Como todo mundo sabe, a profissão de empregada doméstica não é muito frequente nos países ricos. Lá é caro ter empregada, porque o salário de uma não é assim tão distante do que ganha um médico, por exemplo. Nos EUA e em partes da Europa, algumas famílias de classe média até conseguem ter empregada, mas contratando imigrantes ilegais. Ou seja, estamos falando de uma profissão que só se mantém através da exploração de uma classe social por outra. No Brasil, um dos países mais desiguais do mundo, 17% das mulheres trabalham como empregada doméstica. É uma herança escravagista nossa que não deveria orgulhar ninguém, muito menos medir status social. Não há dúvida alguma que, quando e se houver distribuição de renda, a profissão de empregada estará fadada a senão desaparecer, pelo menos não ser a mais comum entre as brasileiras. Em outras palavras, se a sociedade melhorar (e imagino que tod@s queiramos que a sociedade melhore), o seu privilégio de poder explorar o trabalho de outro ser humano estará com os dias contados.
A meu ver, a questão das empregadas domésticas é o calcanhar de Aquiles do feminismo nos países em desenvolvimento. Muitas feministas, como eu, são de classe média. Mas têm empregada e defendem com unhas e dentes o seu privilégio (que mal veem como privilégio) de ter empregada. É uma das ocasiões em que a defesa de classe (média) fala mais alto que a defesa das mulheres. Toda vez que publiquei algum texto cutucando essa ferida constatei que ser de classe média é mais importante, pra tanta gente, do que as lutas das minorias. E lógico que as pessoas que aparecem aqui pra dizer como pagam e tratam bem sua empregada doméstica devem desconhecer a estatística de que apenas 26% d@s empregador@s cumprem as leis trabalhistas. A julgar pelo maravilhoso mundo da classe média, empregadas domésticas têm um emprego de sonho. Quem não seria empregada se pudesse?
Como ontem foi o Dia Nacional das Trabalhadoras Domésticas, pedi pra Niara, jornalista que tem o ótimo blog Pimenta com Limão e que já nos brindou com um comovente guest post sobre seu filho, que escrevesse sobre o assunto. Apesar de Niara ter condições de contratar uma empregada, ela crê que seu feminismo e sua sede por justiça social devem ficar acima do seu privilégio de classe. Eu acredito nisso também, e tento viver de acordo com minhas convicções. Se sou contra a exploração dos pobres pelas classes abastadas, de negros por brancos, de mulheres por homens, também tenho que ser contra a exploração de mulheres pobres por mulheres de classe média. Ah, e isso não isenta, de forma alguma, os maridos de classe média. Dizer que contratar empregada é um assunto de mulheres é uma das formas de desvalorizar o trabalho doméstico e de perpetuar a divisão do trabalho. Não adianta fingir que não é com vocês, não. A Niara explica isso muito bem a seguir.
Antes de começar a falar sobre o trabalho doméstico vou levantar algumas premissas que norteiam meu pensamento e, portanto, meu raciocínio para poder analisar o trabalho doméstico como é realizado hoje.
O surgimento do patriarcado e da opressão de gênero se deu no momento em que os grupos sociais deixaram de ser nômades e o trabalho passou a ser dividido sexualmente. Até então a humanidade se organizava em grupos matricêntricos (não matriarcais). As mulheres precisavam ficar mais próximas de sua prole e coube-lhes o trabalho no âmbito doméstico, privado, a coleta de frutas e a criação de pequenos animais. Aos homens, em função da força física, coube a caça, o trabalho pesado da agricultura que logo se desenvolveria e a criação de animais maiores. Mas o fator decisivo na opressão de gênero ocorreu quando o homem descobriu seu papel na reprodução humana, até então desconhecido.
Está claro que o fato da humanidade deixar de ser nômade, a divisão sexual do trabalho e a descoberta do homem de sua função na procriação foram fundamentais para o surgimento da propriedade privada juntamente com o controle sexual da mulher. Afinal os homens, agora machos provedores, precisavam ter certeza de sua descendência para garantir a herança de seus bens.
Conhecer a nossa história nos ajuda a entender os meandros de nossa opressão. Mas claro que a humanidade evoluiu, se modernizou, vieram os meios de produção, o acúmulo do capital ― que advém do trabalho, é sempre bom lembrar ― e as mulheres sempre ali, no seu mundinho privado, exceto pelas chamadas pioneiras e revolucionárias que nunca se importaram com rótulos ou com quão árdua fosse a luta desde que não ficassem numa situação de submissão ad eternum.
Mas assim como o surgimento da opressão de classe se confunde com a opressão de gênero e se sustenta nela, a luta das mulheres por sua libertação também. Se por um lado a violência sexista é ampla e democrática, no restante da vida a opressão de gênero é infinitamente mais leve para as mulheres burguesas. Enquanto as operárias trabalhavam na fábrica e ao chegar em casa precisavam dar conta do trabalho doméstico ― já que a divisão sexual permanece ―, as mulheres burguesas contam com o auxílio de outras mulheres que iam fazer o "seu" trabalho.
Estou colocando dessa forma para explicitar que a origem do problema está na divisão sexual do trabalho, uma vez que nós mulheres conquistamos o direito ao trabalho no espaço público mas não conseguimos dividir o trabalho no espaço doméstico.
É nítido onde quero chegar. Ter uma empregada doméstica ― posto ocupado em sua quase totalidade por mulheres e em sua ampla maioria por mulheres negras ― é coisa da burguesia. E essa nossa classe média, que não se cansa de assimilar valores burgueses e imitar seus costumes, no primeiro degrau de ascensão social, na primeira oportunidade contrata logo uma empregada doméstica. É status social.
Cômodo, não? Para se livrar do "dever" do trabalho doméstico que não é dividido igualitariamente entre os habitantes de uma casa, a mulher que ascende socialmente trata logo de explorar o trabalho de outra mulher em clara desvantagem social para limpar a sujeira produzida por ela e pelos habitantes de sua casa. Nada mais grotesco e senso comum. Sem falar na opressão racial diretamente embutida nesta relação e na sua origem escravagista.
Costumo dizer "Eu limpo minha sujeira" para salientar que precisamos é discutir a divisão sexual do trabalho. Eu, enquanto feminista, preciso aprender a negociar a divisão do trabalho doméstico com minha família e os habitantes da minha casa. Porque explorar o trabalho de uma mulher em clara desvantagem social e racial não é solução. Assim como defender meus privilégios classemedianos pequeno burgueses não me isenta da cumplicidade e participação ativa na opressão dessas mulheres.
É tão tosco manter alguém para limpar a sujeira produzida por outros que daqui a pouco organizarei protestos com o mote "LIBERTE SUA EMPREGADA DOMÉSTICA!". Grotesco por grotesco, fico com a luta por justiça.
Valorizar o trabalho doméstico, dignificá-lo, passa justamente por assumi-lo. Para a legião de burguesas, pequeno burguesas e classemedianas que reagirão a esse texto com uma vontade súbita de se tornarem faxineiras, digo: Se limpar a sujeira da TUA CASA é tão digno assim, FAÇA VOCÊ MESMA! Está pesado, difícil, não tem tempo? A modernidade e a tua falta de habilidade em negociar o trabalho doméstico com tua família não pode servir de desculpa para a exploração de outra pessoa, principalmente de outra mulher. Seja feminista, oras! Lute pela tua libertação e pela libertação daquelas que ainda não adquiriram consciência de gênero.
Como ontem foi o Dia Nacional das Trabalhadoras Domésticas, pedi pra Niara, jornalista que tem o ótimo blog Pimenta com Limão e que já nos brindou com um comovente guest post sobre seu filho, que escrevesse sobre o assunto. Apesar de Niara ter condições de contratar uma empregada, ela crê que seu feminismo e sua sede por justiça social devem ficar acima do seu privilégio de classe. Eu acredito nisso também, e tento viver de acordo com minhas convicções. Se sou contra a exploração dos pobres pelas classes abastadas, de negros por brancos, de mulheres por homens, também tenho que ser contra a exploração de mulheres pobres por mulheres de classe média. Ah, e isso não isenta, de forma alguma, os maridos de classe média. Dizer que contratar empregada é um assunto de mulheres é uma das formas de desvalorizar o trabalho doméstico e de perpetuar a divisão do trabalho. Não adianta fingir que não é com vocês, não. A Niara explica isso muito bem a seguir.
Antes de começar a falar sobre o trabalho doméstico vou levantar algumas premissas que norteiam meu pensamento e, portanto, meu raciocínio para poder analisar o trabalho doméstico como é realizado hoje.
O surgimento do patriarcado e da opressão de gênero se deu no momento em que os grupos sociais deixaram de ser nômades e o trabalho passou a ser dividido sexualmente. Até então a humanidade se organizava em grupos matricêntricos (não matriarcais). As mulheres precisavam ficar mais próximas de sua prole e coube-lhes o trabalho no âmbito doméstico, privado, a coleta de frutas e a criação de pequenos animais. Aos homens, em função da força física, coube a caça, o trabalho pesado da agricultura que logo se desenvolveria e a criação de animais maiores. Mas o fator decisivo na opressão de gênero ocorreu quando o homem descobriu seu papel na reprodução humana, até então desconhecido.
Está claro que o fato da humanidade deixar de ser nômade, a divisão sexual do trabalho e a descoberta do homem de sua função na procriação foram fundamentais para o surgimento da propriedade privada juntamente com o controle sexual da mulher. Afinal os homens, agora machos provedores, precisavam ter certeza de sua descendência para garantir a herança de seus bens.
Conhecer a nossa história nos ajuda a entender os meandros de nossa opressão. Mas claro que a humanidade evoluiu, se modernizou, vieram os meios de produção, o acúmulo do capital ― que advém do trabalho, é sempre bom lembrar ― e as mulheres sempre ali, no seu mundinho privado, exceto pelas chamadas pioneiras e revolucionárias que nunca se importaram com rótulos ou com quão árdua fosse a luta desde que não ficassem numa situação de submissão ad eternum.
Mas assim como o surgimento da opressão de classe se confunde com a opressão de gênero e se sustenta nela, a luta das mulheres por sua libertação também. Se por um lado a violência sexista é ampla e democrática, no restante da vida a opressão de gênero é infinitamente mais leve para as mulheres burguesas. Enquanto as operárias trabalhavam na fábrica e ao chegar em casa precisavam dar conta do trabalho doméstico ― já que a divisão sexual permanece ―, as mulheres burguesas contam com o auxílio de outras mulheres que iam fazer o "seu" trabalho.
Estou colocando dessa forma para explicitar que a origem do problema está na divisão sexual do trabalho, uma vez que nós mulheres conquistamos o direito ao trabalho no espaço público mas não conseguimos dividir o trabalho no espaço doméstico.
É nítido onde quero chegar. Ter uma empregada doméstica ― posto ocupado em sua quase totalidade por mulheres e em sua ampla maioria por mulheres negras ― é coisa da burguesia. E essa nossa classe média, que não se cansa de assimilar valores burgueses e imitar seus costumes, no primeiro degrau de ascensão social, na primeira oportunidade contrata logo uma empregada doméstica. É status social.
Cômodo, não? Para se livrar do "dever" do trabalho doméstico que não é dividido igualitariamente entre os habitantes de uma casa, a mulher que ascende socialmente trata logo de explorar o trabalho de outra mulher em clara desvantagem social para limpar a sujeira produzida por ela e pelos habitantes de sua casa. Nada mais grotesco e senso comum. Sem falar na opressão racial diretamente embutida nesta relação e na sua origem escravagista.
Costumo dizer "Eu limpo minha sujeira" para salientar que precisamos é discutir a divisão sexual do trabalho. Eu, enquanto feminista, preciso aprender a negociar a divisão do trabalho doméstico com minha família e os habitantes da minha casa. Porque explorar o trabalho de uma mulher em clara desvantagem social e racial não é solução. Assim como defender meus privilégios classemedianos pequeno burgueses não me isenta da cumplicidade e participação ativa na opressão dessas mulheres.
É tão tosco manter alguém para limpar a sujeira produzida por outros que daqui a pouco organizarei protestos com o mote "LIBERTE SUA EMPREGADA DOMÉSTICA!". Grotesco por grotesco, fico com a luta por justiça.
Valorizar o trabalho doméstico, dignificá-lo, passa justamente por assumi-lo. Para a legião de burguesas, pequeno burguesas e classemedianas que reagirão a esse texto com uma vontade súbita de se tornarem faxineiras, digo: Se limpar a sujeira da TUA CASA é tão digno assim, FAÇA VOCÊ MESMA! Está pesado, difícil, não tem tempo? A modernidade e a tua falta de habilidade em negociar o trabalho doméstico com tua família não pode servir de desculpa para a exploração de outra pessoa, principalmente de outra mulher. Seja feminista, oras! Lute pela tua libertação e pela libertação daquelas que ainda não adquiriram consciência de gênero.
Muito interessante vc abordar isso Lola, e digo que vc mudou minha idéia sobre empregadas domésticas há um bom tempo, vou explicar. Quando eu era solteira e morava com meu irmão, eu pagava uma diarista para fazer o trabalho doméstico e achava isso muito natural, fazia o mesmo que minha amigas que trabalhavam fora. Pois bem, depois que passei a ler seu blog, "ter" (veja o sentimento de posse!) uma diarista passou a me incomodar muito, mas como eu não consegui dividir as tarefas de casa com meu irmão, continuei com ela. Pouco tempo depois me casei e já conversei com meu marido, dizendo que não teríamos diarista e que ele teria que dividir as tarefas comigo, porque eu acho injusto pagar alguém para limpar a nossa sujeira. E assim é até hoje, estamos há 2 anos juntos e dividimos as tarefas, talvez a casa não seja um primor de limpeza e arrumação, mas eu não me importo, nem ele. Vivemos bem assim, limpando quando dá, cozinhando nos finais de semana para deixar pronto pra semana e sendo criticados por amigos e parentes que acham um "absurdo" que nós ganhando um bom salário não tenhamos uma empregada...
ResponderExcluirDesculpe o tamanho do texto, é que estou me sentindo cada vez menos tímida para comentar, hehe. Bjo
Enquanto não tive filho não precisei contratar ninguém para trabalhar na minha casa. Depois q ele nasceu e, logo em seguida, eu me separei, tive que contratar alguém para cuidar da casa e dele enquanto eu trabalho. Mas eu não exploro essa pessoa. Eu pago um salário excelente (são 3 salários mínimos, para trab de seg a sex, das 10 às 14 horas, com férias, 13º e folgas sempre que meu filho também está de férias). Quando estava desempregada, minha irmã quis vir trabalhar para mim kkkkkkk.
ResponderExcluirEu não exploro ninguém. Eu ofereço um emprego. Se eu morasse na noruega e tivesse o trabalho que tenho aqui, eu teria que contratar alguem para cuidar do meu filho e da casa também.
Ele agora está com quase 13 anos e eu já estou preparando a transição. Ele já sabe fazer tudo o que precisa ser feito numa casa, inclusive cozinhar, e a pessoa que eu contrato já sabe que no próximo ano não precisarei mais contratá-la. Ela está pensando em se aposentar ou arranjar outra coisa para fazer porque sabe q nunca mais vai conseguir um trabalho doméstico como o que teve aqui em casa. Na cidade onde moro, a grande maioria paga 1,5 salário mínimo e exige que chegue às 7 horas e saia às 17 horas. Mas no sábado, pode sair depois de lavar a louça (elas são tão boazinhas essas patroas kkkk)...é quase escravidão.
Ou seja, concordo com o post, acho q o trabalho doméstico no brasil é tratado como escravidão e é um resquício desta, mas não aceito a carapuça. No meu caso, eu contrato uma pessoa para um serviço, pago bem e estou muito tranquila com isso.
concordo com o texto, mas também pesa o fato de que muitas dessas mulheres dificilmente encontrariam emprego em outras áreas, se todas as famílias virassem a cara para empregadas muitas não teriam aonde trabalhar, felizmente hoje está mudando, em algumas cidades já está mais difícil contratar domésticas (o que vem enfurecendo os eleitores do Serra), felizmente também tem empregadores que as ajudam a estudar, mexer em computadores, algumas pessoas vão ter que aprender a se virar sem empregadas na marra pq no futuro vai ficar bem mais caro ter uma doméstica pra chamar de sua...
ResponderExcluirConcordo com a aiai. O problema não é o trabalho em si, mas sim a escravidão embutida nele. Mesmo pq, se todos pensassem nessa profissão como algo maléfico, 17% das brasileiras - das quais a maioria não tem estudos e oportunidades - estariam desempregadas e vivendo em condições piores ainda.
ResponderExcluir=/
ResponderExcluirNessas horas sinto até vergonha... pq aqui em casa temos empregada e a minha mãe vive dizendo orgulhosa que filha dela não precisa trabalhar em casa.
*vergonha*
Eu não concordo tb como que a situação é posta aqui em casa, vou mostrar o texto pra minha mãe! :) vai que dá certo né? ajuda.
Oi Lola, td bem? Olha, entendo a motivação por trás do texto e concordo em princípio com as premissas (o trabalho doméstico é tanto herança quanto continuação moderna da escravidão doméstica). Mas não concordo de maneira alguma com a conclusão. Levado a cabo por todos que têm empregadas domésticas, tal raciocínio jogaria todas as atuais empregadas no desemprego, o que ainda teria o efeito deletério de pressionar os salários de todos os demais trabalhadores do Brasil ainda mais para baixo.
ResponderExcluirA solução mesmo seria todos os empregadores manterem suas empregadas domésticas, mas cuidando de garantir a elas todas as garantias trabalhistas previstas na CLT e na CF/88. Ainda mais: o salário base, se for levado o intento de acabar com a exploração a sério, deveria se aproximar do "salário mínimo real" previsto pelo Dieese, que hoje em dia encontra-se na faixa dos R$2.200,00. Muito diferente de demití-las, isso sim daria possibilidade de trazê-las à cidadania plena. Ah, outra coisa: tais salários para as empregadas domésticas pressionariam os demais salários brasileiros ainda mais para cima, eventualmente aumentando até mesmo o SEU salário, trabalhador(a) qualificad@ de classe média.
O que eu mais vejo aqui em Curitiba é gente reclamando que as empregadas hoje em dia estão cada vez mais exigentes e querendo trabalhar menos. Que na hora da entrevista, ela é quem pergunta e faz exigências: quer saber o tamanho da casa, quantas crianças, pra ver se vale a pena ou não.
ResponderExcluirElas sabem que muita gente "não vive" sem empregada e estão aprendendo a valorizar o trabalho.
Eu fico é pensando, queria que a minha profissão fosse unida assim para pressionar por melhores salários e condições de trabalho...
Concordo em termos.
ResponderExcluirComo disse a própria Lola (ou foi a colunista? desculpem a memória >.<) apenas 26% das domésticas estão em situação regular. Essas que estão em situação regular, portanto, também deveriam deixar de ser domésticas? Perder seus empregos, regulares?
Sim, eu pago alguém para, 1 vez por semana, dar uma faxina pesada na minha casa. Assino carteira, mesmo sendo só uma vez por semana, pago salário fixo (,15 mínimo, pra trabalhar 1 vez por semana, das 11 as 18), férias e 13°. Não tenho nenhum tipo de vergonha disso.
A verdade é que eu trabalho de 8 as 22, 23, todos os dias - incluindo sábados. Poderia fazer a faxina domingo? Olha, poderia sim. Mas eu PRECISO descansar no domingo. Sabe a história de descanso semanal remunerado? Pois é.
Não costumo comer em casa, só o café da manhã. Minhas roupas eu mesma lavo e passo (viva a máquina de lavar e o ferro a vapor!). Mas não gosto de fazer a faxina pesada. Não gosto e, sinceramente, mal e mal tenho tempo.
Antes, quando morava com a família, tínhamos uma empregada que morava lá em casa durante a semana. Ia pra casa sábado de manhã (sexta a noite, ela dizia, não tinha ônibus).
Passou dez anos lá em casa. Entrou com uns 20 e poucos, sem ter terminado o ensino médio. Saiu com uma faculdade de enfermagem, hoje trabalha num bom hospital. Comentou que está estudando pra um concurso público. Sempre teve carteira assinada, férias e 13°. Morava lá em casa por comodidade (dela e, sim, nossa), mas o horário de trabalho era determinado. 7 as 10, pela manhã (café da manhã e alguma coisa de limpeza), 12 as 18, pela tarde. No resto do tempo, estudava.
Concordo, sim, com a necessidade de VALORIZAR o trabalho doméstico. E, por valorizar, digo valorizar MESMO. E fiscalizar. O problema, a meu ver, não é o trabalho doméstico 'remunerado'. É isso ser feito de forma ilegal, irregular e quase escavocrata. É aquele povo que 'pega a menina pra criar' e, na verdade, escraviza mesmo. Que não assina carteira. Que não respeita direitos trabalhistas. Que comete (ou deixa que seja cometido) assédio moral e sexual.
As 26% das domésticas que estão em situação regularizada não são o problema. São as outras 74%, ou, na verdade, os 74% dos patrões que não sabem respeitar direitos alheios.
Apenas para demonstrar com mais um exemplo o peso de nosso passado escravagista, lembro que talvez a coisa mais avançada em termos de humanidade que o Brasil fez, que foi a Constituição Federal de 1988 (que de tão humanitária recebeu mais de 60 emendas em pouco mais de 20 anos de vigência, a maioria visando corrigir esse caráter social-democrata). Lá no artigo 7º estão elencados os direitos dos trabalhadores:
ResponderExcluir"Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:"
E vêm em seguida 34 incisos, cada um com a garantia de um direito. Após todos eles, um parágrafo infame, que não foi resultado de emenda, mas veio na própria promulgação:
"Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VIII, XV, XVII, XVIII, XIX, XXI e XXIV, bem como a sua integração à previdência social".
Ou seja, apenas dez direitos para a profissão do emprego doméstico. Ou seja, seguro desemprego, exigência de justa causa na demissão, proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil, adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas e mais outras vinte garantias que são direitos de todos os trabalhadores são negados a essa classe.
Isso sem falar nas decisões judiciais contrárias. Inclusive por ministras.
Mulher negra e empregada doméstica (portanto, muito pobre) ocupa o degrau mais baixo da pirâmide social. Se não tiver assistência familiar, descer um degrau nessa pirâmide é cair fora da sociedade; vira moradora de rua.
Continuando... a realidade brasileira mostra que não se trata somente de seguir a "legislação" para proteger e respeitar a empregada doméstica, porque a própria lei discrimina a classe.
ResponderExcluirE eu concordo com a conclusão do texto. Se é para não respeitar o trabalho da empregada doméstica como nós mesmos desejamos que seja respeitado nosso trabalho, é melhor nem ter uma. Essa de "o desemprego é pior que o subemprego" esconde algo de muito pernicioso, que é a sacramentação do subumano.
Oi, gostaria de fazer mais uma pequena intervenção. Aos que continuarem acreditando na inteligência de simplesmente demitir essas pessoas, que contam com o salário (qualquer que seja ele) para seu alimento e moradia - e de sua família-, fica a pergunta: O que você sugere para o dia seguinte da vida delas? Suponho que, como muitos abolicionistas do século XIX, você acharia interessante deportá-las de volta à Africa, ou a algum outro continente de onde tenham vindo seus antepassados...
ResponderExcluirA realidade é que as ainda empregadas domésticas só o são porque não conseguem coisa melhor, e sabem que pra mudarem sua situação em geral precisam primeiro buscar uma qualificação melhor.
Aos que se importam com o problema de verdade: Não demita, dê aumento de salário e todas as garantias trabalhistas possíveis. Não é um presente ou uma mera liberalidade e sim questão de justiça social e de tentar melhorar a sociedade ao seu redor.
Trabalho justo (ou melhor, com salário justo) na sociedade capitalista há poucas, e quando o salário é bom, vamos falar do salário dos políticos e deputados, ou dos médicos (quando são bem pagos), geralmente significa que há uma massa infeliz a pagar por isso.
ResponderExcluirEu não acredito em "limpe a própria sujeira"; quem já entrou num centro comercial depois de apanhar uma chuvada e limpou a própria sujeira que fez lá dentro? Talvez só a empregada encarregue desse trabalho, se nem mesmo os outros funcionário se "dignam" a fazer esse serviço.
Vamos ver a situação de Aiaiai, ela tem de trabalhar e precisa de quem cuida dos filhos, e ela para ser justa para o triplo do salário mínimo. Mas quando ela paga isso quer dizer que ganha mais do que o salário mínimo, e provavelmente 50% mais do que o triplo do salário mínimo. Agora vamos imaginar que ela recebesse apenas o salário mínimo, a sua situação permaneceria a mesma, alguém precisaria de cuidar do filho, e ela de certeza tentaria empregar alguém que não levasse 50% do salário mínimo.
Voltando mais para cima, as empregadas domésticas não são diferentes dos contínuos, das empregadas que limpam as sanitas públicas onde fazemos porcarias, empregados da câmara que apanham a sujeira que espalhamos pela rua, pelo menos na natureza do trabalho, logo a questão fundamental seria não abolir o trabalho doméstico mas "dignificá-lo" para minimizar a exploração; sempre haverá situações como a que exemplifiquei lá em cima, mas pelo menos o quadro global seria diferente.
E dentro de um quadro maior, considerando a injusta distribuição da renda, e considerando que ainda na semana passada discutiu-se aqui o academismo, nesta sociedade cada vez mais especializada e que sobrevaloriza a academia, se mesmo aqueles que estudaram durante quase 30 anos para obter um título académico é "reduzido" a trabalhos de limpeza (atentem-te ao termo "reduzido"), o que seria do pobre que não conseguiu estudar?
ResponderExcluirConcordo com o artigo, só me pergunto, o que fazer? Tenho uma empregada de 2ª a 6ª. das 8hs as 14hs, ela recebe todos os direitos trabalhistas, mas ela é semi-analfabeta (ja tentou ir para uma empresa de limpeza e não passou pois não conseguiu preencher a ficha) é mãe de três filhos e separada, vou limpar minha sujeira e ela vai passar fome?
ResponderExcluirNão me sinto nem um pouco culpada pois minha casa é um posto de trabalho.
Jussara
Concordo que o trabalho doméstico seja descendente da escravidão. Não pela sua existência em si, mas pelas relações de dominação e poder que contém.
ResponderExcluirÉ comum pessoas que querem contratar uma empregada que durma em casa, não tenha filhos, só folgue aos domingos, ganhe um salário mínimo, não tenha carteira assinada, não tire férias. Querem uma mucama, não uma empregada. E ainda é comum ficarem magoados quando a pessoa se demite, vai trabalhar em outra coisa, vai ser diarista(e ser dona do próprio nariz).
Nem sempre o trabalho doméstico reproduz a escravidão, mas realmente é raro não ser.
Já o caso de diaristas eu vejo um pouco mais como um prestador de serviço autônomo. Você combina um preço para a pessoa te prestar um serviço por prazo determinado. Não há relação de propriedade entre pessoas.
Lola,
ResponderExcluirInteressante dar um search no twitter da palavra "empregada". Os resultados, na maioria das vezes, me fazem querer entrar dentro do computador, me reviro na cadeira, a maneira que as pessoas se referem à elas. Elas são só "empregadas", não pessoas, gente. Um objeto, uma posse. Triste.
Tanto minha mãe, quanto minhas irmãs, num momento ou outro ja trabalharam como empregadas domesticas, então posso dizer que sim, são poucas as familias contratantes que cumprem a lei.
ResponderExcluirEu não posso domestica, mas não condeno quem tem.
Oq revolta mesmo são os exploradores, que alem de abusar, nutrem todo tipo de preconceito contra as pessoas dos quais se servem.
Ja denunciei mais de uma comunidade no Orkut, onde filinhos de papai demonstram desprezo contra as pessoas dos quais eles não vivem sem.
e gostaria de aproveitar o post p/ deixar dois links.
o primeiro é uma materia falando de como as proprias empregadas tem valorizado mais as suas funções, e o segundo é uma demonstração de como isso irrita as classes mais abastadas:
Domésticas comemoram a conquista de seus direitos trabalhistas
:http://migre.me/4nrAP
Mães criam grupo ''antiterrorismo'' contra empregadas
http://migre.me/4nCAH
A sua serie preferida só deveria ser Drop Dead Diva.
ResponderExcluirOlha,nunca imaginei que a existencia de empregadas domesticas tivesse a ver com feminismo.Posso faer uma pergunta sincera?
ResponderExcluirMordomos e empregadOS domesticos são validos?
Todo dia quando pego um onibus fico esperando no mesmo ponto que minha vizinha,uma empregada domestica,tipo se esse trabalho deixasse de existir provavelmente ela não arranjaria um bom emprego rapido pq limpar as coisas é o que ela sabe fazer de melhor,e ai?
Não acho errado vc pagar pra uma pessoa limpar sua casa,que de errado há nisso?Ela/ele,quer limpar em troca de dinheiro então que tem de mal eu contratar?Alias,acho até burrice da classe burguesa na verdade,pagar pra executarem pra ele coisas tão simples como lavar pratos.
E quanto a questão da cor,e se minha suposta empregada for branca?
Na verdade,ainda não consigo enxergar racismo,classismo e machismo nisso.Só estou pagando por um trabalho que alguem ta me oferecendo de bom grado.
Veja bem,eu sei que algumas empregadas são tratadas como escravas por madames frustradas,mas acho que isso não é culpa do trabalho em si e sim de umas pessoas ricas que se acham superior as outras por causa do salario,simplesmente.Um resquicio dos tempos em que os ricos podiam pisar nos pobres e ainda serem aplaudidos por isso.
ResponderExcluirPS:Quando disse "coisa tão simples quanto lavar pratos"me referi a pessoas que literalmente fazem isso.
ResponderExcluir1. O conceito de "exploração" do trabalho não se aplica às empregadas domésticas. O trabalho doméstico não produz mercadorias, logo não é trabalho produtivo, não produz valor, não se pode extrair mais-valia. Be-a-bá de Marx.
ResponderExcluir2. Em geral, as condições de trabalho das empregadas domésticas são péssimas. Salário, carga horária, direitos trabalhistas, etc. É um problema de dignidade do trabalho, não de exploração. A tendência é melhorar, com crescimento econômico e distribuição de renda. Evolução do mercado de trabalho, com abertura de oportunidades. Nada a ver com "libertar" as empregadas domésticas para o desemprego.
3. Essa tendência já se manifesta, em especial nos grandes centros e nas regiões mais desenvolvidas. Aqui no Rio, creio que é difícil contratar por menos de dois salários mínimos.
4. A propósito. Contrato empregada doméstica. Horário de 8 às 15h, de segunda a sexta. Dois salários. Carteira assinada, seguridade social. Vale-transporte. Estudo a possibilidade de pagar FGTS, que é optativo. Isso é trabalho digno - acima da média, é certo, mas dentro da faixa superior do mercado.
Grande Roberta!
ResponderExcluirÉ exatamente isso. Não é difícil pensar com clareza, como você provou aqui,
pra quem acha que "empregada doméstica" é, no Brasil, um trabalho como outro qq, sugiro dar uma olhada no tumblr Tragédia da empregada:
ResponderExcluirhttp://migre.me/4nFUi
Se vocês não ficarem indignados com a forma como as pessoas se referem às empregadas domésticas, não sei mais o que indignará vocês.
Qt ao machismo, a questão é que no brasil as mulheres dizem precisar de empregada porque os homens (maridos, filhos, qq um) não aceitam fazer os trabalhos relacionados ao cotidiano da casa: lavar e passar roupa, lavar louça, cozinhar, fazer faxina, varrer...essas coisas são "de mulher", entenderam ou vou precisar desenhar?
Outra questão: se eu morasse na Noruega eu ia ter creche para o meu filho desde pequenininho (de excelente qualidade e gratuita), ia ter escola (quase o dia todo)...provavelmente não ia precisar de uma empregada. E se precisasse teria q ganhar muito para pagar uma, pois os salários delas lá são maiores do que de outros empregos q não precisam de especialização.
Um jeito de acabar com essa "escravidão" no Brasil é distribuir renda. O Bolsa Família reduziu muito o número de mulheres desesperadas por qq dinheiro. Elas já ganham um mínimo para manter a dignidade, então passaram a querer um pouco mais de dignidade em seus empregos.
Outra coisa q está acabando (ainda bem e graças às políticas sociais) são as meninas que eram transformadas em "empregadas domésticas" desde pequenas. Se dizia que elas eram criadas pelas famílias...mas na verdade elas eram "as criadas" das famílias. A troco de roupa usada, comida e material escolar (quando tinham isso), faziam todo o serviço da casa. Acho isso de uma crueldade sem fim.
Que engraçado, esse texto ilustra exatamente a situação que eu estou vivendo. Muita coincidência.
ResponderExcluirMeu marido não divide as tarefas comigo. De jeito nenhum. Não sei mais o que fazer. Ele trabalha durante o dia e dá aulas à noite todos os dias da semana. No sábado, com algum custo, ele passa um aspirador de pó na casa. E só. Muito raramente lava a louça. Costumo dizer que veio com "defeito de fábrica": a mãe fazia tudo, trabalhava em casa. Ficou mal acostumado. E vive cansado.
Antes do casamento conversamos bastante sobre isso, ele vivia dizendo que sempre me ajudaria. Mas acho que não imaginou que uma casa dava tanto trabalho. Graças ao seu blog, Lola, mudei minha mentalidade sobre empregadas domésticas e, até onde for possível, não terei uma. Minha dúvida é sobre a Diarista. Devo contratar uma? Minha casa está sempre suja, a cozinha está com o chão imundo, roupas espalhadas pra todo canto, um horror... :( E no fim de semana queria poder descansar, não trabalhar. Tá foda. Não sei mesmo o que fazer.
O princípio é interessante. Por outro lado, não basta deixar de contratar domésticas. Fazer isso *não* estará melhorando as condições de vida delas - em um sentido, até piorando, por deixá-las sem emprego.
ResponderExcluirEsse contingente enorme de mulheres que trabalham como domésticas: diaristas e mensalistas - só aceitam essa condição miserável de exploração não porque há ofertas, mas porque elas não conseguem outros empregos.
O ideal seria se as contratassem com salário digno. Mas acho que a maioria não tem condições de arcar com um salário decente para as domésticas.
Então, se somos feministas de verdade, teremos que dar condições a essas mulheres de disputarem empregos mais qualificados e com salários mais condignos.
Um amigo meu paga os estudos de sua empregada. (Embora acho que nem todo mundo tenha condição para isso. De todo modo, ao deixar de ter uma empregada doméstica, o valor 'economizado' deve ser vertido em doação para projetos de qualificação de mulheres.)
[]s,
Roberto Takata
Lola, concordo com tudo o que tu disse e acho sim que há (ainda bem) uma tendência de que esse tipo de trabalho acabe por aqui. Mas, apesar do discurso ser bonito, temos que pensar o que fariam hoje empregadas como a que a minha mãe tem, trabalha lá em casa 3 vezes por semana por um salário mínimo e faz faxinas nos outros dias em outras casas. Ela (branca e de olhos claros, por sinal) não teve oportunidade de estudo por ser de família pobre, tem 50 anos e ainda faltam alguns anos de contribuição pra ela se aposentar. Na verdade, ela só trabalha fixo lá em casa por causa dessa contribuição, ou ganharia mais fazendo faxina todos os dias. Onde ela arrumaria emprego hoje pra ganhar mais do que ganha lá em casa e fazendo as faxinas com a idade e o estudo que tem? Esses dias ainda falei pra ela que, provavelmente e se tudo der certo, ela deve ser da última geração de empregadas domésticas do Brasil. Mas o fato é que hoje ela estar lá em casa pra cozinhar duas vezes por semana e limpar a casa uma vez é bom negócio tanto pra nós quanto pra ela, infelizmente! Detalhe: minha mãe se refere à ela como "secretária" o que eu acho de uma hipocrisia horrenda, mas ela gosta!!!
ResponderExcluirPriskka,
ResponderExcluirSe vc trabalha tanto quanto seu marido (de manhã à noite), fica difícil mesmo, para os dois, cuidar da casa.
Minha sugestão: contrate empregada, com salário razoável e direitos trabalhistas garantidos.
Outra sugestão: ambos trabalham menos e dividem o serviço doméstico...
Joel, uma vez vi uma análise interessante sobre a questão do valor em Marx no que tange às empregadas domésticas:
ResponderExcluirO custo que o capitalista tem com mão-de-obra deve ser suficiente para mantê-la. O salário pago ao trabalhador deve ser capaz de custear tudo o que lhe é necessário; comida, roupas, saúde, higiene, lazer, etc.
Assim, o trabalho da empregada doméstica produz valor indiretamente, pois é esse trabalho que ajuda a manter a condição de outros trabalhadores, que irão produzir valor de maneira direta ou indireta também (serviços).
Se esticarmos a cadeia produtiva para seu seio nas relações sociais, é possível entender onde está a exploração da empregada doméstica. E o mais interessante; dá para dizer que, de certa forma, é porque o trabalhador comum é explorado que a empregada doméstica desse trabalhador é ainda mais degradantemente explorada.
Lolinha, todos os dias leio seus textos e quase sempre concordo plenamente com o que diz.
ResponderExcluirMas, infelizmente, em algumas situações é impossível viver sem alguém..
Em casa meus pais sempre trabalharam muito, então, quando minha mãe engravidou de mim, contratou uma moça para acompanhá-la durante a licença e depois cuidar de mim e de nossa casa enquanto eles trabalhavam.
Quase 30 anos depois, estamos aqui ainda. A mulher continua com meus pais, sendo tratada como alguém da família, prestes a se aposentar e chorando por isso. Eu e meu irmão chamando ela de vó e amando ela como uma mãe. Ela, com fotos nossas em porta-retratos em sua casa e dando bronca como se ainda fossemos bebês.
Ela sempre teve carteira assinada, férias, 13º, mas, além disso, recebe coisas que só fazemos por pessoas que amamos. Creio que poucas pessoas hoje em dia são respeitadas e consideradas de um modo tão grande em seu emprego.
Não só não a tratamos como alguém de menor valor, como tenho certeza que nunca a abandonaremos mesmo que um dia não 'trabalhe' mais com a nossa família.
E vendo comentários de alguns aqui, eu me lembro do que diziam os políticos burgueses do século XIX: "não tem problema nenhum eu contratar operários para trabalhar 14h/dia pagando o equivalente a um copo de pinga e um prato de sopa por dia. Eles estão aí, sobrando sem emprego, na verdade, o que eu ofereço é até caridade, porque tem tanto desempregado por aí que se eu quisesse cortar do pagamento o copo de cerveja, poderia". Quase dá para ouvir um "seria até bom, porque aí eles não iriam gastar o que ganham com o que não presta".
ResponderExcluirÉ também o mesmo discurso que industriais fazem quando vem o Ministério Público do Trabalho multá-los por inumeráveis irregularidades trabalhistas. Dizem que a multa é tão pesada que o ônus irá fechar a empresa, sendo isso pior porque é melhor receber menos e ter menos direitos do que não receber nada e ficar desempregado.
Mas a tragédia para as empregadas domésticas é tão grande que o Ministério Público não vai até as casas das madames averiguar seus direitos. E mesmo que fosse, conforme comentei antes, haveria somente um resto de direitos para observar.
No caso do industrial que não cumpre os direitos trabalhistas, eu digo: é melhor fechar a fábrica. A economia possui razoável elasticidade, principalmente quando está aquecida, como é o nosso caso atualmente. Inclusive ajuda a dar novos indicadores para o governo; se é necessário gerar mais empregos, etc. Ao contrário do que parece, a manutenção de subempregos não é requisito para melhoria da condição. Na realidade neoliberal de hoje, a existência de subempregos só ajuda a degradar outros, pois é uma lógica que corrói direitos conquistados. Terceirização está aí para provar isso. A solução para o desemprego não é o subemprego; pelo contrário - isso é agravar o problema.
E a galera que diz cumprir os direitos trabalhistas das empregadas, será que conseguem providenciar algo que valha como seguro-desemprego E seguro em caso de acidente? Provê participação dos lucros? Vai indenizar a empregada se a demitir sem justa causa? No salário entra o adicional de atividades penosas, insalubres ou perigosas? Bem, esses são apenas alguns dos direitos garantidos a qualquer trabalhador com carteira assinada. Quem tem empregada doméstica é capaz de garantir a ela os mesmos direitos que tem do seu próprio emprego? Então é complicado dizer que "cumprimos os direitos trabalhistas" delas, porque elas mal os têm. Meu ponto é que às vezes, sem querer nem saber, a gente acha que está fazendo algo bom, caridade até, e isso no fundo não passa da defesa de um privilégio. Nenhum trabalho deve ser caridade. Aliás, nem pode. Todo o trabalho dentro do capitalismo é degradante e desumanizante. Só que alguns são muito mais que outros.
Mas esse cenário aí em cima é sonho; a minoria dos empregadores respeita o resto de legislação trabalhista, e a integralidade deles não são amplamente respeitadas sequer para outros trabalhadores...
Quanto ao machismo, racismo; eu nunca vi empregado doméstico. Muito menos branco. Talvez exista. Mas não é pela exceção que se mede a realidade, certo? E é engraçado, mordomo é coisa de mansão, tipo governanta. A classe média que contrata empregadas domésticas não tem mansão, mordomo ou governanta, ou tem?
quanto a quem acha que as empregadas vão ficar muito mal quando a gente não tiver mais empregadas, isso me lembra o discurso dos que acham que deve haver trabalho infantil: afinal, essas crianças estão fazendo algo produtivo ao invés de se drogar, né? Ou ajudam as famílias e assim não passam fome, né?
ResponderExcluirPorra, gente, porra, trabalho infantil e trabalho degradante (como são os trabalhos da grande maioria das empregadas) não são o que salvam a nossa sociedade. Ao contrário, é esse tipo de coisa que destroi as possibilidades de desenvolvimento da nossa sociedade para um patamar de igualdade.
Acho o que foi dito passa por uma questao que faltou, que eh a organizacao caotica do tempo de trabalho em geral numa economia de mercado. No modelo tradicional, homens tem os cargos que trazem mais dinheiro para casa, entre outras coisas porque eh mais esperado socialmente que eles ascendam e porque ha estimulo e nao barreiras para isto. Estes trabalhos costumam estar vinculados a alta responsabilidade e, muitas vezes, alta carga horaria. Tem medicos, empresarios, advogados e outros que ganham muito e trabalham muito tambem. No resto do tempo descansam e... fazem contatos sociais, tao vitais para a carreira deles quanto o trabalho propriamente dito. O capitalismo se organiza assim. Na Noruega talvez estas pessoas tenham uma jornada menor, mas onde o capitalismo eh selvagem, eh assim. Quando ha mulheres que ocupam estas mesmas posicoes "masculinas", elas padecem exatamente do mesmo problema e tem tao pouca disponibilidade para trabalho domestico quanto eles. O trabalho eh todo mal dividido na nossa sociedade. A domestica vem, tambem, socorrer esta questao. Vi um colega sugerindo a leitora que "trabalhasse menos para conseguir limpar a casa". Como se o numero de horas que trabalhamos pudesse ser decidido por nos. Ok, em vez de ganhar 4 mil reais e trabalhar 10 horas por dia eu escolho ganhar 3 e so trabalhar oito. Idealmente seria assim, mas nao eh. Quem fixa este numero de horas eh a concorrencia. Mesmo entre medicos, empresarios e advogados, que concorrem no tempo livre por contato por clientes e parceiros de trabalho. Ou voce trabalha 10 horas e ganha 4 mil, ou fica desempregado. Se todos trabalhassem uma jornada de trabalho decente, houvesse creches de boa qualidade em tempo integral para as criancas, e a carga de trabalho geral fosse equaneme para homens e mulheres, o trabalho da domestica seria superfluo. Teria quem quisesse, (e pudesse!) ai sim seria,sem por nem tirar, um luxo. Acho que, no capitalismo, o maximo que da para fazer eh tentar regular estas coisas o maximo possivel. E com creches! sera a Noruega?
ResponderExcluirNefelibata,
ResponderExcluirA análise que vc cita pode ser interessante, mas infelizmente não é marxista. O trabalho doméstico não produz valor, logo não há exploração. Da mesma forma, o trabalho no setor financeiro ou no comércio, por exemplo. Esses setores se apropriam de parte da mais-valia do setor produtivo. No caso da doméstica, não há nem esse mecanismo.
Infelizmente, o espaço é pouco para fazer esse debate. Mas essa nem é a questão. Um trabalhador pode ganhar muito bem e ser explorado.
Quanto a sexo e raça: já vi muitas empregadas que não eram negras. E já vi alguns empregadOs domésticos, que são até comuns nas famílias de renda muito elevada: mordomos, cozinheiros, jardineiros, motoristas, etc.
Sobre direitos trabalhistas. Se o empregador assina carteira, vai indenizar a demissão imotivada, sim. CLT. O trabalho doméstico, de forma geral, não é insalubre, penoso ou perigoso, nos termos definidos em lei. Participação nos lucros, só se lucros houvesse; para haver lucros, tem que haver mais-valia; não há mais-valia no trabalho doméstico. Seguro-desemprego: está previsto em lei. Licença saúde (e licença maternidade, que vc não lembrou) também.
A maioria das empregadas domésticas têm condições de trabalho degradantes. Lutemos contra o trabalho degradante. Nas residências, nas usinas de açúcar, nas grandes empreiteiras, na indústria do vestuário, nos latifúndios.
Mas não vamos lutar contra os trabalhadores e trabalhadoras, que precisam vender sua força de trabalho para viver. Chama-se capitalismo. Depois da revolução a gente volta a conversar...
Abraço.
@AIAIAI
ResponderExcluirQt ao machismo, a questão é que no brasil as mulheres dizem precisar de empregada porque os homens (...) não aceitam fazer os trabalhos relacionados ao cotidiano da casa (..)essas coisas são "de mulher".
Então, por que contrataste uma mulher para fazer isso na sua casa e não um homem? Ou és também machista?
E os empregados domésticos da Noruega, que pela tua conta deverão ganhar superbem, serão também abolidos? Ou mesmo os empregados domésticos de pessoas ricas, que são dignificados pelos patrões e ganham mais que um médico, são também para despedir? Ou acham que toda a gente da classe média alta despreza os empregados?
@Nefelibata
Empregados domésticos brancos há-os por aí aos quilos. Eu estou com Joel, segurar apenas no pé dos "empregadores domésticos" é analisar a moldura em vez da pintura.
E não entendo nada a necessidade de misturar racismo, feminismo, etcoeterismo com esta questão que sabemos ser fruto ou sustento do capitalismo.
É "ascenSão".
ResponderExcluirJoel, discordo de vc. Hoje a palavra exploração não está associada apenas ao contexto marxista. Pode-se usá-la sem falar de mais valia.
ResponderExcluirPenta, vc praticamente só vem ao blog (e já faz tempo) pra dizer que não vê machismo, racismo, homofobia ou qualquer tipo de preconceito em TODAS as questões que coloco aqui. Eu fico curiosa: existe alguma ocasião em que vc enxergue machismo, racismo, homofobia etc? Ou vc acha que essas coisas simplesmente não existem e são fruto da minha imaginação? Porque é o que parece.
Natty, “é ascenSão” quando? Onde? Por favor, peço para que quando apontarem um erro (e peço para que os apontem), sejam mais específicos. Se puderem apontar a localização do erro (parágrafo, ou perto da ilustração tal), eu agradeço, porque aí fica mais fácil corrigir.
ResponderExcluirNefelibata, obrigada pelos comentários, muito bons, como sempre. Fiquei chocada com o que vc relatou da sua infância no post sobre bater em crianças. Nunca poderia imaginar que vc foi uma criança manipuladora e egoísta.
(Correndo aqui, gente!).
Lola,
ResponderExcluireu vejo machismo, racismo e homofobia nas questões machistas, racistas e homofóbicas.
A "exploração de empregados domésticos" não tem a ver com nenhuma destas três coisas. Niara fez um belo trabalho ligando as três coisas, ponto para ela!, foi bem conseguido. Mas essa exploração é alheia a cor, ao sexo e à sexualidade. Eu vim da África, Guiné-Bissau, para melhor situar, uma terra de pretos, e essa exploração é a mesma; ou nos EUA usam muito mexicanos não legais para trabalhadores, mas no México será que usam americanos ou os próprios mexicanos. Aqui em Portugal é mais fácil um preto ser empregado doméstico, porque boa parte está ilegal e a outra parte simplesmente precisa de sobreviver, porque o nacionalismo existente em qualquer país prima primeiro por dar trabalho ao nacional. Por estas razões não faz sentido para mim ligar a "escravidão doméstica" ao racismo.
Quanto ao machismo, é mais comum encontrar empregadas domésticas, tanto quanto é mais comum encontrar pescadores, trabalhadores de construção civil que sejam apenas homens; isso sim é uma questão de "discriminação sexual pelo tipo de trabalho" (e eu não aconselho ninguém, homem ou mulher a trabalhar nas obras, principalmente como ajudante de pedreiro), mas não é essa dicriminação que gera a exploração que as empregadas domésticas sofrem.
Resta a homofobia. Na verdade, não sei nem como enquadrar homofobia nesta questão. Em suma, não concordo que que a homofobia, o racismo e o machismo tenham a ver com esse tipo de escravidão.
Mas, não, não ando por aqui para discordar do que quer que escrevas, apesar da tua tendência de ligares tudo ao feminismo (o que é muito fácil, considerando que metade da humanidade é mulher), porque há já alguns post em que concordamos, e praticamente leio todos os teus posts, e quando não tenho nada para acrescentar, não o faço, porque tento evitar chover no molhado.
Cara, não entendi nada.
ResponderExcluirE quando a mulher pode pagar?
E quando a pessoa mora sozinha e quer uma empregada, mesmo assim? E pode pagar.
Sei lá.
Alguém explica?
Peço licença à autora (ou seria autor?) do texto sob Palavras Vagabundas para assinar embaixo. Quanta lucidez!
ResponderExcluirLola, você acha que ser empregada doméstica é pior do que ser gari? Pior do que ser policial? Pior do que ser professor (em escola não federal, okay?)? Pior do que auxiliar de pedreiro? Existem dezenas de profissões difíceis! Empregada doméstica é uma delas, mas nem acho que seja tão difícil! Por que você quer desemprego a todas as empregadas domésticas? Coitadas! E aquelas analfabetas, que não conseguem nem preencher uma ficha para conseguir um trabalho que "você acha" decente? Quanta bullshit vc escreveu, Lola! Seja feminista mas tente usar bom-senso (se conseguir)!
Confesso que só li o começo do texto da convidada... Considerando a introdução que a Lola fez, acho que seria perda de tempo.
Quantas empregadas domésticas são semianalfabetas e não se interessam nem um pouco por melhorar sua condição educacional (para conseguir um emprego melhor)?
Você criticar as pessoas que dão emprego às domésticas é um absurdo!
LOLA, QUE TAL VOCÊ ESCREVER SOBRE AS PESSOAS QUE TÊM NÍVEL SUPERIOR E TEM PISO SALARIAL DE 500, 600 REAIS? Sim, em muitos Estados do nosso país esse é o piso salarial dos professores. Você não acha isso exploração? Pior do que das empregadas domésticas?
Ah, estou sendo educado (discordando, mas sendo educado -- sim, é possível!) com você. Se vc comentar meu texto, peço o mesmo tratamento (porque vc geralmente achincalha quem tem opinião diferente da sua).
Correção: a palavra TEM sem acento do trecho em maiúsculas devia estar com acento circunflexo também. Desculpem.
ResponderExcluirEm paises desenvolvidos como a França tem muitos empregados domesticos.Esse negocio de trabalho domestico=coisa de mulher é mais uma desculpa para justificar a preguiça mesmo.As pessoas contratam empregadas pq tem preguiça de limpar a casa do mesmo jeito que outras contratam advogados pq tem preguiça de estudar as leis.
ResponderExcluirAlias,ficar descrevendo as empregadas em geral como mulheres+mais negras ignorantes e miseraveis ,isso sim é racismo,machismo(como se homens não fossem capazes de executar esse trabalho)e classismo.Se eu fosse empregada domestica não ia querer ser descrita como coitada.Isso tbm é indigno.
Quanto aos boyzinhos que tratam mal suas empregadas,bom,eles devem tratar mal qualquer pessoa que esteja "baixo"dele na hierarquia social do capetalismo
Alias,desculpe,não é só preguiça,algumas realmente não tem tempo,no MEU caso seria preguiça XD
ResponderExcluirÉ isso aí, João! Vc sim pegou o espírito da coisa! Indignação já com quem ousa criticar as pessoas que contratam domésticas! Não vamos nos indignar com a situação dessas 17% de mulheres brasileiras que trabalham como empregadas ganhando em média R$ 350 (é o salário médio pago no país). Não! Quem contrata doméstica é super legal! E é só coincidência que mais de 70% desses empregadores não cumpram leis trabalhistas básicas. Vamos é criticar a própria empregada doméstica, que não tem vontade de deixar de ser analfabeta. Mas nunca seus patrões, porque esses são da mesma classe social que a minha – portanto, é gente de bem, gente que faz, gente que mereceu estar onde está, ao contrário daquela gentalha de uma cor que também é diferente da minha.
ResponderExcluirE sim, João, vc é tão educado, tão nobre, tão high profile, que nem vê como falta de educação dizer que o que alguém escreveu é “bullshit”. Palavrão em inglês é tão mais chique!
Sinceramente acredito que quem trabalha com empregada(o) domestica(o) de acordo com as leis trabalhistas está exercendo um trabalho como outro qualquer.
ResponderExcluirE sim, já vi homens que exercem essa função, e de forma muito digna, assim como vi mulheres (e não apenas negras).
Minha família não tem empregadas/os porque não sentimos necessidade, e mesmo que sentíssemos, não teríamos como pagar a essas pessoas salários dignos e tudo que requerem as leis.
Mas não entendo muito bem a questão que o blog levantou. Vejo exploração dessa espécie que o blog cita em relação a essa profissão em MUITAS áreas, e não apenas nessa em específico, vejo diariamente pessoas sendo abusadas econômica e moralmente por criaturas que, por serem "de outra classe social", se imaginam nesse direito.
Vejo todos os dias pessoas que trabalham sem carteira assinada, recebendo salários medíocres e sem direito a uma aposentadoria, e isso tem ocorrido em 90% das profissões, não apenas na citada. Com homens, com mulheres, com negros, com brancos, com ensino, sem ensino, com diploma, sem diploma, até com pós-graduação.
Então, sinceramente, não saquei qual é a questão que difere as empregadas domésticas (ou os empregados domésticos) das outras pessoas/profissionais na mesma situação.
Sou contra a exploração em qualquer âmbito e a favor da dignidade para todos os profissionais, mas achei o termo "libertar a doméstica" muito discutível e desagradável, prefiro incentivar as pessoas a regularizar a situação desses profissionais e pagar a eles salários justos, pois vejo nessa profissão a mesma dignidade que qualquer outra contém.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluireu vejo inúmeros problemas para as empregadas domésticas, nem digo serem empregadas domésticas, mas o que tomam por "empregadas domésticas". Muita gente abusa das empregadas domésticas, tratam-as como escravas, como se se tivessem de honrar qualquer vontade dos sinhorzinhos. E eu ODEIO essa mania de botar empregada doméstica em casa de rico (nas novelas)como "amiga da família", amiga nada, trabalha mais, não tem vida própria, banca a babá e etc.
ResponderExcluirSe o trabalho doméstico fosse bem distribuído em casa, não seria preciso escravizar uma mulher (ou homem, que seja) para fazer TUDO... Porque as pessoas acham que por pagaram um tantinho de grana por mês podem arrumar a maior zona na casa que tem alguém para arrumar.
Será que isso não lembra nada? revolução industrial? revolução francesa? burguesia explorando os pobres, os funcionários... as mulheres queimadas por reivindicarem melhores condições de trabalho?????????
pra ficar à toa, se passa por cima do direito de qualquer pessoa.
Caros discordantes:
ResponderExcluirEntendam uma coisa: bom para Lola a mulher ficar desempregada e recebendo bolsa-família, para deixar o Lula e a Dilma cada dia mais poderosos com seu cabresto.
Entenderam?
mas o que ela tá falando é que tem gente que paga muito pouco para as domésticas, muitas fazem um serviço super pesado, deveriam ter pelo menos um seguro pq olha... as camareiras da bosta do hotel em que eu trabalhava ralavam o dia inteiro levantavam camas pesadíssimas, DOR NA COLUNA alheia não incomoda mesmo! e no calor? quem mereeeece? e mesmo com esse esforço elas recebiam a maravilhosa quantia de R$ 800.00 por mês e um vale alimentação de R$ 100.00 (que hoje deve dar pra comprar comida de 1 semana no supermercado)... e era um hotel bom de uma multinacional, ok? TODOS os dias na hora do almoço elas reclamavam de hóspedes mal educados, gente que revirava o quarto, humilhava elas, mas pra mim o pior é o cansaço físico, tá certo, tem gente que tem ensino superior é tá ganhando R$ 500.00, mas muitos trabalham sentados ou não precisam fazer camas de "trocentos quilos" todos os dias, não adianta ficar aqui com blabalbla marx isso, feminismo, meu caralhismo, o negócio é que é um trabalho super cansativo, detona o corpo e deve ser bem remunerado sim pq pode trazer danos à saúde...
ResponderExcluirSe foi no caso da "aiaiai", beleza. A empregada dela recebe um bom salário e não trabalha taaanto assim. Há problema em QUALQUER profissão em que se ganha pouquíssimo pro que se trabalha.
ResponderExcluirEmpregadas com carteira assinada, tudo direitinho e tal: também não vejo problema.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirNefelibata...
ResponderExcluirEm minha tese de doutorado, faço a mesma leitura que vc acerca da teoria do valor de Marx e o trabalho da empregada doméstica. Em suma, é pelo trabalho da doméstica que se aumenta a mais valia absoluta, seja de homens, seja de mulheres. Deste modo, não é a mulher da classe trabalhadora (q tem um salário relativamente maior em função de sua posição na DST) que explora a empregada doméstica. Esta reproduz uma relação de opressão já existente entre os cônjuges, quando a mulher é a "dona de casa"(importante distinguir os dois conceitos: opressão # exploração). É o capitalista que consegue explorar diretamente mais a trabalhadora que "emprega" e ainda, explorar indiretamente a doméstica.
Não se é mais ou menos feminista por limpar sua própria sujeira; se é mais ou menos feminista quando se somam as forças das mulheres trabalhadoras contra o capital. O que se coloca em pauta, não é somente o trabalho doméstico versus trabalho "profissional", mas a divisão do trabalho em manual e intelectual e seus desdobramentos...
No mais, parabéns a autora do blog por fomentar a discussão.
Quanta baboseira. Baboseira desmerecer o trabalho doméstico e tratá-lo como sub emprego, mas o que é isso? Todo tipo de trabalho pode ser entendido como exploração, até mesmo as professoras e os professores nas academias não vendem algo - seu intelecto - em troca de um salário que deve à produção de algo, no caso, conhecimento? Porque este trabalho é mais glorioso e feminista do que cuidar de uma casa?
ResponderExcluirOra, porque adotaram a hipótese machista de que o trabalho no lar é menos digno já que foi relacionado com uma tarefa feminina e contrasta com o trabalho no espaço público, comumente entendido como masculino.
O que deve ser garantido é que as empregadas domésticas tenham todos os direitos trabalhistas, isso sim!
Minha mãe se divorciou quando éramos crianças, trabalhava fora, em dois empregos, e precisou contratar uma empregada para ajudar nos afazeres domésticos. Não se tratava de adotar um costume "burguês", mas de uma necessidade.
Eu acho que o pressuposto do feminismo deveria ser a inteligência.
Meu pai sempre maltratou as empregadas lá em casa. Ele não assinava carteira até que uma empregada o colocou na justiça. Passou depois a assinar por puro medo, mas os maltratos e humilhações nunca cessaram. Lembro-de de que o horário era de 7h às 18h. Às 14, 15h elas já tinham terminado todo o serviço, mas ele as obrigava a ficar matando o tempo, olhando pro teto, até às 18h. Não havia mais nada para ser feito. Elas nunca ousaram dizer nada. Eu tinha muita pena delas.
ResponderExcluirNão é necessario ser empregada doméstica para ser explorada no trabalho, podemos ficar aqui enumerando todas as profissões onde as pessoas são exploradas vilmente neste pais. Mas vamos la, a minha pergunta é: aqui em Itacaré, no interior da Bahia, onde a grande maioria das mulheres é analfabeta funcional quando não é completamente analfabeta. A maioria também tem mais de 4 filhos e vivem sozinhas com essas crianças (conheço mulheres com 12 filhos!) nem vou falar sobre um controle sério da natalidade aqui porque não é o caso e não vai demorar nem 5 minutos pra um alienado dizer que eu sou a favor da eugenia e quero esterilzar pobre. Mas voltando ao assunto: essas mulheres, sem nenhuma instrução, com uma penca de menino pra criar, vão viver do que mesmo se não forem domésticas?
ResponderExcluirEh claro que eu queria que o mundo fosse igual em propaganda de margarina, mas não é, alias nem acredito que algum dia seja aqui no Brasil. Então dar emprego pra essas mulheres é um comportamento machista? Não é por nada não mas as vezes acho que a classe média mais ou menos intelectualizada e de esquerda no Brasil, imagina um pais que não existe. Cheio de pobre bonzinho e de rico malvado, cheio de gente preconceituosa e de gente sofredora. O buraco é bem mais embaixo, infelizmente é mais facil ficar discutindo a miséria humana entre "nossos pares" pela internet que sentir o cheiro de transpiração, doença, falta de higiene e sofrimento do mundo real.
samya
ResponderExcluira diferença entre o seu pensamento e o meu é que eu acho que o brasil pode mudar sim ... que podemos superar as mazelas do passado e ser um país de iguais. Vc acha q não.
Verô...
ResponderExcluirSim, todo aquele que vende a força de trabalho (seja intelectual ou física) é explorado. Exploração aqui significa realizar um trabalho que não é pago, ou seja, mais valia.
O trabalho doméstico é subemprego porque é subremunerado, pq não garante os direitos trabalhistas. e,um dos motivos de assim ser é por ser trabalho manual e de mulher. Infelizmente essa não é uma tese adota -- se fosse, bastava "desadotar" -- ela é fato.
Quem quiser dados sobre isso: IBGE e IPEA.
A indignação que vc demonstra quando se reivinidca a dignidade do trabalho doméstico é um dos desdobramentos da divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual. Precisamos superar essa divisão, pois acredite, até o professor e a professora, na escala de participação do traballho intelectual, pouco participa, pois a função dele e dela é produzir para o capital. o que precisamos é de uma sociedade em que tod@s decisam onde, como, quando, quanto e para que será produzido.
Por isso, reafirmo, a luta feminista deve ser uma luta pela emancipação humana, e durante essa luta, precisamos brigar pela não opressão da mulher, para que ela não se reprita -- mas, diga-se de passagem, se ela se repetir, não teremos a emancipação humana.
Uma sugestão bem reformista, mas que permite tensionar o movimento de mudança: uma luta pela diminuição da jornada de trabalho. Assim teríamos mais tempo para cuidar da casa, da saúde, do lazer e até (vejam a contradição) comprar mais. com a diminução da jornada, seria gerado mais empregos (não na mesma porporção da redução, mas geraria).
Saudações a tod@s
Samya,
ResponderExcluirNão creio que resolvemos o problema das mulheres semi-analfabetas oferecendo-lhes um subemprego. Isso somente reproduz a condição de miséria de toda a família, pois via de regar, suas filhas permaneceram não tendo oprotunidades melhores, pois os salários das mães mal põe a comida na mesa. Eis a reprodução do exército de reserva para os trabalhos subremunerados.
Eu sou a favor da destinação do fundo público para políticas que gerem oportunidades reais para todos. Mas, infelizmente, o fundo público é destinado ao capital.
Por exemplo, se não em engano, entre 2003 e 2005, foram destinados cerca de 800 milhões do fundo público para os banqueiros e, apenas 20 milhões para erradicar a pobreza no Brasil. É isso que precisamos mudar.
Aiaiai, e enquanto esse pais nao vira esse lugar legal a gente faz o que? o que fazem essas mulheres? porque eu e voce estamos empregadas, mas e elas? Eu não tenho empregada doméstica, não gosto de imaginar outra pessoa tão perto da minha intimidade.como você vê não é por ideologia, mas e dai, vamos então deixar essas mulheres sem empregos e sem ter com que colocar feijão e farinha na mesa enquanto se esperam dias melhores? qual seria a solução? porque apontar o problema eu também sei.
ResponderExcluirsamya, a solução está em andamento neste momento em que estamos aqui discutindo. Mais de 20 milhões de pessoas sairam da miséria nos últimos anos no brasil...elas estão com empregos melhores, hoje já não é tão fácil achar escravas para o trabalho doméstico. O que não pode é vc achar que dar emprego mal remunerado e mal tratado (veja o tumblr http://migre.me/4nFUi )vai resolver o problema dessas mulheres.
ResponderExcluirO que a lola e sua convidada estão propondo é que a gente pense na questão e encontre saídas para mudá-la, não que a gente demita todas as empregadas neste minuto!!!
Eu emprego uma pessoa para cuidar da minha casa. Não a considero empregada doméstica porque ela é contratada como funcionária da minha empresa, com salário muito maior do que o pago para empregadas e com condições de trabalho e direitos muito melhores também.
Eu preferia não ter alguem na minha casa o tempo todo cuidando da casa para mim. Mas eu precisei e posso pagar decentemente. Não conheço mais ninguém que tenha empregado doméstico dessa forma. Todo mundo q conheço que tem empregada tem, na verdade, uma escrava em casa e nem se dá conta disso.
eu acho que é preconceito rotular todas as pessoas que pagam uma pessoa para fazer trabalhos domésticos como preguiçosa, machista ou deslumbarada com o status social. já pensaram que pagar uma empregada pode ser uma necessidade? que muitas pessoas tem uma rotina de trabalho pesada e passam um tanto de horas no emprego mais um tanto no trasnporte e simplesmente não tem tempo de fazer todo o trabalho domestico? ou, vá la, não gostam e podem pagar? qual o problema com o trabalho doméstico, não é um emprego também? há abusos, sim há, mas vamos combater os abusos, não o emprego em si. se for desta forma, teremos que combater inúmeras profissoes cujos profissionais são explorados ou mal tratados. acho que não é por ai, nao.
ResponderExcluirparece aquele discurso de quem não quer jogar o lixo na lata de lixo. "se todos jogarem o lixo na cesta de lixo, não haverá emprego pro gari"
ResponderExcluira solução é difícil mesmo:
ou vc contrata e não explora
ou vc se vira com seu tempo e habitantes da casa e faz o serviço vc mesmo. é difícil esse negócio de divisão de tarefas pq sempre haverá uma briga por quem trabalha mais fora de casa, quem está mais cansado, etc.
nesse caso, acho que uma das soluções é propor que cada um lave sua louça,limpe sua bagunça,etc. fez xixi fora do lugar, limpa. assim q sujar a louça, lave. por aí vai. dá muita briga mesmo...eu não tenho marido,mas sempre reclamei por uma divisão de tarefas na minha família. nunca consegui por em prática.
Lola, se é que melhora em alguma coisa hoje empregada domestica trabalha registrada e em sao paulo ganha no minimo 1300 reais por mais. Diarista nao cobra menos que 60 reais. A minha cobra 65 e trabalha 5 horas, no final das contas ela ganha praticamente igual a mim por hora que sou professora de ingles. E ganha o dobro do que um professor do estado... Nao reclamo, acho ótimo q ela tenha as mesmas condicoes que eu. Hoje em dia aqui sampa tem que ganhar muito bem pra manter uma... as que dormem na casa do patrao ganham 1800 reais... nada mal para pessoas que geralmente nao concluiram o ensino medio.. E o mesmo acontece com o homens que sao pedreiros.. o salario está em torno de 2500,00! viva as mudancas!
ResponderExcluirEu acho que da forma como foi colocada a questão, é mais importante acabar com a "profissão empregada doméstica" do que respeitar direitos trabalhistas e remunerar dignamente. Me soa um pouco aquela coisa da pessoa chegar em casa e ver o cônjuge o traindo com alguém no sofá e q acha que jogar o sofá fora vai resolver o problema.
ResponderExcluirÉ fato que o trabalho doméstico no Brasil é resquício da escravidão. Também não acho que tem q haver uma ocupação para as pessoas pobres para que elas não se tornem miseráveis.
Mas também não vejo cabelo em ovo em relação ao trabalho doméstico, quando são respeitados os direitos trabalhistas. Lógico que há muita exploração, salários e jornadas absurdas, coisas que precisam ser fiscalizadas de alguma forma e mudadas. E vejo que a ascensão social das camadas mais pobres está ajudando a mudar um pouco esse quadro.
Lindo isso de "limpe sua própria sujeira". Ok, eu acordo todos os dias às 6h, faço comida antes de ir para o trabalho, pego de 9 às 18, e 3 vezes por semana faço curso e chego quase 22h em casa. Aos sábados, faço um freela, mas aí eu controlo as horas e raramente faço mais de 6h. Não tenho filhos e meu marido trabalha com informática em casa mesmo. É um horário flexível, e ele me ajuda com a louça, lava e passa sua roupa, vai ao mercado, à feira. Pago uma pessoa para fazer faxina 2 x por mês (sim, é mulher, mas assim como é difícil encontrar uma encanadora/pedreira/eletricista pra resolver pequenos problemas domésticos, é complicado encontrar um homem para tarefas de limpeza doméstica). A manutenção eu garanto, pois limpar superficialmente dá tempo. E daí? Pago acima da média para o RJ, não assino a carteira, ok. Estou sendo exploradora? É indigno querer descansar no domingo? Eu gosto de ter a casa mais ou menos organizada, prezo a cozinha limpa, pois passo muito tempo cozinhando (coisa que eu realmente adoro), se eu posso pagar dignamente para ter esses serviços, que mal há? Sorry, mas não vesti a carapuça não!
Joel,
ResponderExcluirSim, o trabalho da empregada doméstica produz valor. E valor no conceito marxista, sim. O que é valor? um quantun de trabalho socialmente necessário para produzir algo, ou seja, o trabalho humano cristalizado em algo. O trabalho da emprega doméstica produz uma casa limpa. O tempo de trabalho socialmente necessário para isso é o q permite a equivalencia do produto do trabalho dela com o equivalente geral - no caso da nossa sociedade -- dinheiro. o que ela não produz, numa análise reduzida do movimento de produção do capital, é mais valia. ou seja, a empregadora não pode pegar o produto do trabalho da doméstica e trocar no mercado por outro equivalente geral. Por outro lado, se observarmos o movimento ampliado da produção de valor, vemos que as pessoas que contratam mepregadas ou diaristas assim o fazem porque trabalho muitas horas por dia, quase todos os dias da semana. de modo que a casa limpa corresponde a horas livres que são destinadas ao trabalho para o capitalista. Essas pessoas (as que contratam empregadas) são as mediadoras da mais valia da doméstica para o movimento ampliado de produção, circulação e acumulação do capital, conforme já discutido anteriormente.
Abraços a tod@s
Conclusão.. o Sistema capitalista é uma merda, precisamos combater as injustiças.. mas por favor, leve essa luta pra longe do meu quintal...
ResponderExcluirNinguém quer vestir a capauça, né?? Ai papai..
Conclusão.. o Sistema capitalista é uma merda, precisamos combater as injustiças.. mas por favor, leve essa luta pra longe do meu quintal...
ResponderExcluirQuestão que ninguém quer enxergar: A QUE CLASSE SÃO RESERVADOS OS TRABALHOS DOMÉSTICOS?
Ninguém quer vestir a capauça, né?? Ai papai..
Vamos olhar as coisas por outro ângulo? Eu sou homem, lavo minhas roupas, limpo, cozinho, não falo grosserias na rua e nunca bati em nenhuma mulher..
Ok, o machismo existe, mas eu não sou machista... Então, essas feministas super radicais querem acabar com todos os homens.. Isso não vai resolver o problema, pq no fim, tem mulheres que gostam da estrutura machista... No fim, essa é a ordem natural das coisas...
MAis uma vez a questão de privilégios... Qdo se trata de defendê-los, o discurso da classe média é mastigadinho que só me ocorre um nome... JABOR...
Lamentável, lamentável...
Niara, que feio, querendo alterar a ordem natural das coisas.. pobres são explorados desde que o mundo é mundo.. É assim e pronto.. Deus criou macho e fêmea, pobres e ricos... PRa que mudar o que funciona tão bem (pra nós, claro)??
Sensacional o texto e reflexão de Niara.
ResponderExcluirSomos nós que fazemos esta realidade opressora e não adianta dizer que isto é como as coisas são. Não ajudamos ninguém com a exploração do trabalho doméstico em troca de migalhas.
Eu limpo minha sujeira!
...é quase um favor.
ResponderExcluir"Ooh, mas a se eu não contratasse essa pobre mulher pra fazer o trabalho que é eu devia fazer, ela ia estar desempregada e na miséria!"
Eu já ouvi a mesmíssima defesa de donos de fazenda sobre seus empregados em situação análoga a escravidão ou em caso de trabalho infantil.
Mas, é, né?
Vamos emporcalhar as ruas para os garis terem trabalho.
Vamos explorar sexualmente as mulheres, as travestis e os garotos de programa para eles não ficarem na miséria, tadinhos.
É um favor que fazemos a todas essas pessoas. O que seriam delas sem nós para as explorarmos?
Nunca vi ninguém que tivesse uma empregada doméstica ou diarista que não achasse que estava dando uma excelente oportunidade de emprego a ela.
ResponderExcluirO que interessa não é o que você acha, mas em que condições esta mulher vive.
Em um episódio de Lew and Order, um traficante de mulheres Asiáticas repetia o mesmo jargão: "ESTOU FAZENDO UM FAVOR A ELAS. sE NÃO FOSSE POR MIM, ELAS NÃO TERIAM NENHUMA OPORTUNIDADE"...
ResponderExcluirAssim caminha a humanidade...
Como diz a Lola: Classe média unida, jamais será vencida?
Aqui, cês ja entraram praquele grupo de discussão contra o terrorismo das domésticas? Sei lá, pode ser útil, discutir o assunto sem o patrulhamento ideológico desses radicais comunistas...
aiaiai,
ResponderExcluir"Eu emprego uma pessoa para cuidar da minha casa. Não a considero empregada doméstica porque ela é contratada como funcionária da minha empresa"
Mas você sabe que isso é errado, né? Sabe que é crime de sonegação de Imposto de Renda de Pessoa Jurídica, não sabe?
O doido é que todo mundo conhece alguém que explora a empregada, mas este mesmo não explora...
ResponderExcluirVivemos em uma sociedade que explora as empregadas domésticas, já que todo mundo conhece algu´pem que explora, mas ninguém explora. Um paradoxo e tanto não?
Trago o texto para apimentar a parada http://bdbrasil.org/2011/04/27/seja-empregada-domestica-ou-tercerizada-a-sina-e-a-mesma-invisibilidade/
Desculpa por não falar onde tava o erro Lolinha :(
ResponderExcluirTem problema te "corrigir" caso eu ache algum errinho?
Não me leve a mal, não é preconceito linguístico (olha o assunto aí!!), mas tem autores que gostam e tem outros que não gostam.
Beijinho!
Caraca! Se fosse escrever qualquer coisa em um blog, seria apenas sobre isso! Entendam, tenho uma irmã, TODA A MINHA VIDA escuto as minhas tias comentando com a minha mãe 'nossa, mas vc ainda precisa (insira uma tarefa doméstica aqui) mesmo tendo duas filhAs'. Ficava extremamente brava, mas nada falava. Só agora parei para pensar : pq elas nunca falaram 'nossa, mas vc ainda precisa... mesmo tendo um MARIDO'. Meu pai nunca fez nada em casa e era ok ele não fazer. Hoje escuto algo derivado deste discurso. Divido apartamento com duas amigas, e ainda escuto - e muito - pessoas falando com espanto que a gente precise de uma diarista, simplesmente porque somos tres MULHERES morando em casa! Para uma república masculina recomendam uma diarista e até mesmo uma pessoa que cozinhe; mas para uma feminina, não, isso é um insulo. Como pode?
ResponderExcluirDentro disso, ainda tem aquelas propagandas terríveis da Bom-Bril que se dizem 'feministas' só por atacar os homens. Gente, não faz sentido! Por que eu sou obrigada a saber a cozinhar, limpar, lavar a roupa e passa-la e um homem não? Pq é uma vergonha eu não saber fazer isso? Pq as pessoas criticam quando descobrem que vc não faz?
Não tenho empregada doméstica. Tenho um jardineiro, homem, autônomo,que vem limpar o jardim quando ele pode, pois é empregado doméstico de outro. O lugar onde ele trabalhou a vida inteira foi vendido e novo dono propôs o seguinte: continua aqui por 700 reais de 07 às 18hs, cuida dos quatro cachorros e da casa (obs: terreno de 25 mil m²). Ele não aceitou e eu disse: com um terreno desse tamanho teria que ser um salário de uns 2mil reais ao menos. A vizinhança - maioria de wannabes riches- não gostou dizendo que assim "a Dra. está inflacionando o mercado". Bom eu vejo todo mundo com carro importado, vários cachorros, filho em intercâmbio etc poderiam pagar melhor do que 700 reais."Por que então vc não contrata alguém por 2 mil reais??". Eu não gosto de ter ninguem dentro da minha casa, se tivesse seria nessa base, pois eu acho que é um salário justo, com uma jornada humana, direitos trabalhistas - como um empregado qualquer. Mas EU NÃO GOSTO DE TER EMPREGADO EM CASA (salvo o tal jardineiro, de vez em quando para limpar o matagal). Como faço: Eu como na rua TODOS os dias, passei anos levando roupa na lavanderia (agora tenho aquela máquina que lava seca e passa a vapor e cada um lava as suas coisas), compro comida pronta para as visitas e para mim e marido nos fins de semana, cuido do meu único cachorro. Se um dia tiver tempo vou fazer as contas e acho que gasto até mais do que os 2 mil reais com comida fora e lavanderia etc, mas é uma opção consciente pela privacidade e ausência de aborrecimentos. Não sou feminista, marxista, nada. Se eu resolver pagar alguém vou fazê-lo melhor que a vizinhança propõe, não acho que é exploração e sim um emprego como outro qualquer. Sim, tem gente que gosta desse tipo de serviço e pretendo me comportar como um patrão qualquer, sem essa coisa patriarcal (ou melhor, matriarcal) de ser madrinha do filho da empreda(o), amizade, doação de roupas etc pois é isso que se eu vi toda a vida na casa da minha mãe e tomei horror da intimidade forçada.
ResponderExcluirEu duvido muito que alguém queira ser empregada doméstica. Eu estou em uma fase da minha vida de grandes escolhas, onde ouso "conselhos" que dizem que devo escolher uma profissão que eu goste, que me de prazer em exercer aquela função. Minha mãe veio do Nordeste para São Paulo em busca de "um futuro" aos 13 anos de idade em 1964. O que ela conseguiu foi trabalhar como doméstica, pois por ser nordestina, pobre e ser semi-analfabeta, esta foi a unica opção. Fico pensando, assim como minha mãe, muitas mulheres não tiveram o direito de escolher qual profissão gostaria de exercer, ou trabalhava de doméstica ou passava fome. Vejo muitas patroas que dizem que sem uma empregada ela não poderia exercer a profissão que tanto amam. Mas pouco importa se a mulher que limpa sua casa e cuida de seus filhos "ama" a função que exerce. Esta mulher trabalha para sobreviver e não para viver. Ela não teve a oportunidade de escolher um outro emprego, devido a sua baixa formação acadêmica e a sua classe social ser baixa. Uma boa justificativa da classe abastada para se ter uma empregada são os direitos trabalhistas. Ou seja, você trabalha limpando meu banheiro, lavando minha lousa, cuidando dos meus filhos, recebendo cantadas do meu marido e de meus filhos, mas agora vem a parte boa: Você tem todos os seus direitos trabalhistas garantidos. Ahh! Mas eu queria mesmo é ser médica, advogada, astronauta...Mas não posso escolher, vou me conformar em limpar sua sujeira. Tenho 18 anos, e mesmo que a profissão de doméstica ganhasse muito dinheiro eu não aceitaria, pois tenho o luxo de ter a LIBERDADE DE ESCOLHA. Posso escolher uma profissão melhor do que minha mãe teve. Ela não via nenhum prazer em limpar a casa dos outros e creio que nenhuma mulher vê prazer nisso. Mas com um estimulo de um salário e sem opção melhor, é o que resta à mulheres que não tiveram oportunidade de se instruir e tão pouco nasceram em berço de ouro. Quem vê o trabalho de doméstica como "caridade" não sabe o privilégio que é ter liberdade de escolha para exercer uma profissão que almeja. Mais importante do que a relação de "senhor" e "escravo", é a liberdade de escolha da pessoa trabalhar ou não aceitando esta condição. Você escolhe limpar ou não a casa dos outros, aceita ou não esta relação de soberania. O pior é quando a pessoa não tem esse direito de escolha e é isso pelo que devemos lutar.
ResponderExcluirEntendo que acontece injustiça contra empregadas domésticas e que muito poucas são tratadas como deveriam. Participo de campanhas que conscientizem as pessoas sobre isso.
ResponderExcluirMas aqui vai um exemplo. Minha avó tem 76 anos e mora sozinha. Tem uma diarista, que faxina a casa dela duas vezes na semana (pra quem ela paga previdencia, alimenta, dá o aluguel e etc). Sério que a minha avó tá errada? Sério que ela deveria ignorar a recomendação dos médicos de não fazer exercício físico pesado pra não ter que CONTRATAR uma pessoa, por um salário maior que o do meu namorado que é professor e estudou 6 anos pra tal, por causa da maioria das "patroas" que não tem noção de direitos humanos e opressão?
Cuidado -mesmo- pra não generalizar.
E uma coisa é você explorar uma pessoa, pagar mal, não dá os direitos trabalhistas dela, etc.. Outra coisa é você oferecer um emprego, pagar bem, dar os direitos que a pessoa tem. São coisas diferentes.
ResponderExcluirE é fácil falar em defender as minorias, que exploram as empregadas, mas muitos se esquecem que essas mulheres que trabalham de domésticas o fazem porque muitas vezes não encontram outro emprego.
E você vai fazer o que? Demiti-las? E elas, o que vão fazer? Quando o mundo não oferece outra coisa, a que você recorrer? Se for contar que muitas não tem muito estudo, não tiveram muitas oportunidades, a coisa se complica.
É fácil falar em defender as minorias, mas fazer mesmo é bem complicado.
Eu concordo absolutamente que nós devemos limpar nossa própria sujeira e que ter uma empregada doméstica é herança escravista. Mas eu acho que existe um outro fator nessa equação toda que é a questão da falta de tempo que todos nós passamos que é o que criou essa demanda por empregadas domésticas. A gente que é "normal" e tem emprego "normal" trabalha de 40h a 44h por semana, gastamos pelo menos 12h do nosso dia no trabalho, acaba sobrando aí umas 4h em casa. Dá tempo de fazer todos os serviços domésticos, além de, por exemplo, se alimentar, tomar banho e talvez uns 30 minutos diários de caminhada? É fácil comparar com países ricos em que as pessoas podem trabalhar meio período ou fazer 35h por semana e viver dignamente, mas a verdade é que todo o sistema de trabalho brasileiro tá errado.
ResponderExcluirBem, nunca vou entender essa questão de "trabalho degradante". Imagino um carvoreiro, um encanador da Companhia de Esgotos, um auxiliar de enfermagem (que também lidam com sujeira). São todos degradantes, também?
ResponderExcluirNessas horas eu fico pensando no quanto o trabalho das domésticas é, realmente, menosprezado e o quanto elas sofrem preconceito.
Eu tive uma empregada, registrada, que trabalhava das 9 às 15. Recebia um salário mínimo integral (eu não descontava a sua contribuição de INSS), dinheiro para o ônibus também integral (morava em outra cidade, não tinha como comprar passe), tomava café da manhã e almoçava (o mesmo que nós, afinal, ela mesma cozinhava), sem qualquer tipo de desconto por isso. E, por incrível que pareça, gostava do serviço: era o tipo de mulher que nasceu para ser dona-de-casa (pois é, existe isso). Tinha o hábito de arrumar meus armários e me fez comprar um monte de caixas para organizar minhas coisas, pois me achava bagunçada.
Então, num belo dia, o marido que também achava o serviço "degradante", arrumou um emprego para ela numa fábrica, para ganhar R$ 200,00 a mais. Trabalhava das 8:00 às 18:00, em pé, montando peças. Almoçava no local, mas apenas parte do valor da alimentação era subsidiado. Descontavam o INSS dela e mais parte do vale-transporte. Ou seja, no final das contas, ela iria ganhar quase a mesma coisa que na minha casa para um trabalho muito, mas muito mais cansativo.
Ainda assim, ela preferiu se demitir e hoje é operária. Escolha dela, que eu respeito muito. Ela deve saber o quanto de preconceito sofre para preferir um trabalho pior.
Agora, arrumei outra, que ganha um salário mínimo para trabalhar das 8:00 ao meio-dia, também com todas as garantias trabalhistas. Como tem metade do expediente livre, completa com faxinas. Segundo ela, tira quase 2 mil reais por mês. Nem pensa em mudar de profissão.
Só uma coisa: não a trato como "alguém da família". Não a convido para churrascos ou festas e não frequento sua casa. Ela é uma profissional, como qualquer outra. Como o meu funcionário administrativo, que também não sai comigo para tomar choppinho. Talvez esse seja o grande problema, não enxergar o trabalhador doméstico como profissional.
Bem, fiz esse pequeno resumo para dizer que: sim, a maioria dos patrões explora. Sim, nossa mentalidade é escravagista. Sim, não custa nada dividir as tarefas. Sim, os direitos dos domésticos devem ser respeitados. A PEC é um grande avanço que merece muita comemoração.
Mas cada um tem sua própria realidade. Quem precisa (e quer) ter uma empregada e pode arcar com os custos deve contratar. Na minha opinião, não existe trabalho indigno ou inferior. O que existe é preconceito.