Sara Winter conseguiu hoje o que tanto queria: ser presa.
Só não foi o ideal porque aconteceu às 6 e pouco da manhã na sua casa, longe das câmeras. Sara sempre fala que foi treinada na Ucrânia e que agora quer "ucranizar o Brasil" (não se sabe exatamente ao que ela se refere: afinal, a Ucrânia é o país mais pobre da Europa. E, ultimamente, tem se tornado o epicentro do neonazismo também). Ela é sempre meio vaga -- ela foi treinada quando fez parte do Femen, em 2012. Depois que foi expulsa também?
De qualquer jeito, o que ela aprendeu no Femen Ucrânia ela levou pra sua vida. E as lições básicas dos protestos de topless eram que tinha que ter ampla cobertura midiática e precisava acabar com uma prisão. Se uma dessas duas metas não eram cumpridas, o ato era classificado como um fracasso.
Sara Fernanda Giromini, mais conhecida pelo seu codinome Sara Winter (homenagem a uma espiã nazista), vem caprichando no quesito "cobertura midiática". Faltava a prisão. Imagino a ansiedade que ela estava enfrentando ao ver que os dias passavam e ela não era presa. O que mais ela tinha que fazer, além de ameaçar ministro? Fazer marcha cosplay da Ku Klux Klan? Xingar policiais? Lançar fogos de artifício contra o prédio do STF? (esta última ação eu não sei se foi seu grupo 300 ou outro grupo bolsonarista golpista que promoveu. Mas hoje, depois da prisão de Sara, umas 8 pessoas do 300 soltaram fogos em frente à Polícia Federal).
Não sei se vou ser capaz de resumir os atos mais recentes de Sara até aqui. Como eu disse, ela começou o grupo 300 do Brasil há algumas semanas, prometendo dar sono, suor e sangue pela nação. Seu principal chamamento para recrutar militantes era "vamos ucranizar o Brasil". Chegou a arrecadar mais de R$ 50 mil através de vaquinha. Ela, que já vivia em Brasília, armou o "maior acampamento da América Latina", com tendinhas todas iguais (compradas na Havan?), prometendo o extermínio da esquerda.
Mas o que ela diz é sempre confuso e contraditório. Em várias entrevistas, ela fica indignada ao ser chamada de líder ou criadora do acampamento. Não deveria surpreender: ela já negou na minha cara ter liderado o Femen Brasil.
Amanhã pretendo publicar um texto e fazer um vídeo falando do passado da Sara. Este texto é só pra tentar ver como ela chegou até a prisão hoje.
Numa entrevista à BBC Brasil publicada no dia 13 de maio, Sara,
que se descreve como "analista política e conferencista internacional", admitiu que havia armas de fogo no acampamento, mas que eram registradas e pertenciam a colecionadores de armas no grupo, e que elas seriam usadas para defesa. Reiterou que defende atos de ação não-violenta e que "absolutamente nenhum dos integrantes dos 300 do Brasil fala sobre 'milícia armada', muito menos sobre invadir o Congresso ou STF". No sábado último, seu vídeo tinha como título "Invadimos o Congresso Nacional" (mas era fake news: não invadiram. Só ficaram na área externa, cantando o hino e orando).
O pedido de prisão de hoje foi feito pela Procuradoria-Geral da República e aceito pelo ministro Alexandre de Moraes. Sara é uma das investigadas pela PF no inquérito que apura fake news. Em 27 de maio, a polícia entrou em sua casa e apreendeu seus computadores. Ele então gravou ameaças e insultos ao ministro. É importante destacar o que ela diz:
"Eu sou uma pessoa extremamente resiliente. Pena que ele [Alexandre de Moraes] mora em São Paulo. Se estivesse aqui, eu tava na porta da casa dele, convidando ele para trocar soco comigo. Juro por Deus, eu queria trocar soco com esse filho da puta desse arrombado. Infelizmente eu não posso. Mas eu queria. Ele mora lá em São Paulo, né? Você me aguarde, Alexandre de Moraes. O senhor nunca mais vai ter paz na vida do senhor. A gente vai infernizar a tua vida. A gente vai descobrir os lugares que você frequenta. A gente vai descobrir as empregadas domésticas que trabalham pro senhor. A gente vai descobrir tudo da sua vida. Até o senhor pedir pra sair".
Pareceu uma ameaça de violência e perseguição. Depois, em vídeos e tuítes, Sara minimizou suas declarações. Considerou que, por ela ser uma mulher baixinha, ela não poderia ameaçar ninguém, muito menos um homem. Sua prisão estava sendo cogitada desde então.
No dia 31 de maio, ela resolveu dobrar a aposta: liderou uma marcha com tochas que sinistramente lembravam os protestos de supremacistas brancos de Charlottesville e da Ku Klux Klan. Não tinha nem trinta manifestantes, mas foi suficiente pra gente perceber o perigo que é a extrema-direita.
Esses últimos atos lhe renderam a expulsão do DEM (partido pelo qual havia concorrido à deputada federal em 2018, no Rio. Com 17 mil votos, ela não se elegeu. Em suas redes sociais na época, lamentou e disse ter errado de partido). Sara alegou que estava filiada ao Aliança -- partido que sequer existe até agora.
No dia 8 de junho, um dos advogados que defendem Sara (e processa "CPF por CPF" a quem a chama de nazista, miliciana, terrorista, fascista etc, conforme ela prometeu), revelou que pediu asilo político para Sara à Embaixada dos EUA -- e que o pedido foi negado. Alguns dias depois, Sara afirmou que essa notícia é fake news e que iria processar todos que a escreveram ou espalharam (mesmo que a notícia tenha partido do seu advogado). Segundo ela, não foi pedido asilo pra ela, só pra sua mãe e o filho dela, e não foi negado, porque foi só uma sondagem.
Este último sábado, 13 de junho, foi agitado para Sara. Às 6 da manhã, a polícia militar de Brasília removeu o acampamento dos 300 e de outro grupo bolsonarista. Ela escreveu em seu Twitter: "A militância bolsonarista foi destruída hoje. Presidente, reaja!" Revoltada, gravou um vídeo em que ela começa dizendo: "A polícia tirou todas as nossas coisas, nós que somos patriotas, mas os esquerdistas estão protestando aqui, pois agora nós vamos acabar com a raça desses filhos da puta". E se dirigiu, junto com seus militantes, à gente que protestava lá perto pelo impeachment de Bolsonaro e a favor dos profissionais de saúde.
Sua estratégia é comum na direita: eles invadiram o espaço de quem estava protestando pacificante, cada um literalmente no seu círculo, para manter o isolamento social. Sara entrou no círculo de um manifestante e, sem máscara, bem pertinho, passou a provocá-lo: "Olha o relógio que você tá usando, é caro pra c*ralho". O manifestante de esquerda, hiper paciente, não respondeu nada. Depois de 5 minutos, Sara esgotou seu discurso anti-comunista e passou a falar da culinária ucraniana (não tô inventando!).
Um PM explicou pacientemente pra Sara e sua turma: "Se os senhores querem contestar que tiramos seu acampamento, tá certo. Mas tem os fóruns pra isso. Frustrar uma outra manifestação com documentos protocolados para poder fazer esse ato é um confrontamento direto à Constituição". Seria bacana se os PMs também tratassem negros, pobres e manifestantes da esquerda com tanta educação e respeito.
Pouco depois, houve uma carreata pró-impeachment que passou em frente. Sara e seu grupo 300, que tinha talvez 15 pessoas, foram à avenida hostilizá-los. Gritavam "Acabou o dinheiro" e "maconheira abortista" e faziam sinais ofensivos com as mãos. Houve um momento em que alguns dos 300 aplaudiram os PMs, e levaram bronca da líder Sara: "Enquanto eu não descobrir quem tá comigo e quem não tá, não vai levar palma não".
Mais tarde, foi a hora dos 300 patriotas (contei doze) "invadirem" o Congresso Nacional, munidos de bandeiras do Brasil, EUA e Israel, naquele raro momento de patriotismo em que se sente mais orgulho de outros países. Sara gritava: "Tira a nossa barraca, a gente tira o Congresso deles".
Na noite de sábado, bolsonaristas lançaram durante pelo menos 5 minutos fogos de artifício na direção do prédio do STF, enquanto chamavam os ministros de comunistas e mandavam que eles se preparassem.
Ontem Renan Silva Sena, aquele um que havia agredido enfermeiras num protesto em maio, foi preso, acusado de ser um dos que lançaram os foguetes contra o STF. O carro em que ele estava não obedeceu ao comando, arrancou e arrastou um policial. Ele foi liberado após assinar um termo de comparecimento em juízo.
Ainda ontem Sara e seus dez, quer dizer, 300, disseram que Renan é o líder de outro acampamento bolsonarista (este "intervencionista", eufemismo pra golpista), e prestaram solidariedade a ele. Para ela, ele foi preso por dizer aquilo que todos eles concordam: que o governador do DF Ibaneis Rocha (MDB) é bandido e que o STF é uma ditadura comunista.
E hoje de manhã Sara foi presa. Além dela, outras cinco pessoas do grupo 300 tiveram prisão decretada, mas seu nomes ainda não foram divulgados. Não é uma prisão preventiva, mas uma temporária por cinco dias, que pode ser prorrogada por mais cinco dias. Este inquérito pelo qual Sara foi presa se refere a protestos antidemocráticos (talvez atos como o de lançar fogos contra o STF podem estar inclusos, se forem considerados uma violação à Lei de Segurança Nacional).
Sara ainda é alvo de dois inquéritos: o das fake news e o de improbidade administrativa pelo Ministério Público Federal do RJ, que investiga os R$ 25 mil usados por ela no Fundo Especial de Financiamento de Campanhas em 2018.
Grupos bolsonaristas estão chamando Sara de "terceira presa política do Brasil" (os outros dois seriam reaças que protestaram em frente à casa de Alexandre de Moraes, em maio) e puxando a sardinha da vitimização para si. Para eles, "já é crime defender o presidente".
Carla Zambelli, que odeia e é odiada por Sara (a ponto de Sara fazer um vídeo dizendo que Carla fez um aborto enquanto estava no Femen e Carla processá-la pelo vídeo; ela desistiu do processo agora), revelou no Twitter que Sara tem personalidade explosiva, mas não é perigosa, e quis saber se ela, Carla, for presa, os movimentos defensores de mulheres irão defendê-la. Só posso falar por mim, Carla. A resposta é NÃO, vai pro inferno. Por que mulheres reaças que vivem atacando feministas sempre pedem ajuda às feministas?
Hoje de manhã Oswaldo Eustáquio (que já foi processado por Glenn Greenwald por dizer que a mãe de Glenn estava fingindo estar com câncer; a mãe de Glenn morreu pouco depois e Oswaldo terá de pagar R$ 15 mil), que se autointitula o maior jornalista investigativo do Brasil, fez live no canal de Sara (que ele chama de "ativista pró-vida que salva vidas") para pedir dinheiro pra ela, dizer que a médica Nise (uma das cotadas para ministra da Saúde) é a maior autoridade sobre a pandemia no mundo e que o STF deve responder a crimes contra a humanidade por responsabilizar médicos que receitarem cloroquina a pacientes de covid. "São 11 ministros do STF que estão governando para o PT", concluiu o barbudo, no melhor estilo "E o PT? E o Lula?"
Para Sara, ser presa é sem dúvida a realização de um sonho. Ela quer ser mártir muito mais do que quer ser política. Pra quem diz que devemos parar de falar nela por que isso é dar-lhe votos, ela não será candidata este ano, até por não ter partido. Certamente ela tem grandes ambições para 2022, mas resta saber se ela se manterá em evidência até então. As maiores dúvidas são quem a financia e se a familícia Bolsonaro lhe dará apoio explícito, ou só por baixo dos panos.
Deviam quebrar o sigilo bancário dessa mulher. Não trabalha, não faz nada e tem tempo de sobra pra encher o saco.
ResponderExcluirParece que ela teve ou tem um cargo no ministério da Damares? Ou seja, ganhando salário dinheiro público, para ficar ali andando pra lá e pra cá, liderando um grupo armado, ameaçando pessoas, promovendo atos antidemocráticos...
ExcluirDolores, você já deu um abraço tenro nela, deu dicas de vida para ela e a tratou com carinho.
ResponderExcluirVocê a aconselhou a fazer uma faculdade pública e criar um movimento feminista dentro da universidade. Isso tudo quando ela ainda era feminista.
Vi tudo isso com meus próprios olhos. Mas você vai negar.
Sério esse comentário?
ExcluirNão nego nada, José, só a última parte de "criar um movimento feminista dentro da universidade". Eu falei pra ela fazer uma faculdade de História e se juntar a um coletivo feminista numa universidade. Mas ela não era feminista. ELA própria não se dizia feminista.
ResponderExcluirÉ, sou culpada de ser uma pessoa legal e tolerante, fazer o quê? Minha máxima culpa.
O país que eu costumo associar mais com essas pessoas é a Hungria. Pelo menos vivem citando como exemplo.
ResponderExcluirA Ucrânia é bem pior, principalmente por eles terem um batalhão abertamente nazista.
ExcluirPraticamente todos os países do leste europeu por motivos históricos ( URSS) abominam ideologias de esquerda e são perigosamente próximos da extrema direita. Na Polônia e Ucrânia por exemplo socialismo e seus símbolos são proibidos pelas suas constituições.
ExcluirNa Polônia tanto o nazismo quanto o comunismo/socialismo são proibidos, já na Ucrânia é por causa do holodomor, "e como os nazistas deram comida" para o país ele é mais tolerado, porém isso nunca aconteceu de fato e muito pelo contrário, ouve holocausto na Ucrânia, mas infelizmente muitos culpam a URSS por isso por total ignorância.
ExcluirÉ, não é fácil se eleger deputada, ainda mais em um país continental! Sugiro à Sara que se case com um tuvaluense, que lá por ter apenas 11 mil hbitantes(cerca de 7 mil eleitores), com apenas uns 400 ou 500 votos ela conseguirá conquistar uma das 15 vagas do parlamento deste micropaís!!
ResponderExcluirLola, que saudade... fazia tempo que não vinha aqui!!!! Mas hj pensei em vc o dia inteiro, ao ver a notícia da prisão dessa bandida. Lembro quando eu era frequentador assíduo desse bloguinho que tanto adorooo e que tanto contribuiu pro meu pensamento crítico. Lembro que vc foi a primeira pessoa a falar dessa bandida........ Muito obrigada pelo trabalho!!! <3 <3 <3
ResponderExcluirMano, essa mina é muito louca, quando o irmão dela afirma que ela é do mesmo naipe da famigerada Von Richtofen é de se preocupar, ela quer fama e Ibope, apoiadora do Bozo tem mais que se fuder.
ResponderExcluirHoje assistindo GloboNews, descobri que ela chamava Bolsonaro de "paizinho" kkkkk...que coisa ridícula.
ResponderExcluirParabéns pelo texto Lola!
ResponderExcluirProtesto armado não é protesto mas sim terrorismo mesmo ser pacífico, todos ali cometeram crime sim e defem ser presos.
ResponderExcluirPs.: Amazon está vendendo livro com fotos de crianças nuas.
https://youtu.be/tGnIVlxUq0g
Sendo* pacífico
Excluirdevem* ser presos.
O meu coredor automático não têm a opção de desligar.
Muito obrigado por essa informação, José. Vai pro dossiê com certeza!
ResponderExcluirUé?!?! Nazista portando bandeira de Israel?
ResponderExcluirNão duvido absolutamente nada ela conseguir uma eleição. O próprio Bolsonaro não conseguiu? Pro povo fanático ela vai msm virar mártir. Em tempo: por isso nunca apóio ato nenhum que defenda "não confunda a violência da reação com a violência da opressão" ou coisa que o valha. Bota a mão na consciência, que da msm forma q a Sara só queria ser líder de alguma coisa tanto na Femen qt nesse 300 aí, quem puxa essas porra desses "fogo nos fascista" tb só quer pagar de SJW e tirar foto pro Facebook.
ResponderExcluirTotalmente verdade essa parte de pagar de SJW para ganhar seguidores nas redes sociais, tanto que recentemente uma criança trans de talvez 10 a 14 anos, tentou tachar o youtuber Luba TV que é gay de direitista mas ele não conseguiu, tanto que chegou a ser totalmente ridículo o que ele fez, ao ponto que não conseguiu nenhum seguidor.
Excluir"Ué?!?! Nazista portando bandeira de Israel?"
ResponderExcluirTem um monte de gente na comunidade judaica que apoia Bozo, que fica cheio de gracinhas com o regime assassino de Israel. Pode ter certeza que teve dinheiro israelense na campanha dele (Ciro, que ousou falar essa simples verdade, já está sendo ameaçado com um processo por "antissemitismo"). Deviam sentir vergonha de apoiar um fascista, mais ainda que a maioria dos outros seres humanos, mas parece que o fascismo só incomoda quando afeta pessoalmente.
Existe uma obcessão dos pentecostais por Israel por conta de uma suposta passagem bíblica de que ''jesus voltará em Israel'', enquanto tem uns judeus que cinicamente ignoram o antissemitismo vindo de pentecostais. Ninguém de Israel ou dos EUA ligam para a bandeira do Brasil, mas esses judeus/pentecostais brasileiros são obcecados em empinar as bandeiras desses países.
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