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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
CRÍTICA: CISNE NEGRO / Medo da própria sombra
Cisne Negro me fisgou desde a primeira cena, que é o sonho de Nina (uma excelente Natalie Portman, no seu melhor e mais ousado trabalho desde Closer). Já começa com uma visão perturba
dora: ela dançando, cheia de medo, enquanto seu parceiro se transforma num cisne negro que parece muito mais que um inocente cisne. Parece um monstro. Esse jeito da câmera focar unicamente na atriz, muitas vezes em close extremo, e ignorar os perigos a sua volta, só aumenta a tensão criada neste terror psicológico. E Darren Aronofsky (que nome bonito e familiar!) mantém essa tensão do começo ao fim. É o terceiro filme incrível do jovem diretor. Acho que ainda gosto mais de Réquiem para um Sonho, uma história assombrosa sobre vícios. O Lutador, que comparado a essas duas obras pesadas é até light, é sobre os sacrifícios que um cara não muito estável inflige ao corpo. Nesse sentido, Cisne é parecido.
Mas nenhuma de suas outras obras lida com repressão sexual, que é o mote de Cisne. Nina faz uma bailarina esforçada e muito frágil emocionalmente. Ela mora com a m
ãe (Barbara Hershey, perfeita), que a controla através de uma tática meio morde e assopra. Nina é instigada sexualmente por dois personagens, o diretor do balé (Vincent Cassell, o mafioso gay de Senhores do Crime; e todo mundo sabe que ele é casado com a Monica Bellucci há
doze anos), e Lily, a bailarina segura de si (Mila Kunis, lindona, de Psicopata Americano 2. Ela esteve casada com o Macaulay Culkin por oito anos, então podemos dizer que Vincent tem muito mais sorte no amor que ela). A partir do momento em que Nina é alçada à primeira bailarina da companhia, ela entra num espiral autodestrutivo.
Se já é estranho viver com uma mãe controladora quando se é adulta, mais estranho ainda é que o quarto de Nina seja infantil, cor de rosa e cheio de bichinhos felpudos (in
cluindo um enorme coelho rosa bloqueando a janela). Isso não deve fazer nada bem, psicologicamente falando. Essa mãe manipuladora não aparece muito, mas a cena que diz tudo sobre ela é aquela em que ela compra um bolo pra comemorar, e a filha quer só um pedacinho, e então ela, mãe, ameaça jogar o bolo no lixo. Não entendi quando ela diz “Você está pronta pra mim?”. Isso me lembrou a mãe de Preciosa, que de fato abusava sexualmente da filha. Não vejo isso em Cisne, mas ainda assim é esquisito. De todo modo, a mãe tem outras falas de duplo sentido, como q
uando lamenta não ter sido convidada para a festa: “Acho que o diretor queria você só pra ele”. E dá calafrios quando Nina liga pra ela, do banheiro, e diz, “Ele me escolheu”. Sabe, ela podia ter dito “Consegui!”, “Fui escolhida”, “Eu serei a Rainha Cisne”, com foco nela. “Ele me escolheu” põe o foco nele, e claro que tem conotação sexual. Tem até um ar de competição com a mãe nessa frase.
Ao mesmo tempo, no começo, antes da cena do bolo (quando vemos seu real potencial de manipulação), a
mãe até se esforça para ser boazinha. Ela diz que a filha merece o papel, e defende a menina (que é Lily, mas ela não sabe) que interrompeu o teste de Nina, “Tenho certeza que ela não quis fazer isso”. Mas o seu lado ruim já está posto na edição. Observe como o filme encerra a primeira sequência com ela: enquanto abraça a filha, ela, a mãe, olha pro espelho. Mas não vemos seu reflexo no espelho. Vemos Nina, escura, se observando num reflexo da janela do metrô.
Tem tantos doubles (a questão do duplo, que é uma das características do uncanny, do sinistro, do bizarro) no filme que eu perdi a conta. Acho que mãe e filha representam um duplo. Tem o doubl
e do cisne branco/cisne negro, e o de Nina e Beth (a dançarina que é aposentada, feita por uma Winona Ryder que nem reconheci). Por exemplo, o diretor usará a mesma forma de tratamento, “pequena princesa”, para as duas, que são rivais também na atenção dele. Nina faz com Beth o que depois acha que Lily faz com ela. Mas o principal é que Beth é tão autodestrutiva quanto Nina. Há uma confusão se Beth se machuca com um objeto cortante ou se é Nina
que faz isso. Já Nina e Lily formam um double óbvio (com ecos de A Malvada e Mulher Solteira Procura). Porém, o double predominante é entre o lado medroso e imaturo de Nina e seu lado sexualmente forte. Pra mim, essas cenas em que o reflexo de alguém não corresponde à pessoa são sempre perturbadores. Nina passa a ter medo de sua própria sombra.
Uma das diferenças entre o diretor do balé e Lily, esses dois predadores sexuais, é que o primeiro usa seu poder para levar as bailarinas pra cama (“ele tem uma certa fa
ma”, diz a mãe de Nina). A gente acredita que as cenas entre ele e Nina são reais, não fantasias. Já com Lily, não dá pra ter certeza. A cena da mãe com Lily é um bom indício de como Lily é um personagem que, em muitos sentidos, só existe pra Nina. A campainha toca, a mãe vai atender, fecha a porta, Nina pergunta quem é, a mãe diz “ninguém”. Mas Nina vai ver e lá está Lily, já perto do elevador. É improvável que a mãe controladora simplesmente tenha fechado a porta na cara de Lily, sem lhe dedicar uma palavra. No restante da cena, a mãe não repara em Lily em nenhum momento.
Na primeira metade do film
e, eu só pensava em Repulsa ao Sexo (Repulsion, 1965; o trailer tá datado, o filme não), que é o máximo, uma das obras-primas do Polanski. Lá tem toda a repressão sexual, a loucura, as unhas (Catherine Deneuve faz uma manicure ― é um filme de terror, já deu pra notar)... Todas as cenas da Natalie filmada de costas (só vemos seu cabelo, um coque), andando no metrô e na rua, lembram Catherine (e a Mia Farrow em Bebê de Rosemary). Mas li em algum lugar Aronofsky dizendo que sua maior inspiração foi outro Polanski, O Inquilino. Enfim, Cisne tá cheio de referências.
O diretor americano fez um excelente filme, em que um mundo de beleza, que é o
da dança, é usado como cenário de horror. Pra mim, a cena mais medonha (além daquela do reflexo no espelho) é quando Nina decide cumprir o dever de casa e se masturbar. E aí, já na maior empolgação, ela vira e vê sua mãe dormindo na cadeira ao lado. Tem como gostar da coisa assim?
Tem uma ótima crítica da Valéria aqui.














Na primeira metade do film



Tem uma ótima crítica da Valéria aqui.
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Labels:
cisne negro black swan,
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