É tão raro fazer uma biopic (uma espécie de cinebiografia) boa que Milk - A Voz da Igualdade merece ser destacado só por isso. Em geral as biopics são um porre - eu dormi em Ray -, porque elas tentam condensar a vida inteirinha da celebridade em duas horas e canonizá-la. Felizmente, Milk não é assim: tem um ritmo sensacional, que só deixa a peteca cair no fim, e mostra um sujeito legal, mas com seus defeitos, não muitos. Gostei mais do drama agora que o vi pela segunda vez. Ele entra na categoria de Filmes Importantes, com maiúsculas, desses que precisam ser vistos pra gente aprender alguma coisa. No caso, o início dos movimentos pelos direitos gays nos anos 70.
Há muitos contextos aí. Em primeiro lugar, o contexto da homossexualidade nos EUA. Nessa época, que não tem nem quarenta anos, a psiquiatria ainda considerava uma orientação sexual que não fosse a hétero um distúrbio, e a polícia tinha por hábito bater e prender quem se envolvesse nessas práticas criminosas. Stonewall foi um marco. Em 69, em Nova York, um grupo GLBT enfrentou a polícia, que queria fazer uma batida num bar gay. Muitos homossexuais, moradores de cidadezinhas americanas retrógradas, começaram a se mudar para Nova York e Califórnia, onde poderiam tentar levar um estilo de vida sem tanta repressão. Em São Francisco, o Castro tornou-se logo o principal ponto de encontro (continua até hoje). E, claro, era o começo dos anos 70, com a revolução sexual, os hippies, e todos os movimentos pelos direitos das minorias (negros, mulheres, gays). O outro contexto é o do cinema. Um excelente documentário, The Celluloid Closet, mostra como Hollywood sempre discriminou os gays. Durante um século de cinema, eles foram ou motivo de piadas ou vilões (e em muitos filmes atuais seguem sendo tratados dessa forma). Até um drama relevante como Filadélfia não ousou incluir um só beijo entre Tom Hanks e Antonio Banderas pra não chocar seu público mainstream. Mas é um marco, assim como Brokeback Mountain. Portanto, é louvável que Milk não tenha receio em exibir tanta afeição entre os gays. Quase todos os personagens retratados são gays, inclusive, o que tá longe de ser comum.
Harvey Milk, vivido aqui com maestria por Sean Penn, foi um homem que, até seus 40 anos, viveu no armário. O filme começa quando ele, em NY, conhece um belo rapaz (James Franco - eu quero um pra mim!). Eles se mudam pra São Francisco, abrem uma lojinha de material fotográfico, e viram ativistas. Harvey logo se autoentitula “o prefeito da Rua Castro” e concorre a supervisor de São Francisco (algo como vereador). Na quarta vez que disputa, é eleito e torna-se o primeiro político abertamente gay da Califórnia. E bem na hora certa, quando a reação conservadora contra os movimentos sociais toma o país. Uma lei, a Proposition 6, ameaça despedir todos os professores gays e simpatizantes das escolas públicas, sabe, pra “salvar as crianças”. Qualquer relação com a Proposition 8, que passou em novembro último proibindo o casamento gay, não é mera coincidência. É lastimável que, num país dito democrático, sejam aprovadas leis para abertamente discriminar um grupo de pessoas. Lutar contra essas sandices é um dever não só dos gays, mas de todos os héteros de bem.
Não quero falar demais pra não entregar a trama pra quem não a conhece, mas já escrevi sobre ela aqui, após assistir ao documentário The Times of Harvey Milk (foto do Harvey verdadeiro ao lado). Aliás, não quero nem ver o filme no cinema, porque isso significa aturar um bando de homofóbicos que acha que trocas de afeto são privilégio dos héteros. Mas vou falar das interpretações. O Sean é um grande ator, e este ser o melhor papel de sua carreira. Ele, o Mickey Rourke, o Richard Jenkins e o Heath Ledger tiveram as quatro melhores atuações em produções americanas no ano passado. Mas pra mim quem rouba as cenas é o James Franco. Tá, talvez pela beleza. Só sei que fiquei completamente caída por ele. Outro que gostei é o Diego Luna (de E Tua Mãe Também; foto) que faz um namorado do Harvey. Quanto ao Emile Hirsh, não acreditei muito nele como ativista. Porém, pra mim, a atuação mais fraca é a do Josh Brolin, que faz o vilão Dan White. Eu devo ser a única a não ter gostado do Josh, já que ele foi indicado ao Oscar de ator coadjuvante e tal. Mas o achei incrivelmente falso na cena em que ele aparece embriagado na festa do Harvey. Aquilo lá é uma caricatura de um bêbado. Fico feliz que tentaram dar nuances ao Dan, pra não fazê-lo simplesmente um homofóbico desequilibrado, mas o Josh me desapontou.
Outra coisa que me perturbou bastante é que o movimento gay, a julgar pelo filme, foi um movimento predominantemente masculino. Há uma só lésbica em Milk, que assume a campanha de Harvey. E o jeito como ela é recebida pelo comitê me faz compreender por que uma militante lésbica e feminista amiga minha diz ter um pé atrás com os gays, pois eles são antes de tudo homens, e sua orientação sexual não anula seus privilégios masculinos. Digamos apenas que no filme existe uma ampla galeria de personagens homens e somente uma mulher. Ou melhor, duas. A outra é uma cantora repulsiva que luta pra salvar a América da ameaça gay. Uma cena que me pareceu emblemática é uma em que Harvey trava um debate contra um conservador num cenário hostil, no bairro rico de Orange County, onde gay e pervertido são sinônimos. A câmera focaliza um assessor de Harvey e, atrás dele, duas mulheres na platéia, indignadas com o que Harvey diz. Perdão, sei que pode ser marcação minha, mas num filme em que a ausência de mulheres é tão gritante, o Gus van Sant (diretor abertamente gay) precisa mesmo colocar duas senhoras como exemplos de intolerância? Quando chega um dos discursos finais do Harvey, em que ele convoca outras minorias pra participar da luta pela liberdade e deixa de lado as mulheres, eu pensei em jogar a minha cópia de O Eunuco Feminino na tela.
Bom, certamente os negros vão se sentir tão excluídos por Milk quanto as mulheres. É como opina a Whoopi Goldberg em Celluloid Closet: “Me diga uma minoria que seja representada positivamente por Hollywood”. Mas ainda assim, minha fé na humanidade aumenta quando noto que se fazem filmes como Milk. Agora só falta as minorias lutarem juntas. Porque já basta o preconceito que recebemos da Patrulha da Normalidade. Não precisamos nos discriminar mutuamente.
Há muitos contextos aí. Em primeiro lugar, o contexto da homossexualidade nos EUA. Nessa época, que não tem nem quarenta anos, a psiquiatria ainda considerava uma orientação sexual que não fosse a hétero um distúrbio, e a polícia tinha por hábito bater e prender quem se envolvesse nessas práticas criminosas. Stonewall foi um marco. Em 69, em Nova York, um grupo GLBT enfrentou a polícia, que queria fazer uma batida num bar gay. Muitos homossexuais, moradores de cidadezinhas americanas retrógradas, começaram a se mudar para Nova York e Califórnia, onde poderiam tentar levar um estilo de vida sem tanta repressão. Em São Francisco, o Castro tornou-se logo o principal ponto de encontro (continua até hoje). E, claro, era o começo dos anos 70, com a revolução sexual, os hippies, e todos os movimentos pelos direitos das minorias (negros, mulheres, gays). O outro contexto é o do cinema. Um excelente documentário, The Celluloid Closet, mostra como Hollywood sempre discriminou os gays. Durante um século de cinema, eles foram ou motivo de piadas ou vilões (e em muitos filmes atuais seguem sendo tratados dessa forma). Até um drama relevante como Filadélfia não ousou incluir um só beijo entre Tom Hanks e Antonio Banderas pra não chocar seu público mainstream. Mas é um marco, assim como Brokeback Mountain. Portanto, é louvável que Milk não tenha receio em exibir tanta afeição entre os gays. Quase todos os personagens retratados são gays, inclusive, o que tá longe de ser comum.
Harvey Milk, vivido aqui com maestria por Sean Penn, foi um homem que, até seus 40 anos, viveu no armário. O filme começa quando ele, em NY, conhece um belo rapaz (James Franco - eu quero um pra mim!). Eles se mudam pra São Francisco, abrem uma lojinha de material fotográfico, e viram ativistas. Harvey logo se autoentitula “o prefeito da Rua Castro” e concorre a supervisor de São Francisco (algo como vereador). Na quarta vez que disputa, é eleito e torna-se o primeiro político abertamente gay da Califórnia. E bem na hora certa, quando a reação conservadora contra os movimentos sociais toma o país. Uma lei, a Proposition 6, ameaça despedir todos os professores gays e simpatizantes das escolas públicas, sabe, pra “salvar as crianças”. Qualquer relação com a Proposition 8, que passou em novembro último proibindo o casamento gay, não é mera coincidência. É lastimável que, num país dito democrático, sejam aprovadas leis para abertamente discriminar um grupo de pessoas. Lutar contra essas sandices é um dever não só dos gays, mas de todos os héteros de bem.
Não quero falar demais pra não entregar a trama pra quem não a conhece, mas já escrevi sobre ela aqui, após assistir ao documentário The Times of Harvey Milk (foto do Harvey verdadeiro ao lado). Aliás, não quero nem ver o filme no cinema, porque isso significa aturar um bando de homofóbicos que acha que trocas de afeto são privilégio dos héteros. Mas vou falar das interpretações. O Sean é um grande ator, e este ser o melhor papel de sua carreira. Ele, o Mickey Rourke, o Richard Jenkins e o Heath Ledger tiveram as quatro melhores atuações em produções americanas no ano passado. Mas pra mim quem rouba as cenas é o James Franco. Tá, talvez pela beleza. Só sei que fiquei completamente caída por ele. Outro que gostei é o Diego Luna (de E Tua Mãe Também; foto) que faz um namorado do Harvey. Quanto ao Emile Hirsh, não acreditei muito nele como ativista. Porém, pra mim, a atuação mais fraca é a do Josh Brolin, que faz o vilão Dan White. Eu devo ser a única a não ter gostado do Josh, já que ele foi indicado ao Oscar de ator coadjuvante e tal. Mas o achei incrivelmente falso na cena em que ele aparece embriagado na festa do Harvey. Aquilo lá é uma caricatura de um bêbado. Fico feliz que tentaram dar nuances ao Dan, pra não fazê-lo simplesmente um homofóbico desequilibrado, mas o Josh me desapontou.
Outra coisa que me perturbou bastante é que o movimento gay, a julgar pelo filme, foi um movimento predominantemente masculino. Há uma só lésbica em Milk, que assume a campanha de Harvey. E o jeito como ela é recebida pelo comitê me faz compreender por que uma militante lésbica e feminista amiga minha diz ter um pé atrás com os gays, pois eles são antes de tudo homens, e sua orientação sexual não anula seus privilégios masculinos. Digamos apenas que no filme existe uma ampla galeria de personagens homens e somente uma mulher. Ou melhor, duas. A outra é uma cantora repulsiva que luta pra salvar a América da ameaça gay. Uma cena que me pareceu emblemática é uma em que Harvey trava um debate contra um conservador num cenário hostil, no bairro rico de Orange County, onde gay e pervertido são sinônimos. A câmera focaliza um assessor de Harvey e, atrás dele, duas mulheres na platéia, indignadas com o que Harvey diz. Perdão, sei que pode ser marcação minha, mas num filme em que a ausência de mulheres é tão gritante, o Gus van Sant (diretor abertamente gay) precisa mesmo colocar duas senhoras como exemplos de intolerância? Quando chega um dos discursos finais do Harvey, em que ele convoca outras minorias pra participar da luta pela liberdade e deixa de lado as mulheres, eu pensei em jogar a minha cópia de O Eunuco Feminino na tela.
Bom, certamente os negros vão se sentir tão excluídos por Milk quanto as mulheres. É como opina a Whoopi Goldberg em Celluloid Closet: “Me diga uma minoria que seja representada positivamente por Hollywood”. Mas ainda assim, minha fé na humanidade aumenta quando noto que se fazem filmes como Milk. Agora só falta as minorias lutarem juntas. Porque já basta o preconceito que recebemos da Patrulha da Normalidade. Não precisamos nos discriminar mutuamente.
"precisa mesmo colocar duas senhoras como exemplos de intolerância?"
ResponderExcluirvc fala de uma maneira de que nao existe mulher que discrimina.
Ah proposito, quando volta a análise googlistica??
Você tocou em dois pontos que, quando eu saí do cinema, estava pensando em colocar no post, mas acabei me esquecendo.
ResponderExcluirA primeira foi essa cena, em que ele cita várias minorias, e não cita as mulheres. Fiquei puta. E meio triste. É esse o problema. As mulheres sequer são reconhecidas como minoria. É aquela coisa: "é a ordem natural das coisas, homens e mulheres são diferentes (por diferentes, traduz-se: um é inferior, outro superior), yadda yadda".
E outra é essa coisa das poucas mulheres que aparecem, serem as homofóbicas.
No entanto, fiquei pensando se a reação dos amigos do Milk diante da assistente lésbica não teve uma intenção de denúncia. Tipo: "olha, os homens acham que o movimento é só deles". Não sei. Gosto do Van Sant, então dou a ele o benefício da dúvida.
Marj, pra mim não há dúvida que a cena em que a nova assessora política (e única mulher “de bem” do filme) do Milk sendo recebida pelos outros assessores é uma crítica a um movimento essencialmente masculino. Foi a cena que mais me chamou a atenção no trailer: essa histeria dos outros assessores e a moça achando graça disso. Então, quanto a essa cena específica, ela é uma crítica ao falocentrismo do movimento gay (pelo menos no seu início). O problema é que é SÓ essa cena. O papel da moça é mínimo. Ele desaparece perto do papel da Anita Bryant, a única outra mulher com falas no filme. Por isso essa decisão do Van Sant em colocar duas mulheres indignadas com o discurso do Milk no Orange County é tão errada. Até parece que não há montes de homens homofóbicos pra usar como exemplo... Toda a estrutura do filme exclui as mulheres. Por isso, quando o discurso final do Milk convocando as minorias pra luta também exclui as mulheres, isso fica tão patente. Se o resto do filme tivesse mostrado mais “mulheres em ação” lutando por direitos civis, e não usado mulheres como vilãs (quer dizer, a personagem da Anita não pode ser extinta, é real e poderosa, mas as mulheres no discurso, sim), as palavras finais do Milk não teriam soado tanto como um “Putz grila, esqueceram de mim!” pra qualquer ouvido feminista.
ResponderExcluirAsnalfa, nada a ver. É óbvio que mulheres discriminam, são homofóbicas, são machistas, racistas, e tudo o mais que há de ruim. Mas, num filme em que há tão poucas mulheres (duas!), colocar mulheres como figurantes da homofobia me parece uma péssima escolha do diretor.
A análise do google search volta terça que vem.
Lola, quando vi o filme, sabia que você iria encanar com a ausência de mulheres na história! Realmente, as duas personagens femininas mais fortes do filme são mesmo a personagem de Alison Pill e a Anita Bryant (ainda bem que optaram por usar imagens de arquivo ao invés de terem escolhido uma atriz para representá-la). O fato de terem escolhido a Anita, uma mulher para representar a homofobia foi adequado porque, na época, ela a figura mais proeminente nesse sentido. A homofobia dela era totalmente histérica, não consigo lembrar de algum contemporâneo dela que tivesse idéias tão abertamente radicais. Ela tinha uma movimento chamado "Save Our Children", ou coisa do tipo, em que ela falava em salvar os homossexuais, aquele negócio todo que a gente viu no filme. Até quando um ativista gay jogou uma torta na cara dela, ela chorou e começou a rezar para que ele encontrasse a "cura" para o homossexualismo. Essa cena está no youtube, para quem quiser ver. E é notável o descontrole dela.
ResponderExcluirA ausência de personagens femininos não me incomodou não. Já é difícil fazerem filmes com uma consciência política aguçada hoje em dia, então, não dá para querer tudo, né? Quem sabe algum outro cineasta possa explorar melhor essa brecha sobre o "falocentrismo" que o Van Sant deixou?
O elenco estava afiadíssimo, Sean teve um excelente suporte coadjuvante para moldar sua atuação. O Oscar foi totalmente merecido. Nunca achei que o Mickey merecesse mais do que ele.
Eu adorei o Josh Brolin. De uns tempos para cá, ele está melhorando demais, mostrando um potencial até então desconhecido. Olha, no meu mundo ideal, Milk teria vencido Melhor Filme. Como sou fã babona do Gus Van Sant, acho que sou meio suspeita para falar isso...
Escrevi um comentário super redondinho sobre o tema, mas ele não conseguiu ser postado, por algum problema de conexão. Quando isto acontece, geralmente desisto, mas, desta vez, vou persistir, mesmo achando que não vou recuperar plenamente o que havia escrito.
ResponderExcluirLola, adorei sua crítica. Excelente e muito pertinente que você tenha colocado a questão da guetização do movimento gay masculino, que está exposta no filme.
É verdade, sim, que existe misoginia no movimento gay, dos gays masculinos com as lésbicas. Em minha cidade, eles praticamente expulsaram as lésbicas da parada gay, em função de uma disputa interna - uma atitude deplorável.
Já presenciei outra sorte de enfrentamentos em que a discriminação ficou evidente. Lógico que, a despeito de alguns episódios infelizes protagonizados por indivíduos, o movimento gay é valiosíssimo para a sociedade e para o nosso tempo.
Isto acontece, também, em função da disputa para que suas suas organizações e associações sejam beneficiadas em projetos do governo (há outra ordem de financiadores, mas acredito que é o governo o que dá maior suporte às organizações gays no país, em função de sua política de apoio ao tratamento e prevenção da AIDS)e também pelas cotas nas políticas públicas que devem atender, discriminadamente, aos interesses de Gays, Lésbicas, Travestis e Transgêneros. Como a rubrica em si, à qual adere toda essa sigla condensada, já não concentra tantos recursos, já se pode concluir o tipo de competição que a divisão em categorias instala.
E é uma pena mesmo que se criem embates tão cruéis em torno de tão pouco, quando devemos lutar por algo muito maior.
Mas também acho que, principalmente, esta fragmentação toda está relacionada com esse momento histórico multi-pós-qualquer coisa que vivemos. Acontece com outros grupos, inclusive com as próprias feministas (as feministas negras já passaram bastante pito nas burguesas, acusadas de olhar apenas para o próprio umbigo, as lésbicas também são menos presentes na luta em defesa do aborto, entre outros exemplos).
Milk tem a qualidade de nos fazer entender que o movimento gay teve como ponto de partida uma reação à segregação social imposta aos gays, daí que, a priori, a visibilidade era central em sua luta, e a igualdade, em função disso, foi meio deixada de lado.
E saber disto pode nos ajudar a refletir sobre as confusões e as disputas inócuas de hoje. Foi importante que os grupos minoritários, inicialmente, demarcassem sua diferença (talvez por isso as lésbicas também enfatizem que o movimento lésbico não é o movimento gay), mas não podemos, após tantas décadas, chegar a um estágio em que os interesses estratégicos de um grupo e sua luta em destacar sua singularidade política se tornaram maiores do que as próprias razões de lutar, ao ponto de impedir que enxerguem as suas óbvias conexões com outros grupos oprimidos. As minorias, embora sejam desiguais, não podem lutar senão pela igualdade, uma luta segmentada leva apenas a um outro tipo de opressão ou a uma sub-segregação.
E pelo jeito serão novamente as feministas a pautar isso.
Eu acho que o filme do Gus Van Sant foi fidedigno ao mostrar, multo sultimente, que o movimento gay, de início, era um movimento masculino. De resto, Lola, novamente quero dizer que adorei, Milk é um filme necessário sim, tocante, bonito e muito bem feito.
Abraço!
Ainda não assisti a esse filme. Infelizmente, vivo em uma cidade aonde o cinema estréia os filmes bons (e que não serão exatamente recorde de público) 2 meses depois do lançamento no Brasil.
ResponderExcluirMas acho extremamente válida toda essa discussão. E, inclusive, toda a discussão em cima do dublador de Sean Penn no Brasil (que se recusou a fazer a voz do ator em Milk), além da manifestação durante o Oscar, citada por Sean Penn em seu discurso. Aliás, tanto o discurso de Penn quanto o de Dustin Black (roteirista) foram excelentes!
Enfim. É difícil mudar a mentalidade das pessoas, mas não impossível. Enquanto isso, vamos sonhando com o dia em que as pessoas realmente sejam tratadas como iguais...
Oi Lola, respondi seu post lá no blog... não sabia se eu postava a resposta aqui também... Se a oferta ainda estiver de pé me avisa ;)
ResponderExcluirPra começar o diálogo sobre a questão do movimento gay ser predominantemente masculino nos anos 70 queria te mostrar um video do youtube com imagens de uma das primeiras paradas. (http://www.youtube.com/watch?v=gprxmytqKzw)
Como você pode perceber praticamente só tem gays na rua, apenas um casal de lésbicas aparece. Isso mudou bastante, mas ainda hoje participando dos movimentos e conferências é possível notar que as lésbicas são clara minoria. Perdemos até para @s trans. El@s são numericamente minoria dentro da população LGBT, mas são muitíssimo articulad@s e organizad@s.
Não sei exatamente porquê, mas dentro do universo LBGT cada um tem o seu microcosmo. Eu acho que lutamos todos pela mesma bandeira, mas entendo como nossos mundos às vezes são vistos como separados. Eu tenho vários amigos muito próximos gays, mas me sinto realmente à vontade com o meu grupo de amigas sapas... Eu não sei... é um assunto bem complexo... mas acho que hoje há uma grande abertura nos movimentos para a participação das lésbicas, eles inclusivam nos convocam a sermos mais participativas. Pelo menos essa foi a sensação que eu captei quando participei da conferência e também conversando com minhas amigas ativistas...
Um abraço,
Renata.
Lola, eu tb reparei isso. N aparecia praticamente mulher nenhuma no filme e, qd apareceu a acessora lésbica, os cars tiveram um olhar "diferente" para ela. Não extamanete como se ela fosse 'menos' ou 'esquisita', mas um estranhamento mesmo. Parece q foi mais um reflexo daquele tipo de preconceito enraizado em nós, e q achamos q não temos. Daquele tipo "n vou andar de barriga de fora e short curto na rua, pq me dou ao respeito, mas n sou preconceituosa com qm faz isso". O ex n foi mt bom, mas entende +/-? Isso só mostra q temos mt o q "aprender"..
ResponderExcluirEu tb adorei milk, gostei MTO mesmo. O James Franco realmente tá uma graça.. ele no começo com aquele cabelo bem cacheado e bem cheio..ai ai, muito charmoso. O Sean me pareceu tão meiguinho. Não sei como era o Harvey Milk de verdade, mas o personagem me passou a ideia de alguém meigo, delicado, sabe.. achava estranho q ele parecia NÃO se irritar com nada. Parecia tão plácido, tão tranquilo. N gritava, n xingava, n se dava a "excessos", enfim.. Sei q isso é o ideal se quisermos q alguém realmente escute nossas ideias, mas me pareceu tão "não real". Eu não consigo não me sentir irritada quando vejo preconceitos tão escrachados ou uma visão extremamente retrógrada..
Sabe o que me deixa triste? Outro dia vi um documentário sobre o H. Milk e comentei com o marido: "fulano e beltrano TÊM que ver o filme". São amigos próximos, gays, que moram juntos há anos e não saíram do armário. Eles acham que as famílias e os colegas de trabalho não imaginam que eles sejam um casal. Nós já falamos com eles pra assumir a relação, mas eles dizem que é muito difícil - sim, sabemos que é; mas se eles, que são classe média alta, acadêmicos, brancos, pensam assim, imagina o que há por aí de gente infeliz presa no armário. E logo eu, hetero juramentada, penso que eles deveriam ver o filme pra criar a coragem ou pelo menos repensar suas atitudes (principalmente depois da descrição empolgada da Marjorie). Triste, né? (em compensação tenho outros amigos gays assumidíssimos e felizes, ufa)
ResponderExcluirTina Lopez...
ResponderExcluirdesculpa, mas nao acho correto seus amigos assumirem no meio de trabalho.
Eles seriam despedidos no dia seguinte. Trabalho é um meio de competição e nao de amizade.
Eu tenho amigos gays e lésbicas e acho que a separação se dá mais por cultura e afinidades. Se eu colocasse esses meus amigos juntos numa sala dificilmente eles teriam assunto para conversar.
ResponderExcluirO universo homossexual masculino é completamente diferente do feminino. Esse é um caso em que o machismo prejudica muito mais os homens que as mulheres.
Sábado mesmo tinha duas garotas aos beijos no metrô e as pessoas que reparavam no máximo davam um sorrisinho, agora se fossem dois rapazes duvido que não tinham chamado os seguranças.
Talvez por isso os homens sejam mais engajados na luta contra o preconceito, mulher só vai participar quando as pessoas em volta dela perceberem que a orientação é pra valer e não só modinha para chamar atenção de homens hetéros.
No fim, se resume ao mesmo problema em geral com as mulheres. Informação e esclarecimento. Temos que aprender a lutar por nossos direitos, mulheres homo e ht.
Oi Lolets,
ResponderExcluirAlguém aí em cima citou a questão do dublador brazuca que se recusou a emprestar voz ao Sean Penn neste filme. E é sobre o tal cara, Marco Ribeiro (voz nacional de Tom Hanks, Antonio Bandeiras e outros, que é pastor, que eu gostaria de discorrer um pouco.
Devo dizer que é realmente difícil a defesa do dito cujo neste caso. A rigor - e o próprio pastor de certa forma confessa na sua nota à imprensa-: foi uma decisão mercadológica, e não de "princípios" ou foro religioso. Ele seria cobrado pelos fiéis. O pastor julgou que teria menos rebanho se fizesse o trabalho. Então, eu pergunto: quando ele acha que isso (a cobrança) não vai acontecer, ele faz?
Ah, puxa vida, se os tais fiéis assistissem (ou mesmo entendessem) o humor fino dos Simpsons...
Tô lembrando aqui de uma frase clássica do personagem Ned Flanders (que o próprio Marco Ribeiro já dublou nos Simpsons): "- Senhor Deus, por que me fizeste isso? eu sigo direitinho a Bíblia: até aquelas partes que se contradizem umas às outras..." Ué, dessa série o pastor participa? E mais: ele DIRIGE A EQUIPE DE DUBLAGEM ! E mais: o cara já dublou o homossexual Waylon Smithers nesta mesma série! Por que isso ele pôde fazer? Ah, já sei: ali ele estava protegido contra reconhecimentos, contra comentários... longe do olhar de Deus... quer dizer.. do Deus "Mercado"... do Deus "Imagem de Bom Pastor"... que conveniente.
Faz de conta que sou pastor também: "Os vendilhões não são (nem serão) mais expulsos do templo, pois eles o compraram."
Vale dizer (pra quem não me conhece - pra vc não adianta mentir, né, Lola) que não sou gay, não sou religioso nem assisto a filmes dublados; sou cineasta e escritor, e muito me entristecem e revoltam atitudes como essa.
Vamos fazer um paralelo: há 130 anos havia escravidão no Brasil, havia "valores cristãos", e negros e índios não eram gente. Não é vergonhoso lembrar que um dia nossa sociedade (branca, capitalista, cristã e machista) pensou assim? Mas nós mudamos. Sinal de que evoluímos... um pouco...
Muito em breve os direitos dos homossexuais estarão consolidados, e a atitude do nosso dublador vai soar para nós mais ou menos assim:
"Dublador se recusa a dublar Denzel Washington: -'Temos cor diferente... minha voz não... combina'".
"Dublador não emprestará sua voz a Tom Berenger no filme "Brincando nos Campos do Senhor", pois o americano interpreta um "pele vermelha": -'Sou anticomunista, desde criancinha; não mexo com nada vermelho'; além do mais o filme "ofende" (mostra a trágica realidade) o proselitismo CATÓLICO E PROTESTANTE."
"Dublador não fará vozes nacionais no filme "Dúvida", pois a película não esclarece se o padre molestou ou não o garoto:-'Eu não quero ficar na dúvida; isso é contra minha religião'".
Ok, fiz piada, carreguei nas tintas, mas pensem bem: se for pra sermos simplistas assim, todos os comerciais SÃO PERNICIOSOS, pois levam as pessoas a consumir produtos por motivos diversos da necessidade, logo são contra os valores cristãos (e quem escreve isto aqui é também um publicitário pecador); recusar fazer este ou aquele trabalho não diminui meu terreninho no inferno...
Skinheads espancaram um emo em SP....
ResponderExcluiro q vao alegar agora??
lupus? doença mental?? querer indenização? ou toda pessoa espanca é mentirosa?
http://oglobo.globo.com/sp/mat/2009/02/25/skinheads-espancam-emo-em-praca-de-sao-paulo-754576917.asp
EU KERO PENA DE MORTE NO BRASIL!!!
EU TENHO ODEIO DAS PESSOAS QUE SOFRERAM NA DITADURA. POIS FORAM AS MESMAS QUE ESCREVERAM A AUTAL CONSTITUIÇÃO QUE PROIBE PENA DE MORTE!!!!
Lola... olha as coisas que são postadas nessa comunidade do orkut intitulada: estupro e suas consequencias.
ResponderExcluirhttp://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=2165869&tid=2530847493982972575
Zé Mucinho,
ResponderExcluirEntão, tem umas coisas que eu não entendo...
Marco Ribeiro já dublou Tom Hanks em O Código da Vinci, um filme reconhecidamente "contra" tudo o que as igrejas católicas e evangélicas pregam.
Já fez a voz de um psicopata em "Dead man walking". Pra isso, ele não se sentiu pouco confortável.
É soda...
Talvez por isso os homens sejam mais engajados na luta contra o preconceito, mulher só vai participar quando as pessoas em volta dela perceberem que a orientação é pra valer e não só modinha para chamar atenção de homens hetéros.
ResponderExcluir*
*
*
Olha, não é isso, não.
É como a amiga de Lola falou. Homem gay não perde privilégios masculinos só por ser gay, ou seja, tem muito homem gay que não quer fazer nenhum trabalho com lésbicas e o lesbianismo é 'invisível', não é Mesmo levado a sério [ao contrário da homossexualidade masculina].
Quanto a sua percepção de que duas lésbicas se beijando na rua vão atrair menos problemas que dois gays se beijando, é bem irreal... Só de conhecidas minhas, sapas, uma teve que aturar um cara se masturbando quando ela tava com a namorada e a outra levou um murro de um cara que foi chegando nelas, querendo entrar no meio, colocando a mão na namorada dela e quando recebeu um 'Não', partiu para a violência... Tudo isso em Plena Brasília (que, dizem por aí, é bem aberta e tudo mais).
Que eu saiba, lésbicas sofrem tanta violência física e psicológica como os gays homens, além da sexual. Gente que bate e ataca lésbicas, costumam estuprá-las também. Agora, tem bem menos espaço na mídia para a violência que as mulheres lésbicas sofrem do que para a violência que os homens gays sofrem [e, convenhamos, eles tem pouquíssimo espaço, imagine lésbicas]...
Concordo com quem disse (mal, mas até me perdi) que o filme foi fidedigno em retratar que o movimento gay foi predominantemente masculino. E ainda hoje o é, eu ainda ouço reclamações nesse sentido de amigas lésbicas, de não terem voz lá dentro e de que suas questões específicas não são ouvidas.
ResponderExcluirNum contexto desse, que adianta colocar o "L" de "lésbicas" na frente da sigla LGBTT? Espero que não pare nisso.
E a aparição de poucas mulheres na película não me incomodou, não. Me chamou a atenção quando o Milk apresenta a nova acessora, até por eu já conhecer esse contexto de movimento gay "fechado" pra homens.
Eu digo que o filme é impecável, e recomendo a todo mundo que assista. Capaz de muita gente ficar com nojo, mas se alguns perceberem a dimensão do que aconteceu, que aquilo era (e ainda é, porque o contexto é atual) tirar direitos de pessoas, já me dou por satisfeita.
ResponderExcluirE meu truque pra evitar homofóbicos de carteirinha foi procurar um cinema de arte. O nível do público é outro.
VOCE OMITIU QUE ELE ERA JUDEU, PROPOSITADAMENTE,
ResponderExcluirOU VOCE DESCONHE A INFORMAÇÃO?
Fatima, não precisa gritar (escrever em caixa alta equivale a gritar). Desconheço a informação que o Milk era judeu. Nem percebi se isso foi posto no filme em algum momento. Ele não era uma pessoa religiosa. Eu vi o documentário de 1984 tb, e não lembro de alguém ter mencionado que ele fosse judeu. Vc acha isso importante se, na vida dele, isso aparentemente não era importante?
ResponderExcluirAh, que bom, você já assistiu! :o)
ResponderExcluirO que mais gostei nesse filme além da temática, é claro, foi a mescla de cenas como se tivessem mesmo sido filmadas com uma câmera amadora nos anos 70, deu um efeito muito especial!