sábado, 9 de agosto de 2008

BARRADAS NO BAILE, OU ÓDIO ÀS GORDAS

Foi notícia semana passada: uma boate na Inglaterra barrou a entrada de mulheres gordas, e isso gerou um boicote ao estabelecimento. Não vou nem falar de como uma atitude dessas é fascista e machista, ou de como não entendo bem porque as pessoas em geral, e mulheres em particular, se sujeitam a ter sua aparência avaliada por seguranças, gerentes, leões de chácara e hostesses. Quer dizer, concordo com o Groucho Marx quando diz que não gostaria de entrar num clube que o aceite como sócio, mas vamos lá, eu também não gostaria de entrar num clube que não me aceite como sócia. Não há lugares pra dançar onde todos são bem-vindos, sem essa estupidez de “você pode, você não”? Mas o que eu quero falar é sobre os comentários gordofóbicos que a Lolla Moon recomendou. Ela não sabia que existia tanto ódio contra os gordos. Eu já sabia, mas talvez você não saiba. Então vamos às pérolas do preconceito (minha tradução):

- “Obesidade é um problema moderno que precisa ser discutido. Talvez insultos e discriminação possam ser métodos eficazes que encorajarão as pessoas acima do peso a comer menos e se exercitar mais”.

Certo. Preciso me lembrar que o pessoal que me chama de Orca, A Baleia Assassina só faz isso pro meu próprio bem. Tão bonzinho, esse pessoal. Tão altruísta. Sempre pensando nos outros em primeiro lugar!

- “Certamente anunciando o fato que há menos oportunidades para aqueles acima do peso veremos no futuro uma queda de problemas da obesidade como doenças cardíacas”.

Não, as gordas não sabem que há menos oportunidades pra elas. Precisam ser instruídas disso, e bem devagarzinho, talvez com desenhos, porque além de gordas, são burras. Se bem que burrice, ao contrário de “doenças cardíacas”, não parece estar restrita apenas à quem está acima do peso. Sim, só gordos têm enfartes, você não sabia? Aliás, quer uma estatística provocadora? Aparentemente, os gordos têm tanta propensão a viver menos em relação aos magros quanto os homens têm em relação às mulheres. Homens vivem menos. Nem por isso conseguem deixar de ser homens. Tampouco são lembrados todos os dias da sua vida que viverão menos, só por terem nascido no sexo errado.

- “Já não é sem tempo que as pessoas comecem a discriminar pessoas gordas! Por que deveríamos, como uma sociedade, condenar as pessoas que são viciadas em heroína ou alcoólatras, mas tratar aquelas que comem tanto que vão parar no hospital como cidadãs respeitáveis? Elas deveriam ser forçadas a se tratarem como o resto”.

É isso aí: campo de concentração para gordos já!

- “É chato barrar garotas gordas, porque às vezes existem caras que gostam disso”.

Em outras palavras: gordas, nós podemos continuar existindo porque há homens que nos apreciam. Ufa! Se esses tarados não existissem, seria a câmara de gás pra gente.

- “O que eu faria se tivesse uma boate seria calcular rapidamente o índice de massa corpórea de cada grupo de mulheres, e só permitir a entrada dos grupos que tivessem um nível aceitável de saúde, em média”.

Ah, assim as gordas teriam alguma chance. Bastaria que elas se enturmassem com mulheres magras. Mas as mulheres magras não poderiam aceitar qualquer uma. Mais de uma gorda num grupo de cinco mulheres e todas seriam barradas. Mulheres de todos os tamanhos, espero que vocês possam ver como esse tipo de pensamento é ofensivo e perigoso pra todas as mulheres, não apenas pras gordas.

- “Isso não é discriminação. Discriminação é discernir diferenças impossíveis de serem mudadas, como ser negro ou polonês. A pessoa gorda pode perder peso, a menos que tenha um problema médico que a faça gorda, e nesse caso ela não deveria ir a boates beber”.

Nada como um preconceituoso pra nos explicar o que é preconceito. A última frase, “[a gorda] não deveria ir a boates beber”, é o x da questão. O resto é encheção de linguiça.

Este post ficou longo demais, então dividi em três partes. Não deixe de ler a parte dois e a três.

17 comentários:

  1. Belo post Lolinha, no aguardo do resto hahaha, os comentarios foram engraçados, a de provavelmente o kra que barra a galera na boate então...

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  2. PS: Viu as olimpiadas Lolinha, ao menso a abertura ? Podia fazer um post sobre a abertura da China, oq vc acha que vai ser a de Londres e se o Brasil conesguir se candidatar para 2016 como será a abertura ? hEHE Acho que se eles não fizerem algo mais baseado nos pontos turisticos, paisagens bontias e alegria do povo, vai ser algo cabuloso hahahaha tipow. Matam os indios, Batem nos Escravos, Geral dependente de Portugal, Escravos se rebelam, ...

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  3. engraçado o argumento de que já que outros são discriminados os gordos deveriam ser discriminados também! primeiro porque é como se a discriminação com mulheres gordas só começasse agora com essa boate (que aliás foi boicotada e já parou com essa bobagem). e é a maior inversão! vamos discriminar igualmente a todas as possíveis vítimas de discriminação... afff

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  4. Querida Lola, leio seu blog há pouco tempo e nunca comentei nenhum post. Queria apenas dizer que suas idéias me fazem refletir muito a minha condição de mulher, em como estamos inseridas numa sociedade que não só traz esse padrão de beleza irreal como muitas vezes coisifica a mulher. Li todos os seus posts sobre feminismo, e me deparei com argumentos novos nos quais eu nunca tinha reparado. Uma vez um amigo me perguntou: “pq os melhores chefs do mundo são homens se cozinhar é uma tarefa tão tipicamente feminina?”, ou seja, pouquíssimos homens cozinham, mas quando se propõem a fazer são melhores que vocês, mulheres. E eu não tinha parado pra pensar que o mundo, embora tenha melhorado muito, ainda não dá espaço nem as mesmas oportunidades para nós, mulheres. A mesma coisa se aplica para os grandes estilistas, ou seja, a moda, que é um “assunto de mulheres” é um meio onde a grande maioria dos criadores são homens (Ralph Lauren, Kenzo, Marc Jacobs, Dior, Lacroix, etc). E eu nunca tinha reparado nisso (bobinha não?). Sou da área de Direito e estava procurando um tema pro meu projeto de mestrado. Agora já sei sobre o que vou falar: feminismo, violação de direitos humanos, lei Maria da penha, algo relacionado a isso. E graças a você, Lola, que com sua sensibilidade me fez pensar em algo que estava na minha frente o tempo todo e eu não percebia. Desculpe o comentário gigante! Beijo

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  5. e o mais complicado,pelo menos pra mim,é que esses comentarios não se restringem mais à esses grupos normativos. até os gordos(as) incutiram isso. minha namorada sofre de uma auto-estima miseravel por que é gorda. saudavel,linda,talentosa,mas simplesmente nao consegue se afirmar e,o pior,se gostar. esta sempre entrando nas mais loucas dietas,e agora ja ta querendo apelar para cirurgia de estomago. pra ela,perder peso resolveria todos os problemas.
    aparentemente,nessa sociedade,so tem espaço pra um tipo de pessoa.
    mas,graças a Deus,tem Lolinhas pelo mundo,the dark knight,pra dar uma forcinha para as minorias nem tão minorias assim.
    agora eu tenho links e links para ajuda-la a ficar de bem com ela mesma

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  6. p.s: a crase ali em cima,ficou por minha conta mesmo.

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  7. Lola, que coisa né? Quando li isso na Lolla pensei em fazer um post tb, mas eu fico tão chateada com essas coisas que nem consigo mais. Mas achei o post ótimo e estou esperando outro.

    Dulce: eu faço doutorado em Direito e meu tema é a mulher também... Direitos femininos e tal.

    Abraços.

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  8. Pedrinho, vc deve ser um dos poucos por aqui que lê esses textos pra ficar por dentro dos preconceitos contra as minorias! Não pra se indignar contra eles. O cara que barrou a galera na boate disse que elas deveriam ir pra casa perder peso antes de voltar. Agora, pós-boicote, ele tá arrependidíssimo, diz que todos/as são bem-vindos, e que não estava num bom dia. Algo assim.
    Não vi a abertura das olimpíadas, Pê! Foi legal? O maridão viu mas ele nunca me conta nada. Será que o Brasil consegue hospedar as O. em 2016? Apenas dois anos após a Copa? Bom, eu torço que sim...

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  9. Acho o fim esses estabelecimentos em que fica uma hostess na porta dizendo quem pode entrar e quem não pode! Imagina a humilhação de ser barrado por não estar bem vestido (leia-se: de acordo com os padrões que a criatura e sua laia julgam ser), por não ter a aparência pasteurizada e tudo mais.
    Não vou a esse tipo de lugar, me sinto mal só de ter de respirar o mesmo ar desse tipo de gente que, por exemplo, não leu um livro sequer em toda vida e se acha com poder de vida e morte sobre os outros. Desse mundinho, estou fora!
    Beijo.

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  10. Lu, pois é, mas meu tipo favorito de raciocínio preconceituoso é: "vc não gosta de ser discriminada, xingada, ofendida etc? Não tem problema, é só mudar. É só deixar de ser como vc é, porque nós, preconceituosos, é que não vamos mudar mesmo. Estamos cobertos de razão". Meu segundo tipo favorito é: "Nós estamos te fazendo um favor. Se não formos chatos, vcs gordas não vão saber que são gordas, vão achar que tá tudo bem e não vão se esforçar pra entrar nos eixos". Fogo, né?


    Dulce, bem-vinda! Fiquei muito feliz com a sua mensagem. Fico contente, claro, que faço algumas pessoas refletirem (o Pedro, acima, não conta, mas ele é um antigo leior fiel). Eu também gosto de ler blogs e comentários "novos" (pelo menos na minha visão). Ah, essa dos chefs e estilistas serem homens, apesar de cozinha e moda serem "coisas de mulher", é fácil de responder. Quando é um trabalho rotineiro e banal, que precisa ser feito diariamente, é coisa de mulher, e não é valorizado. Como um serviço desses de dona de casa não é pago, nem é considerado trabalho. Cozinha e costura só podem ser trabalho pra homens, que são profissionais. Note que não existe ainda um termo masculino equivalente a "dona de casa" - não falamos "dono de casa", porque um termo assim é muito pejorativo. Quando um homem cozinha em casa é sempre como hobby, numa ocasião especial, jamais como parte da rotina. E aí é celebrado. Obviamente o fato da maior parte dos chefs e estilistas serem homens não quer dizer que homens são melhores que mulheres "até" em áreas femininas. É só que há mais espaço pra eles no mercado, até pra se diferenciar da rotina da dona de casa. Um restaurante de luxo não vai querer uma "Dona Maria" como chef, por mais capaz que ela seja. Essas coisas só comprovam que vivemos num mundo masculino.
    Que ótimo que vc vai fazer seu projeto de mestrado em cima de direitos femininos. Apareça sempre!

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  11. Então, Chelsea, como houve avanços (alguns, eu acho) na diminuição de preconceitos contra negros e gays, muita gente dos grupos de Fat Acceptance diz que discriminar os gordos é a única forma de preconceito socialmente aceitável hoje em dia. Mas não é. Ou pelo menos depende de onde estamos. Mas as gordas devem ser as que mais "toleram" esse tipo de preconceito. Se um gay ou negro ouvir algo homofóbico ou racista, provavelmente vai se indignar. Mas uma gorda ouve isso faz um tempão. Ela passa a acreditar que vai morrer cedo, que não vai arranjar namorado, que não deve sair de casa, enfim, que não merece viver. É muito forte isso. A maior parte das gordas que conheço vive sonhando com o amanhã. É tudo pra amanhã, nada pra hoje. Vestir uma roupa legal? Só quando perder peso. Viajar pra não sei onde? Preciso emagrecer antes. Sair com amigos? Só depois de emagrecer. E por aí vai. Os anos vão passando, ela vai se frustrando e se culpando cada vez mais (mais de 95% das pessoas que emagrecem acabam voltando ao peso anterior em menos de 3 anos, e quase sempre com acréscimos), daí vê uma foto de quando era adolescente e se surpreende como era bonita. Mas ela já se achava gorda e horrenda na época! Olha, é uma vida jogada fora. Pessoalmente, não acho que eu tenha deixado de fazer muita coisa por me achar eternamente "inadequada", mas já me odiei demais por não conseguir emagrecer. É besteira. Me odiar não vai me fazer emagrecer. E, já que esse é meu biotipo, que tal começar a me aceitar como sou? Antes tarde (40 anos!) do que nunca...
    Torço pra que sua namorada comece logo a trabalhar a auto-estima, ao invés de viver sentindo-se uma "loser" por algo que tantas vezes não está sob seu controle.

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  12. Nalu, antes de ler isso na Lolla, eu leitor (ou leitora?), Gil, já havia me enviado a notícia sobre a tal boate. Mas eu não sabia que era em Jersey, na ilha em que a Lolla mora, e também desconhecia esses comentários (que são parecidos a de outros gordofóbicos. Sempre que sai uma matéria em qualquer jornal sobre a "epidemia da obesidade" ou sobre atrizes que ousaram engordar um tiquinho surge um batalhão de rapazes pra expressar seu ódio pelas gordas). Parece até uma cruzada moral deles. Eles tiram sarro de garotos gordos desde a época de escola, mas seu ódio contra mulheres gordas é muito maior. Porque uma mulher gorda está deixando de cumprir seu papel decorativo, o que é inaceitável pra muitos homens. Ainda!


    Kenia, pra mim fica difícil falar, porque com essa vidinha monogâmica que levo, e com 41 anos, faz tempo que não vou a uma boate. Mas, na realidade, nunca gostei de ir a bares e boates, mesmo quando eu era magra. Sou uma pessoa bem caseira, e detesto barulho e cigarro, duas coisas bem previsíveis nesses locais. Então nunca fui barrada pra lugar algum porque eu nunca quero ir pra um desses lugares badalados que dependem de hostesses pra decidir quem entra e quem não entra. Mas deve ser uma situação muito ruim. Pior é se uma gorda for destratada em coisas mais sérias, como uma vaga de emprego... E isso acontece bastante!

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  13. Lola, aqui em Recife é proibido fumar em bares, boates e restaurantes. E a lei pegou. Eu? Amei, claro! Tem coisa mais desagradável do que comer levando baforada de cigarro no rosto? :/
    Beijo.

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  14. Pois é Lolinha, hahahaha alguem tem que levar seu blog a serio né ?
    Eu achei bem legal, estava lendo que foram 300 milhões de dolares mas não sei se é confiavel essa informação. Capaz de ter sido mais. No total foram 80 bilhoes de dolares.
    Os politicos devem estar doidos para trazer as olimpiadas e a copa, imagina que oportunidade de superfaturar as coisas. Mas eu tbm torço, iria com certeza. Eu gravei a abertura se vc tiver mto afim de ver, posso te mandar os dvd´s faço uma copia extra.
    Abr

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  15. Pedrinho, viu como eu influencio algumas pessoas de forma POSITIVA?
    Obrigada pela oferta do dvd com a abertura das olimpíadas, mas não tenho tanta vontade não. A única cerimônia dessas que eu me lembro com muito carinho foi aquela de Moscou, com o ursinho Mischa. Acho que nem sua mãe era nascida na época...

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  16. Oi, Lola - só lembrando que, tecnicamente, Jersey não faz parte da Inglaterra. Para fins didáticos, a gente diz que é Grã-Bretanha, porque Jersey é um protetorado da coroa britânica.

    Tô esperando a segunda parte; dá um certo desgosto reler esses comentários tristes, mas a discussão é válida.

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  17. Pior que essa doideira está chegando nos gordinhOs.

    Tou perdida.:-/

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