver, e o tipo de estudante que só consegui ser a partir do mestrado.E não seja uma besta capitalista como o Manolito, tadinho. Seja Mafalda!
Alexandra rumo ao paraíso e à aposentadoria precoce Gente boa, vocês não imaginam como estou completamente sem tempo! Mas vou dar o resultado do bolão do Oscar. A essa altura, todo mundo já sabe. E não é incrível como, menos de dois dias depois, o Oscar 2012 já parece ser algo pré-histórico? Bom, o bolão. Assim como a cerimônia em si, ele não teve emoção. No bolão pago, Alexandra acertou as sete primeiras categorias e se manteve na frente do começo ao fim. Tinha muita aposta parecida entre os participantes, então rapidamente deu pra ver que ninguém a alcançaria. Não era nem meia noite quando o Júlio César, já sem nenhuma chance, anunciou que agora só lhe restava torcer contra a Alex. E nem isso ele fez muito bem, ha ha (eu não ia perder essa chance, porque Júlio, Vitor e Claudemir são outros que têm essa mania ingrata de ganhar meu bolão). - Olha lá a Alexandra ganhando o bolão, meu filho.No bolão pago ficou assim: 1) Alexandra, com 17 acertos; 2) André Pessoa e Silvio (vulgo maridão), 16; 3) Júlio César e Vitor, 15; 4) Maura, Claudemir, Michele, 14; 5) Karine, 13; 6) Lola e Leandro, 12; 7) Janaina, 11; 8) Nelly, 10; 9) Bruno, 7; 15) Alex e Marcia Barreto, 6. Alexandra é velha conhecida do meu tradicional bolão. Ela participa desde 2008 e sempre fica bem colocada. Ano passado ela chegou ao cúmulo de ganhar o bolão pago, com 16 acertos, mas empatada com Gabriel e Júlio César. Este ano foi um passeio (por mais que haja gente com 16, só um ponto atrás, desde muito cedo ela saiu na frente) e, com 17 acertos, ela fez mais pontos que qualquer um no bolão não pago também (o recorde de todos os bolões continua sendo o do ano passado, da Lucrécia, com 18 em 20). O que mais dói n'alma é que, quatro dias atrás, Alexandra me enviou um email que dizia assim: “Na verdade confesso que não sabia se iria participar esse ano, estou tendo muito trabalho e não consegui acompanhar esse ano como nos outros... Mas depois pensei que já há tanto tempo faço parte do bolão, lá se vão alguns anos sem eu nem notar, que não seria por não acompanhar 'a temporada' que não conseguiria apostar. Eu sempre acho que algumas categorias são barbadas, mas na hora de apostar sempre fico com aquela dúvida... E sem falar nas categorias técnicas! Mas enfim, apesar de não muito esperançosa fiz minhas apostas.” Fazer as apostas tudo bem, Alex, mas tinha que ganhar?! Grrr. Assim que ela me passar sua conta, depositarei R$ 240 pra ela. - Estou de olho em você, Alexandra. Eu só não estou tão furiosa porque a Alex é uma querida (você ainda tá morando em Montreal?), e porque eu fui tão mal no bolão que, mesmo que ela não tivesse vencido, ainda haveria uma fila imensa na minha frente. Eu só acertei 12 categorias no pago e 10 no não pago. Toda dúvida que eu tinha eu colocava no não pago. Só que eu coloquei as dúvidas erradas em cada um, e foi esse desastre. Felizmente, já não tenho mais reputação a perder como cronista de cinema.
Por falar nisso (e este não deve ser o melhor momento pra anunciar; depois eu volto ao assunto), espero que em breve saia um livro meu com crônicas de cinema. O livro já está rolando faz tempo. Tomara que agora vá! Depois eu falo mais. E hoje mesmo, tipo agora mesmo, recebi proposta de uma editora pra escrever um livro sobre gênero. Estou muito feliz!Estou pronta pro meu close-up, Mr. DeMille (mas não por causa do bolão).
Mas voltando a essa infelicidade que foi o Oscar e o bolão do Oscar, quero ressaltar também que, no pago, a única pessoa a acertar as oito categorias principais (filme, direção, ator, atriz, ator coadjuvante, atriz coadjuvante, roteiro original, roteiro adaptado) foi a Maura. Parabéns, pois não estava fácil. O resultado pra diretor, ator e principalmente atriz estava bem imprevisível (a Alexandra previa que a Viola Davis ganharia).- Tô de olho em vocês também, ganhador@s do bolão não pago. No bolão não pago, deve ter outras pessoas que acertaram essas oito principais, mas é tanta gente que não tive tempo de ver. O André, que fez uns upgrades especiais nas excelentes tabelas que o Júlio César montou (como tá fácil agora! Gente, até pouco tempo, a pessoa enviava as apostas pra mim, e eu as colocava numa tabela! Já pensou fazer isso com quase 200 participantes? Ainda bem que agora tem dois formulários. Obrigadona, Júlio!), postou os resultados entre os últimos comentários do post. Não vou colocar todos os participantes, só os primeiros. Quando há empate, está em ordem alfabética: 1) André, Ávila, Juliana G, Klaus, Lucia L e Rodrigo – todos empatados em primeiro lugar, com 16 acertos. Parabéns! E entrem no bolão pago ano que vem, seus pãos-duros miseráveis. 2) Adriana M, Carla R, Fabrício, Helena, Liliane, Marcos M, Renan L, 15 acertos; 3) Arthur M, Beatriz A, Laurinha, Laura, Paulo, Wellington, 14. Nesse bolão não pago, o último lugar ficou com a Louise, que acertou uma só categoria! Parabéns também, Louise, porque é difícil acertar tão pouquinho. Conforme prometido, quem acertasse menos categorias podia me mandar um guest post sobre a experiência. Tô esperando, Lou! E também aguardo um guest post da Alexandra, a grande vencedora. E se André, Ávila, Juliana, Klaus, Lucia e Rodrigo, os primeiros do bolão não pago, quiserem me mandar alguns comentários sobre a glória que é pisar em cima de mim, eu aguento. Mandem que eu faço um guest post conjunto dos melhores momentos. - Não quero ouvir. (Ainda não vi A Separação, Oscar de filme estrangeiro. Vou ver!)
Meu grande obrigada a tod@s que participaram. Ano que vem tem mais. E eu não me importarei se a Meryl ganhar de novo. Já a Alexandra... Depois de duas vitórias consecutivas no bolão, já deu, né?
A cerimônia do Oscar foi muito, muito chata, uma das mais sem emoções que eu me lembre. Quem poderia imaginar que, ok, “sentir falta” do James Franco é um exagero, mas que, digamos, estaríamos falando dele até com certa nostalgia? Billy Crystal esteve tão pouco inspirado na sua nona vez como apresentador que levou alguns tuiteiros a dizerem, maldosamente, que maior que o tempo que a Meryl Streep levou pra ganhar sua terceira estatueta (aleluia!), só mesmo o tempo que Billy fez sua última piada engraçada. Mas a culpa não foi só dele, claro. Os outros apresentadores não receberam um bom material pra trabalhar. Pessoalmente, eu adorei a Emma Stone deslumbrada por estar apresentando, mas o Ben Stiller pareceu sério demais. Mesmo assim, a perfomance da Stone foi muito superior naqueles dois minutos que em duas horas de Histórias Cruzadas. Houve todas as acrobacias do Cirque du Soleil –- e foi só. Não teve números musicais, o que não sinto falta. Mas foi tudo burocrático, até os discursos. Gostei um pouco da projeção dos mortos em 2011 (tinha um montão de gente que eu nem sabia que tinha morrido!), só que esqueceram de incluir o diretor grego Theo Angelopoulos! Certo, ele morreu em janeiro de 2012, ou seja, só entra no ano que vem, mas não colocaram lá a Whitney Houston, que morreu semana retrasada?O único momento emocionante da noite, e que me fez vibrar, foi a vitória da Meryl, diva absoluta. Já tinha passado da hora d'ela receber seu terceiro Oscar. Ela não só é a melhor atriz de língua inglesa das últimas não-sei-quantas-décadas como também é simpática e humilde. Todo mundo gosta dela. Que diferença com o início de sua carreira, quando o pessoal satirizava os sotaques que ela fazia! E seu discurso de agradecimento foi pura emoção. Acho que ela realmente esperava perder pra Viola Davis (que já já vai ganhar um Oscar, espero). E tadinha, Meryl afirmou que nunca mais na sua vida estará num palco daqueles. Vai saber... Eu queria muito que ela alcançasse o recorde da Katherine Hepburn, que venceu quatro vezes.E justiça seja feita: Jean Dujardin, que ganhou melhor ator, também ficou muito entusiasmado. Ele é uma graça. Torço pra que ele tenha outros bons papéis, fora as comédias bestas que ele tá acostumado a fazer.Aí todo mundo fala das atrizes e tal (pra mim, Penelope Cruz esteve a mais bonita da noite), mas gente, o que foi o Tom Cruise? (e também o Colin Firth). O Tom vai fazer cinquenta anos em julho, e ele parece ter o quê, trinta? Como é que pode? Como disse um tuiteiro americano: “Tom Cruise envelheceu pelo menos três anos nos últimos trinta”. A distribuição dos prêmios, se a gente pensar bem, até que foi democrática. O Artista foi o grande vencedor da noite, com cinco estatuetas. A Invenção de Hugo Cabret também ficou com cinco, todas técnicas. Dama de Ferro ganhou duas, ambas merecidíssimas (atriz e maquiagem). Histórias Cruzadas, Os Descendentes, Meia Noite em Paris -– todos indicados a melhor filme -– pelo menos levaram um Oscar cada e não saíram com as mãos abanando. Até Os Homens que Não Amavam as Mulheres ganhou um (montagem)! A grande injustiça, a meu ver, foi Árvore da Vida perder fotografia pro Artista. Sobre o bolão do Oscar, melhor nem falar... Ha ha, voltarei ao assunto quando voltar da faculdade. Parabéns, Alexandra!Meryl conversa com Rooney Mara durante intervalo da cerimônia
E eu fico toda animada! Bom, já estou vendo a entrega do Oscar (ou pelo menos a chegada no tapete vermelho) aqui. Começando a comentar nos comentários... Por enquanto, o que eu vi? George Clooney certo que Jean Dujardin ganhará o Oscar (eu não tenho essa certeza), e Viola Davis (acima) dizendo que ama Meryl. Não tenho dúvidas que as duas são amigas (elas trabalharam juntas em Dúvida), mas a categoria de melhor atriz será a mais disputada da noite! Bom, vamos comentando nos comentários. Vamulá, e que a Lolinha ganhe o bolão.
- Oh my god, o quê foi que eu apostei aqui?! Pois é, é assim que estou me sentindo agora que posso comparar minhas apostas com as dos outros! Fui uma das últimas a entrar, ontem à noite, e tudo que eu tinha dúvidas eu colocava no bolão não pago. Em outras palavras, meus chutes pro bolão pago e o não pago são completamente diferentes! A disputa mais emocionante da noite, e uma que pode muito bem definir o bolão, é a de atriz: Meryl Streep ou Viola Davis? Pode até dar empate, vai saber (já aconteceu, uma vez só e faz tempo, em 1968 -- Katherine Hepburn e Barbra Streisand ganharam o prêmio)! A categoria de ator também está muito dividida entre Jean Dujardin e George Clooney. Mas o chato é que geralmente o que define quem ganha o bolão são essas categorias enigmáticas de som. A tabela do bolão pago, com seus quinze participantes, está aqui, prontinha pra imprimir. E aqui em Excel (vejam o update abaixo!). 15 vezes 15 reais dá R$ 225, o que é um bom dinheirinho. Eu quero! E já vi que se eu ganhar, vou ganhar sozinha (ao contrário de Júlio César e Vitor, que fizeram apostas idênticas e estão delirando que vão ter que dividir o prêmio), porque que outro louco colocaria O Homem que Mudou o Jogo pra roteiro adaptado? Mas eu tenho uma lógica. Uma só, não: duas! Primeiro é que o roteiro de Descendentes é muito fraquinho, embora seja o favorito. E segundo que os roteiristas de Homem são hiper respeitados. Mesmo assim, se eu pudesse eu mudaria minha aposta...E eis a tabela do bolão não pago! São 175 participantes e, pra quem não quiser imprimir folhas e folhas de papel, dá pra seguir e marcar no Excel que o Júlio mandou, aqui (indivíduo competente esse Júlio, mas ele que não ouse ganhar o bolão!). Amanhã à noite estarei por aqui assistindo à entrega do Oscar, marcando os acertos das tabelas, e conversando (por escrito, nos comentários) com quem aparecer. Tudo ao mesmo tempo. Conto com a ajuda de vocês pra marcar as tabelas, porque é muita gente. Por favor, deixe aí nos comentários os endereços na internet onde a gente possa acompanhar a entrega em tempo real, porque se depender da Globo (não tenho TV a cabo), ela só vai começar a transmitir com uma hora de atraso, depois do BBB. Quem entrou na jogada vai ver como é emocionante participar de um bolão do Oscar (principalmente do pago). E pra quem ficou de fora, lembre-se de entrar no ano que vem. Espero que você que não participou me visite na cadeia de vez em quando, porque, segundo um troll, eu já fui denunciada à polícia por promover jogos de azar (bolão do Oscar = jogo de azar), e eu e tod@s @s participantes iremos pres@s e ficaremos na cadeia um tempão "pensando em todo o mal que fizemos". Eu quero visita íntima! Pena que o maridão também estará preso... Eu quero cela mista! Até amanhã, pessoal! Assinado: A dona da quadrilha.
UPDATE: Cometi um erro, e não registrei o pagamento da Karine (Kaká, que já participou do bolão passado e eu ainda por cima conheço pessoalmente!). Por isso, Júlio excluiu as apostas dela do bolão pago (ela não apostou no não pago). Agora que avisei que ela pagou, incluímos as apostas. Então são 16 (e não 15) participantes no bolão pago, e o valor do prêmio é de R$ 240. Mais dindim pra mim! (em inglês isso tem nome: wishful thinking).
Ah, e o Vitor sugeriu um endereço pra gente ver o Oscar online.
Em outubro, por conta de uma mesa redonda da qual iria participar, pedi pra vocês que narrassem casos de assédio sexual e discriminação por parte de professores. Foram mais de 250 comentários, de todos os cantos do país, contando a mesma história de desrespeito às alunas, impunidade e descaso das instituições. Um desses casos, um que aconteceu na UFPE no ano passado, finalmente foi levado adiante. O julgamento será nesta segunda, dia 27 de fevereiro, na 13a vara da Polícia Federal de Pernambuco, às 14 horas. Neste guest post, uma graduanda da universidade conta o que aconteceu, e faz um apelo: "A violência não é um problema só de quem a sofre, é um problema de tod@s nós. Ontem foi ela, amanhã pode ser você". UPDATE: Veja no final a condenação, que saiu em maio.
Um dia as máscaras caem. Alguns indivíduos acreditam na impunidade, amedrontam, ameaçam e violentam, certos de que seu status, seu dinheiro e seu prestígio lhe darão segurança, mas um dia se deparam com pessoas para as quais toda essa casca de nada vale, pessoas que colocam a boca no trombone.
Pois bem, pode parecer que estou divagando, mas estou somente iniciando mais um relato de violência contra a mulher. Mais um entre milhões que acontecem todos os dias, e confesso que muito me desanima ver que as estatísticas pouco têm diminuído e muitas vezes são até invisíveis em certos casos, como em ambientes acadêmicos. Então vamos lá...
Em meados do ano passado, uma aluna e funcionária da Universidade Federal de Pernambuco afirmou ter sido estuprada por um professor. Como qualquer orientanda, numa bela tarde, ela tinha uma reunião marcada com ele em sua sala para discutir sobre sua pesquisa, cujo próprio acusado se convidou para orientar. Ele inicia a conversa falando da sua enorme coleção de máscaras e blá bla bla bla bla... A aluna, por sua vez, começa a falar sobre o projeto; afinal de contas, era para isso que ela estava lá. Nesse momento, ele pega em suas mãos e diz: “Você está muito tensa, relaxe”. A partir daí, o circo dos horrores se forma e mais uma violência se concretiza. Prendendo as mãos dela, ele apalpa seus seios. Ela então, se solta e junta suas coisas, e sai da sala. Ele vai atrás dela, e a segue pelas escadas do prédio da faculdade, cínico e no intuito de continuar a violentá-la psicologicamente. Em um dado momento, ele apalpa sua bunda, ela se esquiva e pede para que ele pare. “Só se você pegar na minha”, foi sua resposta. Ao chegar ao térreo, ela busca ajuda em seu ambiente de trabalho e é encaminhada à coordenação de sua pós-graduação. Chorando e desesperada, ela espera quatro horas até a coordenadora aparecer e pedir para que ela se acalme. A coordenadora insinua que ela pode ter se confundido, que talvez ele não tivesse feito aquilo, mas por ela estar nervosa, pode ter imaginado coisas. Oi? Então ela imaginou ter sido apalpada? Imaginação fértil, não é? E para finalizar com chave de ouro, a coordenadora pergunta a ela se não quer que ligue pro professor e peça para ele lhe pedir desculpas...
Corajosamente, ao sair da universidade, a aluna vai à Delegacia da Mulher e presta queixa. As delegadas no plantão indiciam o professor por estupro [já que, segundo a lei 12015 de agosto de 2009, para que haja estupro não é mais preciso a conjunção carnal; logo, o que era antes tido como Atentado Violento ao Pudor é hoje considerado estupro] e encaminham o caso ao Ministério Público Estadual. Entretanto, o promotor que recebe o caso rejeita a acusação e afirma no processo que tudo não havia passado de uma “passada de mão”, palavras dele.
Por que isso aconteceu? Podemos especular? Primeiro, o acusado é uma pessoa muito influente, pois trabalha na área de segurança pública. Segundo: para muitos desses cidadãos que estão no poder, violência de gênero é algo que não existe e tudo acaba por se resumir em falácias, mentiras por parte das vítimas e absolvição do agressor.
Para completar, é marcada uma audiência de conciliação! Colocar frente a frente vítima e acusado. Acreditando na incompetência do Ministério Público de julgar o caso, o advogado da vítima entra na instância federal.
A própria leva todo o processo à Promotoria Federal e depois de quinze dias entra em contato com o promotor que pega seu caso. No processo ele pede a exoneração do acusado, dá veracidade à versão da vítima, e encaminha o caso para a juíza.
Nesse momento a aluna está esperando ser chamada para que o processo de depoimento e tudo mais comece. Por mais incrível que possa parecer, a justiça está fazendo a sua obrigação, que é investigar o que houve, e punir, caso o acusado seja considerado culpado. Tudo parece ir bem se não fosse o esquecimento do caso por parte tanto da universidade, quanto dos professores e profissionais e, sobretudo, por parte dos alunos.
Esse caso não foi o primeiro do professor. Junto com esta vítima, outra também o denunciou. Há outros que por medo as mulheres, alunas, professoras e profissionais não denunciam. Não é o primeiro dentro da instituição. É sabido por todo mundo que violências, sejam elas simbólicas, psicológicas e físicas acontecem no ambiente acadêmico, lugar da ciência, dos letrados e de toda sapiência, mas isso não é divulgado. As vítimas sofrem sozinhas e caladas, e a universidade fecha os olhos para isso. E o pior de tudo: os próprios professores sabem, mas nas suas funções de educadores nada podem fazer, empurram a poeira para debaixo do tapete e dizem: “É, isso acontece mesmo, mas não podemos acusar ninguém sem provas”, ou “A pessoa pode alegar perseguição política”. No fim das contas o corporativismo predomina, e nada é feito.
No entanto, para mim há uma omissão e uma negligência que me parecem ainda pior: a dos alunos. Simplesmente não falam sobre o assunto. Logo que ocorreu esse último caso (até onde sabemos), eles fizeram algum burburinho, mas hoje? Uma borracha foi passada em suas memórias. Não sabem eles que com esse silêncio ajudam para que mais e mais pessoas, sejam homens ou mulheres, sejam violentad@s e passem por mais e mais situações desse nível.
Por isso venho, através desse relato, trazer uma reflexão: é necessário que tomemos partido. Chega de imparcialidade que só leva à impunidade; violência contra as mulheres existe sim e está batendo a nossa porta. Não precisa, se não quiserem, defender a versão da vítima, o que deve ser exigido é a apuração do caso e o não esquecimento. Cobrar, cobrar, cobrar. Cobrar para que o professor seja afastado enquanto o processo acontece. No momento não importa se ele é isso ou aquilo -- ele está sendo acusado pela justiça e continua dando aula.
Se a justiça é para todos, que julguemos todos igualmente e não ofereçamos regalias. Mas enquanto a violência contra a mulher for tratada com esse desrespeito e conivência por parte de todos, mais e mais meninas e mulheres serão vítimas. Vítimas de seus “educadores”, de seus pais e, por que não, de toda a sociedade. No caso especifico das universidades, depois de muita luta, nós mulheres conseguimos entrar no espaço acadêmico, e não podemos aceitar ser expulsas de lá pela violência.
P.S.: A condenação saiu em maio, e desta vez a Justiça foi exemplar. O professor da UFPE e cientista político Jorge Zaverucha foi condenado a um ano e nove meses de prisão (a ser cumprido em regime aberto, mas com restrição de direitos), a pagar R$ 50 mil de indenização à aluna e dez cestas básicas por mês (durante toda a sua pena) para uma entidade beneficente, e a perder seu cargo na Federal. Obviamente, seus advogados vão entrar com recurso, pois a punição foi dura. Espero que ela seja mantida. Muitos parabéns à aluna, que teve a coragem de denunciar, e a tod@s que se mobilizaram em seu apoio. Eu, de minha parte, tenho orgulho de ter publicado este guest post. Obrigada.
Isso é um relógio, certo? Ainda não vi A Invenção de Hugo Cabret. Últimas horas pra participar do bolão do Oscar! Júlio César promete que vai fechar os formulários de apostas pontualmente à meia noite. Ele também acrescentou que será uma humilhação suprema se eu ficar de fora do meu próprio bolão. Pois é, ainda não apostei. Tenho muitas dúvidas. Estou esperando uma luz divina, ou meu gato Calvin apontar pro título do filme que vai ganhar. Algo assim. Claro que vou entrar. Até já paguei!
Pelo que Júlio me disse, há 15 inscritos no bolão pago, e 150 no não pago. Quem tiver coragem e internet banking e quiser transferir R$ 15 pra minha conta, ainda dá tempo. Mas vocês aí que ainda não entraram nem no bolão totalmente grátis, 'tão esperando o quê?! Ah, a luz divina. Entendo. É só clicar e apostar, não tem nada a perder. Amanhã, Júlio enviará uma tabela com todas as apostas de cada um pro seu email, e assim você poderá acompanhar a cerimônia do Oscar no domingo torcendo por você mesm@. Vamulá, não fique de fora! Seguindo a sugestão de uma leitora, quem acertar menos categorias também pode escrever um guest post, se quiser.
Tenha medo... Tenha muito medo
Finalmente vi a versão americana de Os Homens que Não Amavam as Mulheres, e devo dizer que gostei mais do que da versão sueca. É estranho, eu sei. Afinal, só faz sentido comercial (americano se nega a ler legenda) refilmar uma produção de apenas dois anos atrás. E é bem ridículo ver atores que têm inglês como língua materna falando inglês com um leve sotaque sueco, só porque decidiram que a refilmagem ainda se passaria na Suécia. Por outro lado, não daria pra história se passar em outro lugar, né? Por mais sedutora que fosse a ideia de mostrar um poderoso culto secreto devotado à misoginia no sul dos EUA, por exemplo, toda a série Millenium foi escrita por Stieg Larsson justamente pra mostrar que a misoginia corre solta até num dos países com maior igualdade de gênero no mundo, caso da Suécia. Embora ache que Daniel Craig como o jornalista esteja bem melhor que o ator sueco Michael Nyqvist (pelo menos dá pra acreditar que todas as mulheres da trama iriam pra cama com o Daniel sem piscar), não creio que Rooney Mara seja uma Lisbeth mais marcante que a de Noomi Rapace. As duas estão incríveis, e bem diferentes uma da outra. Quer dizer, pra falar a verdade eu me lembro muito pouco do filme sueco. O que fica na memória mesmo é a cena do estupro. Aliás, as cenas, porque são duas (ou três, ou duas e meia, se a gente considerar a parte em que o sujeito desprezível força Lisbeth a fazer sexo oral nele), e ambas repulsivas. Não sei quanto a você, mas não consegui torcer ou sentir que as mulheres foram vingadas quando Lisbeth estupra seu estuprador. Bem distante da sensação que sentimos em Ensaio sobre a Cegueira, quando a mulher do cego mata o líder dos vilões estupradores com uma tesoura. Aí a gente vibra mesmo.
Bom, mas então por que acho a versão americana superior à sueca? Por causa do ritmo. O filme de David Fincher me prendeu, ao menos até chegar ao seu terço final. Creio que esse é o grande erro das duas versões: tem finais demais, não acabam nunca. É reviravolta depois de reviravolta, e isso cansa. Não sei dizer em que parte exatamente a versão americana perde a mão, mas eu chutaria que é quando Lisbeth vai fazer pesquisa na biblioteca. De lá pra frente, o filme desanda, e, na minha opinião (óbvio que é a minha opinião! Não seria a opinião do padeiro, nem do meu gatinho), não se recupera mais. E, desculpe, mas a história não parece tão instigante assim pra me dar vontade de encontrar tempo pra ler a trilogia.Antes de continuar, preciso dizer que, agora que vi a versão americana, discordo do texto da Rejectionist, que traduzi e publiquei. Lisbeth é uma personagem muito forte, sim. E muito capaz. Adoro quando o jornalista pergunta se ela não vai anotar toda a tonelada de informações que ele lhe passa, e ela sugere que já está tudo guardadinho em sua cachola. Até concordo que personagens femininas “estranhas” (no caso, cheia de piercings e tatuagens) são sempre magras, porque ainda assim ficam dentro do padrão de beleza e podem ser sexualizadas por espectadores/leitores, enquanto se elas fossem gordas, estariam transgredindo demais as regras. Mas definitivamente não consigo ver Lisbeth sendo criada para excitar homens, que é o que Rejectionist implica (se bem que aquele primeiro poster do Daniel abraçando uma Mara com os seios à mostra, hmm...). Lisbeth vive num mundo hostil, em que volta e meia é atacada por homens, mas sabe se defender e não parece depender deles pra muita coisa. Pra mim, ela é uma personagem muito feminista. E o filme, por condenar a misoginia, e por passar a visão e os valores de Lisbeth, é também muito feminista. Ainda assim, cabem críticas. Uma marca de roupa lançou uma coleção de moda baseada na Lisbeth da versão americana. Isso fez com que Eva Gabrielsson, viúva de Larsson, se pronunciasse contra o merchandising. Pra ela, explorar a imagem de Lisbeth para vender produtos vai contra o que desejava o autor da trilogia. Eva, sueca como Larsson, viveu trinta anos (sem casar) com o escritor. Quando ele morreu, jovem, oito anos atrás, não deixou testamento. Os direitos do livro não ficaram com Eva, e sim com o pai e o irmão de Larsson, o que me parece profundamente injusto. Numa entrevista, Eva criticou Mara Rooney, que disse numa declaração à imprensa que Lisbeth não é feminista, e que não se vê como parte de um grupo. Eva não gostou: “[Rooney] não sabe em que filme está? Ela leu os livros?” Para Eva, ainda que Lisbeth não se encaixe em nenhuma categoria, “Todo o seu ser representa uma resistência ativa contra os mecanismos que impedem que as mulheres avancem no mundo e, em casos piores, que sejam abusadas como ela foi”.
Eva já se manifestou contrária à tradução do título do primeiro livro (em sueco, “Homens que Odeiam Mulheres”) para “A Garota com a Tatuagem de Dragão”, que é como o filme se chama nos EUA. Segundo ela, esse título foge da temática dos livros e “parece título de livro infantil”. Bom, só se for livro infantil sueco. Mas gostei de suas declarações. Pelo menos aqui no Brasil o título “Os Homens que Não Amavam as Mulheres” se manteve mais próximo do original sueco. Se bem que vai uma distância entre “não amar” e “odiar”, certo? Misoginia não é não amar mulheres. É odiá-las, inclusive odiar que possamos ser e fazer tudo que queremos (que vai além das nossas “missões” sexuais e maternais). Vou achar ótimo se Lisbeth Salander inspirar meninas a serem fortes e independentes. E se ela inspirar homens que nos odeiam a nos temer.