No post sobre normalidade, a questão do aborto veio à tona nos comentários. E minha leitora Babsiix escreveu:
Lola, eu acho que essa questão do aborto é parecida com as bolsas dadas. Explico-me: a ideia de dar dinheiro é pra tentar diminuir as diferenças, ajudar quem não tem ou só tem dinheiro pra (mal) comer. Assim os pais podem comprar um brinquedo pros filhos, roupas, ter condições de dar um doce quando a criança pedir... Além do básico: pagar contas, ter um lugar pra morar, e feijão e arroz na mesa. Quando estava no colégio, uma professora contou a história da empregada dela, que resolveu se demitir porque fez as contas e viu que dava pra sobreviver, mesmo apertadinho, com o dinheiro que era recebido da bolsa. Sabe, isso me deixa meio triste, sem esperança que as coisas melhorem, porque tenho certeza que essa situação se repete. Entendo que a ideia seja boa, e acho louvável tentarmos diminuir as diferenças. Mas na prática... parece que as pessoas não entendem pra que serve aquele dinheiro. Agora quanto ao aborto: sim, se a mulher quiser abortar ela vai dar um jeito, em clínicas clandestinas e sem cuidado algum. E sim, a saúde e a integridade da mulher são questões importantes, logo a legalização é algo bom. Entendo que as mulheres não gostam de abortar. Sei que vou soar arrogante, mas lá vai. Tenho quase certeza que a legalização do aborto, que visa proteger as mulheres, vai ser usada de forma banal, já que será visto como "menos uma consequência a se arcar com o não-uso da camisinha". Como a bolsa, são recursos para serem usados de forma consciente, o que na prática não acontece.
Babsiix, a empregada da sua professora decidiu usar o benefício pra “sobreviver”, e ainda assim você acha que “as pessoas não entendem pra que serve aquele dinheiro”? “Sobreviver” me parece um bom uso pro dinheiro. Eu ouço bastante essa queixa vinda de gente de classe média: “minha empregada não quer mais trabalhar”. Minha dúvida é: as pessoas que reclamam disso gostariam de ser empregadas? A maior parte das pessoas que recebe auxílio adoraria trocar de vida com as pessoas de classe média, ainda que fosse pra ter a vida sofrida e trabalhadora e cheia de sacrifícios que, aparentemente, só a classe média tem. Você não acha que se, de repente, o salário que se paga a uma empregada está muito próximo ao valor do auxílio, o problema está no salário, não no auxílio?
Outra coisa que vivo ouvindo é que “país civilizado é outra coisa”. A classe média brasileira (no que é idêntica à classe média de outros países pobres) só falta babar ao elencar as qualidades dos EUA. Lá não ocorrem as barbaridades que ocorrem aqui, pensa essa classe. É um ledo engano: ocorrem, sim. Mas sabe o que realmente não tem nos EUA com a frequência que tem aqui? Empregada doméstica. Elas são muito caras pra uma família de classe média conseguir pagar. E isso da empregada morar na casa da família e trabalhar dia e noite, seis dias por semana, com uma folguinha “quando der”, simplesmente não existe. Nos EUA não tem quarto de empregada. Sabe, esses cubículos sem janela onde só cabe uma cama em pé e que nossos respeitáveis arquitetos decretam que todo lançamento imobiliário deve ter? Lá não tem. Americano de classe média pode até ter uma diarista pra limpar a casa uma ou duas vezes por semana, mas uma escrava doméstica é inviável. Vamos chamar as coisas pelo que elas são: é escravidão sim. Uma mulher pobre ter que abandonar sua própria família pra cuidar da dos outros, não ter vida além do trabalho, ter um emprego sem perspectivas, que pague um salário minúsculo, e precisar andar pelo elevador de serviço pra não se misturar com os patrões da casa grande? Sei não, tirando a parte do salário, parece bem parecido com o que sei sobre escravidão.
E aí a gente condena quem tenta sair dessa vida? Tem que fazer malabarismo pra sobreviver com bolsa-família. Se um salário mínimo (que vem obtendo aumentos reais no governo Lula, e agora irá pra R$ 465 - pouquíssimo ainda, mas compare com os números do FHC) não cobre tudo isso que você falou, duvido muito que com a bolsa-família dê pra pagar aluguel, comida, roupas, transporte e ainda sobre pra comprar doces e brinquedos pro filho. Pessoas contra o auxílio criticam que alguns pobres comprem eletrodomésticos (em 24 prestações. Só classe média deveria poder comprar máquina de fazer pão, né?). Mas não há dúvida que o bolsa-família está injetando dinheiro na economia e contribui para que muita gente tenha melhorado de vida. O indicador que pela primeira vez na história 52% da população brasileira é de classe média já diz tudo. E não sei se você lembra quando, no início do governo Lula, período em que os benefícios foram ampliados, houve alegações de que esses pobres não eram de confiança, que os homens iam gastar tudo em cachaça, e que o melhor seria pagar o benefício à mulher da família. Puxa, parece que os pobres são mais inteligentes do que pensávamos.
Aí você emenda esse assunto com a legalização do aborto. É, sem dúvida, uma ligação perigosa, porque esses temas costumam andar juntos desde a invenção da eugenia, lá por 1880. Os princípios são os mesmos: pobres, mulheres, negros, pessoas com desabilidades etc são seres inferiores, que não conseguem cuidar de si próprios. É pra melhorar a vida deles que o homem branco de classe média e alta interfere, tão altruisticamente. O homem branco sabe que pra mulher negra é ótimo trabalhar de escrava em sua casa! É pro seu próprio bem. Como seres inferiores, essas minorias são incapazes de tomar decisões conscientes. Por que, então, deveriam poder reproduzir? É ruim pra espécie humana! Só a classe média deveria ter filhos. Falando em reprodução: a gente reproduz o mesmo discurso do nazismo e nem fica corada!
Quando a gente fala em legalizar o aborto, está no fundo falando das mulheres pobres. Mulher de classe média pode pagar uma clínica onde não corra risco de vida ao abortar, certo? Nos países onde o aborto foi legalizado, não houve nenhuma explosão no número de abortos, apenas despencou o número de mulheres mortas em consequência de abortos malfeitos. Aborto não substitui métodos anticoncepcionais de forma alguma. É um procedimento doloroso e traumático, e a maior parte das mulheres sabe disso. Não dá pra pensar que alguma moça vai falar pro parceiro: “Não vamos usar camisinha hoje. Se eu engravidar, faço um aborto e tá tudo bem”. É fato, infelizmente, que muitas mulheres - de todas as classes sociais - se preocupam com o prazer do parceiro em primeiro lugar. Somos criadas para sempre pôr a felicidade dos outros antes da nossa, e pra não discutir muito. Logo, se um parceiro diz que camisinha atrapalha mas que não tem problema não usar, porque ele “tá limpo” e vai gozar fora, várias mulheres acatam. Eu tive muitos parceiros sexuais durante a minha adolescência, nos anos 80, e era raríssimo algum que tomasse a iniciativa de usar camisinha. Se eu não exigisse e fincasse o pé, eles não estavam nem aí. E, adivinhe? Eram todos de classe média.
Acho incrível como os homens costumam se manter à margem dessa discussão, como se mulher engravidasse sozinha. (Perceba nas campanhas anti-aborto como a mulher desaparece. Esta ao lado diz: "Assim que é concebido, um homem é um homem". Um homem, não uma mulher. E quem assina a pérola? O pai da genética moderna, sucessor direto da eugenia!). Homem em geral só aparece pra dar pitaco contra o aborto. Lógico: não é ele que vai ter que parar de estudar ou trabalhar pra se dedicar ao bebê. Sinal de que o machismo segue forte na nossa sociedade é que a responsabilidade pela gravidez ainda recaia inteiramente sobre a mulher. A falta de educação sexual contribui, lógico. Muita gente não tem a menor ideia de como se engravida ou dos métodos anticoncepcionais possíveis. E muitos desses métodos estão disponíveis em postos de saúde. Tem quem ache que não se engravida na primeira transa. E tem a teoria da infalibilidade dos jovens, que pensam que as coisas ruins (e gravidez precoce é algo ruim) não acontecem com eles, só com os outros. Tem casalzinho apaixonado que pensa que o amor vai triunfar acima de tudo, que o amor é antídoto contra gravidez e Aids. E é óbvio que essas crenças não são privilégio dos pobres. Quando o sexo for encarado com mais naturalidade, como algo que todo mundo faz e é bom (e, portanto, vamos fazer do jeito certo, que é se cuidando), não como um tabu ou motivo de vergonha pra mulher, os casos de gravidez indesejada e de abortos vão cair. Enquanto isso, legalizar o aborto é uma questão de justiça social. De dizer pra mulher pobre que ela também tem o direito, como a mulher rica, de interromper uma gravidez. Isso se ela quiser. A decisão deve ser dela. Não de alguém de classe média que, no fundo, vê a pobreza como algo positivo. Porque, se os pobres acabarem, aí sim vai ficar difícil encontrar empregada doméstica.
224 comentários:
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Número 203: a propósito, sou a favor do Bolsa-família, mas NÃO SOMENTE do bolsa-família. Acho importantíssima essa ajuda.
Ah! Eu já vi o 'All about Eve', numa tarde bebendo vinho, muito bom! Deu pra perceber muitas coisas nesse filme, inclusive que nas novelas da Globo naquela parte da 'menina boazinha que finge ser boa mas na verdade quer tomar o lugar da mulher que manda', elas claramente se inspiraram nesta obra de arte. Mas convenhamos, de onde eles tiraram esse título tosco: 'A malvada'?
Aliás aqui no Brasil eles gostam do mal, por exemplo, hoje assisti um filme chamado ' Menina má.com', que em inglês se chama 'Hard Candy'. O pessoal que traduz os títulos é satânico, só pode.
Opa, postei no lugar errado. lol
Maria disse: "Sim, foi difícil, muito difícil levar a vida. Depois que decidi ir adiante, pessoas me ajudaram a carregar o fardo da gravidez, e todo o resto depois disso.
Assim é a vida.
Fiquei prejudicada profissionalmente, pessoalmente, fisicamente, emocionalmente. Não sei se teria sido grandes coisas se tivesse abortado.
Mas ela está viva. (...) Eu retirar a vida dela pra não me prejudicar é puro egoísmo."
O cristianismo e as mater dolorosas!!! Hehehehehehehehehehehe
A gravidez foi um fardo, ela foi prejudicada, mas é a vida... ela se sacrificou!!!
Roberta bem disse, feto é feto... Você se sacrificou e teve sua vida pessoal, emocional e profissional prejudicadas... Problema seu, você tem vocação pra isso... Exigir de outras mulheres a mesma coisa que é coisa de psicopata... Vamos arruinar a vida de todo mundo só porque a sua é uma bosta e você não é, como disse, "grandes coisas". ACORDA, Dona Maria.
Ótima contribuição pra discussão, Su, obrigada. É: forçar uma mulher a fazer um aborto é algo tão horrível quanto proibir uma mulher de fazê-lo. O corpo é dela, a decisão deve ser dela. Que bom que vc conseguiu se opor ao seu ex-marido.
E o seu coment. sobre a sua empregada merece um post só pra ele. Olha que vida! Parece que não existe opção pra que essas mulheres tenham uma vida digna: se são empregadas que dormem no emprego, deixam de ver os filhos e o marido. Não convivem com eles, e essa deve ser uma violência enorme pra uma mãe. Se são empregadas que não dormem no emprego, quase sempre trabalham hiper longe dos patrões (porque o padrão e o custo de vida é totalmente diferente, e porque a maior parte das cidades promove um apartheid), e gastam 5 ou 6 horas de ônibus por dia. É como vc disse, uma jornada de 20 horas pra ganhar salário mínimo (quando chega a isso).
Os técnicos do bolsa-família sabem que o benefício não vai mudar a vida dessas mulheres. Mas existe a esperança que mude a vida dos filhos, pra que no futuro as meninas não precisem virar empregadas domésticas.
Santiago, sinceramente? Mesmo que vc fosse um Gianechini, o que duvido, ninguém chegaria perto de vc. Vc deve ser uma pessoa muito solitária. Com as suas ideias totalmente retrógradas, os seus preconceitos, vc não deve ser exatamente um ímã que atrai as pessoas.
E, acredite em mim: eu não te acho inteligente. Mas não MESMO. Ninguém aqui te acha inteligente.
E isso de “nunca vou deixar uma apologia ao Lula, ao PT, ao bolsa-família, ou ao aborto sem resposta” se refere somente ao meu humilde bloguinho? Ou a sua promessa/ameaça é pro mundo inteiro? Arme logo sua tendinha na Praça da Sé!
Elyana, que horror esse caso das babás e das piscinas. Era assim até os anos 60 nos EUA. Se um negro (inclusive crianças negras) entrava numa piscina em que estivessem brancos, os brancos saíam pra não serem “contaminados”. O negro era escorraçado dali, lógico, e a água era trocada. É the horror, the horror.
Anônimo, ninguém disse que a bolsa-família é uma solução. Elas são um paliativo, uma ajuda. Há vários outros programas trabalhando junto com esses benefícios. O programa de cotas, adotado pela maior parte das universidades federais, é um deles. Mas a classe média tb é contra, né? Acho muita ingenuidade achar que as empresas pagariam melhor seus funcionários se os impostos fossem menores. As empresas têm metas de lucros que aumentam todo ano. Aumentar salário iria contra essas metas. O negócio é sempre reduzir custos. Não sei se diaristas vivem muito melhor que empregadas domésticas. Há grandes desvantagens tb: nenhum apoio previdenciário, se a pessoa fica doente e não pode trabalhar, ela não recebe, quando a pessoa envelhece, fica mais difícil encontrar serviço, e não tem nada fixo. E anônimo, é besteira dizer que aborto, se legalizado, será usado como método anticoncepctional. As mulheres não são burras. Sabem que aborto é um procedimento cirúrgico, complicado, traumático. Não é uma pílula do dia seguinte. Quanto ao resto do seu coment. sobre aborto, concordamos.
Laiza, concordo totalmente com o seu coment., obrigada. Mas a legalização do aborto não é uma estratégia para que mulheres negras e pobres não se reproduzam. Quem luta pela legalização do aborto não são as mesmas pessoas que têm essas ideias fascistas.
Anália, o trololó vai ignorar seu comentário e continuar acreditando que só classe média e alta paga impostos.
Pode ser, Camila. Conheço vários caras que se encaixam no perfil do trololó. Eles se acham geniais e odeiam todo o resto da humanidade. Acham que todo mundo é idiota, menos eles. Eles são apenas incompreendidos. Num mundo de burros, como eles podem mostrar seu valor? Vou escrever um post sobre um carinha que conheci que lembra muito o trololó.
Ops, agora fiquei perdida, e não sei quais comentários eu respondi ou não. Parece que não tem fim...
Nilton, exatamente, são dois pesos e duas medidas, né? Pra mulher de classe média e alta abdicar da carreira pra cuidar dos filhos é louvável. Pra de classe baixa, é uma vergonha, onde já se viu? Talvez porque não haja como essa profissão de empregada ser vista como carreira.
Samantha, minha mãe, enquanto estava em Salvador, viu uma manchete no jornal dizendo que 40% da população da Bahia recebe algum tipo de auxílio! É muito alto, e é preciso que as pessoas pobres tenham mais opções. Mas, enquanto for necessário, acho ótimo que o pessoal não precise mais morrer de fome. É necessário haver mais desenvolvimento no nordeste. A gente sabe que melhorou muito, mas tem que melhorar muito mais. E a ideia de desenvolver o turismo é ótima, mas tem muitas cidadezinhas no interior que não tem potencial turístico. Acho que as cooperativas são a saída.
Sobre a empregada em questão, a gente não sabe nada da história. É, sei que a ética protestante valoriza muito o trabalho. Eu já tenho minhas dúvidas sobre se o trabalho realmente dignifica alguém.
Sobre o aborto, se vc concorda que ele deve ser legalizado e eu tb, no que discordamos? Pessoalmente, eu não faria um aborto. Mas defendo que cada mulher possa escolher. Igualzinho a sua opinião.
Anália, que bom que vc é a favor do bolsa-família e da legalização do aborto. E vi, pelo seu comentário, que vc ficou muito incomodada com o que falei sobre a classe média. A sua reação é idêntica à de um homem quando ouve falar em privilégio masculino. Ele não se sente um privilegiado, e fica revoltado com a “acusação”. Mas acontece que não é uma acusação, é uma constatação. Somos privilegiados por sermos de classe média. Ponto. Por favor, leia o texto que escrevi aqui, pra entender um pouco melhor essa história de privilégio.
Vc não tem que abandonar seu privilégio, mas tem que aceitar que ele existe. Esse é um passo importante pra se pôr no lugar do outro. O seu coment. mostra essa revolta: fale das empresas que não têm creches, fale do governo, eu nunca roubei! A gente faz parte do problema, Anália. Provavelmente não faz parte individualmente do problema. Não é vc isoladamente contratando uma empregada que está promovendo a exploração. Mas a nossa classe tem responsabilidade.
Claro que nossa classe não é homogênea. Há um monte de pensamentos que não batem dentro da mesma classe média. Eu e o meu trololó fazemos parte da mesma classe, e no entanto... É também a classe média que lidera as revoluções. Nossa classe faz muita coisa boa. Mas não dá pra fingir que só faz coisa boa, dá?
Hericky, é, eu tb acho difícil imaginar que hoje em dia os jovens não saibam como se engravida. Mas, se a educação sexual nas escolas existe e é bem dada, como explicar tantas buscas insólitas que vem através do Google? É tudo de criança antes da sétima série?
Maria, é diferente abortar um feto de quatro meses e afogar um bebê depois dele nascer. Ninguém defende matar bebês, certo? Mas o que pra vc é um valor importante - de que a vida acontece já na concepção - está longe de ser uma verdade absoluta. Muita gente discorda. O assunto é polêmico, e a diferença entre um ser humano em potencial e um ser humano já nascido é grande.
Concordo contigo que temos que ajudar as pessoas, e programas como o bolsa-família ajudam, sim. Mas sou contra que um governo proíba o que uma mulher pode fazer com seu corpo.
E vc pode ser contra o aborto, como eu sou, pessoalmente, pra mim, e ainda assim ser a favor da sua legalização. Porque as mulheres vão abortar de qualquer jeito, seja o aborto legalizado ou não. Não é o que vc acha ou o que o governo proíbe que vai parar a situação. Isso ocorre em todos os lugares do mundo. A diferença é que nos países onde o aborto é legalizado a mulher não morre junto com o feto abortado.
E fico feliz que vc tomou a decisão de não fazer um aborto. É só que vc não pode impor a sua vontade e os seus princípios pra todo mundo.
Roberta, obrigada pela resposta. Fico feliz em saber como vc se tornou feminista. Mas o trololó não pode crer que existe feminista bonita.
Mila, obrigada.
É uma frase um tanto estúpida essa que vc destacou, concordo. Equiparar o pagto. de impostos com “Roubar dos ricos” é fogo...
Gi, eu nem sabia que depois do coment. no. 200 ficava separado entre mensagens mais antigas e mais recentes. Já deu esse post, né?
Fico feliz que vc seja a favor do bolsa-família. E, concordo, não é SÓ da bolsa... Não pode ser só isso.
Iaeee, lugar errado. Respondi o seu recado no lugar certo.
Anônimo, please, cordialidade. Já basta eu ser grossa (na opinião de tanta gente)! Concordo contigo que uma escolha pessoal não pode ser extendida pra “é assim que deve ser pra todo mundo”.
Não li os 210 comentários, mas com um post tão instigante fica difícil não dizer alguma coisa. Vou me focar no aborto, uma vez que a bolsa família já foi muito bem defendida pela Lola. A aprovação do aborto não significa que todas as mulheres vão querer abortar. É apenas permitir a escolha. Se a igreja católica acha isso um assassinato, pois bem, ninguém está falando para o papa mudar de idéia. Cada um com seus fiéis. Estamos em um país com instituições supostamente laicas e a vontade de uma religião não pode prevalecer sobre os direitos de metade da população. E é disso que se trata abortar. É o direito da mulher decidir sobre o próprio corpo. Fazer ou não é uma questçao posterior, o importante é que ela tenha essa escolha. Além disso, duvido que por ser legal o aborto começasse a ser encarado como uma nova forma anticontraceptiva. Como várias mulheres já escreveram, abortar é algo muito forte para a mulher, psicológica e fisicamente. Ninguém faz isso feliz da vida. É hipócrita achar que por ser proibido não se aborta no Brasil. A diferença é que quem tem dinheiro faz isso com alguma assistência e quem não tem acaba recorrendo a clínicas clandestinas, vulgo açougues. Só o número de mulheres mortas por ano tentando abortar já seria justificativa suficiente para legalização.
Parabéns pelo post, Lola. É muito bom entrar aqui e ler textos tão lúcidos sobre assuntos tão espinhosos.
Realmente fiquei muito tempo sem vir aqui. Você continua ótima! É muito bom ler textos inteligentes, e alguns comentários nem tanto. Mas é assim mesmo, minha cara, nem todos entendem... E suas mentes são fechadas em opiniões moldadas por ideologias extremas e preconceituosas.
Menina, nem eu sabia disso. Fiquei procurando os outros, é mole? ;-)
Maria,
Sinto muito dizer mas no seu comentário várias coisas ficam explícitas como o seu preconceito - pobretada, que linguagem é essa? Segundo, fica claro também que ter optado por ter esse filho nova foi um grande fardo na sua vida mas, como você aguentou, e, por isso, acabou por se privar de várias coisas, todo mundo também tem que sofrer também. Digo isso porque tenho uma história parecida, engravidei muito nova, também escolhi ter o meu filho por causa da minha educação religiosa - veja bem, eu escolhi, poderia ter abortado mas decidi não fazê-lo porque sabia que não conseguiria viver com isso - também me privei de várias coisas, arquei com várias consequências, mas nem por isso tento empurrar uma decisão, aliás, uma escolha que é válida para mim, para cima dos outros para que eles compartilhem do que eu passei. A escolha é sempre, sempre, sempre da mulher e cada caso é um caso a ser julgado pela pessoa mais interessada. Concordo que educação é sempre bom e que boas condições de vida talvez mudassem esse quadro se o problema maior é a renda. Mas, mesmo assim, eu não tenho o direito de sair decidindo pelos outros e nem de usar argumentos do tipo "ah, a natureza é assim". Se nós vivessemos de acordo com a idéia do que é natural, ou de acordo com a natureza, ainda estaríamos nas cavernas.
Camila
Amor não mata vírus...lembrei disso quando li no teu post o trecho sobre preservativo.
Milito na legalização há anos e escuto toda sorte de aselhices, desde a clássica "engravidou, tem que parir" até "dar o bebê". Sou da seguinte política: não acha legal? Não faz. Mas não pode se meter na decisão dos outros! Só que aí te chamam de assassina, aborteira e outras loucuras... Ser pró escolha não é ser pró aborto, mas vá desenhar isso...:-/
Sobre empregadas, depende. Uma amiga tem duas funcionárias, com horários pré determinados de trabalho, folgas, hora de almoço, férias, 13o e um salário razoável - se não me engano, cada uma delas recebe cerca de 900 reais na carteira,a cho que são mil, não tenho certeza.... Essa amiga tem apenas ela e o filho de cinco anos em casa. Sempre disse que adoraria ter uma auxiliar, mas só teria quando pudesse pagar decentemente. Ela passou num bom concurso e contratou essas duas senhoras. Elas não dormem no emprego, pois têm horário de saída. Não me lembro bem, mas acho que entram às sete da manhã e saem às 16 horas, e no domingo ficam de oito ao meio dia. Elas não trabalham no sábado.
Eu não tenho grana, portanto, não tenho. Pagar salário mínimo pra manter a pessoa como a maioria mantêm é nojento. Faxineira ajuda, mas só chamamos quando podemos pagar de verdade, senão nos viramos aqui.
Não vejo mal, se pago decentemente e com horários, dentro da lei. Porém, sei que isso é exceção, a maioria escraviza mesmo.:-/
Sou leitora nova do blog e estou passeando... :) acho seus textos mto bons. E seu ponto de vista é bem parecido com o meu na maior parte do tempo. Enfim... em alguns momentos, entretanto, nossas ideias vao totalmente de encontro. Por exemplo, da leitura do comentario da Babdsiix eu fiz interpretaçoes diferentes das suas... ela diz q a empregada diz q vai parar de trabalhar pq "fez as contas e viu que dava para sobreviver". O que eu entendi disso é que a empregada nao vai mais trabalhar, "nunca mais", pq, com o que ela recebe do governo da pra viver, ou seja, ficar mais ou menos na mesma situação q estava qdo vivia apenas do salario. Posso estar redondamente enganada, mas isso nao é conformismo? nao to dizendo que pobre é preguiçoso nem nada do tipo! pelamor! Mas se conformar a voltar ao status quo nao é vontade de melhorar, ne?... Outra coisa: seu discurso de dizer que a classe media é elitista, fica chateada pq nao vai encontrar empregada e etc tb nao é uma forma de preconceito? Afinal de contas é a classe media, apesar de mtos podres (afinal, ainda somos todos seres humanos, cheios de defeitos, ou nao?) ainda é a classe que "paga" esse país. Seja pq o pobre recebe varias "bolsas" seja pq o rico nao paga impostos. SObre o aborto: sou totalmente contra... claro q existem situações em que ele é aceitavel (estupro e risco de vida para a gestante). So que essa historia de liberdade do corpo da mulher nao tem nada a ver! Afinal de contas, como fica a vida que esta sendo tirada? Gostaria de saber sua opiniao a respeito. O que deve-se fazer, na minha opiniao, é investir mais em educação sexual, orientaçao, informaçao etc etc... E, por fim, sobre a sua interpretação do cartaz anti-aborto: "homens" pelo que entendo eu, foi utilizado no sentido generico de SERES HUMANOS. Que a nossa lingua é machista eu concordo... mas ver machismo ate nisso me parece um pouco de paranoia. Ou extremismo? Gosto muito mesmo do seu blog, adoro ler opinioes diferentes da minha, principalmente quando bem fundamentadas como sao as suas e vindas de gente interessada em construir um mundo melhor e mais aberta ao dialogo. Parabéns. E me desculpe se a ofendi em algum momento. Bjo (virei leitora assidua! haha)
Lola, desde que me apresentaram seu blog eu começo a ler e não paro - ainda mais com todos esses links que você coloca! - mas em disparada esse foi o melhor post que já li aqui.
só pra constar.
bjo.
Lola, acredito que vc já tenha comentado algo a respeito, me desculpe se estiver repetindo.
No seu texto vc disse que a decisão sobre o aborto deve ser da mulher. E num caso hipotetico, em que a mãe deseje praticar o aborto, mesmo que a gravidez não seja de risco, mas o pai não, e ele está disposto a criar sozinho o filho? Qual sua opinião nessa situação??
ótimo post, lola! adorei a argumentação. sou uma assídua leitora do seu blog, mas é a primeira vez que comento por aqui.
sobre a parte das empregadas domésticas, tenho um comentário a fazer. desde que mudei pra alemanha, não temos ninguém pra nos ajudar com os afazeres domésticos, nem mesmo diarista, porque seria inviável do ponto de vista financeiro. meu namorado e eu dividimos todas as tarefas, e temos nos virado bem. (confesso não sei o que seria de mim sem a ajuda dele. sejamos justos, ele cozinha muito melhor). apesar do tempo extra que isso requer, me sinto feliz de não estar explorando alguém para fazer uma tarefa da qual eu mesma, jovem e saudável, posso dar conta. devo dizer que quando falo que minha família no brasil tem uma empregada doméstica em tempo integral, você não sabe o choque/desgosto que isso gera. até parei de dizer isso. me sinto mal (péssima) por ter vivido tantos anos mimada, na minha condição de classe média brasileira, contando com alguém que lavasse roupa, passasse, cozinhasse e lavasse prato por mim.
na casa da minha mãe a empregada limpa tudo com uma vassoura. ela não tem sequer um aspirador de pó, (aqui, ele é um dos meus melhores aliados) pra lhe poupar tempo - pra que ela esteja mais presente na vida dos filhos adolescentes, por exemplo. nunca tinha parado para pensar em um aspirador de pó lá pra casa mas garanto que, se fosse eu quem tivesse feito faxina, já teríamos comprado um há décadas. ou seja.
a propósito, o auxílio social na alemanha (vou considerar equivalente ao bolsa-família, embora não seja bem assim) para adultos desempregados é de 360 euros (828 reais) + transporte grátis + seguro de saúde + curso de alemão, para os imigrantes. e ninguém deixa de trabalhar por isso.
Desculpe, Lola, mas acho que vc escreveu uma grande besteira.
Primeiro porque lógico que ninguém é empregada porque quer. Assim como ninguém sonha dm ser lixeiro, em trabalhar 10h por dia. Todo mundo quer ser marajá, mas a kmensa maioria se conforma e continua trabalhando. O bolsa família não é prêmio praqueles que não têm ambição nenhuma na vida e preferem viver mal a trabalhar, é pra quem, mesmo trabalhando, não consegue se sustentar.
Na verdade, é uma saída que o governo arrumou pra empurrar pra debaixo do tapete sua falta de investimentos na educação: não investe em educação, a população pobre não se qualifuca e, por isso, não consegue empregos que paguem bem, então o governo vem e ajuda (claro que tb há os casos de bolsas por condição climática, como no Nordeste).
Agora, não foi essa a discussão proposta. O que sua leitora indaga é se a siciedade brasileira é responsável, informada o suficiente para utilizar o aborto? Essa acomodação com as bolsas sociais não seria um indício da imaturidade das pessoas? Elas também não sentiriam ainda mais à vontade para fazer sexo desprotegida e irrefleridamente?
Particularmente, não sou a favor do aborto. Nunca engravidei e - graças a Deus! - nunca fui estuprada. Por questões religiosas, sou contra o aborto (apesar de compreender as razões de quem o pratica em caso de estupro, de risco pra mãe e de anencefalia), portanto não quero me meter na discussão da legalização, mas seria interessante se houvesse um estudo (e é impossível que um dia haja) com dados estatísticos das pessoas que recebem as Bolsas e deixam de estudar/trabalhar/se especializar por conta disso.
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