Faz um tempão que estou pra escrever um (ou mais) post sobre a minha tese de mestrado, defendida em 2005. Gosto dela porque trata de temas queridos pra mim: cinema, literatura, Nabokov, Lolita, Kubrick, ironia, narração em off, essas coisas. Você pode lê-la na íntegra aqui, em inglês. Mas, pra que você possa se situar um pouquinho (e porque sei que não é todo mundo que tem tempo ou vontade de ler uma tese de cento e poucas páginas, por mais interessante que ela seja — e, sem falsa modéstia, minha tese ficou bem interessante), vou falar dela um tiquinho.
Então, a tese recebeu o título de “What have they done to Lolita? The transposition of irony from Nabokov's novel to Stanley Kubrick's and Adrian Lyne's film versions” (“O que fizeram com Lolita? A transposição de ironia do romance de Nabokov às versões fílmicas de Stanley Kubrick e Adrian Lyne”). Essa primeira parte do título é uma referência ao trailer do filme de 62, que perguntava algo parecido, “como fizeram um filme de Lolita?”.
O livro do Nabokov é hoje considerado um clássico indiscutível, mas, claro, nem sempre foi assim. Em 1955, quando o escritor russo tentou publicá-lo, foi recusado por várias editoras. Quando finalmente conseguiu, virou uma espécie de sucesso-escândalo, e foi censurado em muitos países. Eu só vim a lê-lo quando adulta, e fiquei imediatamente hipnotizada por ele. Nem tanto pelo tema, mas pelo estilo. Lolita é um dos romances mais lindamente escritos que já li. Nabokov é um exemplo pra qualquer um que pensa que jamais vai dominar uma língua estrangeira. O inglês (Lolita está escrito em inglês) não foi nem sua segunda língua, mas sua terceira, depois do russo e do francês. E, no entanto, são poucos os autores americanos, ingleses, canadenses, australianos, sul-africanos etc (qualquer autor de país que tenha inglês como língua nativa) que têm um inglês tão rico quanto o de Nabokov. Lolita é praticamente uma declaração de amor à língua inglesa.
Lamento dizer que Lolita é também dos romances mais divertidos que li. É chato atestar isso (faz com que eu pareça uma sádica insensível), porque o livro trata de mil e um assuntos trágicos, principalmente do abuso infantil. Pra quem não conhece a história, quem a narra é um professor de 38 anos chamado Humbert Humbert. Humbert é um pedófilo. Só se interessa sexualmente por meninas com menos de 12, 13 anos. Ele atribui sua predileção a uma paixão de infância, quando ele era um garoto e se apaixonou por Annabelle. Só que ele cresceu, e suas obsessões, as ninfetas (termo inventado por Nabokov), seguiram na mesma idade. Ele vai parar nos EUA, onde aluga um quarto numa casa. Lá mora Charlotte, uma mulher que ele considera vulgar, e que ele topa tolerar pra ficar perto de sua filha, Dolores, ou Lola, ou Lolita, uma menina de 12 anos. Ele fantasia colocar remédio pra dormir na bebida das duas, pra poder abusar de Lolita sem que ela perceba. E até se casa com Charlotte, pra ficar perto de seu objeto de desejo. Logo ele descobre que o plano de Charlotte é mandar Lolita pra um colégio interno. Charlotte lê o diário de Humbert e, entre enojada e revoltada (com justiça), sai de casa. Na rua, é atropelada e morre. Humbert aproveita para mentir para seus poucos conhecidos jurando que, na realidade, é o pai de Lolita. E vai buscá-la no acampamento de férias. Logo Humbert está transando com Lolita e viajando com ela pelos EUA, sem perceber que um outro pedófilo, Quilty, os segue.
Quer dizer, contando a história assim, é horrível, eu nem discuto. Mas não dá pra cruficificar um autor, um livro, um filme, pela sua trama. Na vida real, Nabokov não era um pedófilo. Sua obra-prima não serve pra validar toda uma cambada de estupradores. O pior que o livro fez foi criar termos como Lolita e ninfetas, usados para que homens adultos babem de desejo por meninas menores de idade — o que simplesmente deveria estar fora de cogitação pra qualquer pessoa consciente. Mas o incrível do livro não é tanto do que ele fala, mas como está narrado.
Seu narrador e protagonista, Humbert, é um monstro, não há dúvida. Não apenas por transar com uma menina, mas por pagar-lhe, de vez em quando, para que ela aceite transar com ele (e depois roubar-lhe o dinheiro), e por se aproveitar de que ela não tem lugar pra ir. E, pior, se é que pode ser pior, por pensar no que ele fará quando Lolita completar uma idade (lá pelos 15, 16 anos) que ele não acha mais desejável. Ele cogita até engravidar Lolita para que ela lhe dê uma filha que ele também poderá estuprar!
E como isso tudo é engraçado? Bom, pois é, é o jeito como está contado. Humbert se leva a sério, mas no fundo é um paspalhão. Em inúmeras passagens, Lolita soa mais esperta que ele — o que é estranho, já que a narração é todinha de Humbert. Ele se acha um poeta apaixonado, e justifica seu desejo por ninfetas citando outros loucos, como Edgar Allan Poe e Dante, que também tiveram suas Lolitas (mas Humbert omite que eles eram meninos quando se apaixonaram por suas meninas). Além disso, o livro começa com o (falso) testemunho de um psiquiatra, que decide publicar os diários de Humbert, morto num hospício. Em várias ocasiões, Humbert se refere a nós, seus leitores, como “senhoras e senhores do júri”, e tenta convercer-nos que o que ele fez foi por amor. O tom do romance, do início ao fim, é totalmente irônico. Lolita é frequentemente usado para ilustrar um modelo de ironia. Kubrick, tão gênio na sua área quanto Nabokov na dele, decidiu transformar Lolita em filme em 1962. Deu tudo errado. Hollywood ainda adotava a auto-censura imposta pelo Código Hayes, e Kubrick teve que reescrever o roteiro um monte de vezes. Foi obrigado a transformar Lolita numa garota de 15 anos (interpretada por Sue Lyon, que pode parecer mais velha), e a descartar qualquer trecho menos sutil. Sem falar que, em 62, Kubrick ainda não era o monstro sagrado que se tornou após fazer Doutor Fantástico, 2001, Laranja Mecânica, Iluminado e Nascido para Matar. Era o início de sua carreira, mesmo que ele já fosse respeitado por dirigir O Grande Golpe, Glória Feita de Sangue e Spartacus. Mas Kubrick admitiu depois que, se soubesse dos obstáculos que teria que enfrentar para fazer Lolita, não o teria feito.
Ainda assim, o Lolita de Kubrick é uma graça. James Mason emprega o toque de humor negro no seu Humbert, Sue está muito bem, e Shelley Winters rouba todas as cenas como Charlotte. Mas o meio que Kubrick escolheu para driblar a censura e contar a história foi dar mais destaque a Quilty, aqui interpretado por Peter Sellers, a lenda. O que concluo na minha tese é que, embora o Lolita de Kubrick não seja fiel ao livro no que se refere à trama, ele capta o espírito irônico do romance de Nabokov. É péssimo falar em fidelidade e espírito, porque a gente cai na tentação de crer que uma obra contem uma essência que deve ser seguida (e não de ser uma obra sujeita a interpretações múltiplas). Os estudiosos de cinema dizem que é errado insistir em fidelidade. Mas, ao mesmo tempo, continuam comparando filmes e livros e falando em fidelidade. Não é fácil escapar.
Em 1998, 26 anos depois de Kubrick, Adrian Lyne quis fazer o seu Lolita (veja o trailer). Lógico que Lyne nunca teve um décimo da reputação daquele que é elencado como o segundo diretor mais consagrado da história do cinema (geralmente atrás apenas de Hitchcock). Pelo contrário, Lyne é mais conhecido por sucessos comerciais (e polêmicos) como Flashdance, 9 ½ Semanas de Amor, Atração Fatal, e Proposta Indecente. Ele viu Lolita como sua chance de redenção, de fazer um filme de arte, que fosse levado a sério. Não conseguiu muito. E, tal como Kubrick, também teve problemas com a censura. Os anos 90 foram marcados pela luta contra a pornografia infantil. Clinton havia acabado de proibir que qualquer filme usasse uma criança numa relação sexual, mesmo que fosse um dublê. O Tambor (vencedor do Oscar de filme estrangeiro em 79), por exemplo, mostra uma cena de sexo implícito entre duas crianças. E foi recolhido em algumas locadoras nos EUA nos anos 90. Por causa de toda essa atenção, que em casos como o do Tambor beiravam à histeria, Lyne penou até encontrar uma distribuidora. Lolita foi lançado nos EUA oito meses depois de passar na Europa, o que fez Lyne reclamar: “Se eu estivesse fazendo um filme sobre uma menina de 13 anos que é cortada em pedacinhos por um canibal, eu não teria problemas com a censura”.
O Lolita de Lyne é sério até a medula. Narrado em off por um Jeremy Irons atormentado (e arrependido pelo mal que causa a Lolita), com Melanie Griffith como Charlotte, Frank Langela (de Frost/Nixon) como Quilty, e Dominique Swain como Lolita (ela tinha a idade de Sue Lyon, mas parece mais nova, e Lyne a veste com trancinhas e aparelho nos dentes), o filme segue as mesmas palavras e ações do livro. A diferença, gritante, é o tom. O Lolita de Lyne não é irônico.
Adoro essa citação que peguei de uma revista eletrônica chamada Suck (minha tradução): “[no livro] cada perversão, cada abuso, cada dia que Humbert mantem Lolita prisioneira é visto como poesia de Keats. O livro nunca condena Humbert; ele o celebra. É o que se chama ironia, grande como um celeiro, e Lyne não entendeu isso de um modo tão gritante que a gente não sabe como um cara com tão pouca visão pode ser habilitado a dirigir um carro”.
Mas, pra falar de como o livro e o filme de Kubrick são irônicos, e como o filme de Lyne não é, antes preciso tratar de ironia. Num outro post, pois este já tá quase tão longo quanto a minha tese.
Leia aqui: 60 anos de Lolita, um livro maravilhoso sobre um tema terrível.
O livro do Nabokov é hoje considerado um clássico indiscutível, mas, claro, nem sempre foi assim. Em 1955, quando o escritor russo tentou publicá-lo, foi recusado por várias editoras. Quando finalmente conseguiu, virou uma espécie de sucesso-escândalo, e foi censurado em muitos países. Eu só vim a lê-lo quando adulta, e fiquei imediatamente hipnotizada por ele. Nem tanto pelo tema, mas pelo estilo. Lolita é um dos romances mais lindamente escritos que já li. Nabokov é um exemplo pra qualquer um que pensa que jamais vai dominar uma língua estrangeira. O inglês (Lolita está escrito em inglês) não foi nem sua segunda língua, mas sua terceira, depois do russo e do francês. E, no entanto, são poucos os autores americanos, ingleses, canadenses, australianos, sul-africanos etc (qualquer autor de país que tenha inglês como língua nativa) que têm um inglês tão rico quanto o de Nabokov. Lolita é praticamente uma declaração de amor à língua inglesa.
Lamento dizer que Lolita é também dos romances mais divertidos que li. É chato atestar isso (faz com que eu pareça uma sádica insensível), porque o livro trata de mil e um assuntos trágicos, principalmente do abuso infantil. Pra quem não conhece a história, quem a narra é um professor de 38 anos chamado Humbert Humbert. Humbert é um pedófilo. Só se interessa sexualmente por meninas com menos de 12, 13 anos. Ele atribui sua predileção a uma paixão de infância, quando ele era um garoto e se apaixonou por Annabelle. Só que ele cresceu, e suas obsessões, as ninfetas (termo inventado por Nabokov), seguiram na mesma idade. Ele vai parar nos EUA, onde aluga um quarto numa casa. Lá mora Charlotte, uma mulher que ele considera vulgar, e que ele topa tolerar pra ficar perto de sua filha, Dolores, ou Lola, ou Lolita, uma menina de 12 anos. Ele fantasia colocar remédio pra dormir na bebida das duas, pra poder abusar de Lolita sem que ela perceba. E até se casa com Charlotte, pra ficar perto de seu objeto de desejo. Logo ele descobre que o plano de Charlotte é mandar Lolita pra um colégio interno. Charlotte lê o diário de Humbert e, entre enojada e revoltada (com justiça), sai de casa. Na rua, é atropelada e morre. Humbert aproveita para mentir para seus poucos conhecidos jurando que, na realidade, é o pai de Lolita. E vai buscá-la no acampamento de férias. Logo Humbert está transando com Lolita e viajando com ela pelos EUA, sem perceber que um outro pedófilo, Quilty, os segue.
Quer dizer, contando a história assim, é horrível, eu nem discuto. Mas não dá pra cruficificar um autor, um livro, um filme, pela sua trama. Na vida real, Nabokov não era um pedófilo. Sua obra-prima não serve pra validar toda uma cambada de estupradores. O pior que o livro fez foi criar termos como Lolita e ninfetas, usados para que homens adultos babem de desejo por meninas menores de idade — o que simplesmente deveria estar fora de cogitação pra qualquer pessoa consciente. Mas o incrível do livro não é tanto do que ele fala, mas como está narrado.
Seu narrador e protagonista, Humbert, é um monstro, não há dúvida. Não apenas por transar com uma menina, mas por pagar-lhe, de vez em quando, para que ela aceite transar com ele (e depois roubar-lhe o dinheiro), e por se aproveitar de que ela não tem lugar pra ir. E, pior, se é que pode ser pior, por pensar no que ele fará quando Lolita completar uma idade (lá pelos 15, 16 anos) que ele não acha mais desejável. Ele cogita até engravidar Lolita para que ela lhe dê uma filha que ele também poderá estuprar!
E como isso tudo é engraçado? Bom, pois é, é o jeito como está contado. Humbert se leva a sério, mas no fundo é um paspalhão. Em inúmeras passagens, Lolita soa mais esperta que ele — o que é estranho, já que a narração é todinha de Humbert. Ele se acha um poeta apaixonado, e justifica seu desejo por ninfetas citando outros loucos, como Edgar Allan Poe e Dante, que também tiveram suas Lolitas (mas Humbert omite que eles eram meninos quando se apaixonaram por suas meninas). Além disso, o livro começa com o (falso) testemunho de um psiquiatra, que decide publicar os diários de Humbert, morto num hospício. Em várias ocasiões, Humbert se refere a nós, seus leitores, como “senhoras e senhores do júri”, e tenta convercer-nos que o que ele fez foi por amor. O tom do romance, do início ao fim, é totalmente irônico. Lolita é frequentemente usado para ilustrar um modelo de ironia. Kubrick, tão gênio na sua área quanto Nabokov na dele, decidiu transformar Lolita em filme em 1962. Deu tudo errado. Hollywood ainda adotava a auto-censura imposta pelo Código Hayes, e Kubrick teve que reescrever o roteiro um monte de vezes. Foi obrigado a transformar Lolita numa garota de 15 anos (interpretada por Sue Lyon, que pode parecer mais velha), e a descartar qualquer trecho menos sutil. Sem falar que, em 62, Kubrick ainda não era o monstro sagrado que se tornou após fazer Doutor Fantástico, 2001, Laranja Mecânica, Iluminado e Nascido para Matar. Era o início de sua carreira, mesmo que ele já fosse respeitado por dirigir O Grande Golpe, Glória Feita de Sangue e Spartacus. Mas Kubrick admitiu depois que, se soubesse dos obstáculos que teria que enfrentar para fazer Lolita, não o teria feito.
Ainda assim, o Lolita de Kubrick é uma graça. James Mason emprega o toque de humor negro no seu Humbert, Sue está muito bem, e Shelley Winters rouba todas as cenas como Charlotte. Mas o meio que Kubrick escolheu para driblar a censura e contar a história foi dar mais destaque a Quilty, aqui interpretado por Peter Sellers, a lenda. O que concluo na minha tese é que, embora o Lolita de Kubrick não seja fiel ao livro no que se refere à trama, ele capta o espírito irônico do romance de Nabokov. É péssimo falar em fidelidade e espírito, porque a gente cai na tentação de crer que uma obra contem uma essência que deve ser seguida (e não de ser uma obra sujeita a interpretações múltiplas). Os estudiosos de cinema dizem que é errado insistir em fidelidade. Mas, ao mesmo tempo, continuam comparando filmes e livros e falando em fidelidade. Não é fácil escapar.
Em 1998, 26 anos depois de Kubrick, Adrian Lyne quis fazer o seu Lolita (veja o trailer). Lógico que Lyne nunca teve um décimo da reputação daquele que é elencado como o segundo diretor mais consagrado da história do cinema (geralmente atrás apenas de Hitchcock). Pelo contrário, Lyne é mais conhecido por sucessos comerciais (e polêmicos) como Flashdance, 9 ½ Semanas de Amor, Atração Fatal, e Proposta Indecente. Ele viu Lolita como sua chance de redenção, de fazer um filme de arte, que fosse levado a sério. Não conseguiu muito. E, tal como Kubrick, também teve problemas com a censura. Os anos 90 foram marcados pela luta contra a pornografia infantil. Clinton havia acabado de proibir que qualquer filme usasse uma criança numa relação sexual, mesmo que fosse um dublê. O Tambor (vencedor do Oscar de filme estrangeiro em 79), por exemplo, mostra uma cena de sexo implícito entre duas crianças. E foi recolhido em algumas locadoras nos EUA nos anos 90. Por causa de toda essa atenção, que em casos como o do Tambor beiravam à histeria, Lyne penou até encontrar uma distribuidora. Lolita foi lançado nos EUA oito meses depois de passar na Europa, o que fez Lyne reclamar: “Se eu estivesse fazendo um filme sobre uma menina de 13 anos que é cortada em pedacinhos por um canibal, eu não teria problemas com a censura”.
O Lolita de Lyne é sério até a medula. Narrado em off por um Jeremy Irons atormentado (e arrependido pelo mal que causa a Lolita), com Melanie Griffith como Charlotte, Frank Langela (de Frost/Nixon) como Quilty, e Dominique Swain como Lolita (ela tinha a idade de Sue Lyon, mas parece mais nova, e Lyne a veste com trancinhas e aparelho nos dentes), o filme segue as mesmas palavras e ações do livro. A diferença, gritante, é o tom. O Lolita de Lyne não é irônico.
Adoro essa citação que peguei de uma revista eletrônica chamada Suck (minha tradução): “[no livro] cada perversão, cada abuso, cada dia que Humbert mantem Lolita prisioneira é visto como poesia de Keats. O livro nunca condena Humbert; ele o celebra. É o que se chama ironia, grande como um celeiro, e Lyne não entendeu isso de um modo tão gritante que a gente não sabe como um cara com tão pouca visão pode ser habilitado a dirigir um carro”.
Mas, pra falar de como o livro e o filme de Kubrick são irônicos, e como o filme de Lyne não é, antes preciso tratar de ironia. Num outro post, pois este já tá quase tão longo quanto a minha tese.
Leia aqui: 60 anos de Lolita, um livro maravilhoso sobre um tema terrível.
Putz... publica logo esse outro post, mal posso esperar.
ResponderExcluirLola é MUITO melhor falando de cinema do que falando de esporte...
ResponderExcluirhttp://www.brainstorm9.com.br/social-media/paixao-nacional-mais-uma-aplicacao-geosocial-genuinamente-brasileira/
ResponderExcluirsério?
Putz, Lola. Esse é um dos clássicos que não li e não vi...simplesmente porque tenho nojo da ideia. Sei q é radicalismo meu, mas desde muito nova tenho asco mesmo de qq coisa q fale de pedofilia. As vezes fico achando q fui abusada qd era muito pequena e não lembro, por isso criei essa barreira...mas bom, o que eu queria dizer é que com o seu post fiquei com vontade de ler o livro, mas nem tanto de ver os filmes kkkk
ResponderExcluirvou aguardar ansiosa os próximos posts.
e Yasmim,
ResponderExcluirtriste mesmo esse link, mas quando colocar algo q não tem a ver com o post, avisa com um "fora do assunto" "off topic" "nada a ver com o post" ...algo assim, ok? É bom para o blogueiro e para os comentaristas.
Ler Lolita é realmente uma experiência incomum, você se pega rindo por conta do formato da narrativa (da habilidade do Nabokov mesmo, os comentários do Humbert Humbert), e ao mesmo tempo o livro é sobre um tema horrendo. Nunca assisti os filmes, fiquei com vontade de ver agora.
ResponderExcluirNão gostei muito, ou melhor, gostei quase nada do filme de Kubrick, porém do livro, às vezes até tenho medo de dizer, Nabokov consegue fazer-me sentir empatia por Hubert, e eu li-o com uma mescla de amor-ódio. Só li a obra uma vez, e não pretendo mais fazê-lo porque odiei, ao mesmo tempo que admiro, a manipulação emocional que sofri às mão de Nabokov. Por vezes, nem me lembrava que era Lolita a vítima, mas sentia as dores de Humbert e chegava até mesmo a odiar Lolita.
ResponderExcluirO livro embralhou-me o juízo de tal maneira que me pôs em xeque o meu conceito de certo e errado. E repito, adorei-o e odiei-o por isso mesmo.
Quanto à censura, os americanos são mesmo uns hipócritas do caraças, em vez de enfrentar os problemas preferem atirar sobre ele uns panos. Sei lá se visto que seguem carneiramente tudo o que aparece na TV não era perigoso verem filmes com temas do género.
Como mais marcante exemplo que me lembro de momento é o filme Leon, o Profissional, com Jean Reno e Natalie Portman, que na versão europeia tinha toda aquela tensão sexual a cortar o ar, e que embora deixasse em desconforto o protagonista adulto, era uma transposição erótica e inocente (no sentido sexual) da criança. Aquilo foi um ensaio sobre a pedofilia e sobre as desculpas para as suas atrocidades que os americanos preferiram esconder.
Bem já perdi o fio do raciocínio.
Porém ao mesmo tempo que lhes lamento a censura, lamento, por vezes, a ausência dela nos japoneses, cujos filmes e mesmo desenhos animados apresentam várias vezes situações de pedofilia como se fosse algo natural, aliás há um subgénero de hentai oriundo de lá chamado lolicon.
aiaia,
ResponderExcluiresqueci de colocar o off.
mas pode ler o navokov sem medo, pq o livro é tão bem escrito q acho q n dá pra assustar ningué.
Quando li a primeira vez tinha 21 anos e adorei cinco anos depois mais velha e madura li e senti nojo, mas enquanto obra literária o valor dele é imenso.
ResponderExcluirOtimo post.
ResponderExcluirA maneira que esse livro é escrito é incrivel.
Raramente vi a ironia tão bem utilizada numa obra.
Lê Pittigrilli, Anderson. E Calvino também.
ResponderExcluirEu gosto de ler dissertações e teses que envolvem assuntos dos quais gosto como cinema, literatura, feminismo, análise do discurso, etc.
ResponderExcluirDesconfio que meu inglês basicão não vai me permitir ler a sua, rsrs, mas vou baixar e tentar ler.
Abçs Lola.
Já tentei ler Lolita umas três vezes, mas sempre acabo ficando com nojo e desisto. Depois desse post, vou dar mais uma chance!
ResponderExcluirPentacúspide
ResponderExcluirNunca os li.
Obrigado pelas dicas.
Ora, só eu me masturbei lendo Lolita?
ResponderExcluirE aiaiai, deixa de ser cretina, cada um posta o que quiser, não enche!
Ao ler uma análise dessa bate uma vontade de reler/rever a obra, procurando pontos de concordância/discordância.
ResponderExcluirPoxa, Lola, eu simplesmente amei seu post de hoje. Concordo totalmente com você no que diz respeito a compreender que a obra não faz apologia à pedofilia. As vezes as pessoas se embananan um pouco quando a arte traz esses temas, né. É que arte é assim, pra mexer com a gnt, pra chocar e incomodar mesmo.
ResponderExcluirAh, espero ansiosa pelo teu post sobre ironia, viu. =)
um abraço.
Tenhom certeza de que seu trabalho é primoroso: li o livro, vi o filome, gostei de ambos. Mas apesar do grotesco ( irônico?) estar presente todo o tempo, confesso que a história me deixou enojada.
ResponderExcluirClaro que é engraçãdo ver como o HH é patético, banaca...mas foi fatal pra mim pesnar nos outros babacas como ele, soltos por ai, persegundo meninas em sua "ninfenescência".
beijos.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirNão creio que Lyne seja um cara de pouca visão.Eu mesma vi Lolita desta maneira.Não consigo achar "legal","poetico","ironico" ou o diabo a quatro um filme que fala de pedofilia e que coloca o pedofilo como heroi apaixonado.Sei lá,tenho para mim que as pessoas usam a arte para revelar seus mais pérfidos desejos.Não to falando que o autor era pedofilo,mais sei lá...
ResponderExcluirLembrei-me de outro filme genial, o Fale com ela do Almodóvar. Nele, acabamos por gostar do personagem estuprador. Pois é, gênios da literatura e do cinema tem o poder de fazer isso conosco... rsrs
ResponderExcluirAbraços!!
Vi os 2 filmes, li o livro... concordo q o do Lyne não é irônico.
ResponderExcluirAliás, excelente post, e assim q eu tiver um tempinho lerei a tese.
Agora lendo esse post é que eu percebi o quanto o Nabokov e sua manipulação psicologica influenciariam meu próprio estilo de escrita. Lolita é lindo, de uma poesia inacabável, uma ironia tão profunda que você por vezes acaba por habituar-se tanto a ela que a esquece que está ali.
ResponderExcluirE o HH é muito bobo, meu deus, ele é realmente um palhaço nas mãos de seu desejo - é impressionantemente tolo e ingênuo em relação aos demais adultos. O HH é um pedófilo peculiar porque ele nunca realmente cresceu - você vê nele que está interessado em pessoas com a mesma maturidade emocional que a sua. Até suas tentativas de justificar-se soam infantis e por isso mesmo, engraçadas, o professor e intelectual que jamais aprendeu como crescer. E a paixão dele pela Lolita é marcante - muito interessante como ele não olha ou procura mais nenhuma menina durante todo o período, ele é cego para o que faz porque ele não vê nada - apenas Dolores.
Não vi nenhum dos filmes nem nunca tive muita curiosidade (pelos motivos que você falou), e li Lolita apenas em Português - foi profundamente perturbador, claro, ao mesmo tempo, o livro tem uma leveza e te faz ver o ridículo, sentir pena desta compulsão que é a pedofilia.
E, ao mesmo tempo, de uma tragédia imensa que te deixa desesperançoso a respeito da vida. Nunca tolerei a morte da Dolores - já não lolita - no final da história. Mas, claro, não era a intenção qualquer aparência de superação por nenhum dos lados. Do começo ao fim eles são uma criança interesseira e sem limites e um homem obcecado e sem limites.
Quem sabe, um dia, eu me aventure na obra em inglês.
Lola, você viu o bafafá que tá dando com um post no Blogueiras Feministas? É um post comentando blogs e sites masculinos, os caras se revoltaram e até fizeram um post ridículo como resposta... e tá a maior discussão nos comentários
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirParabéns pelo post! Sua tese parece ótima mesmo! Eu li o livro, mas não vi nenhum dos filmes. Fico feliz em perceber que eu não fui a única em sentir simpatia e até dó do HH. É um livro complexo, que permite milhares de visões. E a sua é bem interessante!
Vou aguardar o post sobre ironia, devo estar precisando. Li o livro e não vi a ironia. Pelo menos não o que eu considero ironia. Por isso, vou esperar o conceito acadêmico.
ResponderExcluirPra mim, é sobre pedofilia da forma como é vista por um pedófilo. E Nabokov fez isso muito bem.
Mas ironia, não vi.
Bom dia!!!
ResponderExcluirnunca gostei mt de ler, mas apesar disso já li alguns livros em minha vida. Prefiro ler revistas, jornais. Mas ha pouco tempo ganhei um livro de meu irmão, LOLITA, e simplsmente foi o melhor livro que já Li. Mesmo sendo a historia de um pedofilo, não conseguimos sentir repuls por ele. Naburkov consegue tratar de um assunto tão asqueiroso, repgnante e erótico com uma riqueza de palavras que nem nos notamos do assunto. Fora o suspense que acorre durante uma parte do livro. Simplesmente excepcional
LoLa, eu nunca quis ler "Lolita" e, menos ainda, ver o filme. Isso pq eu sabia unicamente que "Lolita"conta a estória de um homem de meia idade seduzindo uma menina de 12 anos... apaixonado sim, mas ainda assim seduzindo-a. Lendo posts seus aqui no blog, descubro uma faceta da literatura de Nobokov que pegou-me totalmente de surpresa: a ironia com que o autor trata o assunto. Dando um vistaço nas primeiras páginas da sua tese pro Mestrado, parei ali onde vc compara as duas versões do filme entre si e tb com o livro. Pronto! bastou-me para saber que sim, vou ler o romance; e, sim, vou ver as duas versões do filme... sei que a segunda foi com Jeremy Irons, ator britânico que eu aprecio muito. Well, LoLa, obrgada por mais essa.
ResponderExcluirSua tese pro Mestrado tem 127 páginas ou algo assim... vou imprimir e poderei ir lendo aos poucos... será que dá pra passar o texto pro Kindle? Bem, eu também tenho um maridão, sabe? E qdo o assunto é informática, a bola é dele. besitos.
Adorei o resumo desta tese, como adoro o livro Lolita e o estilo do seu autor. So lamento uma coisa: infelizmente nao domino perfeitamente a lingua inglesa para ler com paixao esta linda tese, por isto so me resta esperar sair publicada em portugues.
ResponderExcluirBom texto, só que tem dois erros:
ResponderExcluir"E vai buscá-la no acampamento de férias. Logo Humbert está transando com Lolita e viajando com ela pelos EUA, sem perceber que um outro pedófilo, Quilty, os segue."
Na verdade, pedofilia é a atração sexual por crianças PRÉ-púberes. Uma garota de 12 anos geralmente está nas fases iniciais da puberdade. O interesse primário ou exclusivo nessa faixa etária se chama hebefilia, que diferentemente da pedofilia, não é uma doença.
“O pior que o livro fez foi criar termos como Lolita e ninfetas, usados para que homens adultos babem de desejo por meninas menores de idade — o que simplesmente deveria estar fora de cogitação pra qualquer pessoa consciente.”
Consciente do quê? De que, se você transar com uma menor de idade, você vai preso? Vejo que esse texto foi publicado em 2011. Pois saiba que, desde 2009, a idade do consentimento (idade legal para o sexo) no Brasil é 14 anos (artigo 217-a do Código Penal).
Ja li muitas vezes "LOLITA" vi os dois filmes, e estou cursando cinema então tenho meu comentario muito valido aqui.
ResponderExcluirHumbert não é um mostro. A mãe de lola não é uma coitadinha. e outros termos que vc usou blogueira.
"Lolita" é uma obra que só quem entra fundo no tema e nos personagens consegui entender, Humbert não é um pedófilo é um amante. Lolita não é uma simples menina, é encantadora e sabe muito bem intrigar o escritor. sempre o manipulando.
Então, não consegui, não engoli ler o resto do post, pq sua descrição do livro foi bruta e insensível.
Eu não acredito que estou lendo isso aqui?
ResponderExcluirPor mais bem escrito que o livro seja eu não acredito que uma feminista possa ter escrito uma tese pra defender um livro que fale sobre pedofilia.
Nunca tive uma opinião formada por você, mas agora tenho.
Perdi qualquer sentimento de respeito que pudesse um dia ter, estou profundamente decepcionada e lamentando muito sua existência.
Parabéns!
Ana, fico na torcida para que este não seja um comentário seu de verdade. Sei lá, que seu perfil seja fake. Porque é ridículo o que vc falou. Minha tese, aliás, dissertação, não foi escrita pra defender LOLITA. Foi pra falar sobre a transposição da ironia, do romance às suas duas adaptações fílmicas. Mas sim, eu e um monte de gente adoramos o livro. Livros sobre pedofilia, estupro e outros temas hediondos devem ser escritos, não censurados. Podemos usar essas obras para combater esses crimes. Fingir que esses temas não existam não fará que eles desapareçam. É possível gostar de LOLITA e ser totalmente contra a pedofilia. Assim como é possível discordar de alguém sem "lamentar muito sua existência".
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