CLÁSSICOS ADOLESCENTES QUE NUNCA VI NO CINEMA

Decidi ver alguns dos filmes que a crítica especializada considera clássicos teens, pra constatar se eles realmente merecem fazer companhia a Clube dos Cinco, Curtindo a Vida Adoidado, As Patricinhas de Beverly Hills e Eleição, entre outros, inclusive alguns mais recentes, como Superbad e Meninas Malvadas. Ah, todos os títulos em português que esses filmes receberam são totalmente alienígenas pra mim. Só pra constar, nunca tinha ouvido falar em Três é Demais ou Mundo Cão.

- Três é Demais (Rushmore) – uma delícia este filme de 1998, e possivelmente o melhor do Wes Anderson, diretor que está na lista do Stuff White People Like. Stuff aponta que o Wes é um dos diretores favoritos das pessoas brancas. Diz que Be Kind Rewind (que não é do Wes, mas do Michael Gondry, outro queridinho do público branco) é o acontecimento cinematográfico mais esperado pelas pessoas brancas desde... Os Excêntricos Tenenbaums (esse sim do Wes). Ironia à parte, Rushmore é infinitamente superior a Tenenbaums. É muito fofa a trama sobre um rapaz esquisitão que participa desesperadamente de todas as atividades acadêmicas que pode, apaixonando-se por uma professora. Tem o Bill Murray também, num papel sob medida. Uma comédia diferente e meiga do início ao fim. Na minha opinião, só vendo esse filme pra começar a justificar o culto ao Wes.

- Jovens, Loucos e Rebeldes (Dazed and Confused) – dá pra entender direitinho por que os críticos amam esta comédia de 1993: porque ela fala de uma escola nos anos 70, década em que esses mesmos críticos babões eram adolescentes. De minha parte, eu só entendi porque os soldados americanos cometem todas aquelas atrocidades com prisioneiros de guerra iraquianos. Dazed mostra alunos aplicando trotes em outros alunos. Todos aceitam tudo sem reclamar, e as violências e humilhações vão se perpetuando. Mas de jeito nenhum é uma crítica ao sistema. O maridão pelo menos pôde se distrair com a trilha sonora: “Tive todas essas músicas em LP!”. Eu precisei me contentar com o elenco estelar, antes desse pessoal virar astro: tem o Ben Affleck como o pior valentão, o Matthew McConaughey, a Milla Jovovich, a Parker Posey (que dirigiu o belo Longe Dela), e ganha um prêmio quem identificar a Renée Zellweger (eu não reparei). Um bom acompanhante pra Drillbit Taylor, que também aponta como bullying faz parte do sistema escolar americano, e ninguém denuncia. É apenas um rito de passagem!

- Mundo Cão (Ghost World) – este drama de 2001 não pode entrar exatamente na categoria de filmes sobre adolescentes, porque é muito mais que isso. No que deve ser a melhor adaptação de uma história em quadrinhos pras telas, Ghost me fez rir alto em poucos momentos e chorar copiosamente no final. No resto do tempo eu tava com um sorriso nos lábios. A Thora Birch (adolescente problemática de Beleza Americana) está numa fase difícil: acabou de terminar o segundo grau e não tem a menor idéia do que vai fazer da vida. Briga com sua melhor e única amiga (uma Scarlett Johansson querida) e se envolve com o desajustado Steve Buscemi. Brad Renfro, que morreu de overdose uns dias antes do Heath Ledger, também está no elenco. É raro a gente ver um filme e se identificar com todos os personagens, mas isso se deve ao carinho que o diretor Terry Zwigoff tem por eles. Terry já havia feito isso antes no lindo documentário Crumb, de 94, que também me fez chorar baldes no fim, ao saber que o irmão maníaco-depressivo do desenhista Robert Crumb se matou. É o mesmo espírito: observações inteligentes e engraçadas no meio de algo muito, muito triste. E alguém pode me explicar por que qualquer filmeco como Juno concorre ao Oscar e um clássico como Ghost fica de fora? Ambos são sobre meninas tentando se encontrar.