HOMEM MAIS VELHO QUE A PARCEIRA? NATURAL!

Eu sou quase dez anos mais nova que o maridão. É uma diferença de idade vista como aceitável, bastante normal. Agora, imagina se eu fosse dez anos mais velha que ele? Todo mundo me lembraria disso, me chamaria de papa-anjo. Seria um escândalo!

Por que a nossa sociedade aceita como natural que o homem seja mais velho que a mulher? Não faz muito sentido, convenhamos: no Brasil, homens vivem em média quase oito anos menos que mulheres. Portanto, pra quem ainda acredita em casamento como "até que a morte os separe", seria mais coerente que as parceiras fossem mais velhas (é só comparar o número de viúvos com o de viúvas -- o mundo tem muito mais viúvas).

O auge sexual de homens e mulheres tampouco é compatível. Nos homens, o ápice da vida sexual, pelo menos no que concerne a produção de testosterona, é aos 18 anos. Na mulher, é aos 40. Pelo menos várias pesquisas apontam que mulheres entre 31 e 45 anos têm uma vida sexual melhor, com mais orgasmos e frequência, que mulheres de 18 a 30. Passamos a conhecer melhor nossos corpos, adquirimos mais experiência, nos tornamos mais confiantes. Isso afeta a vida sexual. Quer dizer que, no modelo de relacionamento que seguimos, o auge sexual do parceiro raramente vai coincidir com o da parceira (não que isso importe: legal seria se toda a nossa vida sexual fosse um auge permanente).

As explicações da psicologia evolucionista para que convencionalmente o marido seja mais velho que a mulher você já conhece: ela pode se manter fértil por mais tempo (o que até podia ter fundamento quando as mulheres tinham muitos filhos, mas hoje, em que a média de filhos por brasileira é de 1,8 filho, pra quê a mulher precisaria estar pronta pra engravidar do companheiro durante vinte anos?). 

Tem também a ideia de que o conceito de beleza, muito mais cobrado da mulher que do homem, está baseado na juventude e, pelo homem ser mais visual, dizem, ele estaria atraído por parceiras mais jovens. O que também não faz muito sentido, porque as pessoas envelhecem, e boa parte da população ainda vê o casamento monogâmico como única opção, acha que esse casamento vai durar a vida toda, e condena o adultério. Ou seja, o cara de 30 que casou com uma moça de 25 não terá 30 por muito tempo, nem sua mulher ficará com 25 eternamente. Isso -- envelhecer --, aliás, é mais natural que a ideia de que o homem deve ser mais alto, mais velho, mais experiente sexualmente, que sua parceira. 

O maior impulso pra que a gente aceite que o homem seja mais velho é social. É só ver o que a TV e o cinema nos proporcionam. Pense em quantos filmes você já viu em que a mulher fosse mais velha que o parceiro. Poucos, não? E, nesses casos, é bem provável que a história gire em torno disso (como, por exemplo, no bom Loucos de Paixão, em que o rapaz James Spader tem um caso tórrido com Susan Sarandon). Já nos filmes em que a mulher é mais nova a diferença de idade geralmente nem é citada, pois é vista como perfeitamente normal.

Esse lado machista de Hollywood veio à tona esta semana, quando Kristen Stewart deixou o filme Focus depois que foi anunciado seu novo par romântico, Will Smith. Kristen, de 23 anos, achou que seria nova demais pra ser parceira de Will, 44. 

21 anos de diferença não é nada, se a gente for comparar com os interesses afetivos dos filmes do Sean Connery pouco antes de sua aposentadoria. Sean já tinha 69 anos em 1999, quando foi emparceirado com Catherine Zeta-Jones em Armadilha. Uma diferença de quatro décadas que sequer é mencionada no filme (na vida real, no casamento de Catherine com Michael Douglas, ele é um quarto de século mais velho). Foi mais ou menos na mesma época que Sean fez par romântico com Julia Ormond, 35 anos mais jovem, em Lancelot, o Primeiro Cavaleiro.

Um dos casos mais marcantes que me lembro -- e isso não tem a ver com par romântico, mas com Hollywood ver mulheres mais velhas como... velhas --- foi em Sob o Domínio do Mal, o original de 1962. Angela Lansbury, que tem um papel marcante como uma mulher manipuladora, tinha 37 anos quando fez a mãe de Laurence Harvey, que tinha... 35. 

Bom, por que tudo isso me veio à mente? Porque ontem algum anônimo deixou um link pra este artigo muito bacana da Vulture, que leva o título de "Leading Men Age, But Their Love Interests Don't" (Astros Envelhecem, Mas Seus Pares Românticos Não).  
O site decidiu analisar os amores na tela de dez astros de meia idade em dez filmes ao longo da carreira, para verificar se a percepção que temos -- que à medida que eles vão ficando mais velhos, seus pares românticos continuam com a mesma idade -- se concretizava. E sim, se concretiza. E como.

Além de todas as estatísticas já conhecidas (apenas 16% dos protagonistas de filmes americanos são do sexo feminino; só 7% dos diretores e 10% dos roteiristas são mulheres; em 85 anos de Oscar só uma mulher, Kathryn Bigelow, ganhou o prêmio de melhor direção, e apenas outras três foram indicadas nessa categoria; atrizes americanas ganham mais até os 30 anos, depois disso o salário e a oferta de papéis cai; só 27% dos papéis para pessoas acima de 40 anos vão para atrizes; nos filmes infantis, 71% de todos os personagens são masculinos; a enorme maioria das produções não passa no Bechdel Test etc), mais uma prova do machismo de Hollywood é que as mulheres como interesse romântico dos protagonistas raramente ultrapassam os 35 anos. Mesmo que o ator que interpreta o protagonista já tenha 50 ou 60.

O caso de Denzel Washington é um pouco diferente, porque, como ele é negro, e Hollywood não acredita muito nesse negócio de relacionamento interracial, suas parceiras na tela também são negras (lembre-se que quando ele contracenou com Angelina Jolie e Julia Roberts parecia casal gay em filmes e novelas: não rolou nem um beijinho). E como há poucas estrelas negras (por motivo de: racismo), ele é emparceirado com atrizes desconhecidas negras (ou não brancas, caso de Eva Mendes em Dia de Treinamento) muito mais jovens.

Falar de Johnny Depp ou Tom Cruise (que estão agora com 49 e 50 anos, respectivamente) é até covardia, porque taí dois sujeitos que estacionaram na faixa dos 30 e poucos. Eles não aparentam a idade que têm, se bem que desde quando atriz de Hollywood aparenta ter 40 ou 50 anos? O que fiquei espantada com o gráfico do Tom é que a Rebecca de Mornay era apenas dois anos mais velha que ele na época de Negócio Arriscado. Pensei que a diferença fosse de mais de dez anos, por conta da maturidade da personagem (tá, reconheço: só falei mesmo desse filme pra poder linkar esta cena).  
Um caso interessante é o de Liam Neeson, que desde que começou com a franquia Busca Implacável, virou um astro de ação de primeira grandeza (com 61 anos). Quando ele não era tão famoso, ele podia fazer par com Jessica Lange e Meryl Streep, que são um tiquinho mais velhas que ele. Depois da super fama, só mulher mais nova (e muito menos famosa).
Você também pode analisar os casos de Harrison Ford, Richard Gere, George Clooney e Steve Carell. Sabe o único que foge à regra? Tom Hanks. Não só seus interesses afetivos no cinema são só um pouquinho mais jovens (raramente mais que dez anos), como ele é, entre os analisados, quem mais faz filmes com atrizes do seu nível de fama e talento (isso é importante, porque tem muito astro que não aceita second billing, ser o segundo nome). Na vida real, ele está casado com a mesma mulher, a atriz Rita Wilson, faz 25 anos. Tanto ela quanto ele tem a mesma idade: 56 anos.
E se isso tudo não é suficiente pra se gostar do Tom, apresento seu cartão de visitas:

Ler a matéria da Vulture me lembrou outra coisa que li recentemente, sobre Jon Hamm, o astro de Mad Men (certo, eu fui atrás dos rumores sobre o pênis dele ser grande -- ele anda se queixando, com razão, dos paparazzi que tiram fotos de sua cintura pra baixo). Jon não é casado legalmente, mas está junto com a mesma mulher, a atriz e diretora Jennifer Westfeldt, há 14 anos. Como ela é um ano mais velha que ele (tem 43), começaram os boatos que ela está louca pra casar com ele. Ai ai, machismo, até quando?