Recebi um link para um excelente documentário de 41 minutos feito pelo canal Innuendo Studios, com legendas em português, sobre como radicalizar uma pessoa (quase sempre homem) "normal" e torná-la uma extremista patética da direita. Os alvos principais são homens brancos héteros que se sentem emasculados pela sociedade.
Vou compartilhar o que achei mais interessante com vocês, com alguns comentários meus baseados na minha experiência com esses grupos. Mas, por favor, vejam o vídeo, que realmente explica muito.
Uma estratégia para recrutar homens "normais" (ou seja, não misóginos, racistas e neonazistas de saída) para se radicalizarem é criar fóruns e canais que o carinha encontre sem querer (por exemplo, um "inocente" canal criticando que superheróis brancos dos quadrinhos sejam interpretados por negros ou mulheres). Outra é se infiltrar nos canais que o carinha já acessa.
Uma tática relevante é que a direita não vende política como política (pois política não é legal, e nenhum político exceto o mito presta, lembram?), mas como um estilo de vida conservador. Ataques a feministas, negros, LGBT e outros grupos funcionam como portas de entrada. É o que a gente vive dizendo: misoginia é a porta de entrada na internet para drogas mais pesadas.
O carinha não está a princípio procurando neonazismo ou misoginia, mas uma cura para o seu mal- estar. Ele quer ser feliz, sentir-se melhor, porque se sente um m*rda.
Aí vem outra tática importante: isolar o alvo, fazer com que ele não ouça o contraditório. Isso é típico de lavagem cerebral. Tem muita gente da direita (ironicamente "pró-família") que recomenda cortar laços com a própria família.
O vídeo explica que a esquerda poderia explorar e se beneficiar desses problemas que o carinha sente, mas ele aprende versões racistas e machistas do problema:
Sim, existe um problema dos trabalhadores serem mal pagos e explorados, mas a solução para combater isso não é criar e apoiar sindicatos, é expulsar imigrantes.
Sim, existe um problema de concentração de renda que deixa um pouquinho de gente com muito e a maioria com nada, e sabemos que os ricos têm muito poder e influência, mas o problema não é o capitalismo. São os judeus (é só ver o que reaças falam de George Soros, um bilionário).
Sim, há solidão e raiva em ser um homem hoje, mas o problema não é a masculinidade tóxica que o patriarcado impõe, é as mulheres serem vadias. Isso é muito comum entre os mascus. Eles culpam as "mulheres modernas" e o feminismo pra tudo. Mas não são as mulheres nem o feminismo que defendem que o homem seja o provedor da casa. É o patriarcado, estúpido! Não são as mulheres nem o feminismo que exigem que o homem seja um garanhão. É o patriarcado! E aí os mascus, em vez de focarem sua raiva no sistema que os oprime, foca nas mulheres. São uns otários mesmo.
Logo os algoritmos das redes sociais percebem as tendências do carinha e param de recomendar qualquer conteúdo de esquerda. O alvo se afasta da "agenda esquerdista" (ou do marxismo cultural) que pode desprogramá-lo. Ele ficará cada vez mais isolado.
Pode-se comparar a jornada do carinha ao radicalismo com as camadas de uma cebola. Cada fase se vende como a verdade final e absoluta e nega a validade das fases anteriores (as pessoas daquelas fases estavam dormindo, você está acordado). As fases seguintes (cada vez mais radicais) não existem e você não está sendo direcionado a elas, é apenas imaginação dos esquerdopatas.
Mas, na realidade, crer nessas "verdades absolutas" e cultivar o ódio não ajuda o carinha. Expulsar imigrantes não melhora a economia, e odiar mulheres não faz os homens menos solitários nem menos zangados. Só que a essa altura -- quando o carinha percebe que não está mais feliz, muito pelo contrário -- ele já está tão isolado, tão submerso naquele universo, que sua única alternativa é afundar ainda mais. Tomar a próxima pílula vermelha.
E tudo isso ocorre na base de muita, muita repetição. Através da repetição, as ideias mais radicais e absurdas parecem normais. E agora o carinha quer odiar. Ódio motiva, é um combustível. Ele sempre vai encontrar alguém para odiar. Ele vai a fóruns para ficar com raiva. É a mesma dinâmica de relacionamentos abusivos.
Quando uma comunidade oferece ao carinha uma piada racista (que não é vendida como racista, e sim como irreverente, polêmica), ele vai ter que escolher entre rir com seus amigos ou não ser racista. O carinha solitário precisa de amigos, e rir de uma piada racista é pessoal. Não rir é político. Ficar numa comunidade que tem nazistas é pessoal, e sair dela é político. O pessoal é o que junta as pessoas, o político é o que as separa. Por isso que uma máxima do feminismo (cooptada pela esquerda de modo geral), "o pessoal é político", é das coisas mais ameaçadoras que podem ser ditas em fóruns de direita.
O passo seguinte na radicalização é receber uma missão. Mas o vídeo diz que a alt-right (a extrema direita) não pode fazer isso, pois deixaria de ser uma mera hashtag inofensiva ou um grupo que se diz moderado. Entre os mascus, não há essa preocupação. Eles recrutam mesmo, diariamente. Um dos mantras deles é "O mundo te odeia, devolva esse ódio". Outro é "Leve a escória junto", para que rapazes que querem se suicidar cometam massacres e matem mulheres, negros, LGBT, antes de se matarem ou serem mortos pela polícia.
É uma máquina de produção de "lobos solitários". Porque os caras já estão furiosos e precisam desse ódio, e não tem o que fazer com ele. Nos EUA, onde o acesso a armas é mais fácil e incentivado, fazer com que esse carinha cometa um massacre armado é mais fácil. Aqui no Brasil, todos esses carinhas votaram no Bolso não apenas por se identificarem totalmente com suas ideias preconceituosas, mas pela promessa da liberação das armas de fogo. Certamente, diz o vídeo, a violência é a conclusão lógica para uma ideologia de ódio.
Ou o carinha pode progredir na sua violência começando levemente, por exemplo, xingando pessoas no Twitter, daí se juntando a um grupo organizado que xinga coletivamente, daí compartilhando nudes e fazendo doxxing (descobrir e divulgar dados pessoais de alguém, para assim poder atacá-la), ligar pra elas, mandar fotos da entrada da casa de alguém, gravar vídeos contra elas, ameaçá-las (tudo isso e muito mais já foi feito contra mim, geralmente a mando de um líder mascu). Esses atos são competitivos (quem oprime mais? Quem conseguiu fazer com que a vítima deletasse sua conta?) e tornam o carinha mais aceito na comunidade.
Não há muitas opções. Por isso mesmo aqueles que não tinham tendências suicidas desenvolvem essas tendências nos fóruns.
O vídeo lembra que esses conservadores são minoritários e nem de longe representam a maioria dos homens (eu concordo!), e que, se você conhece um carinha assim, pode valer a pena falar com ele e tentar afastá-lo do mal, mas é péssimo gastar mais tempo com eles do que se gasta com pessoas que são vítimas de preconceitos de verdade. E, como o vídeo mostra, o seu valor como esquerdista não se baseia em mudar a cabeça de um carinha desses.
É verdade, e eu nunca dialogo com mascus, porque isso seria dar-lhes a atenção e a conexão emocional que eles tanto desejam. Eu nunca vou mudar um neonazista como o Emerson (que foi preso e condenado em 2012, saiu da cadeia em 2013, depois foi preso nos EUA e deportado, e agora está foragido na Espanha), que sofreu abuso na infância e até hoje, aos 41 anos, tenta se vingar do mundo por conta desses abusos, um cara claramente perturbado e mitomaníaco que precisa de um terapeuta (mas que odeia psicólogas, tornando-o alvo fácil das garras de pastores e de líderes nazis), então eu nem tento. Mas fico feliz quando um texto meu impede que uma mulher se relacione com ele e tenha sua vida arruinada.
O vídeo termina com razões que podem fazer o carinha sair da comunidade de ódio (ela pode deixar de existir, o carinha pode ser preso ou hospitalizado, ele pode entender que está sendo manipulado, ele pode conhecer alguém e se apaixonar, ou sair para tentar salvar seu relacionamento). Mas o que não funciona são os argumentos de um estranho que prova que todos os seus fatos estão errados e que sua ideologia é uma farsa. Fatos não funcionam porque fatos não ligam pros sentimentos do carinha. Ele queria pertencer, ser aceito. Foi isso que o aproximou do grupo de ódio.
Se existe uma verdade sobre tudo isso, é a seguinte: nenhum carinha sai de uma comunidade de ódio mais feliz do que entrou. Ele se afunda no ódio, só consegue pensar nisso. Vê seus projetos se paralisarem, vê sua vida estagnar. Um exemplo é o Kyo, apelido de André.
Não sei quando ele começou a frequentar fóruns mascus, a princípio no Orkut, mas pelo menos desde 2010 ele era parceiro de Marcelo (que hoje está na cadeia, cumprindo uma sentença de 41 anos).
É bem possível que ele tenha entrado nessa vida ainda menor de idade. Com 29 anos, quando decidiu se matar e foi convencido pelo chan que moderava a "levar a escória junto" (ele escolheu Luciana, uma moça que ele nunca tinha visto na vida e que sequer sabia de sua triste existência), ele estava no mesmo ponto de uma década atrás: continuava morando e sendo sustentando pelos pais numa cidade pequena que odiava, não trabalhava, não estudava, não namorava.
Eu não tenho pena do Kyo, tenho pena da Luciana. Mas ele é um representante da vida que aguarda os caras que odeiam: nada além de ódio e miséria.
Sei que esses carinhas me odeiam e francamente não dou a mínima. Mas fica a sugestão: afastem-se dessas comunidades de ódio.
A internet trouxe à tona o pior do ser humano e tirou da escória a vergonha de mostrar a própria podridão. Tem gente que tem problemas sérios e, sem apoio, acaba sendo arrastada pro ódio e pra violência; mas essas pessoas geralmente são minoria e abandonam o ódio quando tem o amparo necessário. O resto não dá pra ter pena mesmo, porque termina que a maioria desses caras não é alguém com problemas mas um bando de idiotas mimados que não suportam saber que o mundo não gira ao redor deles, que não são o centro do universo.
ResponderExcluirAcabei de me encontrar com um preto velho daqui da cidade, Pai Tenório. Ele me confiou que a pessoa que eu mais odeio vai cair até o final do ano. Bem, a pessoa que eu mais odeio é você, Lola. Você não tá mexendo com pai de santo qualquer não, esse trabalho é dos poderosos. Melhor ir se despedindo do maridão.
ResponderExcluirQue vida vazia a tua. Não consegue nem ter uma relação de ódio fora da internet? Você precisa de remédio e terapia, sério, antes que precise de cadeia.
ExcluirA maioria dos mascus são conservadores olavetes, já vi você falando que a maioria é neonazi, mas não é. Pesquise os canais mgtows no youtube, só tem reaça bolsomion. Você que lida com mascus neonazis de chan e tem a impressão que a maioria é assim. Eu sou nazista e odeio esses caras.
ResponderExcluiresses mgtows são perturbados
ExcluirNazi nem é gente.
ExcluirGeneral Heleno tá falando em nova constituição.
ResponderExcluirA coisa vai ficar feia pelo visto.
E outra: em que universo alternativo um NS legítimo usaria termos lacradores como "reaça"? Conta outra, vagabundo.
ResponderExcluirPessoa ignorante usando a religião alheia para tentar causar discórdia: santo nenhum sabe do futuro, e pai de santo não faz trabalho para o mal nem prevê o mal para os outros. Procure ir numa noite de gira, o que vc tem é perturbação.
ResponderExcluirÉ isso mesmo. Pretos velhos são entidades de luz, jamais iriam corroborar com uma fala de ódio como a que foi exposta aqui.
Excluir16:34 fanfic péssima. Nota 0.
ResponderExcluirEu vi o livro do Metebosta que você ganhou, Lola. Vi também a dedicatória "Obrigado por existir".
ResponderExcluirSabe, eu gostaria de dizer o mesmo. Obrigado por existir, Lola. Sim, eu agradeço pela sua existência, porque é esta a principal razão de eu ainda existir. Você não é o absoluto motivo de eu estar vivo, tenho outras coisas que me motivam, mas eu considero você como prioridade.
Olho pras suas fotos e enxergo seus cabelos cada vez mais brancos, mais grisalhos. Aí eu checo sua idade, 52 anos... um pouco de mim quer ter esperança, afinal o Lula tem 74 e continua querendo ser presidente, mas no fundo eu sei que você já está velha. Sei que você já é uma pessoa de terceira idade, e que tem no máximo mais 15 anos de vida saudável. Talvez daqui 20 anos, você poderá tem alzheimer, ou alguma outra doença que afete sua sanidade, e isso me deixa deprimido. Quem eu iria odiar se não você? Eu sou jovem, tenho 25 anos. Não me vejo com 40 anos sem ter alguém para odiar. Se você tiver doenças que te impossibilitem de viver e for afastada da internet, eu entrarei em pânico. Minha vida será um abismo imenso. Eu NÃO QUERO que você morra, nem adquira demência. Eu imploro pra você, Lola: CONTINUE VIVENDO. VOCÊ É O COMBUSTÍVEL MÁXIMO DA MINHA VIDA, não o único, mas o PRIORITÁRIO. Eu te odeio e quero continuar te odiando. Por favor, Lola, eu dependo de VOCÊ.
Caraca, vc é um fã obcecado??
ExcluirArt. 122 do Código Penal - Decreto Lei 2848/40
ResponderExcluirCP - Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.
Parágrafo único - A pena é duplicada:
Aumento de pena
I - se o crime é praticado por motivo egoístico;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.
Infanticídio
VOCÊ E SEUS AMIGUINHOS DE MERDA ESTÃO FODIDOS. SOU ADVOGADO E PODE TER CERTEZA QUE ISSO NÃO VAI FICAR ATOA NÃO.
E nem adianta apagar. Já está arquivado, senhora canalha criminosa: http://archive.ph/HhSo3
Hurrr... durrrr
ExcluirPatético. Nem conhece o tipo penal e quer sair ameaçando processinho.
Vais estudar, mascu!
Tá brincando, né? Vai estudar Dr. Por acaso você almeja uma carreira pública? Aconselho que estudes, sério. Começando pela língua portuguesa.
ExcluirLola, gosto muito dos teus textos Vc escreve muito bem. Sobre esse, acho que falar sobre o ódio, a educação e canais como este servem, sim, para romper com o radicalismo e a cultura de ódio. Eu mesmo fui aprender sobre machismo, misogenia, racismo, homofobia e toda essa estrutura de ódio que nos cerca depois dos 29 anos qd iniciei um curso superior. Antes disso eu não conseguia ver os meus próprios privilégios, apesar de prounista, nem ter empatia com quem é vítima do ódio. Todavia, embora o enfoque deva ser na vítima, a frente contra o ódio não deve ser abandonada. Até mesmo pq esse ódio pode um dia se voltar de forma massiva contra potenciais machistas, e dessa forma, não resolveremos o cerne da questão que é violência
ResponderExcluirLola, para vossa infelicidade (e para de todos os chorões que são minoria mas acham que são maioria) o Bolsonaro tem apoio da massa trabalhadora desse país. O que acontece no seu twitterzinho nem de longe reflete o povo brasileiro. Vai no vídeo da live do Bolsonaro contra a Globosta. 78 mil likes, 7 mil dislikes. Ainda não entendeu? VOCÊS SÃO MINORIA, VOCÊS PERDERAM, VOCÊS NUNCA MAIS VÃO VOLTAR PRO PODER. NUNCA MAIS!
ResponderExcluir12:42 aqui não é um fórum de sexo virtual. Se quiser compartilhar suas fantasias masturbatórias, o chat Uol Sexo é mais adequado. Tem inclusive um mooooonte de minion que goza nas calças quando ouve falar em coturno usando foto falsa de mulher bonita, coisa que vocês adoram. Vai lá e seja feliz.
ResponderExcluirA esquerda é o bem e a direita é o mal, só que não. Ambos não prestam, só querem manobrar as massas para seus próprios interesses. São tudo manipuladores. Poder é tudo que interessa pra todos eles, nojentos.
ResponderExcluirLola, muito amor para vc.
ResponderExcluirAmo seus textos, foram eles que me iniciaram no feminismo, em entender e lidar com muitas coisas.
Obrigada por seus textos e por sua existência.