sábado, 2 de agosto de 2008

QUEM DISSE QUE EU NÃO ME DESLUMBRO?

Há várias coisas dos States que sentirei falta, mas acho que o principal mesmo é o estilo de vida que levei, sem muitos horários ou prazos. Morar perto de onde se trabalha ou estuda representa uma melhora incrível na qualidade de vida, porque a gente não perde tempo ou dinheiro com transporte. É só andar até lá. Portanto, terei saudades da quitinete (que eles chamam de studio) que alugávamos por apenas 385 dólares mensais (barato pros padrões daqui). Além de bem-localizada, ela nos ensinou que dá pra viver bem num lugar pouco espaçoso e sem tantos móveis. Outras coisas que lembrarei com carinho:

- Ausência de insetos – o frio intenso que dura meio ano (do qual certamente não sentirei falta) tem a vantagem de eliminar insetos. Pelo menos essa foi a minha experiência: vi uma só barata (duas, se contar a de Wall-E) em um ano inteiro de Detroit. E era uma baratinha que eu consegui matar sozinha, sem gritar ou apelar pro maridão. De vez em quando apareciam aqueles mosquitinhos minúsculos. Mas, no apê, nada de moscas ou formigas. E, principalmente, nenhum pernilongo. Só numa ou duas ocasiões fui picada num parque, mas, comparado ao banquete que geralmente proporciono aos sanguessugas (eles me amam), isso não é nada.

- Máquinas de lavar e secar no porão – não posso dizer que tenho amplo conhecimento de causa, já que era o maridão que se encarregava de lavar a roupa. No nosso prédio havia algumas máquinas. Em poucas horas as roupas ficavam limpinhas e secas. Em Joinville penduramos nossos trapinhos num varal pra secarem ao sol, e claramente nossa máquina de lavar não é tão eficiente. Mas, mesmo que fosse e que tivéssemos secadora, é diferente ter todo um aparato à disposição, sem preocupação com consertos, conta de luz ou de água. Era só depositar quatro quarters (moedas de 25 centavos) em cada uma das máquinas e pronto. Com dois dólares lavávamos tudo.

- Esquilinhos – já falei como se identifica um brasileiro nos EUA, né? Se você vir uma pessoa observando esquilos nas árvores durante horas a fio, pode falar em português que deve ser brasileira. Ah, como não ficar boba vendo esses bichinhos tão fofos? Eu poderia acrescentar que é ótimo ter o campus da universidade, cheio de bancos pra sentar e verde, sempre aberto ao público, pois vira um parque a mais na cidade. Mas a verdade é que eu não visitaria os parques com tanta frequência se não fosse pelos esquilinhos.

- Cinemas – apesar de vários multiplexes serem longe e fora de limite pra gente, das salas que frequentávamos levarem duas horas de ônibus pra ir e voltar, e da programação raramente incluir produções independentes e estrangeiras, vimos muitos filmes durante este ano, aproximadamente dois por semana (no cinema). Pensando bem, os 7 dólares que pagávamos, em média, eram mais em conta que muita sala no Brasil. Também vimos vários filmes em sessões para a imprensa. Além disso, havia o cinema de arte, do museu, a três quarteirões de casa. Será que algum dia na minha vida voltarei a morar do lado de um cinema (e de muitos museus)?

- Netflix – vai ser difícil me acostumar novamente com o sistema das locadoras de vídeo. Durante o último semestre, nós simplesmente ignoramos a TV (que é muito, muito ruim – falem o que quiserem, mas mesmo a TV a cabo é péssima. Tem porcaria demais, e muito mais intervalo comercial que programas). Víamos um filme por noite no computador. Podíamos escolher entre mais de 75 mil títulos, e custava 25 dólares por mês. Mais barato que TV a cabo, e quem fazia a programação era eu. Sem comerciais. Com a TV, eu assistia passivamente o que chegava até mim. Com a Netflix, eu escolhia ativamente. Uma diferença gritante.

- Comida chinesa – você pode dizer que isso também tem no Brasil (e provavelmente em toda parte do mundo). Eu sei. Mas duvido que haja tanta opção. Em Detroit havia uns três restaurantes chineses próximos (e estava pra abrir um novo, este coreano/japonês, a um quarteirão de casa). Não dava pra pedir comida por telefone, porque eles só entregavam em casa encomendas acima de 30 dólares. Então a gente tinha que ir lá andando buscar. Um prato grande, pra duas pessoas, custava uns US$ 7,60 e era uma delícia. Mesmo que a gente converta pra reais (o que não se deve fazer, pois o que custa um real no Brasil normalmente custa um dólar nos EUA), não acho que iremos encontrar comida boa e farta a 12 reais em Joinville.

- Luz do sol até as 9:30 da noite – houve alguns dias no longo e tenebroso inverno que durou meio ano (meio ano! E depois eles falam que gostam das estações americanas porque existe “variedade”) em que o sol se punha às 4:30 da tarde. Sério. Escuridão total no meio da tarde. Mas é mais comum ter luz até as 9 da noite, como agora. E isso alonga muito o dia.

- Internet rápida – não quero nem pensar como vamos sofrer com a internet no Brasil. Lá a conexão que temos (banda larga e tudo) é de 250 kbps . Aqui nos EUA, no primeiro semestre, foi de 10 mega. No segundo, de 5 mega. Não deu pra notar a diferença entre uma e outra. E olha que os EUA são considerados lesmas em comparação a alguns países asiáticos. Tô esperando pra ver quando vai ficar barato e ligeiro pra todo mundo, como andam prometendo há uns cinco anos, no mínimo. Tá demorando!

- Jornais e revistas de graça ou muito baratos – lamento dizer que nenhuma publicação que li foi a oitava maravilha, mas, pra gente que adora ler (inclusive nas refeições), era ótimo pegar vários jornais distribuídos gratuitamente. Além disso, recebia grátis a revista gay The Advocate, a Rolling Stone, uma feminina chamada Pink, e várias religiosas da direita cristã, pra contrabalançar e tentar me convencer que os gays vão queimar no inferno. Entre as pagas, a assinatura da Time, semanal, por um semestre, saía por uma parcela única de dez dólares. As outras, por vinte. Mas também dava pra trocá-las por pouquíssimos pontos do banco e recebê-las sem pagar um centavo.

Ou seja, foi um ano prazeroso, sem dúvida. Sei que o maridão e eu levamos uma vidinha simples e sem grandes ambições e que, inclusive por isso, somos felizes em qualquer lugar. Mas convenhamos: num lugar sem barata cascuda fica muito mais fácil.

19 comentários:

  1. É... muita destas coisas eu também senti falta quando cheguei ao Brasil. Depois de um tempo vc começa a pensar q sonhou q esteve nos states... pq facilidades como a internet rapida e os foférrimos esquilinhos serão parte de um sonho que vc teve. Mas q bom q vc aproveitou bastante seu tempo aí, e sempre nos contou as novidades. Sabe q sou sua leitora assidua (só q um tanto invisivel na hora de comentar, hehehe).
    Welcome back Lola, welcome back!

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  2. Tem também um ou outro sorvetinho de chocolate, delicioso, em quantidades que garantiriam a demissão do funcionário, se fosse aqui no Brasil

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  3. Eu sempre quis saber como é o relacionamento das pessoas com as lavanderias comunitárias. Eu sempre achei um tantinho estranho. E as roupas que não dá pra se lavar na máquina? Tinha tanque por lá?

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  4. Vou sentir saudades de dois textos de filmes por semana!

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  5. Oi, Andrea! Sei que já já as memórias vão ficar cada vez mais distantes. Ainda bem que escrevi tanta coisa! Assim vai ser mais fácil lembrar. Agora, os esquilos são lindos e fofinhos, mas como é bom estar de volta com meus gatinhos! Eles são mais lindos, mais fofos, e muito mais carinhosos. Dá pra beijar, abraçar, beijar, coisas que os esquilos, por mais próxima que eu fosse deles, não me permitiam fazer.
    Comente sempre que puder, Andrea!


    Silvinho, mas o sorvete acabou, lembra? Era por tempo limitado... Não tinha mais graça ir à sorveteria.

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  6. Li, pedi ao maridão respostas as suas dúvidas, porque quem lavava roupa lá em Detroit (e aqui também, em geral) era ele. Ele disse que não havia tanquinho. Mas que também nunca soube da existência dessas roupas que não podem ser lavadas na máquina. Maior mão na roda ter as roupas limpas e sequinhas duas horas depois, Li. Agora que eu tô em Joinville e não pára de chover há 4 dias é que sei... Ah, verdade que Cumbica em tupi-guarani significa "terra da neblina"?


    Luciano, eu vou sentir muitas saudades de ver um filme todos os dias. Mas vou manter dois ou mais textos sobre filmes por semana. Continuarei comentando clássicos, dvcs, trailers, estréias da semana... Tudo isso é texto sobre cinema, né? Eu tô com uma lista imensa de clássicos e filmes antigos pra comentar.

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  7. Não faço a menos idéia do que significa Cumbica. Mas se for isso, bela sacada construir um aeroporto que vive fechado por causa da neblina. Sabedoria indígena nunca deveria ser desprezada.

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  8. Foi o que o maridão me disse, isso sobre Cumbica. E como vc é fã dele, acredite. De fato, coisa de gênio construir um aeroporto num lugar conhecido pelas neblinas...
    Ah, e quando vc passar no vestiba, vai morar onde? Não dá pra ir de SP a Guarulhos todo dia, dá?

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  9. Oi, Lola;

    Respondendo sobre os mosquitos do post lá embaixo:

    * Não, velas de andiroba não têm cheiro - ao contrário das de citronela, que deram alergia a todo mundo lá em casa.

    * Complexo B tem em gotas, também. E é bem docinho, viu? As meninas tomam desde os 3 anos. Então deixa de ser fresca!!! :o)

    Fez boa viagem?
    Bjs

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  10. Então, quando eu passar no vestibular, vou ter que praticamente virar boia fria (heheh) e acordar lá pelas 4h da matina (a aula começa as 8h).
    Ir pra SP todo dia não é o problema, o problema é ir pra zona sul/oeste de SP todo dia sem existir metrô direto do Tucuruvi (zona norte de sampa). Eu fiquei 3 anos e meio indo e voltando de SP todiariamente quando eu estava no médio e terminando o técnico, mas era mais próximo ao centro. Nada que uns 45/50 min de ônibus não resolvessem (e eu só tinha que acordar as 5h, com aulas as 7h).
    Ah! Comecei o curso de logística aeroportuária pra ver que bicho que é isso.

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  11. Su, velas têm que acender. Eu não gosto de coisas queimando em casa. Fico com neura que as velas vão cair e incendiar a casa, ou os gatinhos vão derrubá-las, ou o vento... Não sei, vamos ver. Até agora os crisântemos são a melhor sugestão. E complexo B em gotas. Hmmm, vou ver. Se for vendido em farmácia a um preço acessível, talvez.
    Pô, preciso escrever um post sobre minha viagem de volta!


    Puxa, Li, não vão aumentar a linha do metrô? Tomara que sim! Acordar às 4 horas deve ser terrível, mesmo que vc possa dormir na viagem (pode, não pode?).
    Logística aeroportuária - vai contando aí. Quem sabe não é interessante?

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  12. Aumentar vão, mas já viu quanto tempo demora isso?! Sem contar que nada de ter metrô em Guarulhos ou a linha lilás - a mais perto da USP - (umas 4 estações no meio o nada!) se integrar a azul ou a verde.

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  13. Lola, adoro os esquilinhos tb. Mas tenho um certo cuidado com eles quando estou comendo. Eles pulam na gente sem cerimônia! Uma vez, em Orlando, um deles ficou parado na frente da minha filha (que tinha 1 aninho e pouco na época) e, se eu não tivesse jogado um pedacinho de cookie pra ele, acho que teria pulado nela...e o engraçado foi que ela AMOU a experiência e meu marido fez várias fotos, que acabaram inspirando uma historinha e um livrinho, que montei usando as fotos mesmo e scrapbooking digital.
    E vc, já está de volta à terrinha?
    beijo
    Renata

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  14. Ah, eu simplesmente A-MO os cookies da Disney. Sempre que vou como muitos e ainda trago pro Brasil...rs
    beijo,
    Renata

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  15. Engraçado, sua lista é parecida com a minha em relação à França e a falta que este país me faz às vezes. Falo muito mal do Rio, mas sinto falta também.. se fico muito tempo fora. Tem um lugar onde nunca moraria: Canadá. De repente, quem sabe, voltando de outro jeito, noutra encarnação. ;-))) Bom retorno ao Brasa (como diz minha amiga.. e esta se encontra bem longe há 4 anos: Austrália!

    ps: os traiteurs chinois em Paris são "tudo na roupa" (gíria by um amigo meu), totalmente diferentes de comida chinesa daqui.

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  16. Li, tomara que não demore tanto pra construirem novas estações de metrô. Deve ser uma mão na roda pra vc...


    É, Renata, tem uns esquilinhos muito abusados mesmo. Lá em Detroit geralmente íamos ao mesmo lugar dar amendoim pra eles. E vc acaba conhecendo cada um. Tem uns que são mais tímidos, outros mais agressivos... Tinha um que não tinha muita cerimônia, e vinha mesmo. Esse colocava a patinha na mão do maridão enquanto pegava amendoim. Mas é frustrante que eu voltei sem ter tocado num esquilo! Mas deve ter dado um scrapbook e tanto esse seu. Vc ainda o tem? Ah, muitos anos atrás, em Washington DC, eu e uma amiga demos alguns M&Ms pros esquilos (não deve fazer bem, tadinhos!). Um deles foi mais impaciente e arranhou um dedo da minha amiga. Ela teve que tomar vacina anti-rábica! Mas acho que americano é meio paranóico quanto a isso...
    Já estou de volta à terrinha. Faz mais de uma semana!

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  17. Gi, vc voltou! Welcome back! Eu tava mesmo pensando: "por onde anda essa menina?". Sério! E vc continua dizendo que não moraria no Canadá! Não mudou nada. Eu tb não moraria, por causa do frio.
    É, cada lugar tem suas vantagens e desvantagens. Vou sentir falta de várias coisas nos EUA. Assim como senti falta de muitas coisas daqui, enquanto estava fora.
    E acho que essas comidas étnicas adotam caracterísiticas típicas do país onde estejam. Certamente comida chinesa nos EUA deve ser bem diferente da comida chinesa na China (que, aliás, é um país imenso, então deve ser a maior burrada falar de comida chinesa única, como se fosse uma só!). E comida chinesa nos EUA deve ser completamente diferente da comida chinesa no Brasil, na França... Mas uma coisa elas têm em comum, né? São todas boas e acessíveis! Eu adoro comida chinesa.

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  18. Oi Lola, eu tenho o scrap, na verdade são várias páginas que compõem um livrinho com uma historinha que eu inventei...
    Mandei imprimir um fotolivro e ficou bem bacana.
    POderia te mandar por email se tiver interesse, eu só não posto no blog pq não costumo postar fotos minha e da minha familia...foi um acordo com meu marido pra não nos expormos...
    Beijo
    Renata

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  19. 'dorei ler esse post hora da saudade, Lola... cheguei aqui por um link do seu post de hoje, acho. bem, gostei tanto do seu post que vou reler!!!

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