terça-feira, 30 de novembro de 2004

CRÍTICA: KILL BILL VOL 2 / O fator Bill

Depois de uma longa e angustiante espera, "Kill Bill – Volume 2" enfim chegou. E, embora tenha adorado este segundo capítulo, gostei mais do primeiro. Grande parte dos críticos prefere a parte dois, se bem que tem muitos que detestaram o primeiro, e gostar do segundo parece uma forma de redenção ao óbvio talento do Tarantino. Mas não sei, o primeiro tinha no mínimo um personagem marcante, a colegial assassina Gogo, e maravilhas como o desenho animado. Bom, na realidade não se vai longe discutindo qual é melhor, já que ambos são o mesmo filme, dividido em duas partes. Ainda bem que deixaram o Taranta lançar cinco horas de muita ação. Já pensou se ele tivesse que lançar um só filme de três horas, o que o mundo estaria perdendo?

Tá, este meu último comentário foi mais que sarcástico. Foi injusto. O Taranta acrescenta um monte pro mundo do cinema. Na empreitada da vez a Uma Thurman continua matando gente pra se vingar do pessoal que massacrou seu ensaio de casamento. E quem ela quer matar mais que nada é o mandante de tudo, o Bill. E dá-lhe toneladas de referências a filmes B, trash, kung-fu, western... Tem uma cena em que a Uma é enterrada viva e a tela fica escura por vários minutos, a gente só ouve a respiração e os gemidos dela, e se sente dentro do caixão. Tem olho arrancado e muitos diálogos, a marca registrada do Taranta. Foi ele quem incorporou ao cinema mainstream os diálogos aparentemente banais, desses que não acrescentam muito ao desenvolvimento da trama. Sabe, bandidos conversando sobre sanduíche e música da Madonna. Aqui em "Kill Bill 2" alguém fala sobre o Super-Homem. Este é um dos temas do filme, como pessoas incomuns levam uma vida comum quando não estão por aí matando gente. O alter-ego do personagem do Michael Madsen, por exemplo, é de dar dó. Ele é uma máquina mortífera, mas no dia-a-dia sofre humilhações do seu chefe, um dono de boate de strip-tease onde trabalha como segurança. Tadinho.

Minha teoria pra explicar porque gostei mais do primeiro que do segundo é o Fator Bill. O Bill não aparece no primeiro, só a voz dele, mas aparece em doses cavalares no segundo. Uns amigos estavam torcendo pra que a Uma matasse logo o Bill, porque o cara é chato demais. Eu não achei o Bill chato, mas há problemas na construção do personagem. Não é culpa do David Carradine, claro (aliás, o Taranta escreveu o papel pensando no Warren Beatty, e só depois chamou o ex-gafanhoto). A explicação do Bill pra ter feito todas as malvadezas com a Uma é a frase mais engraçada e ridícula do filme, "Eu exagerei" ("I overreacted"). Isso é lá razão que se dê? Quer dizer, tudo se resume a uma briguinha conjugal. Tudo bem que a história de "Kill Bill" (os dois volumes) é o que menos importa. A trama é pra lá de simples. Só que esta segunda parte sofre por dar importância demais a um personagem mal-acabado.

Outra coisa que me incomodou um pouco são as inúmeras referências à beleza da Uma. Praticamente todo mundo tem algo a dizer sobre o quão linda ela é. O Taranta pode estar apaixonado, mas não precisa louvar sua musa o tempo inteiro. O pior é que a frase que fica é a única voz do contra, a do coveiro que afirma "Já vi melhores". Mas essas são implicaçõezinhas minhas com um grande filme. Agora é torcer pra que o Taranta vire um Woody Allen, no sentido de produtividade, e comece a fazer cinema todos os anos. Tá, talvez um filme por ano seja demais, mas um a cada quatro anos também é. A gente não merece esperar tanto.

Leia sobre Kill Bill Volume 1 aqui, aqui e aqui.

Um comentário:

  1. Eu prefiro a primeira parte porque tem a memorável cena da Beatrix encarando sozinha um bando de samurais mascarados. É tão irreal, mas de alguma forma funciona no meio daquilo tudo.

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