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quarta-feira, 9 de julho de 2008

CRÍTICA: HANCOCK / Mais sobre a bomba que voa

Hancock não tem cura. Nem com uma loooonga sequência se passando no hospital.

Mesmo depois que chamei Hancock de Manifesto Capitalista, ainda pode ter um ou outro ingênuo querendo saber: “Tá, entendi, mas você gostou?”. Não, né? A mensagem é de doer, mas não é só isso. Hancock parece três filmes em um. Muda muito de tom e, como o longa é curto (uma hora e meia), não dá pra desenvolver o clima de cada uma das partes. Eu tinha criticado o trailer por contar demais da trama, não tinha? Errei! O trailer só conta o primeiro ato. Tem muito mais. Quando chega a segunda parte, a platéia onde eu estava perguntou: “What the f***?”. Fica estranho pacas.

Nenhum dos três atos é satisfatório, mas ao menos a primeira parte, que “discute” (modo de dizer) a responsabilidade de um herói, é interessante. Alguma cidade realmente iria querer um herói mal-educado, beberrão, que a cada “missão” causa um preju imenso? Hancock vive em Los Angeles, e lá pelas tantas alguém lhe implora: “Vá pra Nova York!”. Faltou tocar a musiquinha da Tina Turner, “We don't need another hero” (não precisamos de outro herói). Ou seja, Hancock, por favor, vá embora. Não queremos ser salvos por você. Olha, não gostei de Team America, e é até um clichê o que eles mostram, mas é o que vemos nos filmes de Hollywood: pra parar um grupinho de terroristas que vai explodir uma bomba em Paris, o serviço americano entra em ação, e mata os terroristas. No processo, derruba a Torre Eiffel, detona o Louvre... Hancock não é diferente. No fim ele vira bonzinho, mas a que custo? Metade da lua ocupada por um logotipo?

O Will Smith tá lindão, e ele quase sempre é o melhor (único?) motivo pra se ver os arrasa-quarteirões que estrela. Ele é carismático, divertido, e tá ficando mais bonito com a idade. A Charlize Theron só aparece em closes, o que dá nos nervos. Quem tá mais simpático no filme é, disparado, o Jason Bateman, ídolo teen nos anos 80, astrinho da TV, que viu sua carreira no cinema ressuscitar com Juno. Há muito mais química entre ele e Will que entre ele e Charlize ou entre Will e Charlize. Só que, quando o filme se perde, essa química que prende a atenção se perde também.

Sinceramente, sabe o que eu acho que aconteceu? Os homens que fizeram Hancock devem ter filmado muito mais (tem um monte de cena no trailer que não tá no filme), mas viram que o resultado final não agradou, e pensaram: “Vamos cortar tudo e fazer um filme curto. Assim pelo menos os cinemas podem realizar várias sessões, e vendemos mais ingressos no final de semana. Quando o boca a boca condenar o filme, será tarde demais”. Tomara que a estratégia dê certo. Seria a única chance de salvação de Hancock.Vamos disfarçar a cara de nojo e fingir que o filme é bom.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

CRÍTICA: HANCOCK / Hancock, o manifesto capitalista

- E meu símbolo é a águia. Isso lembra alguma coisa?

O mais recente filme de super-herói, Hancock, tem tudo pra agradar... a direita cristã. Só não sei se eles verão a aventura, já que não são muito chegados a negros, ou a Hollywood. Mas tô falando sério: Hancock segue à risca o manual do que as pessoas mais retrógradas dos EUA gostam. Senão, vejamos:

- os primeiros vilões que nosso super-herói desleixado (feito pelo Will Smith) tem que combater não são americanos. Não sei a que nacionalidade pertencem - provavelmente são imigrantes ilegais que vieram trazer o crime organizado à América (porque este seria um país sem marginalidade, se não fossem os imigrantes). Enquanto ameaçam Hancock com armas, falam numa língua estrangeira, mas quando o herói vira a mesa, eles imploram em inglês. Hancock desdenha de um marginal: “Ah, agora você fala inglês?!” Essa é uma queixa frequente da direita cristã contra os imigrantes, que eles nem aprendem inglês.

- o bully que atormenta o menininho americano tão querido é francês. E fala inglês com sotaque risível. Ou seja, é um outro imigrante nojento. Americano odeia francês com todas as forças desde que a França foi contra a invasão do Iraque. Naquela época, muitos ianques decidiram trocar o nome das batatas-fritas, French fries, para freedom fries (batatas da liberdade). Eu não tô inventando.

- a direita cristã tem certeza absoluta que os gays arderão no fogo do inferno, e Hancock, pra não decepcioná-la, tá cheio de homofobia. Não vou nem mencionar a gag asquerosa do herói enfiando a cabeça de um detento no bumbum de outro, que tá no trailer. Quando o Jason Bateman, relações públicas do herói, mostra pra ele capas de revistas de super-heróis, Hancock chama todos de “homos”. Jason concorda.

- Jason tá preso num engarrafamento, e vem vindo um trem em sua direção. Tá, é chato, o carro será destruído, mas é só um bem material. Não é tão importante quanto a própria vida. Jason deixa pra abandonar sua propriedade no último segundo. Quando finalmente tenta sair, fica preso no cinto de seguraça. Por que isso é de direita? Porque os conservadores odeiam que o governo meta o bedelho em suas vidas, e continuam reclamando da lei que obriga o cinto e prevê multas pra quem não usa. Eles dizem: “a vida é minha, se alguém bater em mim e eu morrer, o problema é meu” (sendo que acidentes de trânsito custam caro pra saúde pública, que mal existe nos EUA). Logo, pra justificar essa ojeriza ao cinto, que representa a falta de liberdade e a intromissão do Estado, inventam que cinto causa a morte. Hancock bate palmas pra essa concepção.

- frente ao estrago causado pelo herói, uma mulher diz que deveria processá-lo. O super responde: “Processe o McDonald's. Ele estragou você”. A direita detesta essas ações judiciais contra grandes corporações. Se você fuma e isso causa câncer de pulmão, problema seu. Se você come junk food e isso aumenta seu colesterol, idem. Não culpe as empresas, tadinhas, que só querem o seu bem (e uns trocadinhos).

- esse pessoal que ajuda baleia encalhada não tá com nada. Ecologistas, Greenpeace e afins só atrapalham os negócios e a humanidade, e a direita os chama de econazis. Hancock vê um bando de desocupados tentando salvar uma baleia e não hesita: joga a pobre lá longe no mar. Na vida real, a direita tem camisetas com trocadilhos do tipo “Pave the whales” (“Pavimente as baleias”, ao invés do conhecido “save”, “salve as baleias”). Nosso herói mostra que, entre salvar e pavimentar uma baleia, ele fica com a segunda alternativa.

- polícia não serve pra nada. A segurança de cada um deve ser responsabilidade do indivíduo. No caso do filme, tudo depende do super-herói. Na vida real, na falta de um super, a direita usa armas de fogo. Assim o indivíduo pode aproveitar e unir o útil ao agradável: se defender e ainda fazer justiça com as próprias mãos, condenando todos os delinquentes à pena de morte (como faz Hancock. É até estranho ver, na prisão, gente que ele colocou lá. Ahn, colocou como? Com a suavidade que lhe é peculiar? Ele destrói tudo que toca!).

- mulheres são maltratadas no filme. Hancock agarra uma mulher que passa na rua. No início, várias são chamadas de “bitch” pelo herói. O público jovem e masculino na sessão que eu fui delirou (depois, quando a aventura fica séria, deu pra notar que o nível de energia cai). Mas a mensagem maior é clara: não importa quão talentosa e poderosa uma mulher pode ser, ela deve abdicar da carreira pra cuidar da casa. Exatamente o que a direita cristã prega. Ah sim, se você for dona de casa, peça ajuda a seu marido pra abrir uma lata, mesmo que você possa abri-la sozinha. Pra ele se sentir machão.

- o romance interracial não acontece exatamente, pra não ofender a direita racista. Will Smith e Charlize Theron se beijam? Porque eu não vi. E sabe porque isso não é mostrado? Porque a Charlize é branca, e o Will, negro, e esse é um grande tabu nos States. Se a personagem da Charlize fosse negra, a gente veria o beijo. Mas aí o marido dela, o personagem do Jason Bateman, também teria que ser negro. E com mais todos os presidiários e bandidos negros que há no filme, pô, seria demais. Aí que a direita cristã não compareceria aos cinemas mesmo.

- Hancock fecha com chave de ouro sua cota de bajulação à direita. No final, o herói deixa uma marca vermelha na lua. Sério, pense em metade da lua coberta com o logo da Nike, por exemplo. Neste caso é a marca que o Jason tá promovendo. Suponho que o diálogo entre os roteiristas do filme deve ter sido assim:

Roteirista 1: “Mas não fica meio chato a gente colocar o logotipo de uma empresa privada na lua?”

Roteirista 2: “Não, imagina! A Amazônia ainda não é nossa, porque tá dentro de um outro país. Mas a lua, come on, não resta dúvida. Tem até a nossa bandeirinha lá. Chegamos primeiro!”

Roteirista 1: “Verdade, mas a gente não tá colocando nossa bandeira lá. Tá colocando uma marca.”

Roteirista 2: “É pro bem da humanidade, tipo quando pousamos lá! Relaxa, ninguém vai achar ruim. O público até hoje pensa que À Procura da Felicidade é sobre a elevação do espírito humano, e não uma defesa deslavada do capitalismo selvagem!”

Mais crítica de Hancock aqui.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

CRI-CRÍTICA DE TRAILER: HANCOCK

Leia as críticas do filme aqui e aqui.


Gostei do trailer. Não sei se vou gostar do filme, porque ele parece misturar demais os gêneros pro meu paladar.
Anyway, esse mix de aventura de ação, comédia e até drama social (o protagonista é alcoólatra) estréia nos EUA e no resto do mundo, incluindo o Brasil, no feriadão de 4 de julho,
dia da independência americana. Will Smith está acostumado a lançar arrasa-quarteirões nessa data disputadíssima. Depois de Independence Day, Bad Boys e Men in Black, não é à toa que ele ganhou o apelido de “Mr. July”. E ele tem tanta certeza do sucesso de Hancock que fala pros repórteres que esta será a maior bilheteria da sua carreira. Uma declaração pra lá de ousada, até porque seus filmes só perdem em arrecadação pros do Tom Cruise.

Numa temporada de verão tão recheada de super-heróis, é interessante ver um trailer em que o super da vez, pra começar, é negro (coisa nada frequente), e, pra continuar, não é nada perfeito. Um carinha que bebe demais, chama garotos de “quatro olhos”, “gorducho” e “maricas”, e joga baleias de volta ao mar não seria nunca o meu herói (eu mais ou menos perdôo a crueldade com a baleia porque algo assim jamais aconteceria na vida real). Entra então o relações-públicas feito pelo Jason Bateman (que revitalizou sua carreira com Juno), que acha que pra melhorar a imagem do Hancock, só mandando-o pra cadeia. Nessas horas a homofobia vem à tona, com uma gag totalmente asquerosa do herói colocando a cabeça de um detento no bumbum de outro, se eu entendi direito (repare nos sons! Espero que no filme completo esta cena dure exatamente o mesmo tempo). A criminalidade na cidade aumenta e Hancock é chamado pra salvar o mundo. As piadas com os figurinos dos heróis parecem meio batidas a essa altura, mas é engraçadinho o Will dizendo “Não vou vestir isso” (lembra o “I make this look good” de Men in Black) e explicando que o traje tá um pouco apertado. Repare também na cena em que ele, voando, cruza um prédio - e me diga se ela não remete ao atentado do World Trade Center. Não tem como isso não ser proposital. Ah, gosto de quando o super declama o manual do politicamente correto antes de resgatar uma mulher.

E por falar em mulher, tem uma que surge em alguns pedacinhos do trailer e que eu nem reconheci. É a Charlize Theron. Pelo que li, ela faz a esposa do Jason e talvez se envolva com o herói. Opa, relacionamento interracial? Não vai estar no trailer mesmo! Se estiver no filme já vai ser lucro. Na realidade, o que sugere que a Charlize será o interesse romântico do herói é a ausência de uma personagem negra. Porque trama de Hollywood segue sempre o mesmo roteiro: o único carinha negro do filme vai se juntar com a única mulher negra do filme. Eu achava que o trailer de Hancock contava demais a história, mas toda essa lacuna sobre a parte romântica mostra que não é bem assim.
Quanto a “Ele vai salvar o mundo... Mesmo que nós não queiramos”, essa é uma mensagem direta demais sobre o imperialismo americano. Disso eu não consigo rir. Mas no
ta 4 pro trailer em geral.

Eu ia escrever sobre o trailer de The Women, que vi no cinema faz dez dias. Mas não encontrei uma versão legendada em português. Se souber de alguma, me avise. E se quiser que eu critique um trailer, pode sugerir (de preferência, mande o link pro trailer com legendas em português).