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terça-feira, 7 de outubro de 2008

CRÍTICA: VIOLÊNCIA GRATUITA / Parte 2

- Quando éramos felizes.

Outras coisinhas sobre o instigante Violência Gratuita que não couberam na crítica (aproveite porque agora sim o filme estreou nos cinemas):

- O Violência de 2008 é realmente uma refilmagem cena a cena do de 1997. Deve ser até legal fazer um jogo dos sete erros entre o original e o remake.

- É curioso que a Naomi Watts (que tá virando a rainha dos remakes, com King Kong, O Chamado e – pasmem! - Os Pássaros, programado pra 2009) não tenha apenas estrelado o filme, mas também entrado como produtora. O papel dela e do Tim Roth são quase genéricos. Eles estão bem, lógico, só que de maneira alguma será com eles que a gente associará o filme. Será com o Michael Pitt (de Paixão Proibida), que tá excelente. Esses vilões educados vestidos de mímicos (ou tenistas?), com roupas brancas e luvas, são os piores.

- Por sinal, os psicopatas não carregam armas. O que eles usam é improvisado, encontrado na casa invadida. Tacos de golfe, facas, rifles. Fico imaginando o que eles usariam se entrassem na minha casa, onde não tem nada disso. Faquinha de janta? Eu não colocaria muita fé nessas facas de passar manteiga. Acho que eles acabariam se cansando e jogariam ovos na gente.

- Típico! No recinto tá acontecendo a maior violência, ameaça de estupro, sentimento de impotência, e um dos personagens fala pros malvadões não usarem linguagem chula perto de uma criança. E, no meio de grande tensão, o que você mais quer é que alguém desligue aquela maldita televisão (só Poltergeist é tão claramente anti-TV como Violência).

- A trilha sonora (ou a ausência dela) do filme é muito importante. A música clássica no começo, dentro do carro, é abruptamente interrompida por um heavy metal bem pauleira. No resto do tempo é tudo música que só ouvimos porque os personagens a ouvem também. Um carinha até põe um CD antes de perseguir alguém.

- Acho que a família não tem consideração com seu cão de estimação. Às vezes me pergunto por que as pessoas têm um cachorro, se não vão lhe dar o mínimo de atenção.

- Teve uma hora em que tudo que consegui pensar é que, se me mandassem ficar só em trajes íntimos, de jeito nenhum que minha calcinha estaria tão branquinha-recém-saída-da-máquina como a da Naomi. Mas há bem pouco glamour. Até seu sutiã não combina! Não é uma lingerie sexy. Aliás, não há absolutamente nada de sexy em Violência.

Mesmo que o remake americano não chegue a sua cidade (a distribuição é pra lá de restrita, embora tenha se ampliado um pouco), veja o original austríaco em dvd, ou na internet. Vale muito a pena.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

CRÍTICA: VIOLÊNCIA GRATUITA / Pra sofrer no cinema

- Não deixa ele entrar, Naomi!

Por onde começo falando de Violência Gratuita (Funny Games)? Posso dizer que vi o filme austríaco há dez anos, no Recife, e gostei muito. Fiquei impressionada. Depois o vi outra vez em dvd, em Joinville. E em março, em Detroit, vi a refilmagem. Sou mesmo uma pessoa cosmopolita! Mas deixe-me explicar, caso você conheça pouco ou nada do filme (veja o trailer aqui). Primeiro: apesar do título original, não há nada de minimamente divertido com os jogos da trama. A história em si é simples. Dois jovens, sem motivo algum, invadem a casa de uma famíla rica (casal e um filhinho), e atormentam a todos. O diretor Michael Haneke (dos interessantíssimos A Professora de Piano e Caché) deve ser um dos poucos cineastas do mundo a refilmar, praticamente quadro a quadro, sua própria produção. Este Violência Gratuita de agora é quase idêntico ao Violência original, de 1997, mas com astros como a Naomi Watts (Senhores do Crime) e o Tim Roth (Hulk) no elenco.

Por que um diretor refilma seu próprio filme, que é relativamente recente (uma década apenas), só que em outra língua e com outros atores? O maridão até que deu um argumento válido. Disse que na música isso é comum, e que Tom Jobim foi pros EUA regravar Garota de Ipanema e Águas de Março em inglês. É verdade, mas cinema é um meio tão mais caro que música (e que qualquer outra arte), que essa não é uma boa desculpa. Pensei, pensei, e concluí que Haneke refilmou Violência porque pôde. E porque o filme original era pequeno, e tirando eu, no Recife, pouca gente viu. E porque a trama critica justamente a violência do cinema americano, então fazer um filme desses e os americanos nem tomarem conhecimento deve ser frustrante. O problema é que, mesmo que este Violência seja em inglês e com a Naomi, ainda é prum público limitadíssimo, mais de cinema de arte mesmo. É o anti-Hollywood, já que quase toda a violência acontece fora do alcance da câmera. Acho que tem somente um soco que a câmera capta, mais nada.

Trata-se de um thriller envolvente, nem um pouco chato, e bem do tipo “O que você faria?”. Pode-se gostar ou não de Violência, mas o fato é que ele é inesquecível (o maridão às vezes se esquece do título. Quando eu digo “O dos ovos”, ele se recorda na hora). O filme brinca com as expectativas do público. A primeira vez que vi fiquei revoltada que os personagens gastariam tanto tempo tentando reativar um celular. Eu devo ter gritado com a tela: “Vai logo! Esquece essa porcaria!”, e desta vez, nos EUA, vi o mesmo acontecer. A gente torce como nunca pra que um dos “mocinhos” vire Rambo e mate aqueles dois miseráveis. Em mais de uma ocasião eles falam com o espectador(a), olhando diretamente pra câmera. Uma diferença gritante entre o original e este remake é que, depois do negócio com o controle remoto, o Haneke tira a fala do vilão, “Você ia gostar disso, não ia?” (e ia mesmo). Eu gostava dessa fala!

Porém, nem preciso me guiar pelo barulho do público pra medir como Violência mexe com os brios. A reação do maridão me basta. Não há outro filme que deixe minha cara-metade tão nervosinha depois! Lembro que tivemos uma briga parecida cinco ou sete anos atrás, quando vimos o original em dvd. O maridão é cético, acha que não dá pra fazer nada mesmo, e que todos, naquela situação angustiante, seriam cordeirinhos indo calmamente pro abate. Eu argumento que não, que tentaria conversar com os caras e fazer alguma coisa. O quê eu não sei. Mas se é pra morrer, vou morrer lutando.

Pois, o diálogo principal em Violência é: “Por que vocês simplesmente não nos matam?”, respondido com “Não se deve subestimar a importância do entretenimento”. É meio isso que Haneke critica: dá pra se divertir com uma obra ignorando sua mensagem? Dá sequer pra separar a mensagem da obra? O público de cinema vive dizendo: “Ah, eu só quero me divertir! Não vamos levar o filme tão a sério!” Daria pra falar isso de Triunfo da Vontade (aquele belo filme que a Leni Riefenstahl fez pra festejar Hitler)? No fundo, Violência é um dos maiores exercícios de tortura do público já vistos no cinema. E esse remake parece muito um “f**k you” do Haneke pra todos os americanos. Pela reação dos críticos dos EUA, funcionou lindamente. Eles odiaram o filme. Fizeram comparações com torture porn como Jogos Mortais e Albergue (gênero que nem existia quando Haneke fez o Violência original). Disseram que Haneke está cuspindo no prato que comeu. É fascinante, porque a maioria desses críticos conhece – e adora – o original. Mas quando não há mais distanciamento possível e a pimenta entra nos olhos deles, não é mais refresco. Olha, sinceramente, fazia tempo que um filme não causava uma rejeição tão visceral da crítica americana. Sinal, pra mim, que tocou na ferida.Michael Pitt ignora suas vítimas e fala sobre coisas insignificantes.

domingo, 23 de agosto de 1998

CRÍTICA: VIOLÊNCIA GRATUITA (Áustria 1997) / Vida inteligente nas telas.. de Recife!

Enquanto o Sul “europeu” fica preso ao (curto) circuito americano, o Nordeste “atrasado” recebe filmes de arte

Uma cinéfila em férias no Nordeste tem poucas esperanças de assistir a algum filme bom. Mas não é que, no meio da programação de julho, cujo único público-alvo parece ser a criançada, quando proliferam Godzillas, fins-de-mundo e outras aberrações, surge vida inteligente nas telas? Não nas telas catarinenses, evidentemente. Mas já é um começo. A nordestina cidade de Recife passa filmes de arte. Filmes fora do (curto) circuito americano. Filmes que dificilmente veremos por aqui, no “Sul” europeu, auge da civilização.
Qual não foi minha surpresa ao encontrar uma sala lotada num sábado à noite, em Recife, para assistir a uma produção desconhecida? Está certo que lá os cinemas respeitam a lei e aceitam meia entrada, mas tanto público assim? Ironicamente, o filme que vi era austríaco. Quando foi a última vez que a Joinville de colonização germânica viu uma produção falada em alemão? Aliás, falada em qualqeur outra língua fora o inglês, inclusive o português? A sétima arte virou monoglota, a ditadura impera, e nós continuamos assistindo sentados.
Em Funny Games, apenas o título é em inglês. Desconfio que seja para criar um duplo ou triplo sentido, já que isso pode significar desde “jogos engraçados” até “caçadas estranhas”. Em português, para evitar confusão, traduziram para Violência Gratuita. De fato, de divertido o filme não tem nada. Conta a história de uma família austríaca de classe média, talvez classe média alta, que gosta de música clássica, de velejar e de jogar golfe, e que tem um menino de uns 8 anos e um cachorro. Pronto. Isso é tudo que sabemos sobre a tal família.
Numa manhã ensolarada, enquanto a mulher começa a planejar o almoço, ela é surpreendida em sua cozinha por um jovem que lhe pede alguns ovos. Ela dá e, aparentemente sem querer, o rapaz quebra os ovos e deixa cair o celular da família na pia com água. Quando ela se zanga, surge um outro jovem que implora para testar um valioso taco de golfe e puf, lá se vai o cachorro. Rapidamente, a família inteira é imobilizada pelos dois rapazes vestidos impecavelmente de branco, com luvas igualmente brancas. Parece que a dupla não quer roubar ou estuprar, e sim apostar se as vítimas conseguirão fugir ou se terminarão assassinadas. Por quê? Ninguém sabe.
Notamos que o filme definitivamente não é americano quando o garoto corre risco real de vida (tabu em Hollywood), quando um dos bandidos dialoga com o espectador, quando a família não oferece a esperada resistência heróica. E, sobretudo, quando constatamos que o filme não é violento, pelo menos não graficamente. O clima é brutal, a tensão é absoluta, mas não há sangue ou sequer palavrões. Como em peças de Shakespeare, a violência ocorre fora de cena, e o que imaginamos é sempre mais grotesco do que aquilo que é mostrado.
O tema da tranquilidade familiar rompida por vândalos e vilões lembra clássicos como Horas de Desespero (onde Humphrey Bogart faz um refugiado) e, menos, Laranja Mecânica. Porém, justamente por Funny Games não ser americano, constatamos que o perigo é iminente e que o final pode não ser feliz. Refletimos sobre a fragilidade humana, a impotência masculina (nem tudo é sexual na era do Viagra) e os tempos modernos. Tão modernos que não deixa de ser sarcástico que, em um dos raros momentos de fuga, o casal gaste quase todo seu tempo tentando secar o telefone celular. Isso para não mencionar o grande destaque dado a um mero controle remoto.
É difícil dizer se Funny Games é arte ou não, mas indubitavelmente é cinema que faz pensar, que perturba. Nem todo filme deve levar à reflexão, assim como nem todo filme deve ter como única função o entretenimento. Não seria bárbaro se tivéssemos os dois modelos aqui em Santa Catarina? Além do mais, só pra levantar uma bandeira bem hollywoodiana, nunca torci tanto pela pena de morte de psicopatas quanto em Funny Games. Sabem como é, chega uma hora em que os efeitos especiais de costume, as perseguições de carro, os tiros certeiros, as demolições de prédios, cansam. Será que todas essas explosões não alteram o ciclo menstrual da gente?
Refilmagem cena a cena: o original de 97 e o remake de 2008 (leia a crítica aqui).