Minha leitora Liliane pediu pra que eu falasse sobre o Festival de Cannes. Nem sei bem o que falar, já que não acompanhei. Só sei que o último Almodóvar, Los Abraços Rotos (veja o trailer aqui), decepcionou, assim como o último Tarantino, Bastardos Inglórios (algum dia eu cri-critico esses trailers). Li que o Taranta vai voltar com o filme pra sala de edição, pra dar alguns retoques antes que BI estreie nos EUA, em agosto. E sei que A Fita Branca (Das Weisse Band) levou a Palma de Ouro. Todo mundo anda dizendo que é a obra-prima do austríaco Michael Haneke. Não encontrei o trailer, só um pedacinho, com legendas em inglês. É um drama de guerra em preto e branco. Em geral, como sou fã do Haneke (gosto muito de Funny Games, tanto o original quanto o remake americano, e de Caché, e menos de A Professora de Piano e de Código Desconhecido, mas é sempre bom seguir o que ele apronta), vou esperar ansiosamente pra ver A Fita Branca. Mas é melhor esperar sentada. Quem não mora no eixo Rio-SP e não frequenta as mostras das duas cidades não vai ver esses filmes tão cedo.
Pelo que li, foi o Lars von Trier que roubou a cena na 62a edição de Cannes. Tá aqui o trailer do seu filme mais recente, Antichrist (pode ver sem susto, que não tem cenas terríveis).
Por “cenas terríveis” eu me refiro a uma em que a Charlotte Gainsbourg (que levou a Palma de Melhor Atriz) corta seu clítoris com uma tesoura enferrujada, bem à vista da câmera. Taí uma boa razão pra eu não querer chegar nem perto do filme. Qual o propósito de incluir uma cena explícita de mutilação feminina? Não pode ser só pra traumatizar a Lolinha e 99% da população feminina.
Parece que Cannes tem um júri ecumênio que dá tapinhas nas costas dos filmes que promovem valores espirituais. Este ano o tal júri decidiu dar um antiprêmio a Anticristo, “o filme mais misógino do autoproclamado maior diretor do mundo”. Um cineasta romeno atacou dizendo que, segundo Von Trier, “as mulheres deveriam ser queimadas na fogueira para que os homens possam finalmente se liberar”. Bom, normalmente, não tenho (quase) nada contra o Von Trier. Adoro Dogville e Manderlay, e gosto bastante de Dançando no Escuro e Ondas do Destino. São três ou quatro filmes com mulheres como protagonistas, e ainda que elas sofram o diabo a quatro, não os considero misóginos. Tá cheio de gente que detesta o Von Trier por ele ser assumidamente anti-americano. E ele conseguiu colocar todos os movimentos de defesa dos animais contra ele ao incluir a morte real de um jumento em Manderlay. Esse é o tipo de coisa que o cara faz pra chamar a atenção, como se fosse uma criancinha mimada. Tipo: não é possível que ele não soubesse que matar um animal num filme iria causar indignação. Aí vem com discursinho de que o burro tava velho, ia ser sacrificado mesmo, e a gente come animais, mas não importa. Eu até hoje não perdoo a besta do John Waters pelo que ele fez com galinhas em Pink Flamingos.
Minha brilhante leitora Dai mandou um email recomendando uma lista dos filmes mais controversos de todos os tempos. A lista merece um post sozinho, só pra ela. Mas o que a Dai percebeu no ato foi o seguinte: “Lendo aquela lista me dei conta de que a maioria dos filmes 'controversos' (aqueles feitos com a intenção de causar desconforto ou mesmo escândalo, 'causar', como se diz hoje) utilizam o estupro e a mutilação (geralmente de mulheres) como clímax em seu roteiro abusivo. Eu não tenho nenhum elemento para julgar, não li estudos sobre, mas acredito que seja uma tendência (assim como é uma tendência explorar a nudez feminina, o abuso de mulheres, etc) e que haja uma permissividade social, um assentimento do insconsciente coletivo de que se utilizem corpos de mulheres (atrizes) nesses experimentos pela arte”.
Ela cita três filmes da lista para exemplificar o seu desconforto: “É interessante descobrir que alguns 'filmes controversos' foram responsáveis por nossa 'iniciação' cinematográfica - como Laranja Mecânica, Veludo Azul e O último Tango em Paris (nunca gostei deste último, aliás, detesto). Ou seja, com eles aprendemos a gostar de cinema pelo cinema, numa fase em que não fazíamos uma reflexão mais aprofundada, e agora cai a ficha de que eles foram criticados por organizações feministas, na época. Foram filmes que eu assisti um pouco antes de me aprofundar em minha formação feminista. Admito que me causava desconforto observar a perversidade com a qual as mulheres eram tratadas. Embora eu siga gostando de Veludo Azul e Laranja, a vontade sempre foi apertar o fast foward naquelas cenas abusivas. Mas o que eu não sabia na época é que aquilo era misoginia, que era concedido aos diretores usar o corpo das mulheres em suas metáforas de dor e miséria humanas”.
Cada uma dessas opiniões (fortes) merece um post próprio, e vamos ver se algum dia eu consigo dedicar-lhes a dedicação que merecem. Mas não há dúvida que um tema recorrente entre tantos desses filmes “polêmicos” é o mau trato a que as mulheres são submetidas. Pensa só: se tantos filmes usassem uma outra minoria (por exemplo, negros, gays, judeus) para ser estuprada, mutilada, torturada, espancada, encarceirada e abusada, a gente não diria “Putz... Acho que esses filmes são racistas / homofóbicos / anti-semitas”? Mas como o abuso é contra mulheres, e vivemos numa sociedade em que isso é tolerado e, em alguns casos, até incentivado, passa como “controvérsia”, e viva a arte.
Pra não fugir do tema, reproduzo aqui o email que minha leitora silenciosa Lid me mandou: “Acabo de saber que vai ser lançado em breve o filme belga SM Rechter. Não sei se você já ouviu falar: é sobre o caso verídico de uma mulher que convence o marido, um conhecido juiz, a abusar dela sexualmente. O marido a princípio 'não quer', mas ela insiste em ser chicoteada, mutilada, estuprada, etc etc. O casal estava agora na TV holandesa dando entrevista e falando que o cara foi exonerado do cargo de juiz e que é isso mesmo: que ela queria ser abusada e o convenceu a abusá-la. Se o mundo masculino pensa que as mulheres gostam de ser estupradas, agora pode ver uma história verídica no cinema que afima que sim, nós adoramos estupro. E, provavelmente, as que dizem que não amam é porque não querem admitir. Que ódio! Nem sei se esse filme vai ser lançado no Brasil (tomara que não seja mesmo). Mas enfim. Tinha que comentar essa contigo. Fique de olho: SM Rechter, Bélgica, 2009”. (Veja o trailer aqui).
Imagina. É tudo mera coincidência.
Pelo que li, foi o Lars von Trier que roubou a cena na 62a edição de Cannes. Tá aqui o trailer do seu filme mais recente, Antichrist (pode ver sem susto, que não tem cenas terríveis).
Por “cenas terríveis” eu me refiro a uma em que a Charlotte Gainsbourg (que levou a Palma de Melhor Atriz) corta seu clítoris com uma tesoura enferrujada, bem à vista da câmera. Taí uma boa razão pra eu não querer chegar nem perto do filme. Qual o propósito de incluir uma cena explícita de mutilação feminina? Não pode ser só pra traumatizar a Lolinha e 99% da população feminina.
Parece que Cannes tem um júri ecumênio que dá tapinhas nas costas dos filmes que promovem valores espirituais. Este ano o tal júri decidiu dar um antiprêmio a Anticristo, “o filme mais misógino do autoproclamado maior diretor do mundo”. Um cineasta romeno atacou dizendo que, segundo Von Trier, “as mulheres deveriam ser queimadas na fogueira para que os homens possam finalmente se liberar”. Bom, normalmente, não tenho (quase) nada contra o Von Trier. Adoro Dogville e Manderlay, e gosto bastante de Dançando no Escuro e Ondas do Destino. São três ou quatro filmes com mulheres como protagonistas, e ainda que elas sofram o diabo a quatro, não os considero misóginos. Tá cheio de gente que detesta o Von Trier por ele ser assumidamente anti-americano. E ele conseguiu colocar todos os movimentos de defesa dos animais contra ele ao incluir a morte real de um jumento em Manderlay. Esse é o tipo de coisa que o cara faz pra chamar a atenção, como se fosse uma criancinha mimada. Tipo: não é possível que ele não soubesse que matar um animal num filme iria causar indignação. Aí vem com discursinho de que o burro tava velho, ia ser sacrificado mesmo, e a gente come animais, mas não importa. Eu até hoje não perdoo a besta do John Waters pelo que ele fez com galinhas em Pink Flamingos.
Minha brilhante leitora Dai mandou um email recomendando uma lista dos filmes mais controversos de todos os tempos. A lista merece um post sozinho, só pra ela. Mas o que a Dai percebeu no ato foi o seguinte: “Lendo aquela lista me dei conta de que a maioria dos filmes 'controversos' (aqueles feitos com a intenção de causar desconforto ou mesmo escândalo, 'causar', como se diz hoje) utilizam o estupro e a mutilação (geralmente de mulheres) como clímax em seu roteiro abusivo. Eu não tenho nenhum elemento para julgar, não li estudos sobre, mas acredito que seja uma tendência (assim como é uma tendência explorar a nudez feminina, o abuso de mulheres, etc) e que haja uma permissividade social, um assentimento do insconsciente coletivo de que se utilizem corpos de mulheres (atrizes) nesses experimentos pela arte”.
Ela cita três filmes da lista para exemplificar o seu desconforto: “É interessante descobrir que alguns 'filmes controversos' foram responsáveis por nossa 'iniciação' cinematográfica - como Laranja Mecânica, Veludo Azul e O último Tango em Paris (nunca gostei deste último, aliás, detesto). Ou seja, com eles aprendemos a gostar de cinema pelo cinema, numa fase em que não fazíamos uma reflexão mais aprofundada, e agora cai a ficha de que eles foram criticados por organizações feministas, na época. Foram filmes que eu assisti um pouco antes de me aprofundar em minha formação feminista. Admito que me causava desconforto observar a perversidade com a qual as mulheres eram tratadas. Embora eu siga gostando de Veludo Azul e Laranja, a vontade sempre foi apertar o fast foward naquelas cenas abusivas. Mas o que eu não sabia na época é que aquilo era misoginia, que era concedido aos diretores usar o corpo das mulheres em suas metáforas de dor e miséria humanas”.
Cada uma dessas opiniões (fortes) merece um post próprio, e vamos ver se algum dia eu consigo dedicar-lhes a dedicação que merecem. Mas não há dúvida que um tema recorrente entre tantos desses filmes “polêmicos” é o mau trato a que as mulheres são submetidas. Pensa só: se tantos filmes usassem uma outra minoria (por exemplo, negros, gays, judeus) para ser estuprada, mutilada, torturada, espancada, encarceirada e abusada, a gente não diria “Putz... Acho que esses filmes são racistas / homofóbicos / anti-semitas”? Mas como o abuso é contra mulheres, e vivemos numa sociedade em que isso é tolerado e, em alguns casos, até incentivado, passa como “controvérsia”, e viva a arte.
Pra não fugir do tema, reproduzo aqui o email que minha leitora silenciosa Lid me mandou: “Acabo de saber que vai ser lançado em breve o filme belga SM Rechter. Não sei se você já ouviu falar: é sobre o caso verídico de uma mulher que convence o marido, um conhecido juiz, a abusar dela sexualmente. O marido a princípio 'não quer', mas ela insiste em ser chicoteada, mutilada, estuprada, etc etc. O casal estava agora na TV holandesa dando entrevista e falando que o cara foi exonerado do cargo de juiz e que é isso mesmo: que ela queria ser abusada e o convenceu a abusá-la. Se o mundo masculino pensa que as mulheres gostam de ser estupradas, agora pode ver uma história verídica no cinema que afima que sim, nós adoramos estupro. E, provavelmente, as que dizem que não amam é porque não querem admitir. Que ódio! Nem sei se esse filme vai ser lançado no Brasil (tomara que não seja mesmo). Mas enfim. Tinha que comentar essa contigo. Fique de olho: SM Rechter, Bélgica, 2009”. (Veja o trailer aqui).
Imagina. É tudo mera coincidência.
Lola por favor leia estas notícias:
ResponderExcluirhttp://aqueladeborah.wordpress.com/2009/05/29/nao-ame-ninguem-estupre/
http://aqueladeborah.wordpress.com/2009/05/29/guerra/
Eu não sabia que no filme ele mata um jumento...que ódio. Também gosto de Dogville e Dançando no Escuro. Já viu Baixio da Bestas? É brasileiro escrevi sobre aqui: http://aqueladeborah.wordpress.com/2009/05/04/baixio-das-bestas/
Quanto a falarem que "Los Abraços Rotos" e " Bastardos Inglórios" foram decepcionantes, eu uso como defesa o fato dos jornalistas estarem numa maratona para assistir o maior número possíveis de filmes e não serem capazes de analisar algumas obras como deveriam.
ResponderExcluirImagina o cansaço e o estresse que deve ser pra alguém que já assistiu 122321 filmes e ainda precisa se concentrar numa determinada película. Vamos esperar estes filmes estrearem comercialmente e ter uma visão mais sincera sobre os mesmo.
(lembrando sempre que o pior de Almodovar e Tarantino, sempre será superior a maioria que é despejada nos cinemas todos os meses)
Quanto ao Von Trier? O cara é uma fraude. Faz filmes pseudo-intelectualóide e sempre utilizando como desculpa os preceitos do Dogma 95.
O cara é um picareta de marca maior.
Lola, realmente há abusos, mas em alguns casos, como no Laranja (que adoro) eu consigo ver todo o contexto da história. E acho que só não rolou abuso homossexual pq seria demais para a época...
ResponderExcluirAgora, essa do estupro... Me lembra a história das mulheres gostarem de apanhar ou levar tapa do Nelson Rodrigues... Enfim...
Agora, há gosto para tudo, e SM é bem comum... Só acho uma pena se a linha de raciocinio chegar a isso, de que todas nós queremos/gostamos de ser estuprada...
Bjoks
Paula
PS: não comento muito, mas adoro seu blog e o nome é d+
Penso exatamente como você disse, Lola: a questão do jumento em "Manderlay" e agora essa mutilação no "Anticristo" são coisas desnecessárias, só pra chamar a atenção mesmo.
ResponderExcluirTá comprovado que mesmo que o diretor queira chocar através da violência e da degradação humana, isso pode ser feito sem se dirigir especificamente às mulheres. Vide o Haneke em "Funny Games" e o Tarantino, que mostrou o estupro de um homem em "Pulp Fiction".
Quanto à "Laranja Mecânica", acho que foi coisa do Kubrick colocar a cena do estupro como o clímax da violência no filme. Li o livro (ok, faz um tempão e eu havia perdido o livro, mas ganhei no Natal e ainda não li de novo, que vergonha) e não me pareceu isso: simplesmente o estupro era mais um dos inúmeros comportamentos violentos do protagonista. Não acho que haja misoginia na obra, porque a violência é contra tudo e todos, é a regra.
(Fazendo um jabá rapidinho: fiz um curta em 2007, baseado em um conto da Clarice Lispector, e gostaria de te mostrar. Pode ser?)
Sabe, cansei de ver diretores homens dirigindo essas porcarias misoginas! Cansei de todo esse lixo! Cansei da estupidez que é bater na tecla de que mulher gosta de ser estuprada. Seja para chocar, seja porquê ta cheio de perverso que acredita piamente nisso, eu cansei! O que a gente faz? Boicota!!! Eu quero é mais cenas igual a de Pulp Fiction em que o homem é estuprado! Não, não quero...O que esperar de filmes feito por homens? Nada! Só essa perversidade maquiada de arte.
ResponderExcluirÉ fod¨%$# nós mulheres sermos minoria em tudo quando se trata de dirigir filmes! Cadê as diretoras?Não se tornaram diretoras. Foram parir. Grande coisa.
Desculpe, não to usando drogas só tenho convicção que não necessitamos desse tipo de filme e de mais e mais machistas com Nelson Rodrigues.
OI LOla!
ResponderExcluirAcho q filmes considerados controversos (polêmicos) está justamente no fato de usar o que o politicamente correto condenaria.
Não gosto quando esse recurso vira regra, ou ofende o outro, tudo em nome de uma suposta liberdade da arte, uma frase tão abstrata que se pode interpretar de qq maneira..
Não é o fato de usar tal cena ou não, claro que depende de um contexto, é aí que acho q as vezes fica vazio de sentido estas cenas em certos contextos.
Mas como vc disse, há as suas particularidades, de por exemplo usar em quantidade maior alguns tipos de controversas do que outras. POr exemplo, há mais filmes que ratratam misoginia do que outros assuntos. Como é o caso dos Idiotas do Lars Von Trier,que não é um tema tão corriqueiro..e deve ter chocado na época.
Agora,sobre filmes "polêmicos" tenho algumas impressões.
Lembro me de Kids, que na época chocou muito. Depois disso percebi alguns filmes neste estilo (nem me lembro dos títulos).
Acho que usar cenas "chocantes", sexo explícito ou o politicamente incorreto não é tão difícil. O difícil, é mesmo assim , a qualidade do filme ultrapassar essa polêmica, e q seja realmente bom, uma arte ou que te faça sentir "algo" ao ver esse filme.
Não sei, pode ser implicância, mas muitos desses filmes controversos (alguns muito bons), em sua maior parte não vejo nada mais que a controvérsia, compreende?
Parte desses filmes não superam a polêmica em si. São apenas isso, nada mais.
E acho q isso não vale só p filmes, mas outras manifestações artísticas.
É claro q essa é a minha opinião, mas é também p isso q serve a sétima arte. Para nós sentirmos algo, pensarmos algo sobre nós e o mundo que nos rodeia.
Abraços Lola!
Anônima, não sei se você já a conhece, mas há uma diretora chamada Isabel Coixet, fantástica. Os filmes dela são sempre muito bem recebidos pela crítica e tenho quase certeza que ela já pescou uma indicação ao Oscar (se não foi ela, foi a roteirista que trabalhou com ela em "Away from her"). Ainda falta muito pra melhorar, eu sei... mas como você perguntou onde estavam as diretoras mulheres, quis te mostrar uma.
ResponderExcluirLola, me explica qual o propósito de Caché. Eu vi aquele filme e fiquei com cara de bunda no final. Achei uma droga. Não devo ter entendido nada. O Último Tango em Paris achei tenebroso. Mas gosto muito de Dogville. Não morro de amores por Dançando no Escuro.
ResponderExcluirOi, Lola;
ResponderExcluirOff topic da Agência Estado:
"Um novo estudo sobre a mortalidade de mães no Brasil revela que o risco de morrer por aborto é muito maior nas mulheres negras e pardas do que em grávidas brancas, o que leva especialistas a questionar se a criminalização do procedimento estaria punindo apenas alguns grupos raciais. Segundo o trabalho do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio, apresentado durante o seminário Mortalidade Materna e Direitos Humanos no Brasil, o risco de morte de uma grávida negra cuja gestação terminou em aborto é 2,5 vezes maior do que o de brancas.
Nos últimos quatro anos o instituto vem se dedicando a radiografar o aborto no País e, depois de mostrar que sua frequência reflete as desigualdades - ocorrem mais entre mulheres negras e pobres -, foi investigar se havia também diferenças na mortalidade, considerando registros de 2003 a 2005. Os especialistas apontam que é possível que a descriminalização do aborto, se um dia aprovada no Brasil, reduza o índice de complicações e mortes - atualmente é crime, só permitido em caso de estupro ou risco de morte para a mãe. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo."
Lola, tá uma confusão aqui na minha cabeça, se o filme (ou mesmo a história, posto que é 'baseado em fatos reais') SM Rechter, a mulher CONVENCE o tal juiz a abusar dela sexualmente, isso não pode ser caracterizado como estupro, mas masoquismo. Estupro é a conjunção carnal sem consentimento, ao que ela não só consentiu como implorou para "sofrer" sexualmente pelo sujeito. Relações desse tipo são relativamente comuns, em qualquer gênero.
ResponderExcluirLembrei da estória que numa relação entre um(a) sádico/a e um(a) masoquista o/a sádico/a implora: "ME BAATEEE", o/a sádico/a responde: "NÃO BATO"...
P.S.Só complementando.
ResponderExcluirAlguém aqui já deu essa opinião. Na fantasia (só, ou acompanhada) há algum nível de controle da situação por parte da mulher, no estupro real não há controle, ou se mata ou se morre...
P.S. 2 - Isso não signifique que eu não veja problemas em relações sado-masô...
sei lá heim, laranja nao tem nada de misógino, o alex e sua turma batem num mendigo tb. ultimo tango nao tem cena de estupro, um meteu no olho do outro. claro, ele pega ela meio a força, ela ia lá atras dele fazer o q afinal? jogar damas? o sexo ali tá mais como única forma de contato ou intimidade que eles se davam.
ResponderExcluirLola,
ResponderExcluirEssa mulher só pode ser louca!!!,
é tomara que esse filme SM Rechter
não seja lançado no Brasil,
Pois as mulheres não gostam disso e nem consentem com isso, agora to lendo um livro A DAMA DE HAY BARBARA ERSKINE, é aborda essa temática também, só que mostra a realidade as mulheres tem medo, e na verdade são é obrigadas,
o homem acha que por COARÇÃO pode fazer uma mulher sentir-se INFERIOR, isso é simplesmente horrível!!!
Esses filmes mostram uma realidade cruel em que a maioria das mulheres vivem em casa, trabalho em tudo que lugar.
ate mais
Eu gosto muito do filme A Sombra do Vampiro, que imagina a situação de o ator de Nosferatu ser realmente um vampiro, e o diretor descobre, e sabe que vai dar em tragédia, mas não consegue parar de filmar. Eu acho que fica essa metáfora: muitos dos diretores mostram cenas chocantes com um propósito, com algo a dizer (Dogville, com certeza). Mas o limite precisa estar bem à vista, ou o fetiche de chocar, a coisa vampiresca em relação à arte, acaba por suplantar qualquer intenção de fazer as pessoas pensarem sobre o assunto. Ninguém de bom senso condenaria um filme que mostrasse a violência, por exemplo, do racismo - é o que acontece ou aconteceu, é preciso mostrar, debater, etc. Agora, que em certos filmes dá vontade de dizer "chega, eu entendi, não precisa desenhar", ah, dá. E o estupro é uma das situações mais delicadas pra isso, embora algumas vezes algum diretor resolva extrapolar e fique essa discussão. Eu, por exemplo, não vi e não gostei de Irreversível - onze minutos de estupro em cena pra mim não tem explicação.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLola fotografei o Lula, nosso presidente aqui na cidade de Cachoeira < Bahia,
ResponderExcluirfoi um momento emocionante,
toda a cidade foi ve-lo....
ve estas porcarias quem quer, nenhum diretor obriga ninguem sentar bunda numa cadeira para ve-los....
ResponderExcluirLola,
ResponderExcluirMeu email escrito às pressas tava todo confuso. Mas, tudo bem. Gostei que vc lançasse as tais dúvidas ao debate.
Eu só quis dizer que tenho sentimentos ambíguos ao identificar elementos misóginos em filmes que me fizeram amar o cinema.
Eu gosto muito destes que citei, mas as cenas de estupro, naquele nível de crueldade, são mesmo necessárias? E por que não seriam misóginas, só porque o filme em si é lindo e os diretores são geniais? Eu realmente não sei. Não tenho opinião definitiva, mas lendo o que é dito sobre cada filme daquela lista, algo me balançou. Percebi que o meu desconforto poderia ser de outra ordem e estar relacionado à minha condição de gênero. Ainda não tenho opinião definitiva sobre isto. Mas, como escrevi penso que há muita violência gratuita, sim, nos filmes 'controversos' - mesmo nos mais artísticos e elaborados - e talvez não seja casual que os corpos exibidos e massacrados mais corriqueiramente sejam os das mulheres. Eu pensei: por que a garota estuprada em Laranja Mecânica tinha de ter aqueles peitos gigantes e porque aqueles enquadramentos sensuais? (Quanto ao último tango, acho disgusting. Sem falar que manteiga não é lubrificante e ser violada por trás com aquela violência tá longe de ser uma transa gostosa, a não ser que a pessoa seja SM, mas a Maria Schneider não fez cara de prazer, que eu lembre).
E, de fato, o que me levou a pensar nisso foi a ambiguidade em relação ao Lars Von Trier e a polêmica em torno do filme novo, pois é contraditório que ele seja chamado de misógino assim, pelo conjunto da obra, quando suas heroínas mulheres são tão vívidas e emblemáticas. Dogville, Dançando no Escuro e Sobre as Ondas (ou Ondas do Destino) são objetos de devoção meus.
Ah, Srta. T. , por falar em Isabel Coixet (amo, amo, amo!) o novo filme dela (Sounds of Tokyo) também foi vaiado em Cannes, por suas cenas de sexo 'realistas demais', segundo o juri, lá. Eu admito que tou louca para ver.
Beijos!
Lola,
ResponderExcluirhá um bom tempo (bota bom tempo nisso, acho que foi em 2006), o NY Times fez uma matéria mostrando que, na maioria (não lembro direito, era coisa do tipo 70%) dos episódios de CSI e afins, a vítima era mulher e/ou o crime tinha motivações sexuais.
Veja bem, não estamos falando de Law & Order SVU. CSI, basicão mesmo. De tantos crimes que podem acontecer, eles mostravam quase sempre crimes que acontecem com mulheres.
E a gente pode ir pra qualquer um dos lados: (1) isso serve como denúncia ou (2) isso dessenssibiliza a audiência. Como o seriado nunca abordou o tema de frente, acho que fica na segunda opção.
Bjos
O estupro marital é impossível, porque, ao se casar, a mulher está dando o consentimento.
ResponderExcluirLola, gostaria de saber se você já viu Anticristo. Se sim, queria ler uma crítica sua sobre o filme. Assisti-o essa tarde e, mesmo tendo adiado por conta da cena de mutilação feminina, a achei totalmente condizente com o filme. Também não achei a obra misógina.
ResponderExcluirtá, mas só uma coisa: convencer alguém de te machucar e mutilar é, de fato, convencer alguém a fazer algo violento contra ti. convencer um homem a te estuprar é completamente nonsense. ESTUPRO não é violência por ser violento fisicamente em si. estupro é estupro porque é CONTRA A VONTADE DA VÍTIMA. ou quando envolve incapacidade de decidir ou se opôr. isso significa que se uma mulher CONVENCE um homem a estuprar ela, NÃO É MAIS ESTUPRO, não é? (não vi o filme belga e não posso opinar sobre ele, então estou falando só sobre o comentário mesmo.)
ResponderExcluirNão vi esse filme, então também não sei o o caso. Mas lembre-se que fazer sexo ante ameaça também é estupro. Se alguém disser "Se vc não fizer sexo comigo vou matar seu pai/mãe ou estuprar sua irmã", é estupro. Agora, "convencer um homem a te estuprar" parece ficar no campo das fantasias sexuais.
ResponderExcluirRiffael, respondendo 2,5 anos depois, vi Anticristo e não gostei. Tá aqui a crítica.
Olá, gostaria de parabenizar o seu blog. Há tempos ando procurando algum blog onde tenham críticas tão informativas e claras como as suas, e sinto que finalmente achei!
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