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quinta-feira, 3 de novembro de 2022

POR QUE BOLSONARO PERDEU A ELEIÇÃO?

Porque deus é brasileiro. Porque o país (e quiçá o mundo) não sobreviveria a mais quatro anos com ele. Porque ele realmente foi o pior presidente da história do Brasil. Porque ele concorreu contra Lula (se fosse contra qualquer outro adversário, Bolso teria ganhado, possivelmente já no primeiro turno. Sim, até se fosse o Ciro, vulgo 3%). 

Como a diferença foi minúscula, pouco mais de 1%, apenas 2,1 milhões de votos a menos, e como um candidato nunca havia perdido uma reeleição até domingo, muito se falará sobre os motivos da derrota. Afinal, Bolso estava em campanha pra reeleição desde 2019. Ele tinha (tem ainda) toda a máquina pública a seu favor. Ele conseguiu aprovar em julho num Congresso totalmente comprado pelo orçamento secreto (bolsolão), o maior esquema de compra de votos já visto. Fora toda a compra de votos já clássica e conhecida, como esta flagrada por Caco Barcellos em Coronel Sapucaia, MS. 

Uma reportagem do jornal gaúcho Zero Hora perguntou a quatro cientistas políticos o que levou à derrota de Bolso. Eles citaram a perda do poder aquisitivo, o pacote de bondades que fez seus destinatários desconfiarem, a alta rejeição do eleitorado (principalmente o feminino), ele ter feito um governo altamente ideológico (governou só para quem pensava como ele), a perda da simbologia da Lava-Jato (que deixou de existir), inúmeros indícios de corrupção na sua administração e na sua vida pessoal e familiar. E teve também o péssimo gerenciamento que Bolso fez da saúde na pandemia, atrasando a compra da vacina, sendo negacionista até hoje, imitando pacientes com falta de ar, e sendo responsável pela morte de quase 700 mil brasileiros. Tudo isso teve grande efeito no seu fracasso, claro. Mas não necessariamente no segundo turno. Aliás, como escrevi antes, Bolso foi um dos maiores vencedores no primeiro turno. 

Então o que aconteceu nesse menos de um mês de segundo turno em que Bolso conseguiu reduzir a vantagem de Lula de 6 milhões de votos para apenas 2 milhões, e mesmo assim perdeu? Segundo assessores de Bolso que não querem se identificar, ele deveria ter intensificado a campanha em SP, em vez de terminar com uma motociata em BH. Mas os principais "graves tropeços" na reta final da campanha, segundo assessores, foram Carla Zambelli armada nas ruas de SP perseguindo um homem negro desarmado, e a tentativa de adiar as eleições pela denúncia (furada) das rádios.

Poucos dias antes do segundo turno, o secretário de comunicação Fábio Farias anunciou um fato "muito grave": que rádios do Nordeste não veicularam propaganda eleitoral de Bolso. As "provas" eram ridículas. Ainda assim, vários bolsonarentos exigiram que a eleição fosse adiada por no mínimo um mês. Farias logo se declarou arrependido. 

O deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP), líder da bancada evangélica no Congresso e aliado de Bolso, culpou Zambelli (que hoje fugiu para os EUA) pela derrota. Ao ser chamado de traidor por querer se reunir com Lula, o parlamentar disse: "Traição foi a punhalada que o presidente recebeu nas costas com a deputada correndo na rua com arma na mão, talvez por um deslize mental. Cuidar do povo não é traição". A equipe de Bolso calculava que Tarcísio teria 16 milhões de votos para governador, mas acabou com 3 milhões a menos, o que deve ter se refletido na perda de votos para Bolso também. “A Zambelli cometeu a pior bobeira, é gente despreparada. Nossa eleição estava ganha", jura Cezinha. 

Uma semana antes de Zambelli, Roberto Jefferson recebeu a Polícia Federal com 50 tiros e três granadas. Bolso enviou seu ministro da Justiça para negociar sua rendição. O vídeo de um agente rindo com Bob Jeff e chamando os policiais feridos de "burocráticos" não deve ter ajudado. Bolso mentindo na cara dura de que não tinha fotos com Bob e o associando a Lula deve ter soado como um insulto à inteligência até de alguns eleitores não muito inteligentes, apelidados de "gado".

Para Rudolfo Lago, do Congresso em Foco, "Jefferson e Zambelli fizeram retornar ao imaginário das pessoas o pior do governo Bolsonaro. A violência. A intolerância. O desprezo à vida. Que a pandemia de covid-19 evidenciara. Bolsonaro não perdeu a eleição por dois milhões de voto. Ele perdeu a eleição por 700 mil mortes". 

O deputado André Janones (Avante-MG) foi fundamental no segundo turno por usar as armas deles. Várias vezes mentindo, exagerando, ou dando golpes abaixo da cintura, ele foi capaz de colocar o bolsonarismo na defensiva durante todo o mês de outubro. Começou com coisas bem estúpidas, como usar vídeos (verdadeiros) de Bolso em cerimônias maçônicas para chamá-lo de maçon, ou usar uma entrevista (verdadeira, dada ao New York Times em 2017) em que Bolso declara que só não provou carne humana porque nenhum assessor quis ir com ele a um funeral indígena. Aí ele foi chamado de canibal. O esforço era pra mostrar que Bolso não é cristão (e não é mesmo, definitivamente seus valores não são cristãos). 

Pouco depois foi a vez de Bolso dar seu primeiro tiro no pé no segundo turno. Ele disse numa live com torcedores de times de futebol que viu na periferia de Brasília meninas bonitas e arrumadas de 14, 15 anos, e "pintou um clima". Ele já havia contado essa história (mentirosa) outras vezes, associando as jovens venezuelanas à prostituição (elas não eram prostitutas), mas sem o "pintou um clima". Suas explicações não foram nada convincentes. Eu e muitas outras mulheres jamais iremos nos esquecer que houve um presidente da república que disse ter "pintado um clima" com garotas de 14 anos. Bolso sentiu tanto o golpe que correu para fazer uma live na madrugada, e declarou que aquele dia em que foi acusado de pedofilia foi o pior da sua vida (pior que o da facada, pelo jeito). 

Quase ao mesmo tempo, uma reportagem da Folha de São Paulo desvendou que Paulo Guedes, principal ministro de Bolso, tinha planos de propor já no dia seguinte à reeleição do chefe a desindexação da inflação no reajuste do salário mínimo e da aposentadoria. Era um escândalo: na surdina, sem qualquer discussão com a sociedade, o ministro iria, na prática, fazer com que o salário mínimo e as aposentadorias valessem cada vez menos. E isso num governo que efetivamente não deu, em quatro anos, nenhum reajuste real ao mínimo. Assessores classificaram o episódio como desastroso para a campanha e criticaram Guedes. Quantos votos isso deve ter tirado do genocida é difícil mensurar.

Em todas as cem cidades do Brasil que mais recebem o Auxílio Brasil, Bolsonaro perdeu. Isso quer dizer que a maior parte dos pobres sabe votar e não se deixar comprar. Percebeu que o benefício, dado a menos de três meses antes das eleições, era puramente eleitoreiro, e que iria acabar em dezembro. Pegou o dinheiro e votou em quem verdadeiramente diminuiu a pobreza no Brasil: Lula.

Vale a pena registrar que Lula, desde que saiu da prisão, em novembro de 2019, e desde que deu sinais que voltaria a se candidatar à presidência, era o favorito nas pesquisas. Ou seja, durante três anos, praticamente toda pesquisa eleitoral mostrava Lula na frente de Bolso (assim como as pesquisas de 2018). Não deveria ser surpresa a sua vitória. Ainda precisaremos refletir por muitos anos como uma pessoa tão hedionda como Bolsonaro teve 58 milhões de votos. 

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

A GRANDE VITÓRIA DE LULA. E DO BRASIL

Estou imensamente feliz e aliviada com o resultado das eleições!

Ontem pela manhã foi tranquilo. Demos carona para umas amigas que votam na mesma seção eleitoral que a gente. Não tinha quase nada de fila. Tudo muito rápido. Ainda assim, como que para comprovar o boato que os bolsonarentos lotaram as seções de mesários e fiscais para tumultuar as eleições, um fiscal cismou porque, depois de votar, eu tirei fotos na UFC, como sempre faço. Desde quando isso é proibido? Já no primeiro turno um outro fiscal de verde e amarelo reclamou da minha bandeira.

Mas o pior estava por vir. Ao chegar em casa, vi vários relatos no Twitter de pessoas que estavam sendo impedidas de ir ao seu local de votação pela Polícia Rodoviária Federal, algo que nunca vi numa eleição: estradas bloqueadas. Na véspera, o presidente do TSE Alexandre de Moraes havia proibido a PFR de realizar essa operação no dia do segundo turno. O diretor da PRF não só descumpriu a decisão como também, para provocar, colocou seu apoio à reeleição de Bolso nas suas redes sociais. 

Quase metade de todas as operações rodoviárias foram feitas no Nordeste. Coincidência que é bem aqui que Lula tem sua maior base eleitoral, né? Logo ficamos sabendo que essa operação começou a ser articulada na noite de 19 de outubro no Palácio da Alvorada. Foi tudo premeditado, feito para aumentar as abstenções no Nordeste. Como se chama impedir eleitor de votar? É golpe! 

Durou várias horas. Xandão deu uma declaração oficial só à tarde, que foi quando o diretor da PRF finalmente decidiu cumprir sua ordem e parar com a operação. Felizmente, o ministro acabou tomando a decisão acertada, fingindo que as eleições estavam correndo tranquilamente e desprezando o pedido de estender o horário das urnas no Nordeste (que daria chance para Bolso contestar o resultado depois).  golpe não funcionou, os eleitores foram votar, e as abstenções até acabaram sendo um pouquinho mais baixas que no primeiro turno. Ainda assim, foi uma tentativa de fraudar as eleições. Espero que haja investigação e que os responsáveis (e seus mandantes) sejam punidos. 

Detalhe: hoje caminhoneiros apoiadores de Bolso fecharam as estradas em várias partes do país para tentar um golpinho básico e típico. A PRF, intitulada desde ontem a Gestapo de Bolsonaro, não está interferindo. Só se for pra dizer que está do mesmo lado dos golpistas.

Mas voltando ao dia histórico que foi ontem, às 17 horas começou a apuração. Bolso saiu na frente, como esperado, mas com uma margem menor que no primeiro turno. No dia 2, pareceu que levou uma eternidade para Lula virar (e ganhar com 48,43%, contra 43,20% de Bolso). Se seguisse o mesmo ritmo, a virada só viria com 88% das urnas apuradas. Mas veio bem antes, com 67,76% das urnas. Alívio total e grande comemoração nessa virada.

O resultado final foi apertado, aliás, o mais apertado desde a redemocratização: Lula acabou com 50,9% dos votos válidos, contra 49,1% de Bolso. Ambos bateram todos os recordes de votos: Lula teve 60.345.999 votos, e Bolso, 58.206.354. Admito que só me tranquilizei no finalzinho, quando Lula passou Bolso em Minas Gerais e no Amazonas. Os dois estados têm a tradição de sempre votarem no vencedor. 

Lógico que o Nordeste, a região que vota melhor no Brasil, foi a grande fiadora de Lula mais uma vez. Em quatro de seus nove estados (Piauí, Paraíba, Sergipe e Ceará), Lula ganhou em todas as cidades (aproveitando: este mapa é demais. Você procura uma cidade e vê como foi a votação nela). O Piauí foi o estado que mais deu votos a Lula (77%), seguido por Bahia e Maranhão. O que menos deu votos foi Alagoas, e mesmo assim foram 59% pra Lula. Haddad teve um pouquinho a mais de votos no Nordeste em 2018 do que Lula agora, mas a diferença é minúscula.

Mas não dá pra parabenizar só o Nordeste pela eleição de Lula. São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, nessa ordem, são os três maiores colégios eleitorais do Brasil. Em 2018 Bolsonaro teve quase 66% dos votos válidos nesses três colégios. Agora foram "apenas" 54%. Ou seja: Bolso ainda ganhou lá, mas por uma diferença muito menor. Foram 5,4 milhões de votos a menos que o Capetão recebeu no Sudeste em 2022. Ah, e São Paulo, capital, deu vitória a Lula (e a Haddad), algo que nem Rio nem Belo Horizonte fizeram.

Mas é inegável que o placar foi apertadíssimo. Se, no primeiro turno, a diferença foi de 6 milhões de votos a favor de Lula, no segundo essa diferença caiu para pouco mais de 2 milhões. Em outras palavras: se faltou 1,8 milhão de votos pro Lula ganhar já no primeiro turno, faltaram 2,1 milhões pro Bolsonaro se reeleger. Uma miséria. 

Foi por um triz, o que mostra que, se não fosse Lula o candidato, Bolso teria ganhado. E digo mais: teria ganhado já no primeiro turno! Lula disputou contra o maior esquema de compra de votos da história (Bolso deu o Auxílio Brasil de R$ 600 a poucos meses do pleito, e com data pra terminar; deu vale-gás, deu abono a taxistas, motoristas de Uber, deu vale-diesel a quase um milhão de caminhoneiros, baixou a gasolina etc. Uma grande festa com data de validade próxima!). 

Pra quem não sabe, há uma série de regras para tentar impedir que um chefe do executivo (prefeito, governador, presidente) tenha ampla vantagem contra seus concorrentes (não funciona direito: quem está no poder vai ficar inaugurando obras e se valendo da máquina). Por exemplo: aprovados em concursos públicos não podem ser nomeados durante os três antes das eleições até a posse (no caso, entre início de julho e 1 de janeiro de 2023). Mas Bolso conseguiu passar um pacote de bondades de bilhões de reais graças a um Congresso comprado com o orçamento secreto, vulgo Bolsolão, a menos de 3 meses da eleição

E olha só a prova de como os pobres, principalmente os do Nordeste, são inteligentes: eles não se deixaram comprar. Avaliaram que Bolso nada fez por eles em quase quatro anos de governo, e que a PEC era meramente eleitoreira. E continuaram votando em Lula. Mas, pra não dizer que a PEC Kamikaze foi de todo ineficaz, ela quase que com certeza comprou um segundo turno pro Capetão. Sem ela, Lula teria tido o 1,8 milhão de votos que faltaram no dia 2. 

Enquanto Lula fez discursos lindos e inspiradores, prometendo unificar o país e governar para todos os brasileiros, não só para os 60 milhões que votamos nele, Bolso se escondeu no Palácio da Alvorada. Seguindo à risca seu estilo golpista de quem odeia a democracia, ele foi o único a não reconhecer o resultado, parabenizar o vencedor, ou pelo menos agradecer seus eleitores (compare: o governo dos EUA reconheceu a vitória de Lula meia hora após o final da apuração). E, com isso, permite que seus seguidores fanáticos -- muitos deles armados -- continuem a brincar de golpe. 

Em agosto do ano passado, Bolso declarou ter três alternativas para o seu futuro: estar preso, estar morto ou a vitória. A vitória não veio. Eu prefiro a primeira alternativa pra ele, se eu posso escolher. Já Lula disse em abril de 2018, pouco antes de ser preso: "A partir de agora, se me prenderem, eu viro herói. Se me matarem, viro mártir. E se me deixarem solto, viro presidente de novo".

Profético, esse Luís Inácio Lula da Silva.

domingo, 30 de outubro de 2022

É HOJE O DIA MAIS FELIZ

Vamos tirar o genocida do poder e recuperar nossa alegria e confiança no Brasil! Eu voto Lula e vou de vermelho pra seção eleitoral! Por favor, pelo bem do país, não deixe de votar 13!

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

POR QUE NUNCA MAIS VOTAR NO BOLSONARO

Poucos dias antes do segundo turno em outubro de 2018, eu publiquei um post chamado "Por que não votar em Bolsonaro". 

Olhando pra trás, vejo o pouco que a gente sabia sobre esse traste. Lógico que eu e milhões de pessoas avisamos. Lógico que a gente estava certa. Lógico que o post tinha dezenas de motivos para nunca votar num cara desses. Mas, até então, a gente se baseava nas suas inúmeras declarações misóginas, racistas, LGBTfóbicas, e seus quase trinta anos como deputado federal dos mais ineptos. Hoje, depois de quatro anos, sabemos muito mais. Seu governo é uma prova viva da tragédia.

Óbvio ululante que todos os motivos que listei em 2018 continuam: ele defende a tortura e a ditadura militar, defende bandidos (o exemplo que dei foi que, em 1999, ele foi o único deputado que votou contra a cassação de um suplente que matou a deputada Ceci Cunha e toda sua família para ficar com seu mandato), que não seria respeitado no exterior (that's a bingo), que queria armar a população (conseguiu, mas foi uma péssima ideia: 60% das armas usadas hoje no crime vêm dos CACs -- Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador; ou seja, a política armamentista de Bolso armou o tráfico), que é corrupto (naquela época, a gente só sabia da Wal, não dos 51 imóveis que ele e sua familícia compraram com dinheiro vivo),que era (e obviamente continua sendo) apoiado por nazistas e pela Ku Klux Klan, que é uma ameaça à democracia, que odeia mulheres (aqui 95 razões pelas quais nenhuma mulher deve votar em Bolso). 

Alguns motivos para não votar em Bolso nem que a vaca tussa:

700 mil brasileiros morreram de covid. O maior responsável foi o comandante da nação, que tratou a doença como "gripezinho", disse "e daí?" para as vítimas, imitou pacientes com falta de ar, afirmou "não sou coveiro", espalhou (e segue espalhando) todo tipo de fake news (como que cloroquina funcionava e que tomar a vacina fazia virar jacaré), atrasou a compra das vacinas, por pouco não negociou propina de um dólar por vacina, deixou no ministério da saúde por um ano um general incompetente que nada tinha a ver com a área da saúde (e cuja ex-mulher, hoje, revela que ele deu festas durante a calamidade da falta de oxigênio em Manaus). Enfim, um dado só já é suficiente: o Brasil representa 3% da população mundial, mas 11% das pessoas do mundo que morreram de covid eram brasileiras. Como explicar isso?

E não é só: por causa de sua campanha negacionista contra a vacinação, o Brasil (que já foi modelo para o mundo em termos de cobertura vacinal para crianças) corre o risco de voltar com doenças que já estavam erradicadas, como a poliomielite.

Bolso não deu um centavo de reajuste aos servidores públicos durante quatro anos, apesar da inflação anual chegar aos dois dígitos. Foi o único presidente em vinte anos a terminar o mandato sem reajustar salários. Não só isso: seu principal ministro, Paulo Guedes, sempre mostrou seu ódio por nós, nos chamando de parasitas e zombando que jogou uma granada no nosso bolso durante a pandemia. Pense no seu salário valendo no mínimo 30% menos. É a inflação acumulada dos últimos 4 anos. Como tampouco tivemos reajuste no governo Temer, nosso salário está pra lá de defasado. Como um servidor público pode votar no pior presidente de todos os tempos é um mistério pra mim. 

Bolso não construiu universidades nem institutos federais nem creches nem nada. Os investimentos nas universidades públicas caíram literalmente pela metade entre 2019 e 2022. A ciência foi totalmente deixada de lado. Com isso, a fuga de cérebros só aumenta. 

Bolso cortou a verba da educação e da saúde a ponto das crianças em escolas estarem comendo apenas biscoito mofado ou repartindo ovo na merenda escolar. Ano que vem será pior, pois o orçamento já está comprometido. Para a educação infantil, a previsão é de apenas R$ 2,5 milhões, quase 98% a menos que em 2022. Para o ensino médio, o corte previsto é de 80%. 

Bolso vive negando, mas há corrupção de sobra no seu péssimo governo. Orçamento secreto, ou Bolsolão, é muito pior que qualquer mensalão. As somas envolvidas são infinitamente maiores. Tem muita coisa que, graças ao sigilo de cem anos (que Lula promete quebrar), a gente só vai saber quando este governo acabar e quando começarem as investigações. Há vários escândalos no MEC, como pastores que sequer faziam parte do governo cobrando propinas para liberar recursos da educação nas cidades, o que derrubou o ministro da Educação Milton Ribeiro. Esses pastores não agiam a pedido do sinistro, ele mesmo um evangélico, mas de Bolsonaro. Foi isso que Ribeiro declarou numa reunião gravada sobre seu chefe, que havia dito que colocava a cara no fogo por ele. 

Basta comparar: Lula criou o Portal da Transparência. Bolsonaro criou o orçamento secreto, o oposto de qualquer transparência, pra se manter no poder. Sem qualquer prestação de contas, os escândalos de corrupção se multiplicam (como cidades pequenas gastarem milhões para extrair dentes, por exemplo). 

O Brasil voltou ao mapa da fome. Tinha saído em 2014, e agora retornou com força total: 33 milhões de brasileiros vivem em situação de insegurança alimentar. Eram 19 milhões em 2020. Mas, na realidade, 152 milhões de brasileiros vivem com algum grau de insegurança alimentar. Bolso e seus filhos já negaram esses dados diversas vezes, afirmando que é impossível receber Auxílio Brasil de R$ 600 e passar fome. Basta sair às ruas para ver como explodiu o número de pessoas sem lugar pra morar, vivendo nas avenidas, embaixo de pontes e viadutos. 

A mortalidade infantil cresceu: há 11,51 óbitos para cada mil nascidos. A mortalidade materna também: subiu 223%! O governo acabou a verba de vários ministérios, como o da Mulher, Família e Direitos Humanos. Em 2020 o orçamento foi de R$ 100 milhões (que Damares não usou, permitindo que a violência contra as mulheres corresse solta). Sabe de quanto foi este ano? R$ 9,1 milhões

Os planos de Guedes sempre foram conhecidos. Desde 2018 havia o medo que ele acabaria com o 13o, por exemplo. Mas agora ficamos sabendo que, no dia seguinte às eleições, se Bolso ganhar, Guedes iria anunciar seu projeto para desindexar o salário mínimo e as aposentadorias da inflação. Na verdade, durante os quatro anos de Bolso, não houve qualquer ganho real do mínimo. E vale lembrar que a Reforma da Previdência, que diminuiu tremendamente ou acabou com a aposentadoria de todos os brasileiros, foi aprovada durante este governo. Note que ninguém mais fala nisso. Nem Bolso nem nenhum de seus ministros (nem os analistas políticos) apontam a reforma como um dos grandes feitos do governo. 

O desmatamento da Amazônia é um projeto bem sucedido do governo Bolsonaro, que acabou com as fiscalizações, permitindo que terras indígenas fossem invadidas pelo agronegócio, pelo garimpo, pelo crime. O desmatamento cresceu quase 57% no governo que teve um sinistro do meio ambiente acusado de tráfico de madeira e que aproveitou a pandemia para "passar a boiada". Em 2019, no Fórum Econômico Mundial, uma cena constrangeu o Brasil e o mundo: Bolso ofereceu a Al Gore, ex-vice-presidente dos EUA e ativista ambiental, explorar a riqueza da Amazônia com os americanos. 

Muito disso era previsível. Mas realmente havia coisas que a gente nem imaginava. A revelação de "pintou um clima" com meninas de 14, 15 anos, veio só agora no segundo turno. E talvez o pessoal do Rio soubesse da ligação da família Bolsonaro com a milícia, mas, pro resto do país, foi uma surpresa. Em qualquer país do mundo, um presidente que fosse vizinho do assassino de Marielle Franco (e que se reuniu no mesmo condomínio com outro dos assassinos duas horas antes da execução) jamais terminaria seu mandato. 

Seu governo foi tão, mas tão catastrófico que, se você perguntar a seguidores fanáticos dele quais foram suas realizações, eles não sabem responder, ou respondem com fake news, citando obras de Dilma e Lula, ou com besteiras tipo "acabou com o comunismo e a ideologia de gênero" (coisas que nunca foram ameaças no Brasil ou que nem existem). O próprio Bolso não tem resposta. Ao ser indagado qual foi a maior conquista de seu governo, ele disse que foi ter feito as pessoas usarem verde e amarelo. E, se todos os dados provam que a administração foi terrível, pode acreditar: um segundo mandato de Bolsonaro seria muito pior. 

Sinceramente, eu pensava que esta eleição não seria difícil. De um lado, temos um ex-presidente que deixou o governo com 87% de aprovação e que é considerado o melhor presidente da história do Brasil. Do outro, temos o pior presidente da história. Saber que quase metade da população ainda quer dar a ele uma segunda chance me faz desacreditar no país. Mas tenho fé de que domingo sairemos deste delírio coletivo. O Brasil não sobrevive a mais quatro anos desta hecatombe.

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

PINTOU UM CLIMA? TÁ MAIS PRA PINTOU UM CRIME

Ninguém deve se esquecer que, numa live do dia 14 de outubro, o presidente do Brasil fazia o que sempre fez (mentia sem parar) quando, ao narrar a narrativa inventada de que ele viu umas meninas bonitas de 14, 15 anos, "pintou um clima". Bem coisa de pedófilo mesmo. Ele ainda tentou explicar e varrer o assunto pra baixo do tapete, através de processos. Não adiantou.

Pedi pras minhas leitoras no Twitter contarem suas histórias de horror que a fala de Bolso as fez recordar. E coletei algumas pra publicar aqui (veja a parte 2 e parte 3). É história que não acaba mais. A pedofilia, o assédio, o estupro, a violência contra as mulheres precisa acabar. Só tirar o presidente mais misógino de todos os tempos não será suficiente pra que isso aconteça. Mas já é um começo. Neste domingo vá às urnas pensando na sua filha, no seu filho, na sua mãe, na sua esposa, na sua namorada, na sua irmã, em todas as meninas e mulheres, e aperte 13 com força.

"Com 10 anos pegava ônibus para fazer aulas de piano, o senhor de bengala, óculos acinzentados, chapéu preto, calça marrom, esperava eu sentar e em pé ao meu lado esfregava no meu braço. O motorista um dia percebeu e fez ele descer. Nunca contei com medo de ficar sem aula de piano." (Mariazinha)

"Eu devia ter uns 14 anos. Tive que sair correndo e me esconder dentro de uma loja movimentada em um shopping pq um grupo de marmanjos achou divertido sair em bando para encurralar uma adolescente." (Fernanda)

"Qdo eu tinha 8 anos brincava na rua de subir no muro e pular. Um homem passou por mim e disse q ia me ensinar a trepar. Eu sorri e disse q já sabia e mostrei, subindo e pulando. E ele disse: 'Vou te ensinar a trepar com tesão'. Percebi o tom de voz estranho dele e corri pra casa." (Gigica)

"Quando tinha uns 8 anos, estava no ônibus escolar e um motorista de carro emparelhou o carro com a lateral de ônibus, achou que PINTOU UM CLIMA e se masturbou de forma que nós víssemos. O motorista notou e acelerou o ônibus." (Katiane)

"Eu tinha 14 anos e minha irmã 8. Minha mãe pediu q eu fosse de ônibus até o centro, ela nos encontraria lá para fazermos nosso RG. Um homem sentado na nossa frente tirou o pênis pra fora e começou a se masturbar no ônibus lotado. Ninguém fez nada. Eu q gritei e comecei a bater nele." (FernandW)

"Quando eu tinha 12 anos, um senhor de uns 65 anos da igreja dos meus pais, que sempre frequentou minha casa, me abordou na rua e falou que já me amava desde que eu era pequenininha e que agora q eu já estava moça ele queria se casar comigo. Eu fugi e nunca mais falei com ele, peguei um ódio mortal dele nesse dia, pois ele falou q só ia na minha casa visitar meus pais pra me ver e que já sentia atração por mim desde que eu era pequena, que precisava muito de mim, me senti segura quando ele morreu." (Vy)

"Tinha 13 anos, meu pai fazia tratamento de câncer em SP. Minha mãe deixou que eu e minha irmã fôssemos passar o finde na casa de umas amigas. Todos no sofá, vendo filme, o pai delas começa a passar a mão nas minhas pernas. Fiquei paralisada e só muitos anos depois consegui contar." (Jô)

"Aos 8 anos, na porta da casa de uma colega, um velho achou que pintou um clima, pediu uma informação para se aproximar e agarrou a minha mão e colocou no pênis dele." (Gabriela)

"Eu já fiz um relato pesado aqui de estupro que sofri quando tinha 20 anos. Hj aos 47 após ficar viúva (perdi meu marido ano passado pra covid e negligência desse governo) o mecânico de meu marido disse que se eu quisesse poderia pagar o conserto do carro de outra maneira." (Claudia)

"Eu tinha 8/9 anos quando os vizinhos começaram a tentar me tocar, depois que fui crescendo 11 anos por aí, só foi piorando. Foi um assédio atrás do outro." (Wellyna)

"Aos 5 anos sofri a minha primeira violência sexual, através da pessoa que DEVERIA me proteger! Meu pai! Minha mãe alcoólatra não via ou fingia que não via… sei lá! Mas era diariamente os abusos. Tive que casar cedo para me livrar disso, mas graças a Deus eu encontrei um cara parceiro que me ama mesmo com as cicatrizes desses sucessivos abusos! Não consigo ter amigos e não confio em ninguém, além de ter desenvolvido outras situações. Hoje meu pai está ficando cego graças a diabetes. E eu já o perdoei pq não quero perpetuar ódio!" (Larissa)

"Qdo criança e adolescente sofri vários assédios d homens mais velhos. É repugnante e sempre muito constrangedor e assustador. E acredito q esses homens achem normal fazer isso. Acho q a maioria das meninas já passou por algum tipo d assédio." (Sheyla)

"Eu tinha 15/16 anos e estava com uma amiga e a mãe dela no aeroporto, porque ela precisava resolver um problema na passagem dela. Um velho nojento passou e perguntou em inglês: 'Quanto é?' Eu nem entendi o que ele quis dizer, na época." (Claudia)

"15 anos. Estuprada pelo tio do amigo. Que provavelmente me dopou pq pintou um clima tbm! Eu não sei nem definir meu sentimento! Não sei! Que desespero!" (Canhota)

"Tinha 6 anos e vinha da escola. Tinha 17 anos e fui tomar um passe com o dirigente de um Centro Espírita. Tinha 20 anos e fui discutir meu projeto de TCC com um professor. O único 'clima que pintou' em tds essas situações foi de aflição e desespero." (Simone)

"Entre 13 e 14 anos, um tio e um primo me assediaram com falas e gestos obscenos. Foi a duras penas que consegui superar esses traumas. O presidente representa todo esse horror." (Lili)

"Com 6-7 anos era abusada por um tio-avô. Com 9 por um vizinho.  Aos 13 por um cunhado. Todos homens que devem ter achado que 'pintou um clima' com uma criança." (Bora13)

"Eu tinha 11 anos e tive q ser empregada na casa de tios, dormindo lá. Todas as noites, prq pintou um clima, ele tapava minha boca e me assediava. Eu não podia contar a ninguém prq na época diriam q a empregadinha tinha seduzido. Além do mais eu não tinha p/onde ir morar. Absurdo!" (Miriam)

"Eu tinha uns 10 anos, estava na rua com a minha família, de repente um velho me chamou, eu, na inocência, fui até ele, me perguntou quanto eu cobraria para 'sair' com ele! Tenho 44 anos e até hoje essa cena está presente na minha cabeça!" (Janete)

"Aos 6 anos de idade, meu primo, hoje bolsonarista, cidadão de bem, conservador, provavelmente acreditou que #PintouUmClima e abusou de mim algumas vezes." (Meire)

"Um dos primeiros que eu lembro, aos 5 eu tava no mercado e me afastei um pouco da minha mãe, um velho parou na minha frente e alisou a minha barriga. Minha mãe e minha tia chegaram q nem duas leoas e ficaram gritando muito com ele, eu só fui entender mto tempo depois. Mais tarde, na virada da adolescência era um festival de carro parando na rua pra pedir Informações e o motorista pedindo pra eu entrar e mostrar o caminho, q dpois me levava de volta (ainda bem q minha mãe me orientou sobre isso)." (Kaella)

"Assediador, comigo, se ferra! Aos 14 anos, enfiei um alfinete -- daqueles usados para prender fralda de criança -- no braço de um mané que tentou se esfregar em mim no ônibus. Aos 21, quebrei o nariz e os óculos de um tarado que foi me atacar no banheiro da redação do jornal." (Célia)

"Eu tinha 8 anos e ele uns 50 e por algum motivo ele achou que rolou um clima mas eu só tava dormindo." (13)

"Aos 16, sofri assédio do patrão advogado. Aos 18, fui seguida na rua. Era domingo, 20h, em uma cidade do interior. O homem me segurou e ficou repetindo 'Abaixa a calça senão eu passo fogo.' Enfrentei, gritei e e me salvei." (Lirana)

"8 anos - o padrasto de uma coleguinha me puxou e me colocou no colo dele enquanto eu nadava numa lagoa. Ele estava de P* duro. Isso com a minha família toda sentada na areia não muito distante de mim. Sofri muito achando que podia engravidar daquele jeito pq foi na água. Quando eu tinha 13 um vizinho adulto que tinha a janela virada para minha janela do quarto começou a jogar ursinhos de pelúcia e cartas dizendo que me queria no seu quarto. Uma vez olhei pra fora e ele estava pelado na janela se masturbando. Eu nunca mais fiquei de janela aberta." (Lilica)

"Eles tiram nossa inocência, nossa infância, a liberdade de brincar na rua, de usar short no verão, de passar batom, de usar transporte público. Eles cortam pedacinhos da gente, que a gente cede por medo. Imaginar que as pessoas vão VOTAR nesse assediador pra presidente é absurdo." (Anna)