Pouca gente hoje ainda fala no Sam Peckinpah, violento diretor americano que fez sucesso nos anos 60 e 70. Ele adorava filmar cenas sangrentas em câmera lenta. Ok, Meu Ódio Será sua Herança (1969) é um clássico, e talvez, em menor escala, Os Implacáveis e até Comboio. Mas Peckinpah, morto em 84, certamente não manteve seu status cult. Eu até gosto da sua obra, se bem que boa parte dela seja reaça, quase fascista.
Sob o Domínio do Medo (Straw Dogs, 1971) é um deles (trailer aqui; não confundir o título com Sob o Domínio do Mal). Assim como Vestida para Matar, de outro machista contumaz, Brian de Palma, Sob (vou abreviá-lo assim) é um dos filmes mais misóginos que tive o prazer de ver. É, lamento dizer, prazer, pois Sob é uma produção eficaz, que prende a atenção, e que é um dos marcos da violência nas telas da década de 70. Só que tem uma ideologia muito, muito torpe. Ele foi lançado no mesmo mês que outros dois filmes ultraviolentos, Dirty Harry e Laranja Mecânica. Tanto que a manchete de uma revista semanal americana, referindo-se ao trio, dizia “Feliz Natal ― pow!”. Hoje, quase quarenta anos depois, os outros dois estão mais vivos que Sob.A história é de um jovem casal, feito por David (Dustin Hoffman, já um astro na época por conta de A Primeira Noite de um Homem e Perdidos na Noite) e Amy (Susan George, então desconhecida e que, depois de famosa, não estreou nada realmente digno de nota). David é um matemático que, para deixar pra trás as revoltas universitárias nos EUA, vai com sua mulher pra cidadezinha natal dela, na Inglaterra. A primeira vez que vemos Amy vemos apenas seus seios. Sério, a câmera enfoca os seios cobertos por uma blusa, aparentemente sem sutiã (David ordena que ela coloque um sutiã, caso contrário os homens ficarão olhando pra ela). Mais tarde a veremos nua. Amy já começa levando pra casa uma armadilha de caça que chama-se “mantrap”, literalmente, armadilha pra homens.
David, entretido com seus cálculos matemáticos, não dá a menor bola a Amy, que parece não ter outra ocupação além de "testar" os rapazes. Ela ergue a saia pra um grupo (um deles seu ex-namorado), toca neles de leve, mostra seus seios ― uma legítima cockteaser (insulto pra mulheres que brincam com o pênis alheio, sem intenção de usá-lo). Todos prestam atenção nela, menos David, que tem diálogos infantis (mas reveladores!) com ela. Tipo, ele a chama de criança e animal. Como os rapazes vivem fazendo gracinhas uns com outros sobre transar com animais (ovelhas), e como David a chama de animal, a correlação é óbvia. Ele pergunta pra ela: “Esta é a poltrona do papai?”, e ela responde: “Todas as poltronas são do papai”. Pô, não precisava nem falar!Tentando se entrosar com os rapazes, David é convidado por eles para ir caçar. Eles o levam até o meio do mato e o abandonam lá durante horas. Enquanto isso, voltam pra casa. Amy está lá. Quando o ex dela a agarra, primeiro ela tenta lutar. Ele bate nela, feio. Enquanto é estuprada por ele no sofá (do papai?), vemos que ela gosta! Até pede pra que ele a abrace (veja a cena gráfica aqui, para maiores de 18 anos). Mas um outro amigo também quer estuprá-la. O ex, o primeiro estuprador, a segura, e fica indignado ao notar que ela gosta do segundo. Ele pensava que ela só gostava de ser estuprada por ele, entende? Não conhece o Peckinpah, tolinho. Se houvesse mais carinhas, ela também gostaria ― porque é um animal. Após seu estupro, a cena seguinte é com ela numa cama, fumando um cigarro. Sabe a típica cena pós-coito? Pessoa na cama fumando um cigarro? É essa. Como ela mesma não dá queixa ou conta sobre o estupro pra ninguém, o filme deixa claro que não foi estupro. Ela que pediu. E até gostou! Ainda veremos as cenas de estupro muitas vezes, em flashbacks. Num deles, crianças brincam com línguas-de-sogra, imitando símbolos fálicos.
Praticamente só há duas mulheres no filme. A outra é uma moça mais jovem, também loira, que tem uma queda por David. Como ele mal a nota, a menina vai mexer com um grandalhão com problemas mentais, que está lá quieto no seu canto. É ela, outra cockteaser, que o beija e o agarra. Quando o pai da garota passa a procurá-la, com uns amigos bêbados (os mesmos que estupraram Amy), o grandalhão se desespera e, sem querer, asfixia a menina, o que é previsível, de Frankenstein a Ratos e Homens.Acidentalmente, David atropela o grandalhão e o leva até sua casa. O pessoal descobre que ele está lá e quer linchá-lo. É aí que começa o amadurecimento de David. Ele avisa Amy: “Esse assunto é meu”, e só falta uma legenda piscar na tela dizendo “Agora você é um homem!”. O filme vira uma defesa desenfreada da propriedade privada. Agora é a vez da casa ser violada por machos enfurecidos que jogam tijolos, paus, ratos vivos e fogo dentro dela (não preciso explicar o que realmente está sendo violentado mais uma vez, preciso?). Amy, insensível, egoísta e, lógico, histérica, quer que David entregue o grandalhão pra eles. Mas David se importa. Ele liga. Ele sim é moralmente superior. Portanto, ele a manda o tempo todo ficar quieta, calar a boca, ir pro seu quarto. Quando o grandalhão se enerva e bate em Amy, David é carinhoso com ele. E logo em seguida David também bate em Amy ― ele é o quarto homem no filme a bater nela. A câmera repete o ângulo de como o primeiro estuprador puxa o cabelo e esbofeteia o rosto de Amy.
No final, depois que todos os inimigos estão mortos (e todas as cenas contêm a violência estilizada do Peckinpah, com sangue em câmera lenta), David abandona Amy na casa e parte no carro com o grandalhão, sem saber para onde estão indo. Sorri pra ele, provando que um homem só pode mesmo ser amigo de um outro homem. Nunca de uma mulher, aquelas víboras.
Parece machista pra você? Pois é. O extraordinário é que, durante décadas, a maioria dos críticos homens relevou tudo isso. Eles nem acharam o filme machista. Acham apenas violento, mas não contra as mulheres. Tal qual Caio Blinder e seus amiguinhos do Manhattan Connection não viram nada de mais em chamar mulheres árabes de piranhas, os homens não se incomodaram com Sob. Foram as críticas feministas que gritaram “Opa, aqui tem misoginia saindo pelo ladrão!”. Uma refilmagem de Sob vem se arrasando já faz uns anos, e vai ser interessante acompanhar se a misoginia do original será atenuada. O remake ia ser com Edward Norton no papel principal, mas parece que será lançado no final do ano, com James Marsden, a gracinha de X-Men e Encantada, e Kate Bosworth, de Superman - O Retorno e Quebrando a Banca, como o casal em apuros. Quer dizer, uma parte do casal muito mais em apuros que a outra.
Sob o Domínio do Medo (Straw Dogs, 1971) é um deles (trailer aqui; não confundir o título com Sob o Domínio do Mal). Assim como Vestida para Matar, de outro machista contumaz, Brian de Palma, Sob (vou abreviá-lo assim) é um dos filmes mais misóginos que tive o prazer de ver. É, lamento dizer, prazer, pois Sob é uma produção eficaz, que prende a atenção, e que é um dos marcos da violência nas telas da década de 70. Só que tem uma ideologia muito, muito torpe. Ele foi lançado no mesmo mês que outros dois filmes ultraviolentos, Dirty Harry e Laranja Mecânica. Tanto que a manchete de uma revista semanal americana, referindo-se ao trio, dizia “Feliz Natal ― pow!”. Hoje, quase quarenta anos depois, os outros dois estão mais vivos que Sob.A história é de um jovem casal, feito por David (Dustin Hoffman, já um astro na época por conta de A Primeira Noite de um Homem e Perdidos na Noite) e Amy (Susan George, então desconhecida e que, depois de famosa, não estreou nada realmente digno de nota). David é um matemático que, para deixar pra trás as revoltas universitárias nos EUA, vai com sua mulher pra cidadezinha natal dela, na Inglaterra. A primeira vez que vemos Amy vemos apenas seus seios. Sério, a câmera enfoca os seios cobertos por uma blusa, aparentemente sem sutiã (David ordena que ela coloque um sutiã, caso contrário os homens ficarão olhando pra ela). Mais tarde a veremos nua. Amy já começa levando pra casa uma armadilha de caça que chama-se “mantrap”, literalmente, armadilha pra homens.
David, entretido com seus cálculos matemáticos, não dá a menor bola a Amy, que parece não ter outra ocupação além de "testar" os rapazes. Ela ergue a saia pra um grupo (um deles seu ex-namorado), toca neles de leve, mostra seus seios ― uma legítima cockteaser (insulto pra mulheres que brincam com o pênis alheio, sem intenção de usá-lo). Todos prestam atenção nela, menos David, que tem diálogos infantis (mas reveladores!) com ela. Tipo, ele a chama de criança e animal. Como os rapazes vivem fazendo gracinhas uns com outros sobre transar com animais (ovelhas), e como David a chama de animal, a correlação é óbvia. Ele pergunta pra ela: “Esta é a poltrona do papai?”, e ela responde: “Todas as poltronas são do papai”. Pô, não precisava nem falar!Tentando se entrosar com os rapazes, David é convidado por eles para ir caçar. Eles o levam até o meio do mato e o abandonam lá durante horas. Enquanto isso, voltam pra casa. Amy está lá. Quando o ex dela a agarra, primeiro ela tenta lutar. Ele bate nela, feio. Enquanto é estuprada por ele no sofá (do papai?), vemos que ela gosta! Até pede pra que ele a abrace (veja a cena gráfica aqui, para maiores de 18 anos). Mas um outro amigo também quer estuprá-la. O ex, o primeiro estuprador, a segura, e fica indignado ao notar que ela gosta do segundo. Ele pensava que ela só gostava de ser estuprada por ele, entende? Não conhece o Peckinpah, tolinho. Se houvesse mais carinhas, ela também gostaria ― porque é um animal. Após seu estupro, a cena seguinte é com ela numa cama, fumando um cigarro. Sabe a típica cena pós-coito? Pessoa na cama fumando um cigarro? É essa. Como ela mesma não dá queixa ou conta sobre o estupro pra ninguém, o filme deixa claro que não foi estupro. Ela que pediu. E até gostou! Ainda veremos as cenas de estupro muitas vezes, em flashbacks. Num deles, crianças brincam com línguas-de-sogra, imitando símbolos fálicos.
Praticamente só há duas mulheres no filme. A outra é uma moça mais jovem, também loira, que tem uma queda por David. Como ele mal a nota, a menina vai mexer com um grandalhão com problemas mentais, que está lá quieto no seu canto. É ela, outra cockteaser, que o beija e o agarra. Quando o pai da garota passa a procurá-la, com uns amigos bêbados (os mesmos que estupraram Amy), o grandalhão se desespera e, sem querer, asfixia a menina, o que é previsível, de Frankenstein a Ratos e Homens.Acidentalmente, David atropela o grandalhão e o leva até sua casa. O pessoal descobre que ele está lá e quer linchá-lo. É aí que começa o amadurecimento de David. Ele avisa Amy: “Esse assunto é meu”, e só falta uma legenda piscar na tela dizendo “Agora você é um homem!”. O filme vira uma defesa desenfreada da propriedade privada. Agora é a vez da casa ser violada por machos enfurecidos que jogam tijolos, paus, ratos vivos e fogo dentro dela (não preciso explicar o que realmente está sendo violentado mais uma vez, preciso?). Amy, insensível, egoísta e, lógico, histérica, quer que David entregue o grandalhão pra eles. Mas David se importa. Ele liga. Ele sim é moralmente superior. Portanto, ele a manda o tempo todo ficar quieta, calar a boca, ir pro seu quarto. Quando o grandalhão se enerva e bate em Amy, David é carinhoso com ele. E logo em seguida David também bate em Amy ― ele é o quarto homem no filme a bater nela. A câmera repete o ângulo de como o primeiro estuprador puxa o cabelo e esbofeteia o rosto de Amy.
No final, depois que todos os inimigos estão mortos (e todas as cenas contêm a violência estilizada do Peckinpah, com sangue em câmera lenta), David abandona Amy na casa e parte no carro com o grandalhão, sem saber para onde estão indo. Sorri pra ele, provando que um homem só pode mesmo ser amigo de um outro homem. Nunca de uma mulher, aquelas víboras.
Parece machista pra você? Pois é. O extraordinário é que, durante décadas, a maioria dos críticos homens relevou tudo isso. Eles nem acharam o filme machista. Acham apenas violento, mas não contra as mulheres. Tal qual Caio Blinder e seus amiguinhos do Manhattan Connection não viram nada de mais em chamar mulheres árabes de piranhas, os homens não se incomodaram com Sob. Foram as críticas feministas que gritaram “Opa, aqui tem misoginia saindo pelo ladrão!”. Uma refilmagem de Sob vem se arrasando já faz uns anos, e vai ser interessante acompanhar se a misoginia do original será atenuada. O remake ia ser com Edward Norton no papel principal, mas parece que será lançado no final do ano, com James Marsden, a gracinha de X-Men e Encantada, e Kate Bosworth, de Superman - O Retorno e Quebrando a Banca, como o casal em apuros. Quer dizer, uma parte do casal muito mais em apuros que a outra.
Lolinha,
ResponderExcluirInteressante porque eu não vi machismo no filme quando assisti.
Lendo a crítica eu sou obrigado a concordar contigo.
Adorei a crítica, e quero muito assistir ao filme agora.
ResponderExcluirDetesto cenas de estupro, mesmo quando forçam a barra para que ele seja um "esturpo consentido".
Esse filme vai ter que passar por uma reformulação extrema se quiser fazer sucesso. Até porque refilmagens muito mais bem elaboradas estão sendo lançadas e encalhando nas bilheterias. Esse "clássico" não é tão conhecido, nem sei porque se interessaram em refilmá-lo... não tem enredo atraente nem se encaixa nas temáticas que estão "na moda". E não será em 3D (ironia mode on). Acho que vai ser mais um fiasco e, se for, eu vou achar bom!
ResponderExcluirNunca vi esse filme e agora até fico feliz...
ResponderExcluirPriskka
O motivo de fazer um remake é a preguiça cronica dos roteristas mainstream que parecem só querer fazer refilmagens, prequels e sequencia (só esse ano são 124 continuações sendo lançadas).
Mas talvez o filme não seja tão diferente assim. Afinal com a onda do conservadorismo tão forte, vai agradar muita gente.
Quanto ao Blinder, alem da merda dita, depois que da reclamação e de muitos protestos, ele veio com uma mea culpa, dizendo que errou, mas que não foi nada tão grave assim, etc.
ResponderExcluirE que para ele, o caso estava encerrado.
Ebgraçado isso né? faz a porcaria, depois ainda quer dicidir quando as reclamações tem que parar.
Arrogancia pouca é bobagem.
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ResponderExcluirSe alguém quiser me explicar...
ResponderExcluirNão entendo quando criticam: TRADIÇÃO, FAMILIA E PROPRIEDADE.
Penso que a tradição é algo bom. Tipo festa junina é uma tradição e eu adoro festa junina. O galo da Madrugada é uma tradição é eu adorei ter ido ao galo da madrugada. E tem muitas tradições que adoro então eu pergunto:
Qual o problema da tradição?
E família? Essa realmente não entendo, família é tudo na vida de qualquer pessoa.
E quanto à propriedade privada?
O que há de errado em se ter propriedade?
Tipo ter uma casa um sitio. O que ah de errado nisso?
Lord Anderson,
ResponderExcluirPreciso discordar de você. Na verdade a grande quantidade de remakes é por conta dos produtores e não dos roteiristas. Os roteiristas bem que tentam trazer idéias novas e roteiros novos, os produtores é que tem preguiça de ler os roteiros e buscam refilmagens. Eu participei uma vez de pitching (apresentação de roteiros para produtores da grande indústria americana) e você realmente precisa ser um vendedor para um produtor. Não um roteirista. É por isso que vemos tanta coisa de baixa qualidade ser produzida, porque os produtores tem literalmente preguiça de ler os roteiros.
Danielle
ResponderExcluirValeu pelo exclarecimento.
Sempre imaginei que fossem os roterista os principais responsaveis, mas vc colocou um ponto importante.
Obeigado.
Flávio Brito, leia isto que você vai entender o que significa "Tradição, Família e Propriedade":
ResponderExcluirhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Tradi%C3%A7%C3%A3o,_Fam%C3%ADlia_e_Propriedade
É uma das instituições mais reacionárias e ultra-conservadoras de toda a história do Brasil.
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ResponderExcluireu não conhecia e prefiro continuar não conhecendo...preguiça!
ResponderExcluirEu me dei ao trabalho de assistir a cena que você linkou, Lola, e fiquei realmente intrigada com o tal estupro. Realmente, pelo que a gente vê, ela parece que ta curtindo. Na verdade, ela tá é curtindo muito. Pra mim ficou claro que esse diretor nunca ouviu falar sobre um estupro de verdade. Aquilo ali tem cara de ser só uma masturbação cinematográfica da onda 'eu vou te POSSUIR', às antigas, 'quer você queira quer não'.
ResponderExcluir"...cockteaser (insulto pra mulheres que brincam com o pênis alheio, sem intenção de usá-lo)..."
ResponderExcluirAcho que você quis dizer "sem a intenção de ser usada por ele", né?
Absurdo como alguém pode achar que alguma mulher no mundo GOSTA de um estupro... Agora não existe nenhum filme que mostre um estupro na cadeia que o homem goste do estupro, porque também é absurdo...
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ResponderExcluirNelson, as cenas do estupro sempre me incomodaram muito. Aliás, o filme sempre me incomodou, com toda aquela defesa da propriedade no último terço. Mas eu certamente já fui mais tolerante com ele.
ResponderExcluirNathália, isso do “estupro consentido” é um velho clichê. Pense quantas vezes a gente já viu no cinema aquelas cenas em que um cara pega uma mulher à força (geralmente pra beijá-la, aí ele a abraça bem forte), e no começo a mulher se debate, e em seguida fica completamente rendida, respodendo ao beijo. Essas cenas não falam só de inocentes beijos não... Aliás, num filme que eu amo, E o Vento Levou, Scarlet é estuprada pelo Rhett e acorda toda feliz e apaixonada no dia seguinte. Ugh.
Priskka, a direção da refilmagem ficou por conta do Rod Lurie, um crítico que virou diretor. E, nas entrevistas, ele jura que não vai suavizar o filme. Pra ele, o filme foi extremamente polêmico em 71 e será polêmico em 2011. Não sei o que vão fazer. Apenas que não será na Inglaterra, mas no sul dos EUA, em algum lugar bem caipira.
ResponderExcluirLord, putz, esse vídeo com o Caio Blinder me deu muita raiva. Eu já tinha lido sobre o episódio na semana passada, mas só ontem, quando alguém (acho que foi a Amanda?) me mandou o link do vídeo pelo Twitter, é que vi. É muita arrogância, né? E o jeito que ele deu o episódio por encerrado? Ahhhh!
Flávio, TFP é uma organização de extrema direita que defende valores hiper retrógrados. Apoiou o golpe de 64, como tantas outras. É o atraso do atraso. Mas o jeito como cada um vê esses valores de tradição, família e propriedade é puramente ideológico. Eu, por exemplo, não gosto de tradiçãoes. Acho que várias devem ser abolidas, como, sei lá, o uso da burka, a mutilação feminina, touradas, farra do boi etc etc. E até coisas mais inofensivas e totalmente aceitas, como essa babaquice de noivo pedir a mão da noiva em casamento, ou mulher ter que adotar o sobrenome do marido. Tudo isso é tradição. Coisa de centenas de anos. Quando alguém diz que “família é tudo na vida de qualquer pessoa”, geralmente está falando da família tradicional, nuclear, hétero. Primeiro que esse modelo não tem que ser aceito sem questionamento. Não funciona pra todo mundo. Tem um monte de criança pra quem a infância é um inferno. Pergunta pra elas se a família é uma maravilha. E propriedade privada, bom, pegar em armas pra defender sua propriedade, matar e morrer, como acontece no filme, é uma noção fascista mesmo. Não dá pra explicar tudo isso num comentário. Mas são todos conceitos de direita. Vc não acha que os hippies e os flower children dos anos 60 tinham muito respeito por esses valores, né?
ResponderExcluirDanielle, vc participou de pitching?! Quero um guest post sobre essa sua experiência, por favor! Mas sim, é bem isso que vc diz. Um fime de Hollywood custa hoje, em média, 50 milhões de dólares. É uma fortuna. Então o filme é tratado como um produto. Segue-se uma fórmula conhecida pra que os riscos sejam diminuídos. Por isso não há inovações e, de fato, essa imposição vem muito mais dos produtores que dos roteiristas.
Luciano, pois é, o filme realmente causa esse desconforto. Ele é machista e fascista, e ainda assim muito bom de assistir. As duas sequências de estupro são horrorosas. Mas tem mais: a gente não sabe como se comportar diante do David, personagem do Dustin Hoffman. Ele é um herói ou um vilão enlouquecido? Pra mim tá claro que o filme quer que a gente o veja como herói, mas... é complicado. Duvido muito que o remake chame tanto a atenção.
ResponderExcluirAiaiai, entendo vc. Ninguém ganha nada vendo duas cenas de estupro absolutamente nojentas.
Não entendi, Bárbara. Eu quis dizer exatamente isso: “mulheres que brincam com o pênis alheio, sem intenção de usá-lo”. Vc acha que mulher não pode usar um pênis, apenas ser usada por ele? Ñ entendi mesmo.
ResponderExcluirAmanda, essa cena é horrível mesmo. E nem encontrei a cena do segundo estupro, que vem logo a seguir, quando o amigo do ex a estupra. Li que em 2002 um centro de classificação britânica liberou o filme (que teve essas cenas editadas) sem cortes. Baseou-se justamente nisso: disse que ok, ela parece gostar do primeiro estupro, mas não no segundo, e que isso, dentro do contexto, faz com que seja uma experiência desagradável pra ela. Sou contra a censura, mas não consigo concordar com essa interpretação. Primeiro que pra mim o segundo estupro é horroroso principalmente porque ela parece estar gostando. Segundo que, mesmo que ela não gostasse do segundo, o filme então perigosamente divide estupros entre estupros bons e estupros ruins? Ué, pensei que todo estupro fosse ruim. O filme é super misógino porque reforça todos esses estereótipos em que tanta gente acredita – que “não”, na verdade, quer dizer “sim”, e que na verdade mulher gosta de ser estuprada.
Kern, exatamente. Já escrevi um post inteirinho sobre isso, sobre como o estupro masculino é retratado no cinema (nunca nenhum homem é mostrado gostando, muito pelo contrário!), e sobre como o estupro feminino aparece nas telas. Sob o Domínio é apenas um exemplo. Na verdade, acho que é mais comum filme mostrar mulher gostando de estupro do que não gostando. É perturbador, mas isso molda muitas das concepções que as pessoas (principalmente os homens) têm sobre o estupro.
ResponderExcluirLaurinha, pois é, o filme é misógino mesmo. Quantas vezes num filme vc tem uma mulher que é espancada por quatro homens diferentes e estuprada por dois? É, esse tipo de filme é perigoso. Pra mim, é um sexploitation movie como tantos outros da epóca (preciso escrever mais sobre esse tipo de filme asqueroso).
Verdade Lola.
ResponderExcluirE é como disseram no Twitter e se algum joranlista arabe xinga-se alguma primeira dama ocidental de piranha?
iam dizer que foi só um erro tb? iam dar por encerrado tão facil?
Mas é bom para lembrar o quanto esses supostos jornalistas são nojentos.
Total off-topic
ResponderExcluirUm video muito legal que faz repensarmos a questão da vaga especial para deficientes fisicos.
http://vimeo.com/22479956
:) divulguem esse video!
E uma feliz páscoa para vc's não abusem do chocolate!
Viu Lola?rs =D
caro Rubens
ResponderExcluirO verbo abusar não pode ser conjugado numa frase em que chocolate esteja presente.
hehehehe
E a tal ofensa às mulheres árabes foi num programa considerado "inteligente". Pfff.
ResponderExcluirNão conhecia esse filme do Sam Peckinpah. Conheço (mas não vi todo) Os implacáveis (The getaway), com Steve McQueen e Ali McGraw. Nele também a mulher sofre: vai transar com um bandido em troca do marido sair da cadeia e lá pelas tantas leva uma surra danada do marido. E uma fofoca: nos bastidores a Ali McGraw também sofreu: primeiro se apaixonou pelo McQueen e deixou o marido produtor de Hollywood, que por vingança fechou as portas da cidade pra ela. E pra completar o McQueen era uma bisca alcóolatra que levava mulher de fora pra transar na cama deles e com ela em casa.
Lola, tem um filme dos anos 1970 que teve refilmagem recente, Doce vingança. A história é de uma mulher estuprada que se vinga dos estupradores. Você pretende analisar?
Lola, procurei o post sobre cenas de estupro no cinema aqui no blog e não achei (achei o post sobre "Telma e Louise", que é ótimo). Tem como vc por o link desse post aqui nos comentários?
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ResponderExcluirNão sei porque razão os críticos iriam apontar o machismo do filme nos anos 70, se nessa altura praticamente os críticos eram todos homens, e se a indústria holywoodiana era praticamente conservadora, tirando algumas ovelhas negras, e se a revolução sexual dos anos 60 estava a ganhar mais ímpeto, e se filme como Garganta Funda, ou publicações como Hustler estavam a minar as bases conservadores? Há muitos filmes assim que demonificam a sexualidade da mulher, mostrando-a como uma simples comedora (papel apenas masculino) e como uma grande vagina no cérebro. Era a resposta a contra-cultura revolucionária do anos 60, por isso é super normal que os críticos e analistas naquela época passem por longe disso, tal como é supernormal que a tua leitura, por seres uma feminista se foque apenas nisso.
ResponderExcluirPra quem não tá encontrando os links de que falei:
ResponderExcluirAqui eu falo um pouco sobre como o cinema trata o estupro de homens e de mulheres. Quando homem é estuprado ele NUNCA gosta. Já mulher...
Aqui sobre um livro muito polêmico que, não por coincidência, já gerou duas versões pro cinema.
E aqui:o que filmes controversos têm em comum?
E aqui um exemplo de sexploitation cinema, enquanto não falo mais nesse nicho de mercado comum nos anos 70.
Obrigado pelos links, Lola!
ResponderExcluirNão vi o filme, mas parece ter algum significado toda a violência acontecer numa cidadezinha na Inglaterra, um mundinho relativamente isolado, tradicional e retrógrado, longe das mudanças que aconteciam nas grandes cidades na época (inclusive as mencionadas revoltas universitárias). Entre as lutas que ganhavam força estavam os movimentos pelos direitos civis e o feminismo, que talvez até hoje não tenha chegado com força nesses lugares tradicionais e afastados.
ResponderExcluir"Doce Vingança", que a Teresa sugeriu, é refilmagem de "I Spit On Your Grave" (A Vingança De Jennifer), em inglês a nova versão tem o mesmo nome. Não consegui ver no cinema (maldito Cinemark, anuncia filmes e depois eles nem chegam a estrear!), um amigo meu viu e disse que é fraco em comparação com o original (coisa relativamente comum em remakes...).
E talvez até seja possível fazer uma comparação entre os dois filmes, a Jennifer também só passa pelo que passou porque ousou ir pra uma cidade pequena e conservadora, onde ela parece mais sexualizada em comparação com as mulheres de lá. Numa conversa entre os estupradores, eles imaginam como devem ser as mulheres da cidade - e depois lembram que a Jennifer é uma mulher da cidade. Teria aí nesses filmes alguma mensagem do tipo "fique longe de cidadezinhas do interior", ou "só venha pra uma comunidade tradicional se souber se comportar", ou "fique na cidade, que lá se tem mais liberdade"? (como se essas coisas não acontecessem em tudo que é lugar...)
Pois é, Koppe, já tem uns 3 ou 4 anos que tô pra escrever sobre "I Spit on Your Grave". Agora que ganhou refilmagem, então, não escapa. Vou tentar ver o remake, que dever ser puro trash. Mas o original tb era. É um típico sexploitation movie.
ResponderExcluirTeresa, é, Os Implacáveis ficou mais conhecido por toda a história longe das câmeras (caso da Ali McGraw com Steve McQueen, "pobre" marido traído Robert Evans etc) que pelo filme em si. Eu gosto bastante do Peckinpah um ultraviolento chamado "Bring me the head of Alfredo Garcia". E o último dele, "The Osterman Weekend", não é ruim. Mas meu preferido dele sempre foi... Sob o Domínio do Medo.
hum, sobre esse Doce Vingança (aqui a Vingança de Jennifer), eis aqui a minha opinião:
ResponderExcluirhttp://montedepalavras.blogspot.com/2011/03/vinganca-de-jennifer-2010-i-spit-on.html
Eu estava sendo irônica, Lola.
ResponderExcluirEstava pensando justamente nos seus últimos posts ("Masculinistas têm a solução para que realengo não se repita" e "Nos anos 70 superherois já derrotavam o feminismo"), onde você fala: "E as mulheres desprezam o homem médio e só “liberam” sexo (porque mulher não gosta de sexo e nem pode iniciá-lo, só o usa como moeda de troca)..." e "Outra coisa que adoro nesse quadrinho é a prefeita dizendo que algum dia as mulheres permitirão que os homens as toquem de novo [...] E claro que mulher não toca em homem por livre e espontânea vontade... ela só permite ser tocada! Ai ai, esses seres femininos que odeiam sexo!".
Resumindo: eu queria fazer uma piada, mas parece que não deu muito certo =/
Gostei da crítica.
ResponderExcluirFabio, problema nenhum com a tradição. Também adoro festa junina, carnaval e samba. O problema são os valores machistas, judaico-cristãos e brancos que muitos filmes nos enfiam goela abaixo.
Nada contra a família. Família é bacana e necessária para constituir um indivíduo inteiro. Vejo problema em 'vender-se' um modelo de família de papai-mamãe-filhinho, onde a poltrona é do papai, a casa é do papai, os filhos e a mulher são propriedade do papai.
Sim, claro que todo mundo precisa comer e ter um teto pelo menos, mas veja como nosso modelo econômico de herança européia delega isso só pra alguns poucos privilegiados.
Qual tradição e qual propriedade, cara pálida?
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ResponderExcluireu gosto do peckinpah, mas não tinha reparado nisso ainda, se bem que qdo vi alguns dos seus filmes não era leitor do seu blogue. valeu pela dica.
ResponderExcluirDentre todos os filmes da época este me é o mais importante. A interpretação do crítico soa como a crítica à Jorge Borges, por seu sectarismo (posto que direita), o que é um desvio da linha estética, ou então todos os autores deveriam ser partidários. As acusações à direção (do diretor) da conduta da moça deveriam ser reduzidas ao olhar da conduta humana possível, sob condições tais, sem pré-julgamentos de ordem "moderna". O filme parece-me um excelente motivo para reflexão.
ResponderExcluirAssisti a esse filme eu tinha uns 15 ou 16 anos. Não esqueci. Acho estranho dizerem que ela gostou quando foi anally rapped. Vejam a cara de horror lá dela.
ResponderExcluirPra mim, não há cinema fascista ou estalinista. Há bom ou mau cinema, admitindo-se as subcategorias do bom cinema mau ( bons filmes "B") e mau cinema bom ( tipo " o filme é horrível mas o diretor é ótimo"). No mais, tragam- me a cabeça de Alfredo Garcia e parabéns pelo blog.
Alan
A Susan George também fica num papel de agredida em "Dirty Mary Crazy Larry". O personagem do Peter Fonda é um porco, a trata como lixo o tempo todo, chega até a agredi-la fisicamente. Eu assisti porque adoro filmes de carros, mas confesso que foi difícil ver a personagem dela correndo atrás de um sujeito tão desrespeitoso. Um filme que estou utilizando como exemplo de misoginia em meu trabalho é "Matadores de vampiras lésbicas". O filme tem vários símbolos de destruição feminina. É uma porcaria, não vale nem como entretenimento. Pretende ser engraçado destruindo mulheres e colocando homens estúpidos como heróis.
ResponderExcluirAh, e em "Fuga Implacável" acontece uma das cenas mais fortes de violência doméstica que eu já vi. O personagem de Steve McQueen dá 7 tapas (pelo que contei) na personagem de Ali MacGraw enquanto ela só chora. Depois ele a joga dentro do carro agressivamente, como e fosse um saco de batatas. É lamentável. De alguma forma toda essa agressividade contra as mulheres é legitimizada dentro dos filmes por esses diretores misóginos. E ainda tem gente que quer dizer que a culpa é das mulheres que aceitam trabalhar nessas cenas. :/
ResponderExcluirLola, olá! Já faz alguns bons anos que você postou este texto, né, mas, como você gosta de cinema, sempre que um clássico me deixa chocado pelo machismo, venho procurar sua opinião. Você é uma referência certa desde que minha namorada me mostrou uns textos seus, há uns anos. Enfim, acabei de assistir Straw Dogs pra ver se, como vegan, eu conseguia assistir algum filme do Peckinpah sem tortura animal, mas pelo visto ele gosta de é escrotice, e acho que a visão que eu fiz da cena do estupro é mais escrota do que a que você, propos, da personagem de Susan George ter gostado: penso que a as visões que ela tem na festa são demonstrativas de seu nojo e trauma; ao mesmo tempo, não penso que ela se "ofereça". O que entendo é uma visão doentia da mulher como bicho, como você observou, irracional e infantil, como fica bem ressaltado, e que desperta desejos masculinos simplesmente por existir; destituída do carinho do marido, durante o estupro ela (okay, quando cheguei nessa conclusão eu fiquei mais assustado do que eu já estava) localiza uma figura protetora no seu violador -- não à toa ela, histérica na cena final de invasão, atende a chamados carinhosos por parte dele. O mesmo caso é o da filha que será morta acidentalmente pelo daquele sujeito com deficiência: uma menina chamando sexualmente a atenção de pessoas mais velhas, de forma inocente, "descobrindo-se" (descobrindo-se a figura retrógrada e quase católica que Sam Peckinpah identifica como "mulher"; não por acaso o matemático, ainda um "covarde", ataca a religião pela violência e acaba, no final das contas, dizendo "Jesus, eu me matei todo mundo" com muito orgulho). De resto, concordo redondamente com você, e agradeço por você ressaltar as objetos com representações sexuais, a relação de "brotheragem" com outros homens e não, NUNCA, com a esposa.
ResponderExcluirFiquei realmente impressionado com a mise-en-scène, sou um grande fã de Dustin Hoffman e achei Susan George magnífica, mas adentrar nesse universo sombrio e misógino que foi a cabeça desse diretor, dispenso. Graças a deus que ele foi influencia de Quentin Tarantino que pode nos servir bons pratos de violência sem nos brindar com essa escrotidão machista da pior espécie.
Amo Esse Filme assisti essa madrugada,não canso de ver https://youtu.be/c-wxXv_cgHU
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