Esta crônica de 2001 (na verdade duas juntas) continua a saga da minha viagem de carro ao sul do Sul. Ela é anterior à reforma ortográfica, que nem mudou tanta coisa assim. Eu continuo sem saber onde enfiar os hífens.
Defendo a idéia de que deveria haver multas para placas públicas que contêm erros de ortografia ou gramática. Ou, pelo menos, algum tipo de advertência que forçasse o dono da placa a corrigi-la prontamente. O problema é que todos esses erros que vemos diariamente nos levam a uma lavagem cerebral, causando a impressão de estarem certos. Por exemplo, quando foi a última vez que você viu escrito “máximo de 10 itens” num supermercado? Aposto como faz um tempão. Todas as placas são unânimes em grafar ítens, com um acento inexistente no i.
Uma vez, numa vaga tentativa de salvar a língua, eu educadamente avisei o dono de um mercado que xuxu ficava melhor (eufemismo) com ch. Ele respondeu que, na verdureira dele, ele assentava chuchu como bem entendesse. Estou lutando até hoje pra compreender este orgulho em linchar o português. Seria uma vingança pessoal?
Na minha agradável viagem ao sul do Sul, tive a oportunidade de constatar que o português culto está morto e enterrado. A Academia Brasileira de Letras bem que poderia homenagear as placas corretas, ao invés de gastar o tempo com chás e votações para substituir com novos velhinhos os imortais que morreram. A única placa com concordância correta que presenciei na viagem foi em São Lourenço do Sul. Lá, alguém de uma casa pôs “vendem-se pastores alemães”. No resto do percurso, pipocavam lâminas com “aluga-se quartos” e “conserta-se carros” (isso quando não escreviam conserto com c). O toque romântico foi dado perto de Palhoça, onde uma enorme árvore ostentava a placa “aluga-se”. Quem diria, o mercado imobiliário atingiu os esquilos.
Um restaurante por quilo de beira de estrada embaralhou a paisagem ao exibir outdoors dizendo coisas como “sua confiança empulsiona (sic) nossa caminhada”, “comida onesta” e, para que a gente não se preocupasse e nem concluísse que a qualidade da comida segue o padrão da língua, um redentor “Deus te ama”. É ou não é de estragar o apetite?
Porém, não foram apenas as placas com erros de português que me chamaram a atenção. Havia placas que praticamente me imploravam para dialogar com elas. Foi o caso de um cartaz perto de Araranguá que exibia as palavras “temos carne”. Meu impulso foi parar o carro e falar pro dono da placa, “eu também”. E como, eu poderia acrescentar. Aposto que mais do que ele.
Mas segui em frente. Logo adiante, tinha um pequeno templo com o letreiro “Igreja Evangélica alguma coisa”. Até aí tudo bem. Isso tem em tudo quanto é canto. Porém, quantas adicionam a explicação “conservadora” no cartaz? Juro que, embaixo do nome da igreja, os pastores haviam colocado “conservadora” no mesmo tamanho e fonte. Não parece meio redundante? Será que os fiéis não seriam capazes de descobrir por si próprios a ideologia que lhes espera?
Em Torres, um outdoor já anunciava que aquela era a décima primeira cidade do país em número de turistas estrangeiros. Floripa é a segunda, só perde pro Rio. Onde está “estrangeiro” leia-se argentino, sabe como é. Pois bem, um outro cartaz continha a seguinte pergunta: “Um argentino bateu no seu carro?”. Era de uma firma de advocacia que promovia processos. Imagino como nossos hermanos se sentem ao ler isso. Tá, eles dirigem mal à beça, mas nós não somos exatamente campeões da civilidade em questão de trânsito, né? Ou de respeito à natureza, ou de honestidade na política... Ih, a lista é longa.
Por falar em lisura, uma placa de imobiliária em Garopaba anunciava: “18 anos de honestidade”. Tive vontade de questionar há quanto tempo o corretor estava no mercado. De repente, ele possuía o negócio havia 40 anos, mas só os primeiros 18 tinham sido honestos. Depois, ele pode ter cansado. Acontece.
E a lâmina de boas vindas de um município? Era “Sorria. Você está em Capivari de Baixo”. Não consegui entender a relação, mas convenhamos: é mais simpática que “Tire este sorrisinho do rosto. Esta é uma cidade séria”.
Defendo a idéia de que deveria haver multas para placas públicas que contêm erros de ortografia ou gramática. Ou, pelo menos, algum tipo de advertência que forçasse o dono da placa a corrigi-la prontamente. O problema é que todos esses erros que vemos diariamente nos levam a uma lavagem cerebral, causando a impressão de estarem certos. Por exemplo, quando foi a última vez que você viu escrito “máximo de 10 itens” num supermercado? Aposto como faz um tempão. Todas as placas são unânimes em grafar ítens, com um acento inexistente no i.
Uma vez, numa vaga tentativa de salvar a língua, eu educadamente avisei o dono de um mercado que xuxu ficava melhor (eufemismo) com ch. Ele respondeu que, na verdureira dele, ele assentava chuchu como bem entendesse. Estou lutando até hoje pra compreender este orgulho em linchar o português. Seria uma vingança pessoal?
Na minha agradável viagem ao sul do Sul, tive a oportunidade de constatar que o português culto está morto e enterrado. A Academia Brasileira de Letras bem que poderia homenagear as placas corretas, ao invés de gastar o tempo com chás e votações para substituir com novos velhinhos os imortais que morreram. A única placa com concordância correta que presenciei na viagem foi em São Lourenço do Sul. Lá, alguém de uma casa pôs “vendem-se pastores alemães”. No resto do percurso, pipocavam lâminas com “aluga-se quartos” e “conserta-se carros” (isso quando não escreviam conserto com c). O toque romântico foi dado perto de Palhoça, onde uma enorme árvore ostentava a placa “aluga-se”. Quem diria, o mercado imobiliário atingiu os esquilos.
Um restaurante por quilo de beira de estrada embaralhou a paisagem ao exibir outdoors dizendo coisas como “sua confiança empulsiona (sic) nossa caminhada”, “comida onesta” e, para que a gente não se preocupasse e nem concluísse que a qualidade da comida segue o padrão da língua, um redentor “Deus te ama”. É ou não é de estragar o apetite?
Porém, não foram apenas as placas com erros de português que me chamaram a atenção. Havia placas que praticamente me imploravam para dialogar com elas. Foi o caso de um cartaz perto de Araranguá que exibia as palavras “temos carne”. Meu impulso foi parar o carro e falar pro dono da placa, “eu também”. E como, eu poderia acrescentar. Aposto que mais do que ele.
Mas segui em frente. Logo adiante, tinha um pequeno templo com o letreiro “Igreja Evangélica alguma coisa”. Até aí tudo bem. Isso tem em tudo quanto é canto. Porém, quantas adicionam a explicação “conservadora” no cartaz? Juro que, embaixo do nome da igreja, os pastores haviam colocado “conservadora” no mesmo tamanho e fonte. Não parece meio redundante? Será que os fiéis não seriam capazes de descobrir por si próprios a ideologia que lhes espera?
Em Torres, um outdoor já anunciava que aquela era a décima primeira cidade do país em número de turistas estrangeiros. Floripa é a segunda, só perde pro Rio. Onde está “estrangeiro” leia-se argentino, sabe como é. Pois bem, um outro cartaz continha a seguinte pergunta: “Um argentino bateu no seu carro?”. Era de uma firma de advocacia que promovia processos. Imagino como nossos hermanos se sentem ao ler isso. Tá, eles dirigem mal à beça, mas nós não somos exatamente campeões da civilidade em questão de trânsito, né? Ou de respeito à natureza, ou de honestidade na política... Ih, a lista é longa.
Por falar em lisura, uma placa de imobiliária em Garopaba anunciava: “18 anos de honestidade”. Tive vontade de questionar há quanto tempo o corretor estava no mercado. De repente, ele possuía o negócio havia 40 anos, mas só os primeiros 18 tinham sido honestos. Depois, ele pode ter cansado. Acontece.
E a lâmina de boas vindas de um município? Era “Sorria. Você está em Capivari de Baixo”. Não consegui entender a relação, mas convenhamos: é mais simpática que “Tire este sorrisinho do rosto. Esta é uma cidade séria”.
hahha ah Lola! Que texto engraçado! Realmente eu estou ainda por fora das novas regras. E achei uma bobagem absurda mudar as palavras, já que todo mundo está acostumado. Isso só vai fazer a gente errrar mais e mais o português. E olha que fizeram para facilitar...agora quando alguém fala "probrema", é motivo de chacota e porque a pessoa não tem "cultura". Argh...
ResponderExcluirUma das minhas placas prediletas (pena que não tinha uma câmera na hora) foi a que vimos uma vez no interior, em algum lugar no Nordeste:
ResponderExcluir"VENDE FRANGO-SE". :-)
Abr.
Mônica
Crônicas Urbanas
Huahuahuah!!!
ResponderExcluirAdoro placas erradas, acho que só perd pras postagem de orkut, onde dá pra ler 'se a gente fica-se molhado...' ou 'vendia-se alguma coisa...' hauhuahuahu.
Lola, eu ri muito com o seu texto. Rir para nao chorar, neh? Com mae 1, mae 2 e tias professoras, a coisa la em casa pegava fogo. Eu tenho um problema serio com virgulas e concordancia....falo e escrevo cada bobagem!
ResponderExcluirO site de Placas Engracadas eh muito interessante. Fico imaginando o que fizemos da lingua portuguesa...aqui nos EUA eu assassino o ingles e leio livros em portugues de antes da reforma ortografica. Alem das virgulas, agora vou ter mais problemas...
bjs
HAHHAHAHHAHAHA, tive crises de riso!
ResponderExcluire repentinamente me lembrei do 'bar do mucego', rs.
muuito bom o texto!
beijos :**
Lola, lembrei de uma das primeiras cenas em "presença de anita". A família chegando de carro na cidade, e aparece uma cena rápida com a placa "benvindo a seiláoque". Sempre achei aquela placa estranha, pois achei q a série se passava no brasil..será q estava enganada?
ResponderExcluirhahaha, adoro seu senso de humor, Lola. As últimas frases do texto ficaram ótimas, assim como a passagem do "temos carne".
ResponderExcluirDúvida: será que as melhores cozinheiras não são muito afeitas à gramática? Meus dois restaurantes preferidos aqui nos brindam com "aos sábados, lazanha" e "comida cazeira".
Aronovich:
ResponderExcluirUm viajante chegou a uma cidade em que todas as placas das lojas comerciais estavam grafadas absurdamente erradas, aí ele viu a única certa, numa alfaiataria. Ele foi falar com o alfaiate e já entrou a elogiá-lo; disse: "meus parabéns, o Sr. tem a única placa escrita corretamente nesta cidade: AFAIATARIA AGUIA DE OURO, meus parabéns! No que o alfaiate respondeu: "eu agradeço seu elogio, mas o nome do meu estabelecimento não é Alfaiataria Águia de Ouro, na verdade é ALFAIATARIA "AGUIA" (agulha) DE OURO.
O viajante saiu desolado, assim como você.
Lola:
ResponderExcluirDeve ajudar a melhorar o português, esse seu presidente ignorante e bisonho, falando seu idioleto em aparicões públicas.
É uma grande inspiração pra esse povo ignaro.
Santiago
ResponderExcluirkkkkkkkkkkkkkkkkk
assim vc me mata de rir!!
:)
Sei que não deveria mas morro de rir desses erros típicos em placas. Eu pequena já era a revisora oficial e não deixava passar nada. Agora que estou perdendo a memória seletiva para isso ainda mudam a ortografia?
ResponderExcluirAdorei o texto, morri de rir.
Lola... como vc pode gostar do comunismo...e ainda mais de Cuba? daquela ditadura?? olha o que eu encontrei: os gays cubanos eram presos unicamente por serem gays.. como vc consegue gostar ainda do comunismo??
ResponderExcluirhttp://www.amigosdepelotas.com/2009/01/antes-do-anoitecer.html
A lola falou q gostava do comunismo cubano especificamente? ou só disse q gostava da ideia do comunismo?
ResponderExcluirAsnalfa:
ResponderExcluirVocê tem razão. Comunismo é coisa pra mentecaptos, ou gente mal intencionada.
Comida onesta, haha.. meu estômago desconfia dessa "onestidade".
ResponderExcluirQuanto às novas regras do hífen, é fácil: eles apenas saíram de um lugar e foram pra outro. Num sei pq, só sei que foi assim..
OI! Lola!
ResponderExcluirNo meu blog tem um selo para você! Artes da minha filha de 12 anos! Se tiver tempo passa lá nem que seja só para escolher um para você!
Uma bela semana
Um beijo
Elaine