Escrevi na quinta sobre as ameaças orquestradas que a antropóloga e professora da UnB Débora Diniz estava sofrendo por defender a legalização do aborto.
Ontem li esta notícia e fiquei preocupada. A notícia diz que a polícia, "incapaz de punir os responsáveis," pediu para Débora sair de Brasília (havia boatos que ela teria saído do Brasil também).
Pensei: como assim, a polícia não vai investigar as ameaças contra Débora?! Tem que investigar. A Lei Lola, que a matéria não menciona, atribui à Polícia Federal essa investigação contra crimes cibernéticos contra mulheres.
A deputada federal Luizianne Lins (PT-CE), autora da lei, quer ir à direção da PF em Brasília comigo para discutir melhor a Lei Lola. Ela quer fazer uma cartilha para orientar as mulheres sobre como, onde e em que casos denunciar. Mas, antes, precisamos ter um comprometimento maior da polícia.
E, nessa visita, levaríamos o caso da Débora. Aliás, a própria Débora poderia ir junto. Decidi então escrever pra ela. Já nos conhecíamos de vista, e a admiração é mútua.
Débora contou que as as ameaças não começaram agora. Vem desde a época da anencefalia. Para quem não sabe, Débora e o Anis (Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero), do qual faz parte, foram os principais responsáveis pela aprovação do direito a interromper a gravidez em casos de anencefalia. Antes de 2012, quando o STF acatou a liminar, uma gestante com um feto sem cérebro era obrigada a prosseguir com a gravidez até o parto. 9 meses de sofrimento para gerar a vida de um bebê que ou nasce morto, ou morrerá poucos minutos depois!
Nessa época Débora recebeu muitas ameaças e teve de fazer queixa-crime. Agora que uma discussão fundamental sobre a descriminalização do aborto se aproxima, as ameaças voltaram com força total. Nos dias 3 e 6 de agosto haverá uma audiência pública do STF sobre o aborto, com 44 especialistas (contra e a favor). Débora é uma delas.
Falei com Débora por email, e ela me disse: "Lola, obrigada por escrever. Eu estou bem, e isso não me calará, como não calou você. Não houve 'ordem da polícia' para eu saísse de Brasília. A polícia está investigando (DEAM - Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), recebi apoio do Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos. Houve, sim, o evento de me esperarem na porta de uma palestra -- desconheço quem sejam as pessoas. Estamos atentas e alertas, mas não em silêncio. Obrigada por estar ao lado".
Portanto, por enquanto está tudo bem com Débora. "Tudo bem", claro, no contexto de viver num país nada democrático em que ativistas são rotineiramente atacadas. Mas a polícia está investigando e essas pessoas que se dizem "pró-vida" (e não veem incoerência em se assumir assim e ao mesmo tempo ameaçar uma mulher de morte) e estão atacando Débora verão que a internet não é mais uma terra sem lei.
Toda sororidade a vc, Débora! O ódio não nos vencerá. Arrase lá no STF na semana que vem!
Precisa denunciar mesmo essas ameaças.
ResponderExcluirAssustado..., onde o Brasil vai parar assim? Débora fale, é um direito seu e nosso de ouvir você. Chega de Conservadorismo barato e caquético.
ResponderExcluirForça à ambas!
ResponderExcluirEsses ''pró vida'', que na verdade estão mais para pró morte, ou na melhor das hipóteses apenas ''pró-feto'', nem deveriam sonhar em se mudar para países onde o aborto é legalizado.
ResponderExcluirEspero que de fato nessa bancada estejam especialistas e não um monte de mascu discutindo assuntos que não fazem parte da realidade de vida deles.
ResponderExcluirLola, tem a ferramenta busca no blog?
ResponderExcluirEstou procurando um texto seu em que vc fala sobre a associação do feminismo com a esquerda pra mandar pruma moçada.
O pior não é algo não fazer parte da realidade, é que os mascus são completamente ignorantes e desonestos mesmo, e pelos motivos mais fúteis, nada nobres e muito menos humanistas.
ResponderExcluirTrata-se de um projeto de extrema relevância social, principalmente para as mulheres, portanto as discussões existentes devem ocorrer de forma ética,humana e versada em proteger as mulheres de crimes cibernéticos, cabendo debates em torno da criação de uma lei específica, neste caso. Apesar dos homens também sofrem tais crimes, notadamente as proporções são diferentes. As mulheres devem ser respeitadas em todos os meios sociais e culturais.
ResponderExcluirOi pessoas! Infelizmente ainda vivemos numa sociedade hipócrita. Muitas só querem ouvir e aceitar aquilo que lhe a bem. O respeito a diferença que é bom poucos praticam. Força sempre....
ResponderExcluirLola, a Débora vai lançar um filme. Este é o clip. Foi uma das coisas que ela fez nos últimos dias. Veja o tuíte que saiu agora https://twitter.com/marcelo_meds/status/1025761736396296192
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