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quarta-feira, 21 de novembro de 2018

MAIS UMA DISCIPLINA INTEIRINHA PRA VOCÊ: UTOPIAS E DISTOPIAS FEMINISTAS, PARTE II

Pessoas queridas, este ano eu comecei a dar aula na pós-graduação. Ofereci uma disciplina no primeiro semestre sobre distopias e utopias feministas. Deu tão certo que, por sugestão de alunas e alunos, estou dando uma segunda parte agora, no segundo semestre (quase no fim).
Para preparar esta disciplina, mais uma vez pedi sugestões a experts no assunto, como a Ana Rusche, Amanda Pavani e Melissa de Sá, todas pesquisadoras (e escritoras). Também pedi textos a Aline Valek (a turma adorou o seu conto!), e a professora Ildney Cavalcanti, referência internacional no tema. 
Como fiz em abril, gostaria de compartilhar esta disciplina com vocês. Todos os textos, todos os links, todas as referências, estão aqui. Quem quiser pode se inspirar pra montar seu próprio curso (primeira parte inteira aqui), misturar tudo, incluir textos que achar mais relevantes. E quem não está na academia pode só ir atrás das leituras, que são maravilhosas. Vamos aprovueitar, antes que proíbam qualquer cosia relacionada a feminismo e pensamento crítico na universidade, e antes que bombeiros venham queimar nossos livros (como na distopia de Ray Bradbury Fahrenheit 451). 

DISCIPLINA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS    2018.2   
Teoria dos Gêneros Literários II: Utopias e distopias feministas
Professora responsável: Lola Aronovich
Carga horária: 64h. No. de créditos: 4

Ementa: Distopias e utopias são gêneros literários que foram apropriados pelas feministas já no início do século XX. Nada mais adequado: este tipo de ficção científica conectada à crítica socio-econômica permite que mulheres imaginem universos alternativos bastante radicais no futuro. É uma chance de revisar o passado e de especular sobre o futuro próximo, pensando em corpos alienígenas e identidades de gênero menos binárias, alternativas para políticas reprodutivas, e saídas para cenários apocalípticos. A disciplina tem como objetivo estudar algumas obras de ficção representativas deste gênero híbrido e analisar não apenas gêneros (genres) literários (e uma série de TV), como também gênero (gender), entendido como uma construção social, cultural e histórica do que é feminino e masculino. Atenção: Não é preciso ter cursado a disciplina de 2018.1 sobre utopias e distopias feministas para fazer esta disciplina.

Forma de avaliação: Cada alunx deverá apresentar individualmente um ou dois seminários de 20 a 30 minutos relacionado a um dos textos teóricos, fazendo a ligação entre a teoria e a obra literária em questão (50% da nota). Além disso, o aluno deverá trazer por escrito reflexões acerca dos textos e duas ou três perguntas bem elaboradas para cada aula (40% da nota). 10% da nota será pela participação em sala de aula. 

Corpus
Speech Sounds (conto de 1983 da afro-americana Octavia Butler)
Eu, Incubadora (conto de 2013 da brasileira Aline Valek)
The Woman who Thought She Was a Planet (conto de 2009 da indiana Vandana Singh)
Morgana Memphis contra a Irmandade Gravibranâmica (conto de 2011 da brasileira não binária Alliah)
A Rainha do Ignoto (romance de 1899 da cearense Emília Freitas, uma das primeiras obras de ficção científica publicadas no Brasil, e o primeiro romance publicado por uma mulher cearense)
Terra das Mulheres (romance de 1915 da americana Charlotte Perkins Gilman)
The Female Man (romance de 1975 da americana Joanna Russ. Não tem em português. Tem no original, em inglês. E em espanhol, com o delicioso título de El Hombre Hembra).
O Conto da Aia (série de TV de 2018 adaptada do romance de 1985 da canadense Margaret Atwood)
A Parábola do Semeador (romance de 1993 da afro-americana Octavia Butler)
O Poder (romance de 2016 da britânica Naomi Alderman)

Cronograma
– Introdução à disciplina, apresentação, recapitulação da disciplina de 2018.1

– Contos: “Speech Sounds”, de Octavia Butler, e “Eu, Incubadora”, de Aline Valek
Texto: The three faces of utopianism revisited, de Lyman Tower Sargent   
Texto: Dystopias, do The Encyclopedia of Science Fiction, editado por Clute et al

– Contos: "The woman who thought she was a planet", de Vandana Singh, e "Morgana Memphis contra a Irmandade Gravibranâmica", de Alliah
Texto: Feminismo e utopia, de Susana Bornéo Funck  
Texto: A distopia feminista contemporânea, de Ildney Cavalcanti 

– A Rainha do Ignoto
Texto: A Rainha do Ignoto: um romance fantástico?, de Goretti Moreira  
Texto: Capítulo 2: A Rainha do Ignoto e a construção de uma alteridade insubordinada, da dissertação de Adriana Emerim Borges

– A Rainha do Ignoto e Terra das Mulheres
Capítulo 3: A Rainha do Ignoto e a construção de uma utopia feminina, da dissertação de Elenara Walter Quinhones
Texto: A Rainha do Ignoto e Herland: feminismos utópicos-separatistas, de Ildney Cavalcanti e Aline Maire de Oliveira Gomes 

– Terra das Mulheres
Texto: Essencialismo e construcionismo na ficção utópica de Charlotte Perkins Gilman: Herland e With Her in Ourland, de Fátima Sousa  
Texto: Sex before gender: Charlotte Perkins Gilman and the evolutionary paradigm of utopia, de Bernice L. Hausman 

– The Female Man
Texto: Entrevista de Amanda Pavani com Marge Piercy  
Texto:  "Something like a fiction": speculative intersections of sexuality and technology, de Veronica Hollinger  

– The Female Man
Texto: Marginalization of "the Other": gender discrimination in dystopian visions by feminist science fiction authors, de Anna Gilarek 
Texto: Parte 3 da dissertação de mestrado Três leituras de ficção científica, de Marlova Soares Mello 

– O Conto da Aia (série de TV)
Texto: Pesadelo sem Fim: por que distopias feministas devem parar de torturar as mulheres, de Sarah Ditum  
Texto:  Competência midiática: o ativismo dos fãs de The Handmaid's Tale, de Daiana Sigliano e Gabriela Borges 

– O Conto da Aia (série de TV)
Texto: O imagético vitoriano e a produção do saber sobre a sexualidade em “The Handmaid's Tale”, de Bárbara Bianchi Rolim   
Texto:  Atributos de séries dramáticas de sucesso e engajamento da audiência, de Silvio Antonio Luiz Anaz  

– A Parábola do Semeador
Texto: Octavia Butler, afroculturismo e a necessidade de criar novos mundos, de Carlos Calenti  
Texto: Devil girl from Mars: Why I write science fiction, de Octavia Butler  

– A Parábola do Semeador e O Poder
Texto: Sobrevivendo pela mudança: a temática do deslocamento na literatura fantástica afro-americana, de Alexander Meireles da Silva  
Texto: The persistence of hope in dystopian science fiction, de Raffaella Baccolini  

– O Poder
Texto: What if women were in charge?, de Bridget Read  
Texto: Naomi Alderman on the world that yielded “The Power”, de Ruth La Ferla 

Bibliografia

ALDERMAN, Naomi. O poder. Trad. Rogério Galindo. São Paulo: Planeta do Brasil, 2018. 

ALLIAH. Morgana Memphis contra a Irmandade Gravibranâmica. A fantástica literatura queer, Vermelho. São Paulo: Tarja Editorial, 2011. P. 13-48. Acesso em: 29 jul 2018.

ANAZ, Silvio Antonio Luiz. Atributos de séries dramáticas de sucesso e engajamento da audiência. Significação: Revista de Cultura Audiovisual USP, São Paulo, v. 45, n. 50, p. 239-258, jul-dez 2018. Acesso em: 30 jul 2018. 

BACCOLINI, Raffaella. The persistence of hope in dystopian science fiction. MPLA, v. 119, no. 3, Special       Topic: Science Fiction and Literary Studies: The Next Millennium (May, 2004), p. 518-21. Acesso em: 26 jun 2018.

Emilia Freitas em rara imagem
BORGES, Adriana Emerim. Capítulo 2: A Rainha do Ignoto e a construção de uma alteridade insubordinada. A representação de duas heroínas marginais: uma leitura gendrada de A Rainha do Ignoto, de Emília Freitas, e de Videiras de Cristal, de Luiz Antonio de Assis Brasil. p. 26-40. Dissertação de mestrado. Pontífica Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2010. Acesso em: 16 jun 2018.

BUTLER, Octavia. “Devil girl from Mars”: why I write science fiction. Palestra em MIT em 1998. Acesso em: 16 jun 2018.

_____. A parábola do semeador. Trad: Carolina Caires Coelho. São Paulo: Morro Branco, 2018.

_____. Speech sounds. Asimov's science fiction magazine, 1983. Acesso em: 29 jul 2018.

CALENTI, Carlos. Octavia Butler, afrofuturismo e a necessidade de criar novos mundos. Afrofuturismo: cinema e música em uma diáspora intergaláctica. São Paulo: Caixa Cultural, 2015. P. 10-25. Acesso em: 29 jul 2018. 

CAVALCANTI, Ildney, GOMES, Aline Maire de Oliveira. A Rainha do Ignoto e Herland: feminismos utópicos-separatistas. Anais do VI SENALIC. Org. Carlos Magno Gomes, Ana Maria Leal Cardoso, Maria Lúcia dal Farra. São Cristóvão: GELIC, v. 06, 2015. Acesso em: 16 jun. 2018. 

CAVALCANTI, Ildney. A distopia feminista contemporânea: um mito e uma figura. Refazendo nós: ensaios sobre mulher e literatura. Org. Izabel Brandão, Zahide L. Muzart. Florianópolis: Mulheres, 2003. P. 337-60.

CLUTE, John, LANGFORD, David, NICHOLLS, Peter, SLEIGHT, Graham, ed. Dystopias. The encyclopedia of science fiction. 3a ed, 2014. Acesso em: 26 jun 2018. 

DITUM, Sarah. Pesadelo sem fim: por que distopias feministas devem parar de torturar mulheres. Trad. Vinicius Simões. Escreva Lola Escreva, 21 de junho de 2018. Acesso em: 21 jun. 2018.

FREITAS, Emília. A Rainha do Ignoto: romance psicológico (1899). 2a ed. Fortaleza: Imprensa Oficial do Ceará, 1980. 

FUNCK, Susana Bornéo. Feminismo e utopia. Estudos Feministas ano 1, n. 1/93, UFSC, Florianópolis, p. 33-48. Acesso em: 29 jul 2018.

GILAREK, Anna. Marginalization of “the Other”: Gender discrimination in dystopian visions by feminist science fiction authors. Text Matters, v. 2, no. 2, 2012. Maria Curie-Sktodwska University, Lublin. p. 1-18. Acesso em: 16 jun. 2018.

GILMAN, Charlotte Perkins. Terra das Mulheres. Trad: Flávia Yacubian. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2018. 

HAUSMAN, Bernice L. Sex before gender: Charlotte Perkins Gilman and the evolutionary paradigm of utopia. Feminist Studies, v. 24, no. 3 (Autumn, 1998), p. 488-510. Acesso em: 30 jul 2018.

HOLLINGER, Veronica. "Something like a fiction": speculative intersections of sexuality and technology. Queer universes: sexualities in science fiction. Liverpool: Liverpool University Press, 2008. P. 140-160. Acesso em: 30 jul 2018. 

LA FERLA, Ruth. Naomi Alderman on the world that yielded “The Power”. The New York Times, 29 de janeiro de 2018. Acesso em: 30 jul 2018. 

MELLO, Marlova Soares. Parte 3. Três leituras de ficção científica: uma dissertação sem título. Dissertação de mestrado em Letras. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2017. P. 68-100. Acesso em: 30 jul 2018. 

MILLER, Bruce. O Conto da Aia (série de TV baseada no romance de Margaret Atwood). Hulu, 2018.

MOREIRA, Goretti. A Rainha do Ignoto: um romance fantástico? Revista da Academia Cearense de Letras. Ano CVI, n. 61, 2006. P. 102-121. Acesso em: 29 jul 2018.

PAVANI, Amanda. Comunidades, ficção científica e literatura com Marge Piercy (entrevista). Em Tese, Belo Horizonte, v. 23, n. 3 (2017). Acesso em: 4 set 2018. 

QUINHONES, Elenara Walter. Capítulo 3: A Rainha do Ignoto e a construção de uma utopia feminina. Entre o real e o imaginário: configurações de uma utopia feminina em A Rainha do Ignoto, de Emília Freitas. Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Santa Maria, 2015. P. 95-125. Acesso em: 16 jun 2018.

READ, Bridget. What if women were in charge? Vogue. 13 de outubro de 2017. Acesso em: 30 jul 2018. 

ROLIM, Bárbara Bianchi. O imagético vitoriano e a produção do saber sobre a sexualidade em "The Handmaid's Tale". Revista Fantástica. Verão 2018.  P. 85-94. Acesso em 29 jul 2018. 

RUSS, Joanna. The female man. Nova York: Bantam Books, 1975. (Trad em espanhol).

SARGENT, Lyman Tower. The three faces of utopianism revisited. Utopian Studies v. 5, no. 1 (1994), p. 1-27. Penn State University Press. Acesso em: 16 jun. 2018.

SIGLIANO, Daiana, BORGES, Gabriela. Competência midiática: o ativismo dos fãs de The Handmaid's Tale. Comunicação e Inovação, v. 19, n. 40 (2018), p. 106-122. Acesso em: 30 jul 2018.

SILVA, Alexander Meireles da. Sobrevivendo pela mudança: a temática do deslocamento na literatura fantástica afro-americana. Cerrados. UnB, v. 27, Brasília, 2009. P. 147-169. Acesso em: 30 jul 2018. 

SINGH, Vandana. The woman who thought she was a planet. The woman who thought she was a planet and other stories. P. 39-54. India: Penguin, 2009. Acesso em: 29 jul 2018.

SOUSA, Fátima. Essencialismo e construcionismo na ficção utópica de Charlotte Perkins Gilman: Herland e With her in Ourland. Panorâmica: Revista Electrônica de Estudos Anglo-Americanos. 2A ser. 1 (2008): 83-98. Acesso em: 16 jun. 2018. 

VALEK, Aline. Eu, incubadora. Universo desconstruído: ficção científica feminista. Org. Aline Valek, Lady Sybylla. 1a ed. 2013. P. 117-148.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

CURSO DE EXTENSÃO QUE COMEÇA NA TERÇA ESTÁ COM INSCRIÇÕES ABERTAS

Eu com as alunas maravilhosas que apresentaram Mulher Maravilha em abril

Pessoas queridas, convido vocês que moram no Ceará ou estão de passagem para fazer o meu curso de extensão Discutindo gênero através de cinema e literatura. Começa já na terça que vem, dia 21 de agosto. 
Se você quiser se inscrever, mande um email pra mim para lolaescreva@gmail.com e escreva "curso de extensão" no tópico. Pronto, você já está inscritx. Logo enviarei um email para todos os inscritos, que já estão em 130. O curso rende um certificado de 32 horas complementares para quem vier a no mínimo cinco das oito aulas. É aberto a toda a comunidade -- não precisa ser estudante da UFC ou de outra universidade para fazer. E é totalmente grátis. Venha e traga as amizades! 
Auditório em abril
Semestre passado o curso bateu todos os recordes de inscrições: 300! Vou manter o curso no auditório. Será às terças-feiras (quinzenalmente), das 11:30 às 13:30. Veja o cronograma abaixo. 
Você pode conferir um pouco do que foi ofertado nos semestres mais recentes, com links. 
O último curso foi excelente, e pela primeira vez tiramos algumas fotos, como você pode conferir.

CURSO DE EXTENSÃO 
DISCUTINDO GÊNERO ATRAVÉS DE LITERATURA E CINEMA
Terças (quinzenalmente), das 11:30 às 13:30
 

Cronograma inicial – Semestre 2018.2

Lição de casa para 21 de agosto: Assistir ao filme Pantera Negra e ler os posts de Anne Caroline Quiangala: “O que aprendemos com M'Baku?” e “Pantera Negra, separatismo e um olhar para utópica 'democracia da abolição'” 

21 de agosto – Breve introdução ao curso. Discussão do filme Pantera Negra e dos posts de Quiangala

Lição de casa para 4 de setembro: Assistir ao filme Eu, Tonya e ler o dossiê sobre violência doméstica e familiar 

4 de setembro - Discussão do filme Eu, Tonya e do dossiê sobre violência doméstica e familiar

Lição de casa para 18 de setembro: Assistir ao filme Mudbound: Lágrimas sobre o Mississippi e ler o artigo de Mônica Conrado e Alan Augusto Moraes Ribeiro “Homem negro, negro homem: masculinidades e feminismo negro em debate” 

18 de setembro - Discussão do filme Mudbound e do artigo de Conrado e Ribeiro

Lição de casa para 2 de outubro - Assistir ao filme A Bruxa e ler o capítulo de Maria José Rosado-Nunes “Gênero: uma questão incômoda para as religiões”

2 de outubro - Discussão do filme A Bruxa e do artigo de Rosado-Nunes 

Lição de casa para 16 de outubro - Assistir ao filme Me Chame pelo seu Nome e ler o artigo de Richard Miskolci “O segredo” de Desejos Digitais 

16 de outubro - Discussão do filme Me Chame pelo seu Nome e do artigo de Miskolci

Lição de casa para 30 de outubro - Assistir ao filme Moana, Um Mar de Aventuras e ler o artigo de Rebecca Solnit “Os homens explicam tudo para mim”

30 de outubro – Discussão do filme Moana e do artigo de Solnit 

Lição de casa para 13 de novembro -
Assistir ao filme Lady Bird: a hora de voar e ler o artigo de Audre Lorde “The master's tools will never dismantle the master's house” e o post de Ali Owens “Growing up she: coming of age in the patriarchy” 

13 de novembro – Discussão do filme Lady Bird, do artigo de Lorde e do post de Owens 

Lição de casa para 27 de novembro - Ler o livro Argonautas de Maggie Nelson 

27 de novembro – Discussão do livro Argonautas

sexta-feira, 27 de abril de 2018

UTOPIAS E DISTOPIAS FEMINISTAS, DISCIPLINA COMPLETA DE PRESENTE PRA VOCÊ

Este semestre eu finalmente comecei a dar aula na pós-graduação! 
Eu não tinha tanto interesse porque no meu departamento a gente já trabalha demais (temos em média 16 horas em sala de aula por semana), e também porque atuo fortemente na extensão. Mas os queridos coordenadores me fizeram uma oferta que eu não podia recusar: me deram carta branca pra bolar a disciplina que eu quisesse.
Como tenho lido algumas obras de ficção científica nos últimos dois anos, pensei em utopias e distopias feministas. Mas meu conhecimento sobre o tema ainda era muito superficial. Então sondei especialistas com quem tenho contato na internet, como Valéria Fernandes e Antônio Luiz M. C. Costa; perguntei pra Amanda Pavani, doutoranda na UFMG, e ela falou com sua amiga Melissa de Sá, que me passou excelentes recomendações. Também falei com a Aline Valek, que me lembrou que a tese de doutorado da Ana Rusche é sobre distopias feministas. Tirei mil e uma ideias desse trabalho incrível. 
O resultado é que comecei a dar o curso em fevereiro e tem sido ótimo. A turma está cheia e tem mestrandos e doutorandos de várias áreas diferentes (letras, lógico, mas também estudos da tradução, sociologia, pedagogia, jornalismo). São todxs brilhantes, super participativxs! O único porém é que a maior parte dos textos são em inglês e não é todo mundo que domina a língua. 
Mas estou adorando, apesar do trabalhão que é. E está tudo dando tão certo que já acertei para oferecer uma segunda parte do curso no semestre que vem. E como recebi muita ajuda para montar todo o cronograma do curso, quero compartilhar isso com vocês. Então lá vai, com muita generosidade, toda a minha disciplina (com bibliografia, com links!) sobre utopias e distopias feministas. Pra quem está na academia, pode adotar! Pra quem não está, fica o convite pra ler todas essas obras maravilhosas.

DISCIPLINA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS   2018.1    
Teoria dos Gêneros Literários I: Utopias e distopias feministas
Professora responsável: Lola Aronovich 
Carga horária: 64h. No. de créditos: 4

Ementa: Distopias e utopias são gêneros literários que foram apropriados pelas feministas já no início do século XX. Nada mais adequado: este tipo de ficção científica conectada à crítica socio-econômica permite que mulheres imaginem universos alternativos bastante radicais no futuro. É uma chance de revisar o passado e de especular sobre o futuro próximo, pensando em corpos alienígenas e identidades de gênero menos binárias, alternativas para políticas reprodutivas, e saídas para cenários apocalípticos. A disciplina tem como objetivo estudar algumas obras de ficção representativas deste gênero híbrido e analisar não apenas gêneros (genres) literários (e um filme), como também gênero (gender), entendido como uma construção social, cultural e histórica do que é feminino e masculino.

Forma de avaliação: Cada alunx deverá apresentar individualmente um seminário de 20 a 30 minutos relacionado a um dos textos teóricos, fazendo a ligação entre a teoria e a obra literária em questão (50% da nota). Além disso, o aluno deverá trazer por escrito reflexões acerca dos textos e duas ou três perguntas bem elaboradas para cada aula (40% da nota). 10% da nota será pela participação em sala de aula. 

Corpus
O Sonho de Sultana (conto de 1905 da indiana Rokheya Shekhawat Hossein)
A Mão Esquerda da Escuridão (romance de 1969 da americana Ursula K. Le Guin)
When It Changed (conto de 1972 da americana Joanna Russ)
The Women Men Don't See (conto de 1974 da americana James Tiptree Jr, ou Alice Bradley Sheldon)
Woman on the edge of time (romance de 1976 da americana Marge Piercy)
Kindred (romance de 1979 da afro-americana Octavia Butler)
O Conto da Aia (romance de 1985 da canadense Margaret Atwood)
Duas Palavras (conto de 1988 da chilena Isabel Allende)
Mad Max: A Estrada da Fúria (filme de 2015 do australiano George Miller)
As Filhas de Eva (Only Ever Yours, romance de 2015 da irlandesa Louise O'Neill)

Cronograma
- Introdução à disciplina

- “O Sonho de Sultana”
Texto: Em busca das utopias da/na América Latina: identidades, literatura e cultura, de Cavalcanti e Cordiviola.
Texto: Contando estórias feministas, de Hemmings

- A Mão Esquerda da Escuridão
Texto: Is gender necessary, de Le Guin.  
Texto: Gender & Genre, de Harrow

- A Mão Esquerda da Escuridão
Texto: World reduction in Le Guin, de Jameson.
Texto: Capítulo  2 - The Left Hand of Darkness: utopia e imaginação, pgs. 26 a 42, da tese Utopia, feminismo e resignação em The Left Hand of Darkness e Handmaid's Tale, de Rusche

- “When It Changed” e “The Women Men Don't See”
Texto: Towards an Aesthetic of Science Fiction, de Russ.
Texto: Reprodução, Ciência e Tecnologia em Herland, de Charlotte Perkins Gilman e When It Changed, de Joanna Russ, de Sawada, Sousa e Rocque.

- Woman on the Edge of Time
Texto: Utopia in dark times: Optimism/Pessimism and Utopia/Dystopia, de Levitas e Sargisson

- Woman on the Edge of Time
Texto: Utopia Now, de Jameson.
Texto: Varieties of the Utopian, de Jameson. 

- Kindred, de Octavia Butler.
Texto: Critical essay, de Crossley.

- Kindred
Texto: Concrete Dystopia: Slavery and Its Others, de Varsam.

- O Conto da Aia, de Margaret Atwood.
Texto: Utopias of/f Language in Contemporary Feminist Literary Dystopias, de Cavalcanti. 
Texto: Capítulo 4 - Feminismos e teorias de gênero nos dois romances, pgs. 63 a 95, da tese Utopia, feminismo e resignação em The Left Hand of Darkness e Handmaid's Tale, de Rusche

- O Conto da Aia 
Texto: Chapter 3: The Handmaid's Tale in dialog with speculative fiction, pgs. 26-47. Chapter 4: Women disunited: the matriarchy of Gilead, pgs. 48-62 da tese de Callaway.
Texto: “Just a backlash”: Margaret Atwood, Feminism and The Handmaid's Tale, de Neuman.

- O Conto da Aia e “Duas Palavras”, de Isabel Allende
Texto: A visão distópica de Atwood na literatura e no cinema, de Campello
Texto: What Can a Heroine Do? Or Why Women Can't Write, de Russ.

- Mad Max
Texto: Film bodies: Gender, genre and excess, de Williams

- As Filhas de Eva
Texto: A Cyborg Manifesto, de Haraway.
Texto: Genre Blending and the Critical Dystopia, de Donawerth.

- As Filhas de Eva
Texto: Como os Corpos se Tornam Matéria: Entrevista com Judith Butler, de Prins e Meijer


Bibliografia

ALLENDE, Isabel. Duas Palavras (conto). Contos de Eva Luna. Trad. Rosemary Moraes. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001 (1988). Acesso em: 13 nov 2017.

ATWOOD, Margaret. O conto da aia. Trad. Ana Deiró. São Paulo: Rocco, 2005. 

BUTLER, Octavia. Kindred: Laços de Sangue. Trad. Carolina Caires Coelho. São Paulo: Morro Branco, 2017 (1979). 

CALLAWAY, Alanna. Women disunited: Margaret Atwood's The Handmaid's Tale as a critique of feminism. Master theses, San Jose State University, 2008. Acesso em: 13 nov 2017.  

CAMPELLO, Eliane. A visão distópica de Atwood na literatura e no cinema. Interfaces Brasil/Canadá, Belo Horizonte, v. 1, n. 3, 2003. Pg. 197-210. Acesso em: 13 nov 2017.

CAVALCANTI, Ildney. Utopias of/f Language in Contemporary Feminist Literary Dystopias. Utopian Studies, 11.2 (Spring 2000), Pennsylvania State University Press.

CAVALCANTI,  Ildney, CORDIVIOLA, Alfredo. Em busca das utopias da/na América Latina: identidades, literatura e cultura. Morus Utopia e Renascimento, vo.l. 6 (2009). p. 1-10. Acesso em: 13 nov 2017.

CROSSLEY, Robert. Critical Essay (sobre Kindred). University of Massachusetts. 2003. Acesso em: 13 nov 2017.

DONAWERTH, Jane. Genre Blending and the Critical Dystopia. Dark Horizons: Science Fiction and  the Dystopian Imagination. New York and London: Routledge, 2003. p. 29-46. 

HARAWAY, Donna. A Cyborg Manifesto: Science, Technology and Socialist-Feminism in the Late Twentieth Century.  The Cybercultures Reader. Ed. David Bell, Barbara Kennedy. London and New York:  Routledge, 2000. p. 291-324. Acesso em: 13 nov 2017. 

HARROW, Sharon. Gender & Genre. ABO: Interactive Journal for Women in the Arts, 1640-1830. Scholar Commons. Volume 2.1 (March 2012). Acesso em: 13 nov 2017.

HEMMINGS, Clare. Telling feminist stories: contando estórias feministas. Revista Estudos Feministas. Florianópolis, vol. 17, no. 1, jan-abr 2009. Acesso em: 13 nov 2017.

HOSSEIN, Rokheya Shekhawat. Sultana's dream. Sultana's dream; and Padmarag: two feminist utopias. Trad. Barnit Bagchi. New Delhi: Penguin, 2005 (1905). Em português: https://archive.org/details/OSonhoDaSultana Acesso em: 13 nov 2017.


JAMESON, Fredric. Introduction: Utopia Now e Variaties of the Utopian. Archaeologies of the future: the desire called utopia and other science fictions. London: Verso, 2005. Acesso em: 13 nov 2017. P. xi-9.

_____. World Reduction in Le Guin. Archaeologies of the future: the desire called utopia and other science fictions. London: Verso, 2005. Acesso em: 13 nov 2017. P. 267-280.

LE GUIN, Ursula K. Is Gender Necessary? Redux. Dancing at the Edge of the World: Thoughts on Words, Women, Places. New York: Grove Press, 1989. P. 7-16. Acesso em: 13 nov 2017.

_____. A Mão Esquerda da Escuridão. Trad. Susana Alexandria. São Paulo: Aleph, 2005. Acesso em: 18 fev 2018.

LEVITAS, Ruth, SARGISSON, Lucy. Utopia in Dark Times: Optimism/Pessimism and Utopia/Dystopia. Dark Horizons: Science Fiction and the Dystopian Imagination. Nova York e Londres: Routledge, 2003. p. 13-27. 

MILLER, George, dir. Mad Max: Estrada da Fúria. Kennedy Miller Productions, Village Roadshow Pictures. Austrália/EUA, 2015. 120 min.

NEUMAN, Shirley. “Just a backlash”: Margaret Atwood, Feminism and The Handmaid's Tale. University of Toronto Quarterly 75.3, p. 857-868, 2006. Acesso em: 13 nov 2017. 

O'NEILL, Louise. As Filhas de Eva. Lisboa: Civilização, 2015. (Em inglês, Only Ever Yours). 

PIERCY, Marge. Woman on the edge of time. Nova York: Knopf, 1976.

PRINS, Baukje, MEIJER, Irene Costera. Como os Corpos se Tornam Matéria: Entrevista com Judith Butler. Revista Estudos Feministas, vol. 10, no. 1. Florianópolis, jan 2002. Acesso em: 13 nov 2017. 

RUSCHE, Ana. Utopia, feminismo e resignação em The Left Hand of Darkness e The Handmaid's Tale. Tese de doutorado. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2015. Acesso em: 13 abr 2018. 

_____. Margaret Atwood: de quanto o real supera a ficção. Pernambuco: Suplemento Cultural do Diário Oficial do Estado. Dezembro 2017. Acesso em: 21 jan 2018.

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