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quarta-feira, 30 de setembro de 2020

RIP QUINO, GIGANTE CRIADOR DE MAFALDA


Hoje é aniversário do Silvinho, vulgo maridão! Ele faz 63 anos, trinta dos quais ao meu lado. Daqui a alguns meses ele comemora seu meio século de xadrez (começou aos 13. Nos conhecemos num torneio. Xadrez é a sua vida). 


Mas, pra deixar o dia triste, hoje morreu, aos 88 anos, um gênio: o cartunista argentino Quino! Com sua maior criação (mas não a única: ele era também um ilustrador brilhante), Mafalda, a menina revolucionária, ele inspirou várias gerações. 


Mafalda é sempre atual e hoje, com a extrema-direita no poder em várias partes do mundo, mais necessária do que nunca!

Eu li toda a coleção da Mafalda no original, em espanhol, e também em português (inclusive português de Portugal -- aprendi muitas gírias portuguesas graças a isso). Minha geladeira tá cheia de ímãs da Mafalda. O mundo certamente perdeu um gigante, mas sua obra é eterna.

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

"LOUCA" É SÓ MAIS UM ADJETIVO PARA DESQUALIFICAR MULHERES FORTES

Talvez com a Laura desenhando os misóginos entendam?
Linda história da Laura Athayde (clique para ampliar).

terça-feira, 8 de outubro de 2019

CORINGA DOS QUADRINHOS NÃO TEM NADA DE INCEL

Vi Coringa ontem, adorei o filme e vou escrever sobre ele. Mas como o pessoal não tá se aguentando na caixa de comentários, e demorarei um tiquinho mais pra escrever (muita informação reunida!), gostaria de publicar um guest post de uma conversa gerada há uma semana no Twitter.
Eu disse que não era fã nem entendida em histórias em quadrinhos, e que portanto não sabia muito de como o personagem Coringa foi retratado ao longo das décadas -- como ele pode ser incel, se tinha como parceira a Arlequina, por exemplo? Então Pablo Vasques, de Brasília, programador de interfaces web, e muito fã da Mulher Maravilha, escreveu e me enviou este texto muito bacana. Obrigada, Pablo!

Antes de mais nada, queria dizer que seus textos foram absolutamente essenciais para que eu tivesse a oportunidade de entender melhor o feminismo, e também foi um portal valioso para encontrar outras vozes do feminismo e também entender melhor o meu papel, como homem sedento de justiça social nessa história toda, não somente das lutas relacionadas com a mulher, mas todas as outras lutas sociais também. Então, MUITO OBRIGADO! 
Foi uma postagem sua no Twitter sobre o Coringa e a Arlequina que me motivou a escrever esta mensagem. Pensei em responder no próprio Twitter, mas começaram a aparecer muitas ideias na cabeça e achei melhor não encher a timeline com alguns detalhes que provavelmente não interessariam a muita gente. Bom, pelo menos vou me esforçar para manter o tópico minimamente interessante.
O Coringa é um personagem quase tão antigo quanto o Batman, e tem tantas versões diferentes quanto o próprio herói. Tanto a DC Comics como sua dona corporativa, a Warner, possibilitam a diferentes autores apresentarem diversas interpretações de seus personagens. Assim, o que as pessoas têm em mente quando pensam em Coringa se originou nos anos 80, quando Frank Miller produziu o Cavaleiro das Trevas e solidificou a imagem do Batman como um cara sombrio, amargurado e violento.
Nessa época, os fãs de quadrinhos clamavam por histórias mais sérias, mais consequentes, e um dos efeitos colaterais disso foram histórias apresentando o Coringa como um sociopata incorrigível, cometendo crimes assustadores como o assassinato do segundo Robin, Jason Todd, e a violência sexual contra a Barbara Gordon (identidade secreta da Batgirl) na história A Piada Mortal, de Alan Moore.
Esta história é importante porque apresentou o que muitos consideram a versão definitiva do Coringa: um ladrãozinho mequetrefe e extremamente azarado que por força das circunstâncias acaba sucumbindo à loucura e se transformando no Coringa. Mas a trama é extremamente problemática, pois vitimiza a personagem Barbara Gordon com o único objetivo de mover a trama dos protagonistas, Batman e o comissário Gordon.
Curiosamente, o celebrado autor Alan Moore se apresenta como progressista e feminista, mas a violência sexual contra mulheres é dolorosamente presente em boa parte de sua obra. Apesar das críticas, A Piada Mortal se tornou emblemática por outras razões, pois Barbara Gordon, paralisada por um tiro da cintura para baixo, deixou de lado o manto da Batgirl para se tornar a heroína Oráculo, que da sua cadeira de rodas se tornou um dos personagens mais importantes da DC, tanto dentro do universo como fora dele (como exemplo de representatividade).
Há cerca de 10 anos a DC resolveu "pedalar para trás" e promoveu uma reorganização de seu universo de super-heróis, apagando a existência da Oráculo e restabelecendo Barbara Gordon como a Batgirl. Muitos fãs protestaram pois outras heroínas haviam assumido o manto da Batgirl e elas também foram apagadas da existência, junto com a Oráculo. Mas isso é outra história no longo rol de cagadas da DC Comics.
Voltando ao Coringa, e principalmente à Arlequina, ela foi um personagem originalmente criado para a extremamente popular (e incidentalmente ótima) série animada televisiva do Batman. Então sua versão equivalente do Coringa, por ser voltada para crianças, não é depravada como a dos quadrinhos. Mesmo assim, é perceptível que a relação dele com a Arlequina está muito longe de ser sadia (até por conta da insanidade dos dois personagens).
Então a Arlequina fez essa transição da TV para os quadrinhos e com isso se tornou mais violenta e sinistra, e os aspectos mais doentios da relação entre ela e o Coringa foram tornados mais explícitos. Eventualmente ela supera o "amor bandido" e se afasta dele para o bem de sua própria sanidade, ironicamente. Ela também manifesta sua bissexualidade se envolvendo com a Hera Venenosa, com quem tem uma relação mais igualitária, digamos assim.
Essa é a inspiração para a Arlequina que aparece no filme Esquadrão Suicida
bem interpretada por Margot Robbie apesar de sua caracterização meio problemática. Estou com a esperança de que ela seja melhor retratada no vindouro filme das Aves de Rapina (Ou A Fantabulosa Emancipação de Uma Certa Arlequina, que é o subtítulo do filme e dá a ideia de que ela será um personagem central).
Os filmes do Esquadrão Suicida e esse das Aves de Rapina são ostensivamente considerados parte do "DCEU", ou Universo Estendido da DC, significando que suas tramas se passam em um mesmo mundo compartilhado pelas diferentes produções da DC desde O Homem de Aço, excluindo os filmes do Batman, incluindo Aquaman, Mulher Maravilha e Shazam.
Coringa, por outro lado, foi concebido desde o início para ser algo diferente. E nesse universo particular de Coringa, não existe sinal do restante do universo DC, exceto pela cidade de Gotham. Batman e a Arlequina não estão nesse mundo. E pelo que entendi o próprio Coringa tenta ser algo diferente, ainda, de todas as versões do personagem já apresentadas. Difícil dizer quão diferente.
Uma coisa é certa: os incels elegeram Coringa como uma ode a eles próprios sem sequer ver o filme. Suspeito que estejam bastante equivocados, mas veremos.
Peço desculpas por ter ocupado seu tempo com essa parede de texto. Se você chegou até aqui, espero que tenha sido ao menos um pouco interessante. Não que seja muito útil, admito.

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

O OBSCURANTISMO RELIGIOSO CHEGA À BIENAL DO LIVRO DO RIO

A notícia que balançou as redes sociais hoje foi mais uma ação de censura no nosso Brasil atual da ditadura velada. 
Poucos dias depois do governador de São Paulo mandar recolher nas escolas livros que falam sobre a diversidade, o prefeito evangélico do Rio, Marcelo Crivella, determinou que exemplares da história em quadrinhos Vingadores: A Cruzada das Crianças fossem removidos e embalados em plástico preto, pois teriam "conteúdo sexual para menores".  "Precisamos proteger as nossas crianças", disse o prefeito crente do Estado Laico em vídeo. 
Dois dos personagens da história são namorados. Nas 264 páginas da graphic novel, os dois aparecem se beijando duas vezes. A Valéria do Shoujo Café explica todo esse absurdo direitinho.
A Lanika, especialista em quadrinhos, disse que "a Marvel é tão careta que esse único beijo aí só acontece como resposta a um pedido de casamento! 
"Eles mal se tocam no resto da revista. Crivella está chamando de pornografia um beijo (interrompido!) dado em resposta a um 'topa casar comigo?'" Ela acrescenta: "esses quadrinhos existem há dez anos, essa edição de luxo há três, não era lançamento, era venda de saldão. Isso quer dizer que a invasão à Bienal em nome do pânico moral já estava planejada, eles só precisavam arrumar uma desculpa pra justificá-la".
Esta ação patética do Crivella é, além de inconstitucional, homofóbica. E parece que homofobia é crime. Haveria como enquadrar o prefeito no crime de homofobia? Sabemos que o prefeito vem fazendo uma péssima gestão e que operações moralistas como esta contra a Bienal são formas de chamar a atenção do seu eleitorado. 
Crivella não apenas mandou recolher Vingadores (rapidamente transformando a edição em cobiçado bestseller). Agentes da secretaria de Ordem Pública do RJ foram enviados também para fiscalizar estandes da Bienal (leitoras e leitores, vale a pena prestar atenção nos livros brasileiros com temática LGBT). 
Várias editoras se manifestaram contra a medida, como a da Record: "A Secretaria de Educação passou no nosso estande na Bienal exigindo que todos os livros com conteúdo LGBTQS fossem lacrados e sinalizados como livros com conteúdo impróprio. [...] Vamos continuar lutando para que todos os jovens se vejam representados em nossas histórias". 
A Bienal do Rio emitiu esta nota, corajosamente se recusando a cumprir qualquer ordem do prefeito: "Este é um festival plural, onde todos são bem-vindos e estão representados. Inclusive, no próximo fim de semana, a Bienal do Livro terá três painéis para debater a literatura Trans e LGBTQA+. A direção do festival entende que, caso um visitante adquira uma obra que não o agrade, ele tem todo o direito de solicitar a troca do produto, como prevê o Código de Defesa do Consumidor."
É tão vergonhoso tudo isso! Eu me lembrei do magnífico filme Bacurau, que vi esta semana (farei vídeo sobre ele, prometo!). Numa breve cena, vemos que, num futuro próximo, haverá execuções públicas no Vale do Anhangabaú. E a queima de livros em fogueiras, começa quando?
Será que tudo isso é mais uma cortina de fumaça? Afinal, Bolso está preparando a venda do Serpro e da Dataprev, empresas que possuem dados sigilosos (que o contribuinte declarou no seu imposto de renda) de toda a população brasileira. 
O temor dos servidores e de especialistas é que essas informações sejam comercializadas para empresas privadas. E, claro, vazadas. Eu, como alvo frequente de quem tem quase todos os dados divulgados por uma quadrilha que me ameaça de morte e estupro há anos, detestaria ver minha declaração de imposto de renda na mão de channers (frequentadores de fóruns anônimos pra quem o sinistro da Educação costuma mandar abraços). 
Vivemos tempos realmente sombrios e perigosos.
 

quarta-feira, 11 de julho de 2018

POR QUE MENINOS NÃO PODEM SE INSPIRAR EM HEROÍNAS?

 O Koppe encontrou e traduziu esses ótimos quadrinhos do cartunista Damian Alexander (e ainda fez um álbum no Imgur). O original pode ser lido aqui









quinta-feira, 3 de agosto de 2017

MISÓGINOS ATACAM EDITORA DA MARVEL POR CAUSA DE UMA SELFIE COM MILKSHAKE

Aconteceu na semana passada, com grande repercussão agora.
Na última sexta de julho, uma editora da Marvel postou uma selfie com suas colegas, todas tomando um milkshake. Uma foto inocente que não deveria gerar nada além de "Que demais!" recebeu um monte de comentários machistas de caras patéticos que não aceitam que existam mulheres no mercado de quadrinhos. 
A gente sabe bem como é. Há uns dois anos, a jornalista Ana Freitas escreveu um texto perfeitamente ponderado sobre nerds e machismo. Ela passou os meses seguintes sendo atacada por nerds misóginos para provar que tinha razão.
Sobre o caso da editora da Marvel, um texto muito bacana foi publicado na Mary Sue, e a Ester, que "de dia trabalha criando estampas e desenvolvendo produtos pra sua loja pet, e à noite é uma feminista geek SJW que caça trolls no twitter, além de ser mãe de gatos, cachorros e da Gigi", se ofereceu para traduzi-lo. 
Antes de ler o artigo, saiba que, mais uma vez, os trolls perderam (mas eles estão acostumados, né?). O assédio e insultos que as editoras receberam se transformou numa super campanha, #MakeMineMilkshake (algo como "Faça meu milkshake"), em que inúmeras pessoas posaram com milkshake mostrando seu apoio às mulheres.
(No post, não vou colocar imagens dos insultos. Apenas da linda reação a eles).

Editora de quadrinhos da Marvel sofre assédio por postar selfie com colegas de trabalho (o problema do sexismo na indústria de quadrinhos).
Trolls não têm algo melhor para fazer
com suas vidas?
(A resposta é: não)
Na sexta-feira, 28 de julho, Heather Antos, editora de The Unbelievable Gwenpool, postou no Twitter uma adorável selfie com as colegas de trabalho. E então, como qualquer pessoa emocionalmente bem ajustada faria, um grupo de homens -- em sua maioria -- decidiu assediá-la por tweets e DM. Por causa de uma selfie das amigas tomando milkshakes. Os comentários incluíam muitos dos xingamentos usuais e misoginia: “falsas geek” [geek; gíria para pessoas peculiares ou excêntricas, fãs de tecnologia, eletrônica, jogos eletrônicos ou de tabuleiro, histórias em quadrinhos, livros, filmes, animes e séries],“a mais assustadora coleção de SJW estereotipados que alguém poderia imaginar”[SJW: social justice warrior, guerreiro da justiça social, termo pejorativo usado para se referir a pessoas que possuem visões socialmente progressistas, incluindo feminismo e direitos LGBT], “Caramba, não consigo imaginar por que as vendas da Marvel estão na merda”. Essas foram as mensagens públicas. Outros atacaram Antos através de DMs.
Heather Antos comentou o assédio na sua timeline: “A Internet é um lugar medonho, horrível e nojento. Como eu ouso publicar uma foto de minhas amigas na internet sem esperar ser intimidada, insultada, perseguida e transformada em alvo? Hoje acordei com uma enorme quantidade de tweets e DMs de lixo. Por ser uma mulher. Dos quadrinhos. Que publicou uma selfie com suas amigas tomando milkshake.”
Nós já sabemos que os trolls reagem de maneira monstruosa quando as mulheres defendem a diversidade. Chelsea Cain, a autora de Mockingbird, abandonou o Twitter após ousar escrever o seguinte, inócuo e agora deletado, tweet: “Por favor comprem a Mockingbird #8 esta quarta-feira. Envie para a @marvel a mensagem de que há espaço nos quadrinhos para histórias de super-heróis sobre mulheres adultas.”
Zainab Akhtar encerrou seu site de crítica de quadrinhos, indicado ao prêmio Eisner, o Comics and Cola, por causa de ataques racistas, sexistas e islamofóbicos. Anita Sarkeesian recebeu ameaças de bomba por investigar o sexismo nos vídeo games. Leslie Jones foi perseguida por racistas no Twitter e hackeada porque ousou interpretar uma mulher negra em Ghostbusters.
Quando esse tipo de assédio acontece, os advogados do diabo surgem do nada, dizendo que os assediadores estão reagindo a mudanças em seus personagens favoritos ou legitimamente criticando as posições políticas da mulher, ou então, simplesmente expressando suas opiniões. Esta é a sempre óbvia tentativa de proporcionar uma desculpa mais palatável para a misoginia desenfreada e/ou racismo. Mas o assédio em torno da selfie de Heather Antos torna ainda mais descaradamente óbvia qual é a verdadeira motivação. É assédio por existir. Por ousar sorrir e gostar de fazer quadrinhos quando se é mulher. É um assédio alimentado por pura raiva ao ver um monte de mulheres editando quadrinhos e se divertindo em seu trabalho.
Esta vai para todos os bebês-
chorões adultos que se sentiram
ameaçados por mulheres se
divertindo. Que vocês calem a
droga da sua boca
Quando falamos sobre o sexismo generalizado nos quadrinhos, é isso que queremos dizer. Queremos dizer que alguns "fãs" são tão misóginos e se sentem tão ameaçados pela ideia de mulheres na indústria, que uma selfie desencadeia esse comportamento. Essa raiva é ainda pior se você for uma mulher trans, ou uma mulher negra, ou uma mulher com deficiência. Não há nada que as mulheres possam fazer para se proteger -- modificar nosso comportamento, ignorar os trolls, ou ainda tentar conversar -- que possivelmente satisfaça ou pacifique essas pessoas que odeiam a nossa presença. Porque a única coisa que realmente os acalmaria seria deixarmos de existir, publicamente e com alegria, em espaços nerd.
E não, nós não vamos fazer isso.