Já tiveram tempo de ver ou rever Ligações Perigosas, de 1988? É que vou continuar falando dele, desta vez com alguns spoilers. Algo que esqueci de contar no post anterior é que a Marquesa de Merteuil (Glenn Close) aposta com o Visconde de Valmont (John Malkovich) que ele não conseguirá seduzir a virtuosa Madame de Tourvel (Michelle Pfeiffer). Se ele conseguir, e trazer prova escrita (uma carta de amor), ele ganha como prêmio uma noite com a Marquesa. O safadão é bem sucedido, e a Marquesa se nega a cumprir sua parte. Há dois diálogos excentes referentes à aposta. Um é quando o Visconde diz pra Marquesa, “Estou com fome”― e ele definitivamente não está pensando em brioches! Ela responde: “Então vá pra sua casa comer”. Ha, dá-lhe, Marquesa! O outro é uma simples palavrinha, “War” (guerra), que, na boca da Glenn Close, adquire contornos épicos de terceira guerra mundial. Ou de primeira, já que estamos em 1782.
Mas nem tudo são flores nessa versão mais premiada do romance epistolar do Choderlos de Laclos (ou da peça do Christopher Hampton). Pra começar, acho que falta química entre o Visconde do Malkovich e a Madade da Michelle. Fica difícil acreditar que ela se apaixona por ele, sendo que ele é tremendamente falso com ela. Em Valmont, pelo menos, além do Visconde ser interpretado por um irresistível Colin Firth, o personagem faz algum esforço. É galante com ela, organiza um piquenique-surpresa, contrata uns camponeses pra tocar música, se joga num lago. E já falei que ele é a cara do Colin Firth? Eu também me apaixonaria. Mas o Malkovich, sei não. Suas cenas com a Michelle são seguramente as menos convincentes.
Ahn, quer dizer, as menos convicentes depois de todas que envolvem o Keanu Reeves, pobre alma. Keanu faz o Danceny, e ele tá fraquinho que só. Mas nem tanto como em Drácula, que é hors concours. O pessoal fala que a pior atuação num filme do Coppola é a de sua filha Sofia – hoje a diretora consagrada de Encontros e Desencontros, Maria Antonieta, e Somewhere, que acabou de ganhar o Festival de Veneza e será indicado ao Oscar - em O Poderoso Chefão 3. Eu acho que é a do Keanu em Drácula, fácil fácil. E lógico que ele não é o melhor ator do universo, digamos (ah, ele faz um ótimo Neo em Matrix, vai), e que teve um início conturbado, digamos de novo. Mas num filme (muito conservador) que eu amo, Parenthood – O Tiro que não Saiu pela Culatra (pior subtítulo ever?), Keanu tá convincente e faz rir. O problema talvez é que seu papel em LP é impossível. Danceny é um estúpido. Ele só nasceu pra ser manipulado (pelo menos nessa parte. Com seu “amadurecimento”, que ocorrerá no final, ele vira um completo idiota. Falarei mais do personagem ao tratar da versão de 89, Valmont, em que Danceny é interpretado por um Henry Thomas ainda muito jovem, sete anos depois de protagonizar ET. Parece um menino). Cecile é bobona e tal, mas ela tem mais cenas, e mais ambiguidade. Talvez se a gente visse Danceny na cama com a Marquesa, como vemos Cecile com o Visconde, ele subisse no nosso conceito. Ah, em Segundas Intenções (99) Danceny é o único negro da história, mas nem assim fica mais interessante.
E não acho que a Uma Thurman como Cecile tá muito bem. Prefiro a Fairuza Balk de Valmont, que é mais infantil, mais ativa. A cena em que a Uma ri quando Valmont lhe revela que já transou com a sua mãe está muito superficial. É uma risada incrivelmente falsa, que não funciona ― a menos que Cecile esteja fingindo pra Valmont que está rindo (mas por que estaria?). Incrível é que quem quase conseguiu o papel de Cecile em Ligações foi a Drew Barrymore, que tinha apenas 13 anos na época (e um histórico já de uma infância sofrida pós-ET).
Tampouco gosto do rumo que toma a Marquesa. Quando o filme chega na sua hora final, a Marquesa vai jogando fora suas nuances e vira apenas uma mulher ciumenta. Ela não suporta que Valmont goste mais da Madame do que dela. Fica enciumada quando ouve que Danceny foi correndo pra Cecile. É aí que nos lembramos que a vingança que alavanca o filme é dela contra seu amante, no começo.
Anteontem uma leitora perguntou por que eu considero feminista o discurso da Marquesa pro Valmont (em que ela diz que é a vingadora do seu sexo). Eu respondi nos comentários:
Porque a Marquesa tem plena consciência do papel da mulher na sociedade, porque ela sabe que não está numa posição privilegiada em termos de gênero, e porque ela buscou uma saída para lidar com a situação. Ela se considera uma visionária! Não sei, querer dominar os homens e vingar as mulheres pode ser considerado uma atitude feminista, não pode? O que não quer dizer, obviamente, que todas as feministas queiram isso. E não quer dizer aquela outra besteira que tanta gente diz, que o feminismo é o reverso do machismo. Não é a mesma coisa uma mulher querer dominar um homem de um homem querer dominar uma mulher. No primeiro caso é uma transgressão, no segundo é o padrão, é o que a sociedade espera tanto do homem quanto da mulher. A Marquesa inventa formas de fuga. Ela faz de tudo pra aprender, inclusive consultar especialistas em cada área. Quer vencer a qualquer custo. Não estou dizendo que ela está correta ou que a apoio (pô, ela é a vilã da história, mais que o Visconde, que em muitos casos é apenas um “inocente útil”), mas ela tem poder porque aprendeu a observar. Ela é uma total manipuladora ― o que, mesmo sendo uma característica negativa, um defeito, não deixa de ser um poder e tanto num mundo dominado por homens. E tem aquilo também que não está nesse diálogo, mas nos filmes, no romance e na peça, o tempo todo: a Marquesa está bem à frente do seu tempo no que se refere a sua liberdade sexual. Ela sabe que, sendo hipócrita e mantendo as aparências, ela pode transar com quem quiser (homem ou mulher), e ter quantos amantes quiser, mesmo estando casada (ela diz isso para Cecile). Ela é viúva, e se recusa a casar de novo porque não aguenta o “tom marital” dos maridos. Parece bastante feminista pra mim. A resistência da Marquesa em aceitar as condições da mulher na sua época a faz feminista. Ela deseja abalar, destruir. É um perigo pro status quo (não o socio-econômico, mas o do homem como padrão dominante).
Pois bem, creio piamente que a Marquesa da Glenn Close (ou a do Hampton) é feminista. E, por isso, é muito, muito lastimável que ela seja aniquilada no final do filme. O fim é muito século 20, muito Atração Fatal pro meu gosto, com a Glenn jogando tudo no chão e quebrando o quarto. Admito que considero Atração Fatal (de 1987) irresistível, mas convenhamos: ele é machista que dói. É um dos símbolos do backlash de que a Susan Faludi fala, daquele movimento conservador dos anos 80 para tentar (re)colocar a mulher no seu devido lugar (em casa, cuidando dos filhos). Não quero me estender sobre Atração Fatal, porque merece um post só pra ele. Mas Ligações faz com que uma mulher forte e decidida literalmente tropece no final, e isso, no contexto da década de 80, parece mais um tapa na cara do feminismo.
No fim do filme, a Marquesa está na ópera, e todo mundo passa a vaiá-la. E o que é pior, ela tropeça ao se retirar (veja o final aqui). O desfecho dado à Marquesa em Segundas Intenções é igualmente reacionário, bastante diferente do que acontece com a Annete Benning em Valmont (no próximo post sobre a "trilogia" discursarei sobre ele).
Em Ligações, o filme, só a Marquesa é punida (tá, o casal Visconde-Marquesa morre “por amor”, então não conta). Compare com o que ocorre na peça: a Marquesa e suas amigas jogam cartas, enquanto aparece uma guilhotina ao fundo! Com essa guilhotina no fim da peça, existe a implicação óbvia que sua hora tá chegando, aproveite bem porque tá pra acabar. Não só pra Marquesa, mas pra toda a nobreza. E esse é um final muito mais político que o do filme, que condena uma mulher. O fim, fim mesmo do filme termina com a Marquesa chorando e calmamente retirando sua maquiagem, mas insisto: o mundo desaba apenas pra ela. Totalmente distante da peça, em que ela continua com seus rituais, como jogar cartas com as amigas, e só diz: “Foram semanas tristes, mas o ano está acabando, o século está acabando, e tempos melhores virão”. E aí vemos a sombra da guilhotina.
Mas nem tudo são flores nessa versão mais premiada do romance epistolar do Choderlos de Laclos (ou da peça do Christopher Hampton). Pra começar, acho que falta química entre o Visconde do Malkovich e a Madade da Michelle. Fica difícil acreditar que ela se apaixona por ele, sendo que ele é tremendamente falso com ela. Em Valmont, pelo menos, além do Visconde ser interpretado por um irresistível Colin Firth, o personagem faz algum esforço. É galante com ela, organiza um piquenique-surpresa, contrata uns camponeses pra tocar música, se joga num lago. E já falei que ele é a cara do Colin Firth? Eu também me apaixonaria. Mas o Malkovich, sei não. Suas cenas com a Michelle são seguramente as menos convincentes.
Ahn, quer dizer, as menos convicentes depois de todas que envolvem o Keanu Reeves, pobre alma. Keanu faz o Danceny, e ele tá fraquinho que só. Mas nem tanto como em Drácula, que é hors concours. O pessoal fala que a pior atuação num filme do Coppola é a de sua filha Sofia – hoje a diretora consagrada de Encontros e Desencontros, Maria Antonieta, e Somewhere, que acabou de ganhar o Festival de Veneza e será indicado ao Oscar - em O Poderoso Chefão 3. Eu acho que é a do Keanu em Drácula, fácil fácil. E lógico que ele não é o melhor ator do universo, digamos (ah, ele faz um ótimo Neo em Matrix, vai), e que teve um início conturbado, digamos de novo. Mas num filme (muito conservador) que eu amo, Parenthood – O Tiro que não Saiu pela Culatra (pior subtítulo ever?), Keanu tá convincente e faz rir. O problema talvez é que seu papel em LP é impossível. Danceny é um estúpido. Ele só nasceu pra ser manipulado (pelo menos nessa parte. Com seu “amadurecimento”, que ocorrerá no final, ele vira um completo idiota. Falarei mais do personagem ao tratar da versão de 89, Valmont, em que Danceny é interpretado por um Henry Thomas ainda muito jovem, sete anos depois de protagonizar ET. Parece um menino). Cecile é bobona e tal, mas ela tem mais cenas, e mais ambiguidade. Talvez se a gente visse Danceny na cama com a Marquesa, como vemos Cecile com o Visconde, ele subisse no nosso conceito. Ah, em Segundas Intenções (99) Danceny é o único negro da história, mas nem assim fica mais interessante.
E não acho que a Uma Thurman como Cecile tá muito bem. Prefiro a Fairuza Balk de Valmont, que é mais infantil, mais ativa. A cena em que a Uma ri quando Valmont lhe revela que já transou com a sua mãe está muito superficial. É uma risada incrivelmente falsa, que não funciona ― a menos que Cecile esteja fingindo pra Valmont que está rindo (mas por que estaria?). Incrível é que quem quase conseguiu o papel de Cecile em Ligações foi a Drew Barrymore, que tinha apenas 13 anos na época (e um histórico já de uma infância sofrida pós-ET).
Tampouco gosto do rumo que toma a Marquesa. Quando o filme chega na sua hora final, a Marquesa vai jogando fora suas nuances e vira apenas uma mulher ciumenta. Ela não suporta que Valmont goste mais da Madame do que dela. Fica enciumada quando ouve que Danceny foi correndo pra Cecile. É aí que nos lembramos que a vingança que alavanca o filme é dela contra seu amante, no começo.
Anteontem uma leitora perguntou por que eu considero feminista o discurso da Marquesa pro Valmont (em que ela diz que é a vingadora do seu sexo). Eu respondi nos comentários:
Porque a Marquesa tem plena consciência do papel da mulher na sociedade, porque ela sabe que não está numa posição privilegiada em termos de gênero, e porque ela buscou uma saída para lidar com a situação. Ela se considera uma visionária! Não sei, querer dominar os homens e vingar as mulheres pode ser considerado uma atitude feminista, não pode? O que não quer dizer, obviamente, que todas as feministas queiram isso. E não quer dizer aquela outra besteira que tanta gente diz, que o feminismo é o reverso do machismo. Não é a mesma coisa uma mulher querer dominar um homem de um homem querer dominar uma mulher. No primeiro caso é uma transgressão, no segundo é o padrão, é o que a sociedade espera tanto do homem quanto da mulher. A Marquesa inventa formas de fuga. Ela faz de tudo pra aprender, inclusive consultar especialistas em cada área. Quer vencer a qualquer custo. Não estou dizendo que ela está correta ou que a apoio (pô, ela é a vilã da história, mais que o Visconde, que em muitos casos é apenas um “inocente útil”), mas ela tem poder porque aprendeu a observar. Ela é uma total manipuladora ― o que, mesmo sendo uma característica negativa, um defeito, não deixa de ser um poder e tanto num mundo dominado por homens. E tem aquilo também que não está nesse diálogo, mas nos filmes, no romance e na peça, o tempo todo: a Marquesa está bem à frente do seu tempo no que se refere a sua liberdade sexual. Ela sabe que, sendo hipócrita e mantendo as aparências, ela pode transar com quem quiser (homem ou mulher), e ter quantos amantes quiser, mesmo estando casada (ela diz isso para Cecile). Ela é viúva, e se recusa a casar de novo porque não aguenta o “tom marital” dos maridos. Parece bastante feminista pra mim. A resistência da Marquesa em aceitar as condições da mulher na sua época a faz feminista. Ela deseja abalar, destruir. É um perigo pro status quo (não o socio-econômico, mas o do homem como padrão dominante).
Pois bem, creio piamente que a Marquesa da Glenn Close (ou a do Hampton) é feminista. E, por isso, é muito, muito lastimável que ela seja aniquilada no final do filme. O fim é muito século 20, muito Atração Fatal pro meu gosto, com a Glenn jogando tudo no chão e quebrando o quarto. Admito que considero Atração Fatal (de 1987) irresistível, mas convenhamos: ele é machista que dói. É um dos símbolos do backlash de que a Susan Faludi fala, daquele movimento conservador dos anos 80 para tentar (re)colocar a mulher no seu devido lugar (em casa, cuidando dos filhos). Não quero me estender sobre Atração Fatal, porque merece um post só pra ele. Mas Ligações faz com que uma mulher forte e decidida literalmente tropece no final, e isso, no contexto da década de 80, parece mais um tapa na cara do feminismo.
No fim do filme, a Marquesa está na ópera, e todo mundo passa a vaiá-la. E o que é pior, ela tropeça ao se retirar (veja o final aqui). O desfecho dado à Marquesa em Segundas Intenções é igualmente reacionário, bastante diferente do que acontece com a Annete Benning em Valmont (no próximo post sobre a "trilogia" discursarei sobre ele).
Em Ligações, o filme, só a Marquesa é punida (tá, o casal Visconde-Marquesa morre “por amor”, então não conta). Compare com o que ocorre na peça: a Marquesa e suas amigas jogam cartas, enquanto aparece uma guilhotina ao fundo! Com essa guilhotina no fim da peça, existe a implicação óbvia que sua hora tá chegando, aproveite bem porque tá pra acabar. Não só pra Marquesa, mas pra toda a nobreza. E esse é um final muito mais político que o do filme, que condena uma mulher. O fim, fim mesmo do filme termina com a Marquesa chorando e calmamente retirando sua maquiagem, mas insisto: o mundo desaba apenas pra ela. Totalmente distante da peça, em que ela continua com seus rituais, como jogar cartas com as amigas, e só diz: “Foram semanas tristes, mas o ano está acabando, o século está acabando, e tempos melhores virão”. E aí vemos a sombra da guilhotina.
Mais uma otima analise.
ResponderExcluirAdoro esse filme mesmo.
Acho que vou reve-lo esse fim de semana.
E nobreza é nobreza, heheeh
Oi, Lola, gostei deste post porque ele aborda uma parte que estava me incomodando um pouco sobre o primeiro. Sobre o feminismo.
ResponderExcluirEu não vi esse filme, mas li o livro e assisti Segundas Intenções e achei que ambos fossem tudo, menos feministas.
Quero dizer, a personagem da marqueza pode até ser feminista, mas há uma tentativa óbvia de desmascará-la, de criminalizá-la. Em ambos, as personagens boas são as moças boazinhas, inocentes, virgens, enquanto a mulher independente e sexualmente liberada é a vilã, que arma todas, se droga e, claro, se ferra no final. Sempre tem essa tentativa de associar a liberdade feminina a coisas negativas.
Sem contar que outra coisa que me incomoda, pelo menos no filme Segundas Intenções, é que o carinha, no final, se redime, né? Ele realmente se apaixona pela menina (isso não ficou muito claro para mim no livro. Se ele realmente passou a gostar dela ou se ele continuou fingindo) E é uma coisa que eu vejo muito nos filmes de adolescentes. O homem vai lá, transa com não sei quantas, trai, aproveita a vida, faz apostas, mas tudo bem porque depois ele se arrepende e ganha a menina no final, mas, à mulher, nunca é dada essa chance. Uma vez p**ta, sempre p**ta.
Vi esse filme há um tempão, não me lembrava direito do que acontecia. Na minha cabeça até a marquesa terminava por cima.
ResponderExcluirLendo teu post agora lembrei de uma entrevista com aquela Michelle Rodriguez, que fez a piloto em Avatar e tava no Lost também, dizendo que a personagem dela sempre morria, porque os roteiristas não sabiam o que fazer com personagens assim - mulheres fortes e independentes - então acabavam matando.
concordo totalmente...a atitude da marquesa é feminista pra karai...mas o filme é machista. O final é uma porrada na mulher que OUSOU ser contra o mundinho dominado pelos machos e pelas mulhersinhas deles. Provavelmente um dos vários backlash hollywoodianos da época.
ResponderExcluirExcelente análise. Discordo um tantinho no que se refere à interpretação da Uma, acho coerente a personagem meio superficial, dada a educação rasteira e a pobreza de vida afetiva que ela teve oportunidade de ter, gosto do ar meio abobalhado e a repentina sagacidade em alguns olhares. Também acho que o filme é machista na sua acintosa punição à Marquesa, mas - confesso - gosto da intensidade da cena final em que ela limpa o rosto. Gosto muito. Um filme que não canso de rever e uma personagem que não deixo de admirar.
ResponderExcluirEu lembro bem do fraco Segundas Intenções.
ResponderExcluirEnquanto o cara se redime pelo amor a uma boa moça, a Buffy vai ficando cada vez mais uma vilã desesperada. E no final é "colocada em seu lugar".
Lola, adorei o comentário final, sobre a guilhotina na peça teatral. Porque, no fim das contas, aquele mundo todo ruiu: nobres perderam a cabeça e o poder, e isso fica claro também nas mudanças de costumes.
ResponderExcluirO mundo pós-revoluções burguesas é o mundo da moral burguesa, que a mulher é subjugada ao máximo, relegada ao papel de mãe, sem direito ao prazer ou a ser dona da própria vida.
E a foto da Cecile tocando harpa é interessante, pois 50 anos depois esse seria considerado um instrumento musical "indecente" para uma mulher. Olha pra onde o mundo andou... :-(
Lola, a primeira vez que vi esse filme era bem jovenzinha.Não sei se tinha capacidade para entender toda a sua complexidade na época mas é uma das minhas referências em matéria de filme. Me lembro
ResponderExcluirque o que mais me atraiu em Ligações Perigosas,foi justamente essa medição de forças entre a Marquesa e o Visconde. Achava fascinante esse jogo de "gata e rato".Não me lembrava do final, muito "borocoxô" por sinal.Quer dizer,a mulher que ousou ser à frente do seu tempo,terminou mal,sozinha e amargurada.O homem,apesar de sua canalhice,recebe como troféu a mocinha da história? Ahhh,tá!!
Ah,esqueci dos atores:Glenn Close e Malkovich simplesmente brilhantes.Eram os meus preferidos na época,junto com Antony Hopkins e Meryl Streep.
Adorei esse revival!!
É, você viciou no filme... hahaha
ResponderExcluirEu ainda não vi, mas verei...
Faz parte do backlash sim!
ResponderExcluirTinha um post que a Marjorie Rodrigues(saudades do blog dela!!) fez, falando do segundas intenções, que o cara termina como bonzinho e a buffy como a "vadia-drogada-culpada-por-tudo". grrrrrr.
''Não é a mesma coisa uma mulher querer dominar um homem de um homem querer dominar uma mulher.''
ResponderExcluiruhahuaahuahuauhaahuauhahuahu
Piadista! Só pq vc quer que não é a mesma coisa. Depois dizem que feminismo nao é o machismo da mulher.
Maravilha..
ResponderExcluirbjs
Insana
Ontem cheguei mais cedo em casa e acabei assistindo o filme que já tinha baixado.
ResponderExcluirLola, adorei! Já tá na minha listinha de filmes preferidos. Tinha trauma do Malkovich por causa do Quero ser John Malkovich, mas voltei a gostar dele de novo, rs...
Sobre as atuações, acho que o show que é dado por Glenn Close e pelo Malkovich, deixa o nível tão alto que fica difícil pra Michelle Pfeiffer acompanhar. Os outros que estavam iniciando então... Mas o roteiro, a arte e as outras interpretações são tão boas, que pouco atrapalha.
Sobre o fim da marquesa, bem melhor se comparado a Segundas Intenções... Em Segundas Intenções o cara morre mas fica como bonzinho arrependido no final, quando nem parece que se arrependeu, apenas não fez mal a uma mulher por quem se apaixonou, até aí super normal.
Já no Ligações ele morre, mas sem essa pecha de herói de última hora, prejudica não somente a mulher que ama, mas continua prejudicando outras sem o menor peso na consciência... Se vivessem e ficassem juntos, ele seria apenas um homem apaixonado, mas de péssimo caráter em relação às outras ainda.
Não achei que no fim a marquesa vira apenas uma mulher ciumenta. A leitura que fiz, é que no fim das contas ela também queria destruir o Valmont desde o princípio. Quando ela diz "nasci pra dominar o seu sexo e pra vingar o meu" a impressão que me passa é que ela não quer se vingar apenas do amante que a abandonou, mas de qualquer homem que passar na sua frente. Ela joga com todos e quer vencer a todos.
Realmente a marquesa é bem consciente da desigualdade entre os sexos, então nesse ponto ela é bem feminista sim.
Só que ela não quer mudar nada, então acho que o feminismo dela pára por aí...
Bjus Lola e adoro suas críticas! Se puder, dê mais sugestões de filmes antigos pra gente. Não sei você, mas ando tão desanimada com esses filmes atuais...
Adorei o filme. Por mais vilã que seja, a Marquesa virou uma heroína pra mim. Certamente, o final na peça é muito mais interessante que o do filme...
ResponderExcluirFiquei em dúvida se a Marquesa era casada ou não; só tive mais certeza na fala sobre o "tom marital" do Visconde, a qual eu achei a MAIS FEMINISTA DE TODAS. Não sei, é como se ficasse implícito que ela se casou apenas para não chamar atenção - e conseguir ter todo aquele poder - e quando ele morreu, começou realmente a viver e a não depender mais dos homens.
É claro que o amor pelo Visconde a derrubou. Quer dizer, eu acho que era amor. Quando ela derruba todas as maquiagens, no fim do filme, é porque recebeu a notícia da morte dele? Imagino que sim...
"One of the reasons why I never remarried were the determination NEVER AGAIN to be ordered around." - Adorei a line.
Lola, outra linha claramente feminista da Marquesa é essa:
ResponderExcluir"Haven't you had enough of bullying women for the time being?" - Eu fiquei de boca aberta quando ela disse isso. Embora seja um pouco hipócrita, visto que ela "apadrinhava" a maioria das conquistas do Visconde.
Gostei muito do seu post, especialmente dos detalhes sobre a peça, com a guilhotina ao fundo. Realmente, muito melhor! Apesar de achar os dialogos da Marquesa e do Visconde um classico da psicologia sobre a criaçao das mascaras para sobreviver à dor, discordo que Madame Merteuil, fosse uma "vingadora do sexo feminino". Nao passava de uma mulher ressentida que utiliza a manipulaçao para exercitar o poder e nao vacilava em destruir a vida de outras mulheres neste jogo sedutor. Como tantas que vemos até hoje... Abraçao
ResponderExcluirA Marquesa nao tinha nada de feminista! Era uma obcecada pelo poder, tanto quanto os homens, e apesar da mascara e do discurso de "vingadora do sexo feminino", nao passava de uma mulher ressentida que utiliza a manipulaçao para exercitar o poder e nao vacilava em destruir a vida de outras mulheres neste jogo sedutor. Como tantas que vemos até hoje... Abraçao
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBem, no final do filme, a Isabelle de Merteuil é punida pela sociedade tao hipocrita quanto ela mesma. A velha maxima dos eventos exteriores trazendo à tona o nosso mundo interior... E o casal Valmont e Madame de Tourvel "morrem por amor", um blablabla basico da interpretaçao descuidada do comportamento humano infestando a literatura, cinema, musicas e pinturas e responsavel pela manutençao da imagem distorcida do amor.
ResponderExcluirAo olharmos por tras da imagem do clichê de "morrer por amor", percebe-se claramente outras intençoes no casal apaixonado do filme, o Visconde Valmont e a Marquesa de Tourvel. Ele, agindo através da obstinaçao, traça um plano para vencer e destruir a reputaçao da Marquesa de Merteuil: atira-se sobre a espada do Cavaleiro Danceny, num suicidio arquitetado. Como parte do plano, ele entrega as cartas que tornarão publico o carater de Isabelle de Meurteil. Uma vez morto, nao sofre os julgamentos da sociedade, nao precisa encarar o deboche de todos, o que torna a vingança mais certeira. Sagaz, nao? Mas que surpresa o Vinconde de Valmont nao deve ter tido ao se deparar com a propria consciência e constatar que tudo nao passou de vaidades e oportunidade desperdiçada... E Madame de Tourvel, morre de angustia por ter descoberto que sua mascara de mulher fiel e religiosa sucumbiu aos galanteios de um sedutor sem escrupulos e vaidoso. E talvez, tenha morrido mesmo é de medo que todo mundo descubra seu pecado, que para ela foi imperdoavel...
E, no entanto, todos acham que agiram por... amor!!!!!!!!!!!!!
Para ler o post na integra: http://patricianascimentodelorme.blogspot.fr/2012/07/o-principio-feminino-distorcido.html
abraçao
Adorei o post sobre o filme. Gleen é sempre sinônimo de arraso na tela, então não é surpresa que sua Marquesa seja esta criatura tão fascinante. Gostei das suas considerações sobre o final da Marquesa, mas acho que tudo entrou em sintonia com a história: ela buscou dominar uma sociedade e se julgou acima na arte da Manipulação do que o Visconde. O que ela não previu é que ele estava disposto a morrer (e morreu) para se redimir com a (provável) única mulher que amou (e que tbm morre de coração partido). Acho que o final do filme é ambíguo, prq vemos ela despindo a maquiagem, a máscara de nobreza e classe que ela usava para conquistar e dominar. Despida, até mesmo da dureza emocional que ela exalava, a Marquesa estava, ao mesmo tempo, livre e condenada - a si mesma e aos seus pensamentos.
ResponderExcluir