Tenho muito orgulho de publicar o guest post da Amana Mattos, a mais nova professora adjunta do Instituto de Psicologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Faz tempo que ela me brindou com a ideia deste post, que está relacionado com sua tese de doutorado, mas ela estava ocupada demais estudando pro concurso. E agora que passou, a primeira coisa que fez foi escrevê-lo. Desfrutem deste post absolutamente brilhante, que traz inúmeras reflexões para nossas lutas e nossos conceitos de liberdade.
Quando conversamos com adolescentes e jovens, e perguntamos sobre seus desejos para o futuro, a resposta “quero ser livre, quero ser independente, don@ do meu próprio nariz” é das mais escutadas. Quando comecei meu doutorado em Psicologia, alguns anos atrás, me perguntei sobre os sentidos que os jovens –- moradores do Rio de Janeiro, onde vivo –- dão para a ideia de liberdade, e como esses sentidos podem nos ajudar a entender melhor as relações e as subjetividades do mundo em que vivemos.
Mas tão logo comecei minha pesquisa, vi que precisava entender melhor os conceitos de liberdade que são referência no mundo em que vivemos –- pós-modernidade, contemporaneidade, atualidade, como preferirem... Assim, mergulhei de cabeça no estudo das teorias liberais, que influenciaram profundamente a constituição da sociedade ocidental, do Estado laico, da democracia representativa. O que fui descobrindo é que a ideia de liberdade mais recorrente hoje, que é defendida nos botequins, nos tribunais, nas discussões entre vizinhos, está impregnada de dois conceitos muito caros à teoria liberal: em primeiro lugar, a noção de liberdade enquanto ausência de obstáculos. É a velha ideia de que sou tão mais livre quanto menos impedimentos se colocam à minha ação. Essa noção (também conhecida como liberdade negativa, pois não é um atributo do sujeito, mas a simples ausência de coerção) é a base para o individualismo liberal. Todos somos livres, todos somos indivíduos. E existem regras necessárias para que as liberdades individuais não entrem em choque. “Sua liberdade termina onde...”, bom, vocês conhecem a máxima.
O segundo conceito, fundamental para se entender a liberdade liberal, é a ideia de autonomia. Apenas um sujeito autônomo, isto é, que segue livremente os princípios de ação eleitos por ele para orientar sua vida, apenas um ser razoável a esse ponto, pode ser livre. Em nossa sociedade democrática há um outro nome para essa posição: o cidadão. Alguém que responde por seus atos, que é autossuficiente, independente.
Bem, até aqui, nenhuma grande novidade. Imagino que tod@s já tenham ouvido falar dessas ideias em maior ou menor medida. O que eu gostaria de trazer como contribuição num momento em que tanto se discute o machismo, o direito das mulheres, a sociedade que queremos, são algumas reflexões sobre esse conceito de liberdade. Para isso, preciso dizer que a leitura das autoras críticas feministas tem sido fundamental para abrir meus olhos e coração para as entrelinhas cotidianas da dominação e da opressão.
Quando pensamos sobre quem é esse “sujeito da liberdade”, exaustivamente descrito e construído pelas teorias sociais e filosóficas modernas, podemos identificar uma importante característica: o sujeito livre é independente. Pode parecer redundância, mas se entendermos isso como independência econômica, as coisas já mudam de figura. Para ser livre, é preciso “pagar as próprias contas”, é preciso estar disponível para ir e vir, não ter laços de dependência que me prendam a uma determinada situação. Sabemos o quanto essa situação foi, historicamente, mais difícil de ser conquistada pelas mulheres. Se falamos de mulheres pobres, então, o problema se complica ainda mais. Recentemente, aqui no blog, vimos um longo debate sobre “quem paga a conta” num encontro amoroso. Ficou muito claro, nos comentários, como associamos a possibilidade de poder pagar sua parte numa conta com um sentimento de maior liberdade. Sem dúvidas, essa ideia é pertinente e muito atual. Mas e quando a mulher não tem renda própria, o que é muito comum no casamento, por exemplo? A ideia de liberdade atrelada à independência econômica começa a mostrar seus problemas aí...
Muitas feministas vão colocar essa discussão de cabeça para baixo, numa estratégia que considero brilhante. Ao invés de partir imediatamente em defesa da conquista da tão sonhada autonomia e independência para todas as mulheres, por que não pensamos em como, em que condições o conceito mesmo de autonomia foi construído, inventado? Não há como extrair da história de um conceito todo o seu passado de opressão e dominação –- no caso, de gênero. Os grandes pensadores da liberdade e da independência foram homens. E não apenas homens. Homens brancos, das elites, dos países ricos. Será que todas essas características simplesmente desaparecem de suas ideias quando eles se põem a escrever?
A divisão entre espaço público –- o espaço da política, das lutas importantes e gloriosas –- e espaço privado –- o domínio das atividades menores, do descanso, das trivialidades –- mostra bem isso. Tradicionalmente, o espaço público é dos grandes homens. A casa, a cama, a mesa e o banho, das mulheres. A suposição de atributos como a independência e o desligamento do mundo das necessidades é constitutiva da concepção de indivíduo livre. Em oposição a esse destacamento, vale lembrar que a permeabilidade do corpo feminino é constantemente produzida por práticas e experiências como, por exemplo, a penetração sexual, os exames ginecológicos, a gravidez e o parto, o que nos colocaria em contato com relações de consentimento e coerção nos domínios mais íntimos de nossos corpos. Uma feminista de quem gosto muito, Daiana Coole, afirma: “se o conceito de liberdade negativa não especifica os homens como seus beneficiários, sua lógica implica fortemente que estes últimos são não-mulheres”.
As coisas estão mudando? Sim, estão. Mas o que ganhamos ao defender a liberdade individual nos termos mais liberais -– valorizando em última instância a independência e a autonomia, por exemplo -– como principais bandeiras das mulheres?
Pensemos nas grandes questões que envolvem as lutas feministas. Todas elas são atravessadas por uma exigência que, historicamente (aqui insisto no uso do termo: os papéis de gênero são construídos, não há essência nas posições femininas e masculinas), foi negada às mulheres. A divisão sexual do trabalho garantiu, por séculos a fio, que os grandes homens (ricos, letrados) pudessem se trancar em seus escritórios e ler, pensar, fumar charutos e discutir os negócios, enquanto as mulheres davam conta dos pequenos conflitos domésticos, das rotinas desinteressantes e repetitivas de cuidado dos filhos, das roupas, das refeições, ainda que isso envolvesse orientar outrAs empregadas para que o trabalho de casa fosse feito. Sim, pode parecer estranho, mas a separação entre público e privado tem tudo a ver com a ideia de liberdade liberal individualista.
Se lutamos por liberdade –- o que considero uma grande luta –- precisamos refletir sobre o que queremos quando dizemos que queremos ser pessoas livres. Essa questão também se coloca para os homens, certamente, mas penso aqui especificamente no que toca às mulheres. Será preciso reeeditar argumentos velhos e machistas da teoria liberal? Ou devemos pautar lutas, agir cotidianamente, nos inspirando em modos de relação que possivelmente não seriam considerados “livres” desse ponto de vista? Por que desqualificamos, por exemplo, a mútua dependência, a colaboração, a emotividade e afetividade das relações, traços tão comuns nas relações femininas, ou que envolvem as mulheres? Quando essas características surgem, o que se vê muitas vezes é a acusação de que não se trata de relações (de trabalho, sociais, interpessoais) “sérias”, “maduras”, “responsáveis”. Se acreditamos que para sermos livres é preciso ser, acima de tudo, independentes e autônom@s, estamos atualizando (sem perceber) um triste histórico de opressão e dominação de nossa sociedade ocidental. E nessa história, as mulheres -– assim como os pobres, os negros, os gays, os não ocidentais, e tantos outros –- foram as maiores vítimas.
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ResponderExcluirEssa liberdade é um sentimento que sempre venho questionando no meu trabalho e na minha vida. Parece que estou no lugar errado fazendo as coisas de uma forma errada e não há espaço para mudar o comportamento e o padrão disso. Então fica uma luta muito internalizada, que poucas vezes se discute com as outras pessoas..
ResponderExcluirAdorei o texto. Vi uma matéria no Multishow sobre um movimento de mulheres que fazem xixi na rua. Elas sabem que é ilegal, mas se os homens podem – ou é mais aceitável-, elas também fazem. Não lembro o nome do movimento, a matéria foi gravada em Madri, mas no nome era in English. Seria um bom tema para ser abordado no blog. Um abraço!
ResponderExcluirVale dizer que uma crítica importante aos conceitos de liberdade e justiça do liberalismo já foi esboçado por autores chamados comunitaristas que criticam o individualismo e lançam instigantes olhares para outras dimensões da vida social. Para não falar nos inspirados textos juvenis de Karl Marx ainda no século XIX.
ResponderExcluirGostei bastante do texto, especialmente da parte em que a autora pergunta se esses grandes pensadores da liberdade (todos homens, brancos, ricos, europeus...) se despem dos seus valores, verdades, conceitos e preconceitos quando se põem a escrever. Estou lendo um livro magistral, intitulado Pele Negra, Máscaras Brancas, escrito pelo médico psiquiatra martinicano Frantz Fanon, que, dentre outras coisas, foi combatente na Segunda Guerra Mundial e lutou ao lado das Forças de Libertação Nacional da Argélia na guerra contra a dominação francesa (ou seja, ele foi testemunha ocular e auditiva do poder devastador do colonialismo europeu na África).
ResponderExcluirEm uma parte do nono capítulo (intitulado O Preto e a Psicopatologia), ele faz uma crítica bem pertinente à validade das ideias dos grandes pais da psicanálise (Freud, Adler e Jung, por exemplo) para pensar os impactos psicológicos causados pela dominação colonial e o racismo. Fica claro que nenhum desses homens se preocupou em incluir as populações oprimidas pela colonização europeia na África e na Ásia nas suas análises, e que Fanon, por conta disso, está pedindo por uma nova psicologia, pois os escritos dos grandes pensadores, apesar de importantes, não dão conta de atender a todas as demandas.
A liberdade é mesmo uma coisa muito complicada de definir. Quem mergulhou no estudo das teorias liberais (como a autora do texto) como na historiografia da escravidão (como eu, embora eu não reivindique esse rótulo completamente) sabe muito bem o tamanho do quebra-pau que terá de enfrentar toda vez que quiser discutir sobre o que é ser livre.
A resposta que eu julgava mais sofisticada para essa pergunta era que ser livre é sinônimo de ser responsável pelos próprios atos. Ou seja, quer fazer o que bem entender, faça - mas não se esqueça de que os nossos atos trarão consequências e que é preciso estar preparad@s para aguentá-las.
Entretanto, após ter lido este texto, percebi que essa definição que eu sempre usei por achar a mais perfeita é insuficiente e só serve para atualizar um passado de opressão em que pessoas como eu sempre se deram mal. Isso significa que eu terei de estudar e refletir mais um pouco.
Muito obrigado pela espetadela intelectual.
P.S.: um bom exemplo dos problemas desses conceitos de liberdade elaborados pelos teóricos liberais está na trajetória do britânico John Locke. Apesar de ser conhecido como o defensor da liberdade como um direito inalienável, ele era sócio de uma empresa de navegação que lidava com o tráfico transatlântico de escravizados. Parece uma incoerência para nós hoje, mas, para a época, não havia nada de mais. Afinal, a liberdade só deveria existir para os povos "superiores". Aos "inferiores" só restava obedecer àqueles, nem que fosse na base da porrada
Não consigo ver liberdade sem consciencia e responsabilidade.
ResponderExcluirAcho que ser livre antes de tudo é saber como o mundo a sua volta está disposto, ter uma relação clara de como as pessoas a sua volta estão relacionadas uma com as outras, não consigo ver um individuo que se diz autonomo e independente que não sabe contextualizar suas ações, que agindo puro e simplesmente por querer, não percebe as consequencias dos seus atos.
Só quem é consciente da realidade a sua volta é capaz de escolher de fato, segundo suas premissas. Como posso me declarar livre se não posso ter certeza de que alguma escolha minha está sendo negada? Uma pessoa alienada não tem razão ao auto intitular-se independente, o que mais vejo por ai são pessoas lesadas de seu direito de escolher, bufando que fazem o que bem entendem.
Mas não basta apenas saber o contexto na qual se habilitam suas possibilidades, é necessário antes aceitar que haverá sempre uma resposta positiva aos seus atos. Digo positivo no sentido de reação ativa. Quando agimos não podemos esquecer que o meio e isso inclui as pessoas, vão reagir com o que elas pensam de acordo.
O paragrafo da coerção, me deixou com uma duvida, estamos mesmo de fato sendo coagidas com a penetração sexual? Não entendi esse trecho do texto, mas penso que se eu sei que essa opção existe, sei das consequencias e mesmo assim por minha vontade resolvo provocar a ação, estou sendo coagida mesmo assim?
Creio que se a resposta é "sim", então não vejo como haver liberdade sexual para mim, pois mesmo que eu escolha, estarei escolhendo algo que me limita?Limite no sentido disto estar impondo o que? É um conceito abstrato de que penetrar é possuir? Agredir?
Mas concordo com o texto, (no sentido do que eu entendi dele) de que o corpo feminino é usurpado do direito de ser o que é como bem entender, a fim da decisão da propria pessoa que o possui, ou seja a mulher.
É tudo externo e não optante, maquiagens, ou vc usa ou vc é relaxada, cortes do corpo, para cirurgias com fins esteticos, para que? Servir a estima? Talvez, mas essa estima é refem do julgamento de alguem que venha a aprovar o que é meu. Por qual razão devo me submeter a isso? Sei do contexto, sei das consequencias desse tipo de escolha, mas não posso agir de acordo com o que eu determinei, ou seja, não sou livre...
PS1: Desculpe Lola o comentário longo.
PS2: Criei a conta só para comentar.
PS3: Não sou troll.
Lola: o texto da Amana Mattos, muito claro e consistente, tem uma grande virtude analítica além da crítica ao legado do individualismo liberal. Alheio ao debate acadêmico, encantou-me a articulação engenhosa feita pela autora entre as coisas que dizemos em nosso dia-a-dia e os resquícios históricos (que também poderíamos chamar de marcas sociais da dominação masculina)estruturadores das desiguadades sociais (de gênero, econômica, etc.).
ResponderExcluirVejo com muitos bons olhos esse post que se preocupou com elementos concretos (o ponto de partida é a relação de jovens com a ideia de liberdade) para questionar os alicerces de nosso liberalismo mais entranhado e, por isso mesmo, desapercebido. Se a tese dela for publicada, avise-nos, por favor. Fiquei curioso por saber se houve preocupação também de enquadrar social e historicamente os jovens analisados (se eram de classe média, brancos, etc.), e se essas variações de classe, gênero, etc. alteram a relação com os pilares do liberalismo difundidos de maneira tão genérica entre nós.
Bem, agradeço por fim as duas, Lola e Amana, por um início de dia agradavelmente reflexivo.
Obrigada Amana e Lola por esse texto que abre, na minha opinião, um debate sobre liberdade e como queremos exercê-la.
ResponderExcluirParticularmente, acho que ser livre hoje e individualmente é diferente de lutar pela liberdade/igualdade/fraternidade que queremos de verdade no mundo.
Ou seja, se eu hoje quero ser livre, preciso adequar minha vida às circunstâncias e à cultura que me cercam para que eu consiga viver com o menor número de amarras possível. E isso, claro, inclui as independências financeira e emocional.
Mas, qd penso num mundo onde a humanidade possa exercer verdadeiramente a liberdade, penso que temos ainda que construir uma nova sociedade/cultura, menos calcada no individualismo e que dê mais valor ao comunitário e à compaixão. Eu acho que não vou viver para ver um mundo assim, mas faço a minha parte na construção dessa trajetória.
Essa conversa de um conceito pré estabelecido de liberdade, que não foi definido pela classe oprimida, mas pela opressora, me lembra Bourdieu quando ele diz que o movimento gay não tem que buscar se adequar à ordem sexual existente hoje em dia. Ela simplesmente não comporta os gays. O que se deve fazer é lutar por uma nova ordem sexual que, em minha opinião, priorize a busca pelo prazer e não o mero fator reprodutivo. Então seria mais fácil entender porque as pessoas se relacionam: Não porque olham o sexo da outra, mas pelo que a outra, independente do sexo, desperta nela.
ResponderExcluirEvoquei essa questão porque acho que se enquadra no mesmo assunto abordado pelo post: Queremos nos enquadrar nos conceitos de quem oprime, buscar uma aceitação numa teoria que não nos cabe. Está mais que na hora das minorias chamarem para si o dever de teorizar!
Lola, fui te prestigiar na sua passagem em Brasília. Sou daqui e estou comentando pela primeira vez!
Fiquei muito feliz mesmo em poder ouvir a voz desse blog que eu tanto admiro!
Gostei do texto da Amanda, me levou a pensar sobre a minha ideia de liberdade. Nunca tinha me atentado para o fato de que pauto o que é "ser livre", "ser independente" por padrões, historicamente, machistas. Ser livre, p/ mim e p/ muit@s, é poder ser/ter/fazer o que os homens fazem, porque isso é valorizado na nossa cultura/sociedade. As mulheres com características consideradas masculinas são vistas como melhores ou superiores, mesmo por mim, que não tenho essas características. Ótima reflexão p/ os próximos dias.
ResponderExcluirBom post. O que eu penso é que o conceito de liberdade é individualista demais. Não tenho tanto cacife pra falar, então só falo do que vejo... Tem uma idéia muito louca que qualquer coisa em grupo, coletiva, comunal ou algo assim é ruim e que as coisas individuais são boas. Culpa do sistema, claro. Agora valorizamos demais o mérito individual (mesmo que ele 99.9% das vezes não seja individual). É a questão do egoísmo, também... Me envolvi numa discussão sobre suicídio muito foda e cheguei à conclusão que a sociedade insiste que sejamos egoístas, pisemos em cima dos outro para conseguir o que queremos, mantenhamos essa idéia falsa que somos individuais e temos toda a liberdade, que competamos (É assim? D: socorro), o que inevitavelmente derrota outras pessoas a nossa busca insaciável pela glória, crédito e reconhecimento. Mas, quando fazemos algo que contraria essas idéias, por mais que seja individual - Por exemplo, o suicídio, já que morto você não trabalha, morto você não compete, morto você não apóia a idéia que o mundo na verdade é bom e só depende de você pra ele ser bom, a coisa mais individualista of all time - Você é automaticamente egoísta, só pensa em si, e isso é condenável pelo resto da sociedade. É condenável se matar por não aguentar o mundo, mas não é condenável usar todos os métodos que se há para subir na vida.
ResponderExcluirAí chega a parte que tem coisas que são moralmente condenáveis ou não, e eu não acho que dá para condenar moralmente alguém, porque moral é algo muito subjetivo. Por exemplo, eu acho moralmente condenável uma pessoa falar "Não vou ajudar porra nenhuma de nenhum movimento social, vou continuar fazendo piada racista, sexista, de estupro, porque é o que ME FAZ RIR, eu faço piadas PRA RIR" (Como já me falaram, só faltou o "foda-se os sentimentos alheios, minha diversão de 5segundos>seu bem-estar") porque no final o argumento vai chegar no "Você é um babaca". E aí o que tem para fazer? Não é a liberdade dele, dita do modo dominante da liberdade? O que fazer contra isso? Como mudar isso?
m4v3r1ck, BRILHANTE comentário. É algo que eu estava pensando hoje voltando pra casa. É a grande problemática do feminismo: O feminismo tem como objetivo, além de tudo, dar escolhas plenas a mulheres, certo? Mas o que é escolher plenamente, por si?
Porque eu cheguei a um pensamento... Uma mulher feminista que usa salto alto, batom, maquiagem, roupas com decote e generalizadamente "femininas" está realmente escolhendo o fazer? É isso que elas realmente gostam de usar? Porque mulheres são criadas desde pequenas em um mundo onde dita que você deve usar X ou Y, então não teria a influência aí? Especialmente porque a maioria das roupas ditas femininas são feitas a partir de um ponto de vista extremamente objetificador e machista - Decotes para mostrar os seios, salto alto para empinar peito/bunda, maquiagem para "melhorar a aparência"... Então uma feminista que o faz estaria exercendo sua escolha por si só e mais ninguém, como mulher "enlighthened"? Isso não seria manter um papel de gênero e manter uma imposição? Eu lembro de quando dizem, "feminista não é peluda, a maioria é feminina como qualquer mulher" (Como aquela moça da Slut Walk LOL), e por causa do que é a definição do feminino, isso não seria manter um status quo?
Porém, não é justo também falar que mulheres não devem usar o dito feminino para lutar contra o patriarcado, posições de gênero, etc. Isso também seria tirar a liberdade de escolha delas.
Então o que fazer? Tem como obter a liberdade nesse caso? Seria necessário fazer com que homens também desafiassem idéias de gênero? Mas também não cairia no mesmo problema? O que fazer?
WHAT WOULD JESUS DO?
Adorei o post, Amana! Muito pertinente!
ResponderExcluirAoi Ito
ResponderExcluirAs vezes fico a pensar sobre essas ciladas práticas, nossas ações são complemento do nosso discurso, aqui entra com o mesmo peso as escolhas.
Uma feminista pode valer-se dos simbolos e signos que a sociedade estabeleceu como 'feminino', a meu ver sim, pode e a decisão há de ser legitima se a pessoa escolheu isso sabendo que mantém o status quo daquilo que ela prega ser contra, a incoerência, se existe de fato é abstrata. Como alguém pode agredir algo sem antes não assumir a possibilidade de que pode não fazer isso?
A feminista pode permitir ao que vem de fora modificar seu corpo, sabendo que o faz exatamente como as outras pessoas fazem, se isto não lhe afeta a segurança sobre seu privado, pq não?
Mas essa pessoa não há de querer que outras façam o contrário, ou estará sendo hipócrita, presa pelo discurso, vejo nisso um maléficio da sua ideologia, como combater pela liberdade se de antemão diz que há ações que não podem ser feitas? E ter que dizer e ter que agim assim? Não estaria essa pessoa privada pelo feminismo?
(antes que alguém venha com pedras na mão, sou feminista 'acho' porém questiono se em qualquer movimento, a abdicação para manter o discurso não é uma atitude que prejudica, só isso).
Não sei como uma pessoa assim poderia sentir-se mal, uma vez que contemplou não agir como senso-comum mas o fez assim mesmo.(estar ciente é importante)
Nunca gostei de salto, maquiagem, já raspei a cabeça careca muitas vezes e gosto dos meus pêlos, todos, pq creio que nasceram comigo, podem morrer comigo.
Por convicção muito particular evito furos de qualquer tipo de instrumento, ou para acessório, neste caso se aplica brincos. Porém quando me prescrevem uma injeção não vejo minha liberdade tolhida, pq na escolha de manter uma posição particular e curar-se prefiro a segunda opção, mal seria se alguém me furasse com metal sem um objetivo benéfico.
No caso da injeção estou ciente, de tudo, contexto e ação-reação e disse "ok".
Sobre suicídio, creio na máxima que diz que a vida só vale ser vivida para ser questionada. Se o sujeito não se espanta (percebe) o mundo, para que viver? Este seu exemplo como julgamento dubio das pessoa é ótimo.
Posso ser liberta para fazer o que eu quiser (em parte) mas não posso decidir por encerrar a vida, e com ela quaisquer chances que for de continuar a agir.As pessoas pensam que a vida não me foi dada? Então não posso fazer o que quiser com o presente? Inclui-se fazer pouco dele também. Para mim pelo menos.
Mas muitos falam que "há mas foi Deus que lhe deu a vida".
Minha liberdade então é privada por aquele que supostamente me presenteou com ela.
Só que Deus não é o centro dessa questão.
Eu queria agradacer a autora desse post.
ResponderExcluirGostei bastante do texto. Parabéns à autora.
ResponderExcluirEle é denso mas provocou em nós aquela pulga atrás da orelha.. rsrs. O que é bom, não é?
Depois de ler alguns comentário, sobre liberdade individual, egoísmo, suicídio, feminismo e maquiagem (todos ótimos),fico aqui me perguntando: Se além de ser individual sou também construída socialmente, como então delimitar o que seria liberdade? Por exemplo, no caso citado em alguns comentários, uma mulher pode ser feminista e lutar contra a 'objetificação' da mulher e do corpo feminino e ainda assim usar salto e maquiagem? (Eu uso e de qualquer forma busgo igualdade de direitos na minha casa, trabalho e relacionamentos.) Mas, no fim das contas, não acho uma resposta que me valha. Se penso que NÃO, afinal seria uma incoerência... me pergunto "e ela usaria o que?", "o que seria adequado?". Talvez a resposta esteja em outra civilização que não deturpe a imagem feminina e o corpo da mulher.. mas qual? A sociedade indígena pós 'civilização'? Acho que estou ficando louca.... rsrs.
O exemplo não precisa ser esse, podemos pensar se um adolescente pra se sentir livre precisa usar o estilo da turminha X ou Y - talvez da que ele mais goste - ou será que ele deve conseguir pensar 'fora da caixa' e inventar um estilo próprio e inovador?
Sim, estou ficando doida. Devia estar estudando ecologia... rsrs
Mas e aí, o que vocês acham?
Abraços a todos.
Gostei muito do tópico e já pensei muitas vezes sobre isso. Acho que todos os questionamentos dos comentários eu já pensei tb. Então, a colega aí, eu compartilho da tua sensção de loucura. rsrrs.
ResponderExcluirA liberdade pra mim, está em vc saber o que determina o teu comportamento para assim poder escolher o que é mais válido pra vc. Há quem vá dizer que nem sempre isso é possível, como no caso da prostituição.. já que está é intrinsicamente uma exploração de mulheres, mas que como já é instituída ninguém mais percebe essa caracaterítica e mulheres aceitam fazer isso achando que não estão sendo determinadas por questões externas e não por vontade e decisão próprias.
Mas, ainda assim insisto que pra estiumlar a liberdade de esolha, a gente tem que enteder de onde vem essas determinações.. é o caso da feminista que mesmo sabendo que maquiagem, salto alto e decote são determinações impostas pelo patriarcdo, mas aidna assim usa. Liberdade pra escolher, é o que há! rsrsrs. Pq eu acho que a liberdade tá em poder escolher a maneira como a gente se expressa. Acho eu que a gente não precisa inventar um jeito novo de viver pra se sentir livre, basta saber que ele existe se a gente quiser viver. A gente pode simplesmente seguir o que já está posto desde que saiba disso. A liberdade é "encarnada" num tempo e num espaço, acho que não dá pra fugir disso.
Pra mim, a liberdade passa ainda por co-dependência e novamente ter consciência disso. Ter consiência que vivemos em comunidade e portanto, seremos dependentes de outros sim, nem que seja minimamente. Essa do individualismo exacerbado faz com que a gente não se sinta minimamente responsável pelo outro. Aí aqui se a gente, pensa nisso, enrola mais ainda. Tá, se eu tenho liberdade de escolha, eu posso determinar o encerramento da minha vida? Ok, mas se somos tb responsáveis nem que seja minimamente pelo outro. a gente nem sequer poder ajudar a ter mais clara essa decisão? Não sei, sinceramente.
"Será preciso reeeditar argumentos velhos e machistas da teoria liberal? Ou devemos pautar lutas, agir cotidianamente, nos inspirando em modos de relação que possivelmente não seriam considerados “livres” desse ponto de vista?"
ResponderExcluir_
Já ouviu falar de socialismo?
Acho engraçado que sempre, ao discutir liberdade, estamos falando de uma definição do termo segundo um pensamento liberal/ capitalista/ ocidental/ masculino/ branco - Acho que já está na hora de sair da matrix, não?
A.H.B, isso me lembra uma coisa interessante. Pessoal morre de medo de socialismo/comunismo/anarquismo. Morre, realmente morre, tem pavor. Até mesmo quem não deveria morrer - Lembro dos meus tempos do http://feministing.com/, há uns dois ou três anos atrás. Via as feministas de lá, americanas, MORRENDO de medo de falar de socialismo, evitando ao máximo qualquer ligação. Uma coisa muito doida, tipo "Eu quero igualdade no mercado de trabalho, mas pelamordedeus não quero socialismo". É claro que aí entra discussão ideológica e tudo mais, mas é interessante pra ver como a cultura de um país influencia nas idéias. No caso, a maioria dos blogs feministas americanos que eu vejo DIFICILMENTE pensam no feminismo fora do capitalismo. Dificilmente pensam em uma mudança da organização da sociedade a níveis assim, sempre pensam em como fazer a igualdade dentro de um sistema que precisa que tenha muita gente em desigualdade. No Brasil é diferente - Aqui muito mais feministas pensam no socialismo e até no comunismo. Interessante, não?
ResponderExcluirSó pensamentos flutuando mesmo.
No Brasil ficam sonhando com comunismo, achando que é coisa de gente boasinha pq nunca tiveram um regime comunista tentando invadir o seu país.
ResponderExcluirAoi Ito, já me peguei pensando nisso também. Ficou meio confusa a mensagem, que eu estou morrendo de sono =P mas aí vai
ResponderExcluirEu sou feminista e, apesar de não usar salto nem maquiagem, de vez em quando, em situações apropriadas, eu gosto de me vestir de maneira "provocante" sim para seduzir homens.
Não acredito que isso diminua a minha luta.
Objetificação não parte do objeto, e sim de quem está olhando.
Ao vestir roupa curta, eu não estou "me" objetificando.
O problema é a sociedade no geral, que relaciona mulher de roupa curta a ser humano de menor valor. Enquanto o consenso deveria ser que qualquer mulher, independente da roupa, é um ser humano pensante e plena de direitos.
Mulher é o único ser que precisa "provar" que tem cérebro antes de tirar a roupa. Ou, do contrário, vai ser esculhambada...
Isso sim é machismo.
Eu tenho plena consciência que me vestir dessa maneira pode atrair olhares maldosos, e não ligo. O meu problema está nas agressões, sejam verbais ou físicas. Essas sim JAMAIS deveriam acontecer.
Mas eu vou fazer o quê pra evitá-las? Me cobrir, o que, na lógica machista, supostamente demonstra que tenho mais valor? O que diabos uma coisa tem a ver com a outra?
Quem inventou essa coisa esdrúxula de mais roupa = mais cérebro? (que só vale para mulheres, claro)
Hel
ResponderExcluirPor favor não entenda como provoque a minha pergunta:
Se vc admite que ao vestir-se provocante está atraindo olhares maliciosos de homens, (que inclusive te objetifica).Está ciente disso.
Mas depois diz que o fetiche vai partir de quem está olhando não do alvo dos olhares...no caso vc.
Não estaria cometendo ai uma contradiçao?
Digo, vc nao estaria usando da objetificaçao para conseguir seu intento?
Olha, não estou te julgando ok, não to falando que isso é certo ou errado, não é minha intenção avaliar a sua pessoa.
Só não entendi esse ponto.
Lola, desculpe fugir do assunto do post, mas é que achei essa matéria interessante e gostaria de recomendar caso ainda ñ tenha visto: http://colunas.epoca.globo.com/mulher7por7/2011/06/29/pais-pagam-cirurgia-para-transformar-filhas-em-filhos-na-india/
ResponderExcluirAbs!
Niemi, você, sei lá, já leu Marx ou Trotsky ou Lênin ou algo assim? Só perguntando, mesmo, porque pra mim, como pseudo-trotskista não faz sentido você falar que comunismo é ruim porque isso aparentemente levaria países a serem invadidos por regimes comunistas. Imagino que você fale da URSS... Que pra mim passa longe de ter sido comunista, por mil e um motivos explicados por sua história e administração. Só porque você se chama de algo você realmente é algo? É como falar "ah, você acha feminismo legal porque você nunca foi castrado, espancado e humilhado por uma feminista". Não faz sentido, manja? Tem muito mais para o comunismo além da história tensa da URSS que, com um pouco de estudo, pode ser explicado. Os so-called "estados comunistas" atuais caem em "Degenerescência burocrática" (http://pt.wikipedia.org/wiki/Degeneresc%C3%AAncia_burocr%C3%A1tica). Claro que isso é tudo minha opinião porque não tenho tanto cacife pra falar, só não acho justo você desprezar completamente uma idéia muito boa por causa de coisas que aconteceram em um contexto histórico que explica muito, sem dar atenção a esses detalhes.
ResponderExcluirNão quero deturpar a discussão para capitalismo vs comunismo, só falar isso mesmo. Ignorem meu post e sigam suas vidas.
Como é Aoi Ito!?
ResponderExcluir"Só porque você se chama de algo você realmente é algo?"
Vc tá falando que não posso classificar a URSS como regime comunista? Ou é outra coisa que eu não entendi devid a minha ignorancia?
Talvez seja pq eu nao tenha estudado direito como vc mesma falou.
""ah, você acha feminismo legal porque você nunca foi castrado, espancado e humilhado por uma feminista". Não faz sentido, manja?"
Pra mim faz sentido, na sua hipotese, ai, se vc fosse atacada por uma doida dessas que se diz feminista, vc ia gostar do feminismo?
Agora um regime que so fez merda, nao pode ser chamada de comunismo, a ok.
Só assumo um rotulo quando ele é bom não é mesmo? Muito prático e covarde.
Já que vc adora estudar usando Wikipedia:
ResponderExcluirhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Comit%C3%AA_Central_do_Partido_Comunista_da_Uni%C3%A3o_Sovi%C3%A9tica
boa noite.
querida Lola, estou sempre por aqui, mas nunca comento... gostei muito do texto e resolvi contribuir com a conversa.
ResponderExcluiro tal sujeito livre, acabado, independente, que circula no mercado com roupa lavada e passada, alimentado, que não precisa de cuidados nem de afetos, que não adoece, nunca foi criança nem será velho, é a essência perversa do liberalismo. num passe de mágica, toda a "vida privada" do "indivíduo" é ocultada e ele aparece em algum lugar da cidade, totalmente disponível para a "vida pública". claro, o tal sujeito necessariamente é homem.
pensar e vivenciar a liberdade fora desse esquema ainda é muito difícil. a ficção androcêntrica continua sendo eficaz e estrutura todo um imaginário coletivo.
queremos um mundo onde privado e público sejam reconciliados, onde os cuidados sejam corresponsabilidade de homens e mulheres, onde a vida das pessoas esteja realmente no centro.
essa mudança de paradigma é também uma mudança civilizacional.
como já disse nossa Clarice: liberdade é pouco. o que queremos ainda não tem nome.
Talvez o meu texto que eu postei a algum tempo não tenha nada a haver com o post mas também fala do direito da Liberdade de Escolha do ser Humano. O que me incomoda é que as pessoas querem nos guiar sem saber os nossos desejos e vontades.
ResponderExcluirhttp://lu-bau.blogspot.com/2010/01/o-direito-basico-e-essencial-da.html
A grosso modo (bem grosseiro mesmo, ta?), liberdade, seja ela feminina ou masculina, acima de tudo esta vinculada a capacidade do individuo se sustentar (financeiramente mesmo) sem precisar de pai, mae, filho, conjuge, etc.
ResponderExcluirUm adulto que depende financeiramente de outra pessoa nao eh livre. Eu nao consigo enxergar como pode ser livre.
"Vc tá falando que não posso classificar a URSS como regime comunista?"
ResponderExcluirSim! Ao menos na minha concepção é assim. Se a URSS ainda tinha classes e tinha Estado, não era comunista. Como todo mundo sabe, comunismo nunca existiu no mundo, no máximo tentamos alcançar o socialismo (Que eu também acho que nunca existiu).
AGORA, se para você, ser um regime comunista envolve apenas ter o PC no poder, são outros 500. Não acho certa porque entre nomenclatura e prática há muito caminho.
"Pra mim faz sentido, na sua hipotese, ai, se vc fosse atacada por uma doida dessas que se diz feminista, vc ia gostar do feminismo?"
Não. Mas antes de falar eu iria pesquisar sobre o que é feminismo e se ela se encaixa mesmo no que é uma feminista. A questão da nomenclatura é muito simples: Se você se diz X e faz justo o contrário do que o básico de ser X diz, você é mesmo X? Você pode ser cristão se não acredita em cristo ou Deus? Você pode ser feminista se não acredita na igualdade? Você pode ser comunista se quer um mundo com classes e Estado?
Poxa, desculpa se o tom do meu post foi agressivo. Não era minha intenção. É que eu realmente me incomodei quando você falou aquilo porque parece exatamente o que 90% das pessoas falam e pode ser melhorado com um pouco de estudo, que o seu ponto de vista e seu tom agressivo soa como, digamos, as pessoas como qualquer uma que vemos na rua falando sobre o feminismo - Precisa de estudo porque a concepção do que é feminismo está errada. Eu tenho que estudar, você tem que estudar. Não temos todos que estudar? Já disse que não tenho tanto cacife pra falar e que minhas idéias são minhas depois de ter estudado Marx, Lênin e Trotsky (Nem Rosa Luxemburgo eu li direito, olha só). Agora, você falar que eu adoro estudar pela wikipédia já é querer me ofender, né? É tão grave assim eu mandar um link pra explicar melhor o que eu queria dizer? Ou você preferia que eu falasse no meu post, pra aumentar ele ainda mais, já que esse termo É um termo pouco conhecido? Você falou do comitê, eu digo: OK, e aí? Só jogar um link e falar pra eu estudar é maldade, né? O que você quer dizer com o Comitê? Que isso significa que a URSS era comunista?
Como um lugar pode ser comunista tendo Estado e classes? É tipo falar que um lugar é socialista mas ele é dominado pela burguesia e livre-concorrência. É como dizer que um lugar é anarquista mas tem Estado. É como falar que um lugar é capitalista mas não tem propriedade privada. É como falar que alguém é cristão mas não acredita em Cristo ou Deus. É como falar que alguém é feminista mas não acredita na igualdade... Bem... Você entendeu.
Novamente, desculpe se o meu tom foi agressivo. Juro que não foi minha intenção; é que eu sou o tipo de pessoa que perde a noção quando se sente com razão e quer defender seu ponto de vista. Só achei realmente gratuito o seu post, sem muita adição à discussão inicial. Porque né, assim por assim também posso falar "Só adora o capitalismo quem nunca teve seu país invadido por tropas capitalistas" O que pode ou não fazer sentido, se você acredita que entrar em guerras e subjugar outros países é intrínseco da lógica do capitalismo. Tropas capitalistas, sendo, no caso, um termo até curioso, já que ninguém se diz "capitalista" - Tem uma naturalização do termo, automaticamente todo mundo é capitalista, todo mundo é homem, todo mundo é hetero, todo mundo é branco... Na generalização.
ResponderExcluirEnfim, Niemi, eu realmente gostaria de, caso continuar a discussão, continua-la sem agressividade ou ataques. Queria não continuar ela agora porque é um ÓTIMO guest post e discutir o que é liberdade é importantíssimo. Os posts que temos aqui estão levantando uma discussão muito boa; e eu não queria afogá-la num clichê comunismo vs capitalismo. Podemos parar a discussão (Sei que soa até cara-de-pau, eu escrevo um post enorme, cheio de coisas pra você refutar e depois peço pra parar a discussão lol) para não desviarmos o assunto? Retomamos ela depois, assim que a oportunidade surgir. Eu acho que agora entendo o que você quis dizer - Por mais que você estude, sei lá, comunismo ou qualquer ideologia, se você foi ferido por ela, vai ter um desgosto automático dela. É isso? Eu concordo, só não acho que justifica SE essa dita ideologia diz o contrário que foi feito contigo.
ENFIM, vamos deixar isso pra depois? Muita coisa a falar e estamos no pior lugar e momento possível. Estou levantando agora a bandeirinha branca. :p
Aoi Ito
ResponderExcluirBandeirinha branca estiada da minha parte também blz?
Não gosto de ser mal educada e fazer acusações gratuitas, sei que fui errada em dar uma "trollada" básica no seu discurso sendo que nem fui chamada na conversa. Foi errado da minha parte eu reconheço e peço desculpas, de verdade. Fui dormir de cabeça quente mas hoje pela manhã me toquei da idiotice que eu fiz com vc, também quero pedir desculpas à autora do post por desvirtuar o assunto e a Lola por usar mal o espaço que ela nos dá =/ agi mal.
Eu tenho um declarado pré-conceito com comunismo/socialismo/anarquismo. Não que eu seja defensora do capitalismo, acho ruim também até acredito que poderia haver uma forma mais branda...mas enfim. Toda vez que eu leio a palavra comunismo ou Rússia eu fico extremamente irritada.Sei que não deveria...
Vc tem acesso ai ao meu perfil do google, caso queira continuar a discutir o assunto tem meu contato lá, prometo que não serei "cavala" com você. Gostaria sim de discutir o assunto mas numa boa e usando o espaço correto, privado para uma discussão privada.
Por ontem pode não parecer, mas gosto muito das suas considerações nos comentários e não desejo estragar isso com uma briga boba.
:) vamos entrelaçar os dedos mindinhos e fazer as pazes denovo?
Tema super interessante!
ResponderExcluirEm minha visão assim por dizer, creio que liberdade tem a ver mais com independência financeira e emocional (no sentido de fazer algo que goste, que seja bom para ele, sem se preocupar com rótulos que receberá, mas respeitando os limites), e ninguém é livre de fato quando se vive em uma sociedade - e nem deveria ser mesmo, imagine a barbárie que seria!
liberdade, o sr. sartre estava equivocado
ResponderExcluirnina rizzi
sonho com ela
tivesse uma tevê podia vê-la
é semelhante a todas essas criaturas lindas
que parecem vazias, não obstante cheias
semelhante, não igual como na taxação psicanalítica
"o que querem as mulheres"
como se não fossem sujeitas com identidades e desejos próprios
o que as identifica num coletivo são as roupas combinando
as etiquetas maiores que o tecido
pele, lábios, olhos, unhas, cheiros
bem-tratadas como não podem ser das outras
que atravessam as ruas apressadas
as que quedam cansadas nas calçadas
antes por não poder que querer
sonho com ela
e sei que vai comer alface, pepino, cenoura
porque assim deve ser, ela diz
eu quero, e pode
- um coletivo burguês
eu, junto das outras, a vejo, sonho
o dia em que não mais me determinam heteronormativismos
dinheiro, poder, tenho
identidade e desejos só meus
e não penso mais a fome
essa que até quando não se pensa
sente.
*
AQUI: http://ninaarizzi.blogspot.com/
Parabéns pelo blogue, viu. Há tempos que leio, mas a pressa, ou inércia não me deixa comentar...
vc viu sobre a "onda lilás" em fortaleza? o que pensa disso?
beijos ;)
Parabéns para a autora do texto. Sem investir com todas as forças contra essa concepção de "sujeito com H maiúsculo" que nunca dependeu de ninguem não saímos do lugar. A questão é que precisamos dividir a roupa suja, dividir as dificuldades da vida. Sujeito livre e independente de quê cara pálida?
ResponderExcluirQue uma outra liberdade, essa que implica responsabilidade e relação com os outros, possa aparecer no nosso horizonte.
"Toda vez que eu leio a palavra comunismo ou Rússia eu fico extremamente irritada. Sei que não deveria..." - Não é culpa sua Niemi. Esse tipo de pensamento é resultado da propaganda feita durante toda a Guerra Fria e ainda ocupa a mentalidade das pessoas, porque a direita, que domina os meios de comunicação em nossa sociedade, quer que as pessoas tenham medo de votar na esquerda. Recomendo que você procure se informar mais, por canais que não foram editorializados com propaganda anti-comunista - por exemplo, dê uma lida nos textos no marxists.org - É importante saber mais sobre algo, mesmo que seja para criticar, se não suas críticas são meras repetições vazias de propaganda de guerra fria. Vamos superar essa fase, né?
ResponderExcluirnossa, não entendi nada... vou ter que ler de novo
ResponderExcluirSem dúvida uma reflexão à sua altura Amanda, procurando encontrar questões que só se revelam para além dos limites habituais do nosso pesado senso comum. Considerações que deixam um desejo de continuarmos a trilha que você iniciou para desvelarmos novos entendimentos nessa complexa rede humana de convivência. Chego a retomar Sarte em sua questão do outro como nosso derradeiro inferno; não estará aí também mais uma questão que envolve a essência do feminismo, a dificuldade de aceitarmos o outro quando ele é deslocado do padrão dominante como você muito bem enfatizou: do macho branco e rico. Ao ler seu texto pude lembrar de você quando convivíamos em Volta Redonda, pois sinto a mesma marca da lutadora pela afirmação de uma sociedade verdadeiramente mais justa. Um abração, também na Vânia e na sua irmã.
ResponderExcluirQueria agradecer aos comentários. Ler as repercussões às ideias que trouxe ali está sendo muito bom. Na pesquisa acadêmica ficamos muitas vezes isolados na leitura e na escrita, então esses momentos de exposição e troca são muito importantes - é assim que eu sinto.
ResponderExcluirRogério Santos, Fanon foi uma dessas leituras que me lançaram no turbilhão de questionamentos sobre os problemas pós-coloniais. O texto dele pega a gente nas entranhas. Esse capítulo que vc citou é um dos meus preferidos...
Concordo com quem disse que o comunitarismo e o socialismo são escolas que tentam abordar essa discussão por outros caminhos. Entretanto, esse é apenas um post, pontual. por isso, A.H.B., eu me detenho no liberalismo. E não é à toa: essa é a ideia de liberdade mais difundida em nossa sociedade. Tanto na tese quanto nesse post, achei que cabia uma reflexão sobre os problemas que estão implícitos. Não sei o que vc quis dizer com "sair da matrix", mas entendo que colocar esses problemas é, justamente, problematizar o liberalismo como versão da Verdade e da Luz, como sempre diz Lola...
Sobre a questão da penetração sexual, acho que vale um esclarecimento. O que li sobre isso, que achei muito interessante e que valia a pena trazer aqui, é que o corpo feminino é construído socialmente de maneira a ser muito mais permeável, penetrável, regrado, do que o masculino. Penetração sexual não quer dizer necessariamente invasão - longe de mim afirmar isso! Mas não podemos desconsiderar o quanto isso tem de simbólico, e em muitas circunstâncias, de opressor. Toda a discussão sobre o estupro, só para dar um exemplo, aponta para isso..
ResponderExcluirRafa, adorei o "sujeito com H maiúsculo" :)
Áureo, que belo elogio! Fiquei emocionada. Certamente suas aulas de História têm muito a ver com a minha história pessoal...
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirUma concepção de liberdade pautada na consciência da necessidade e da contingência é tão moderna e liberal quanto a lógica do livre-agir, do livre-arbítrio e da responsabilidade – Hobbes, Descartes e Rousseau, respectivamente. Espinosa é seu representante máximo, e não é minha intenção aqui discutir esse conceito.
ResponderExcluirApenas me pergunto até que ponto a ideia de "mútua dependência" – o que me soou como o caráter efetivamente propositivo do texto – não se afiguraria como uma solução provisória ou de fachada, o que nos traria uma série de novos problemas: quem seriam os agentes reais – e não "ideais" – desse processo? E o que garantiria a linearidade e horizontalidade do processo de valorização da "mútua dependência"? Ora, o capitalismo já não pôs em marcha esse processo, nivelando por baixo as expectativas de vida, os papéis sociais, a função econômica, etc.?
Amana,
ResponderExcluirfiz a disciplina de Des II com você, mas sinceramente me surpreendeu saber que você publicou em um blog. Na Uerj, você vai ver ou já deve estar vendo que os professores (com raríssimas exceções)são muito voltados para a pesquisa e dificilmente encontram tempo para compartilhar experiências e ideias na rede, e ainda tem aqueles que acreditam que fazer isso é estar desmerecendo seu próprio trabalho.
O que na minha opinião é uma grande burrice, pois enxergo estas iniciativas como um meio de propagação do seu trabalho, são anos de pesquisa que não devem ficar restritas a publicações estritamente acadêmicas.
Por favor, não perca isso! Continue valorizando essas oportunidades de discussão a partir do ponto de vista desenvolvido através de seus estudos.
Em relação ao tema achei super interessante, me senti muito instigada durante a leitura a procurar saber e entender mais sobre liberdade, e não restringir minha opinião ao que é apregoado pelo senso comum.
Pude observar em comentários anteriores a possibilidade de discussões a partir de uma ótica comunista/socialista/anarquista, quem sabe você não possa desenvolver um pós-doutorado com este tema? rsrs
caros, achei muito lúcido,estimulante, realista e libertário o texto de Amana. Se pararmos para refletir o quanto somos aprisionados pelos conceitos, obrigações, necessidades e desejos em nossa curta vida veríamos que atingir a liberdade completa tem um "quê" surreal. Porém isso não impede que tenhamos ações, atitudes, que reforcem o conceito de liberdade que defendemos e desejamos para nos e para a sociedade em que vivemos.
ResponderExcluirParabens. ( adorei as imagens que ilustraram o texto)
Texto bastante perspicaz Amana, para debater um dos temas atuais da juventude no Brasil, um país considerado em "desenvolvimento", a dita liberdade.
ResponderExcluirUma coisa que nós jovens recorrentemente nos esquecemos é que liberdade, além da econômica, cultural, sexual, de expressão associada a diversidade social, conquista-se e não vem sem obstáculos.
Ainda mais no estágio do sistema capitalista que vivemos que há uma forte inclinação a classificar e selecionar, sem a busca da compreensão e da tolerância.No projeto de desenvolvimento que está pensado para o Brasil para os próximos 30 anos, isso se não intervirmos, poderemos estar sendo uma geração que atuará de uma forma, que lembre em grande medida, os Yuppies.
Enfim, há muito debate a ser feito e muita luta pela frente.
Parabéns Amana pela ótima oportunidade de reflexão e Lola por seu trabalho.
Olá Amana
ResponderExcluirDiante da sua postagem gostaria de postar uma passagem da filósofa e literata francesa Simone de Beuvoir ( uma das principais referência do feminismo de segunda onda, senão a principal, é marcante por questionar justamente algumas dessas relações. "O segundo sexo, publicado em 1949", provocou uma ruptura no pensamento que colocava a naturalização do gênero como conseguẽncia direta da diferença sexual e do seu potencial reprodutivo.
Se a importância das lutas legais, que marcavam os feminismos de primeira onda, é inegável, Beauvoir indicava que somente as reformas nas legislação não eram suficientes para tirar as mulheres de lugares de inferioridade. A frase " Não se nasce mulher, torna-se mulher", recorrentemente utilizada por distintas correntes do feminismo da segunda onda em todo mundo, foi o principal mote e ponto de partida para a constitição do campo de estudos de gênero.
" Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam de feiminino. Somente a mediação de outrem pode constituir um indivíduo como um Outro" Beauvoir, 1980,p.169
Maria Madalena Mattos de Chiarelli
aluna do curso EGeS / UERJ
tia da Amana
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ResponderExcluirAcredito sim que pensar a liberdade como sendo independencia economica é um tanto quanto individualista, mas vamos combinar que uma mulher que é dependente economicamente do seu companheiro, ve a sua liberdade limitada por não poder se manter sozinha naquele momento, caso tenha que deixá-lo.
ResponderExcluirLendo o texto e os comentários fui, assim como os outros, me sentindo cada vez mais instigada a pensar no que seria a suposta liberdade apregoada por todos nós.
ResponderExcluirSem dúvida o que somos está entranhado de conceitos externos, de mediações e efeitos produzidos por outros e, realmente, parece utópico pensar que podemos viver "como queremos, independente de outros". O suposto sujeito livre que hj se apresenta parece nesse momento reflexo de outros. Mas pensar assim nos coloca num lugar de passividade. A esse respeito achei interessante uma das definições apresentadas ao longo da discussão que coloca a liberdade como sendo, mais ou menos (estou reproduzindo o modo como entendi), a ação voluntária tomada a partir do reconhecimento dos efeitos produzidos por outros.
Outra coisa que fiquei pensando diz respeito a como os conceitos de individualismo, de liberdade e autonomia apresentam um limiar tão tênue com o egoísmo. E, sem dúvida, a partir daí, podemos desembocar em outras discussões como as ideológicas e políticas já iniciadas.
Bem, não tenho um fechamento para essas idéias...Acho que precisaria estudar melhor o tema.
Amana, por ter podido conviver ctg no ultimo semestre sendo sua aluna gostaria de aproveitar a oportunidade e sugerir uma eletiva relacionada ao tema. Por experiencia, sei que as suas aulas não passaram livres (rsrs) dessas reflexoes, o que considero extremamente benéfico!rs
=)
Em trabalho apresentado no 16o Encontro da ABRAPSO - Associação Brasileira de Psicologia Social, ano passado, discuto o referencial teórico em que me baseei para escrever esse guest post. Quem quiser dar uma olhada (não é longo) pode acessar aqui: http://www.encontro2011.abrapso.org.br/trabalho/view?ID_TRABALHO=3724
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