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terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

CUIDADO COM OS GOLPES PARA ATRAIR BRASILEIRAS PARA O EXTERIOR

Já faz uns anos que li algumas matérias horripilantes sobre brasileiras que, pensando estar se comunicando com o "príncipe encantado" em algum outro país via internet, acabavam indo pra lá. E, chegando no lugar, viravam escravas sexuais.
Outras iam com promessas de emprego. Iriam ser cuidadoras ou bailarinas no exterior. Mas não: tinham que se prostituir. Recentemente, 7 brasileiras foram resgatadas na Coreia do Sul. Tinham prometido para elas uma carreira no K-pop. Assim que chegaram, viram que faziam parte da lucrativa indústria do tráfico sexual
Uma estudante que prefere não assinar com seu nome me escreveu para falar da Danny Boggione, do canal Sobrevivendo na Turquia, que trabalha sozinha resgatando mulheres brasileiras em cativeiro no Oriente Médio pelos próprios maridos. Danny entrevista as vítimas e expõe a máfia criminosa que já vitimizou inúmeras brasileiras. Leia a explicação:

O canal SobreVivendo na Turquia está há anos denunciando um submundo virtual que infelizmente está ao alcance das mãos. Alguns casos começam de forma bem inocente: um homem do Oriente Médio manda uma solicitação de amizade para uma mulher brasileira, ela aceita e ele a cativa com mensagens gentis. 
Logo ele começa a se declarar, e nisso a  brasileira vai se envolvendo e levando o romance adiante. Ela se apaixona. E ele pede algo inusitado: a pede em namoro (algo que não é comum na cultura dele,  pois lá são casamentos arranjados). A brasileira aceita, e nessa troca diária de mensagens ele pede para ela ir até ele no Oriente Médio, para se  casarem, ou, em alguns casos, para ela ser segunda esposa.
A mulher vende tudo, saca suas economias e a contragosto da família vai até ele. Chegando lá tudo vira um pesadelo. No canal SobreVivendo na Turquia há casos de brasileiras que sofreram violência doméstica e abuso sexual, eram escravas domésticas em cárcere privado. É horrível. E muitas estão presas lá, porque nesses países as mulheres só podem sair com a autorização dos maridos. É uma máfia online.
Há casos também em que as mulheres são vítimas de scammers da Nigéria: um homem (ou mulher) nigeriano pega uma foto de um homem bem apessoado, inventa um nome e uma profissão  (geralmente Scott, engenheiro militar americano e viúvo), e  manda solicitação de amizade para brasileiras. A mulher aceita e eles começam a conversar. Ele se diz um homem com boas condições, americano, e que está apaixonado por ela. 
E assim começa o estelionato: ele pede dinheiro. Seja porque ele "precisa de ajuda" ou porque quer enviar um presente para ela mas não tem dinheiro, porque está muito longe, e nisso brasileiras perdem mil reais, quinze mil reais, trinta mil, perdem euros... 
Enviam o dinheiro para uma conta falsa criada por eles -- para ele "sacar e poder enviar o presente para elas". O homem some assim que consegue o dinheiro.
Há casos de brasileiras que morrem, Lola... É muito tenso.
Há um fluxo de brasileiras se envolvendo com esses homens de países árabes.
Eles não "recrutam" brasileiras só por  redes sociais não: também estão em aplicativos de aprender idiomas. E há casos de grupos (sim, grupos do Facebook) que "fazem uma ponte" entre brasileiras e esses homens. E infelizmente nada disso é noticiado.
Sugiro que as mulheres vejam os vídeos do canal para saberem quais são os golpes mais comuns, e não caírem neles.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

GUEST POST: O HORROR DAS ESCRAVAS SEXUAIS

Semana passada publiquei um texto da Camila Ribeiro sobre prostituição. Desta vez ela colabora com um post sobre uma temática relacionada. 
Camila é formada em jornalismo, viaja muito, e passou sete meses no sudeste asiático. Escreveu um texto sobre escravas sexuais, algo bastante comum por lá (e, obviamente, não só por lá. Incluí algumas imagens daqui e de outros países ocidentais).  

Ao ler o livro Escravas Sexuais (Sexual Slaves) de Louise Brown, fiquei perplexa com a imensa rentabilidade desse mercado!
O tráfico de mulheres é um problema que atinge dimensões titânicas. Segundo dados da Organização Mundial do Trabalho, quase um milhão de pessoas são traficadas anualmente, com a finalidade de exploração sexual. Em 98% dos casos as vítimas são mulheres.
Pagar por sexo ou comprar
sexo aumenta o tráfico
humano, diz campanha
O tráfico chega a movimentar 32 bilhões de dólares por ano, sendo apontado como uma das atividades criminosas mais lucrativas.
Confesso que durante a leitura desse livro fiquei bastante perturbada. Tráfico de mulheres até então para mim se limitava à novela da Glória Peres, onde a mocinha é traficada para a Turquia e obrigada a se prostituir. Resolvi ir a fundo nesse tema ao visitar países muito pobres e ver de perto a prostituição, não podendo assim me furtar dessa realidade que me saltava aos olhos, permeando os aspectos cotidianos ao meu redor.
O mais cruel de tudo isso é que esse é um tráfico caracteristicamente silencioso, de difícil captura, velado, escamoteado, disfarçado, que passa despercebido pelos noticiários, por sua vez inundados com notícias sobre o tráfico de drogas e outras ilegalidades.
A máquina que move esse mercado é eficiente e silenciosa, a engrenagem funciona com precisão e o combustível é feito geralmente de meninas muito, mas muito pobres, que são facilmente esquecidas pela sociedade. Muitas moram em vilarejos miseráveis e não têm nem RG ou qualquer certidão.
Cartazes como o da foto ao lado são corriqueiros nos hotéis em Camboja: "Stop human trafficking and exploitation" (pare com o tráfico humano e a exploração).
Entendendo a engrenagem:
Tudo começa pela compreensão de que o casamento em boa parte da Ásia não tem nada a ver com amor e muito menos com empatia sexual, química, ou seja lá o que for. 
Trata-se de uma instituição secular: constituir família. E dentro desse acordo o homem tem uma espécie de aval para ser infiel, até porque a vida sexual com sua esposa muitas vezes é enfadonha ou inexistente.
No entanto, é preferível que o marido procure uma prostituta para aliviar suas vontades à uma amante, pois a segunda poderia extraviar o dinheiro destinado ao sustento do lar. Ainda assim a busca por esse tipo de serviço tem que ser feita à maneira asiática, com total discrição e zelo, em clubes fechados, muitas vezes camuflados como karaokês, dificilmente notados a olhos nus.
Campanha contra tráfico sexual em
Cingapura (bastante gráfico, clique
para ampliar)
O combustível desse mercado perverso é onde mora o problema, ou melhor, o tráfico. Agentes espalhados pela Ásia procuram pelas presas perfeitas, na maioria das vezes jovens virgens e muito pobres, que moram em pequenas vilas no interior da Índia ou do Camboja, mal têm dinheiro para comer, e sonham com condições melhores.
Campanha em Luxemburgo
Suas famílias as vendem para os agentes, que na maioria das vezes prometem que serão empregadas em casa de família, só que na verdade são trancafiadas em bordéis até se "acostumarem" com o novo ofício.
Outras vezes são ludibriadas com promessas de casamento e fogem com o noivo, que após um mês de pseudo matrimônio as vende ou vira uma espécie de cafetão.
Essas mulheres, muitas vezes crianças, são tudo, menos senhoras do seu destino. Esquecidas pelo governo, subnutridas, muitas vezes um estorvo para as famílias que, além da obrigação de alimentá-las, precisa pagar o dote para que elas se casem, sendo consideradas um fardo por terem nascido com dois cromossomos x,  acabam sendo alvo do tráfico de mulheres, tornando-se escravas sexuais.
Campanha na África do Sul: ela não
pode pedir ajuda
Uma das partes mais complicadas é o transporte dessas mulheres. Muitas vezes os agentes têm esquemas com os guardas das fronteiras e um preço é acertado, ou melhor, uma propina; outras vezes as meninas acabam passando despercebidas. Algumas vão por livre e espontânea vontade, acreditando que serão empregadas como garçonetes.
Em alguns casos vão sabendo que trabalharão como prostitutas, principalmente no Japão, só que chegando lá são exploradas e ameaçadas pela Yakuza, diluindo o sonho de autonomia profissional e ganhando muito aquém do combinado.
Outra maneira asquerosa de induzir uma mulher à prostituição, sobretudo na Índia, é através do estupro. É impensável nesta parte da Ásia que uma mulher se case não sendo mais virgem, quando vítima de estupro então, perde completamente sua honra, não existindo outra solução senão aderir ao mercado da prostituição, já que dificilmente irá se casar ou constituir família.
Vou traduzir aqui um dos depoimentos do livro sobre escravas sexuais de uma mulher de Bangladesh.
Campanha israelense pede
para que não sejamos
cúmplices do tráfico sexual
“Trabalhei num fábrica durante três meses e ganhei aproximadamente 50 reais. Eu dividia o quarto com uma garota, mas ela me disse que não queria mais dividir o quarto comigo porque eu não ganhava dinheiro suficiente. A partir de então eu não tinha mais onde dormir. Estava muito triste e andando pelas ruas quando uma mulher começou a falar comigo. Ela disse que poderia me arranjar um emprego, então eu a acompanhei. Ela me levou até um quarto e me deu comida, então duas outras mulheres chegaram e ela me disse para acompanhá-las, que elas me mostrariam a cidade. 
"Estava escuro e elas me colocaram numa moto. Nós fomos para um lugar bem movimentado com muitas garotas vestindo roupas estranhas e maquiadas. Quando saímos de lá uma mulher puxou o meu sari e disse que não precisaria mais usar aquele tipo de roupa. Então elas me levaram até um prédio e ficaram falando com uma outra mulher sobre mim. Eu estava muito assustada. Elas me deram uma pílula e perguntaram se eu estava me sentindo zonza. Eu não estava, mas elas me levaram para dormir.
"Na manhã seguinte um monte de meninas vieram falar comigo e disseram que eu estaria bem se fizesse o que me mandassem e acabaria me acostumando. Não entendi muito bem o que elas queriam dizer. Me disseram também que aquele lugar era bom e que eles me dariam roupa e comida.
"Naquela noite uma mulher me trancou num quarto pequeno e um homem veio e tentou me estuprar. Eu briguei com ele e ele ficou muito bravo e me disse que pagou por mim e tinha direito de fazer o que bem entendesse. A madame ficou tão brava que me bateu com cabo até meu braço ficar cheio de hematomas. Alguns clientes eram bons, quando eu dizia que não queria fazer sexo com eles, eles prometiam não contar nada a madame. Mas outros não, eles contavam para ela, que vinha e me batia de novo. Depois de cinco dias apanhando eu acabei aceitando isso″.
Em outro depoimento uma nepalesa conta: “Eu fiquei no lugar por 3 anos e durante 2 deles eu nunca saí para ver o sol. Eles nunca me deixavam. Ficava num quarto pequeno com outras duas garotas e não tinha janela. Era sempre escuro. Frequentemente nós conversávamos e gostávamos de imaginar como era lá fora com o luz do sol. Eu pensava na minha casa, mas isso só me deixava mais deprimida.”
Essa história faz parte da aclimatação da mulher no mundo da prostituição, é assim que elas acabam se conformando com o destino que lhes foi forçado. Se não bastasse isso, acumulam dívidas com os donos do bordéis, como roupas e comida, e dessa maneira entram num círculo vicioso e nunca conseguem pagar o que devem para se verem livres. Muitas vezes quando conseguem quitar suas dívidas já estão em idade avançada e não têm a mesma facilidade para atrair clientes.
Da campanha "Nenhuma criança à
venda": Crianças a partir dos 6 anos
são vendidas para o tráfico sexual"
Aliás, o fator idade é fundamental no mercado asiático de prostituição. Enquanto os homens ocidentais priorizam uma mulher experiente, os asiáticos preferem as mais novas, inexperientes, que assegurem que sua performance será satisfatória, não provocando insegurança. Aos 23 anos a carreira de uma prostituta já está quase no fim. As mais caras e cobiçadas são as virgens de pele clara, que podem valer uma nota preta.
Muitos japoneses ricos ou chineses pagam uma bagatela para tirar a virgindade de uma menina, ainda mais com a certeza de que ela é livre de doenças sexuais. Essa obsessão por virgens acaba freando alguns estupros, pois se uma virgem é prometida e sofre estupro, a reputação do traficante é manchada.
Algumas prostitutas acabam conseguindo juntar dinheiro e abrem um salão de beleza ou algo de gênero. Outro número representativo acaba contaminado por HIV ou outras doenças sexualmente transmissíveis.
Uma prostituta de Bangladesh revela: “Nós temos comida boa aqui no bordel, mesmo assim eu continuo perdendo peso por que eu sempre tenho alguma doença sexual. Me sinto doente e não consigo comer. Alguém nos traz um monte de remédios diferentes porque nós não podemos ir a um médico.”
A maioria não consegue voltar para a vila da onde foram tiradas, pois serão humilhadas e sofrerão preconceito, só encontrando aceitação no mundo da prostituição, sua "nova família". Como narra essa mulher: “Eu não gosto desse trabalho, mas não existe nada além disso que eu possa fazer, eu não tenho marido nem família. Sou uma mulher ignorante. Esse trabalho, entreter homem, é a única coisa que eu sei fazer.″
Como se reinventa uma mulher vítima do tráfico? Quais oportunidades lhe são dadas? Para a grande maioria o fim é triste. Isoladas da família, muitas com DSTs, procuram ONGs ou algum tipo de ajuda para não morrerem de fome. 
Outras, a minoria, acabam se tornando agentes e são promovidas de vítimas a algozes, perpetuando assim esse ciclo malévolo, usando sua experiência para encontrar as presas perfeitas e tornarem-se "madames" dos bordéis. 
E assim o mercado continua aquecido.
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Campanha contra o turismo sexual
Saiba mais sobre tráfico humano usado na prostituição: neste post de 2012, comento alguns números aterrorizantes no mundo. Este texto em inglês trata da colonização do corpo feminino.
Esta campanha alemã de 2009 colocou uma loira numa mala para mostrar o terror do tráfico sexual. 
Este comercial britânico diz: 
"A cada minuto, uma pessoa é usada para tráfico sexual. Não feche os olhos para os perigos do tráfico humano. A cada minuto, outra jovem é traficada pela exploração sexual. Você pode parar isso". 
Há campanhas mais recentes, como a Nenhuma Criança à Venda. Nesta matéria há vários outros exemplos.
Aqui há uma lista de filmes e documentários sobre tráfico humano e escravidão moderna. O mais famoso talvez seja Nascidos nos Bordéis, da Índia. Outra lista aqui.
O filme Desaparecidos, de 2007, não é muito bom, mas trata de um assunto terrível que poucos conhecem: todo ano, 50 mil mulheres e crianças são trazidas ilegalmente pros EUA para serem escravizadas sexualmente. Ou seja, o tráfico humano para exploração sexual está longe de acontecer apenas no sudeste asiático...

terça-feira, 10 de novembro de 2015

GUEST POST: A PROSTITUIÇÃO NO SUDESTE ASIÁTICO

Ao passar sete meses viajando no sudeste asiático, a jornalista Camila Ribeiro escreveu este texto sobre prostituição.

"A Índia precisa do feminismo porque
eu não devo pagar a ele para se casar
comigo", diz indiana
Enquanto no Brasil há campanha contra o assédio às mulheres nas ruas, a fim de inibir o secular fiufiu, gostosa, tesuda e daí pra baixo, na Ásia o movimento feminista é tímido, inaudível, e a relação entre os gêneros remete ao feudalismo.
A virgindade ainda é critério decisivo para um casamento. Beijar na boca em público: inaceitável. Até mesmo os filmes dão apenas a entender que haverá um beijo mais caliente, jamais mostrando o encontro dos lábios e línguas. 
Liberdade sexual feminina, então... um tabu. A mulher é definida pelo papel de esposa e dona de casa. Em muitos países é preciso pagar um dote para a família do noivo, transformando a mulher literalmente num commodity, algo a ser negociado.
Feministas indianas: "Não diga pra
nossa filha não sair. Diga ao seu
filho que se comporte"
Em minha viagem  à  Índia em 2009. tive a primeira vivência do que é uma sociedade onde a mulher é considerada raça inferior. Em todos os cantos pude reparar claramente ser uma terra de homens, onde as mulheres numa postura sempre cordial, para não dizer passiva e submissa, tinham papel pouco expressivo, e para piorar, não podiam mostrar seus corpos, sempre escondidos por trás de coloridos saris, enquanto eu, como turista, tampouco podia exibir alguns centímetros da minha carne.
Obrigada a usar lenços e roupas discretas, minha pele sofria de sudorese excessiva num calor apocalítico de 40 e poucos graus. Qualquer pedaço de ombro à mostra despertava olhares de lascívia, constrangedores e indiscretos, tolhendo completamente minha liberdade.
No sudeste asiático (Tailândia, Camboja e Vietnã), achei as coisas bem mais tranquilas. Na maioria dos lugares pude me vestir como bem entendia e os asiáticos me respeitaram. Não sofri assédio ou qualquer desconforto; pelo contrário, eles são bem discretos e mal te olham.
O que me chamou a atenção foi a quantidade de prostitutas trabalhando. Elas podem ser encontradas em qualquer lugar onde haja vida noturna. Uma asiática se divertindo num clube é inexistente, as que estão nas casas noturnas estão a trabalho, em busca de clientes.
Na Tailândia é sabido que o turismo sexual corre solto, sendo inclusive um grande atrativo para turistas dispostos a pagar por uma namorada temporária ou transa de uma noite. Como a economia do país é extremamente dependente do turismo, essa relação se faz altamente visível. Sempre há um gringo desfilando com uma local. Qualquer homem solteiro aproveitando a vida noturna, querendo ou não, se verá assediado por alguma profissional do sexo interessada em seus dólares. Elas puxam assunto, convidam para um drink, entre outras artimanhas para angariar clientes. 
A mulher asiática que se expressa sexualmente na Tailândia é aquela que faz isso por dinheiro. A prostituição é uma profissão corriqueira, facilmente encontrada, mas não necessariamente aceita.
O turismo exacerbado e um governo precário ajudam a incrementar esse quadro. O turismo sexual é muitas vezes o atalho para uma vida melhor e como boa parte da população vive do turismo, por que não transformá-lo em ferramenta de lucro?
No norte da Tailândia, onde há muita pobreza e fome, as famílias estimulam de alguma forma que a mulher se engendre na prostituição, só que de maneira velada, aceitando de bom grado o dinheiro enviado mensalmente sem perguntar a origem, ou fingindo que não sabe. O dinheiro enviado contribui para a compra de bens de consumo como eletrodomésticos e outros luxos, aumentando o status da família na vila onde vive. Há estudos que apontam que no norte da Tailândia um terço das famílias vive da prostituição das filhas.
Na vida cotidiana do Camboja mulher e homem têm papéis definidos e inflexíveis, o clube do bolinha e da luluzinha. Raras vezes esses dois sexos são vistos conversando ou se divertindo. Quando estão juntos geralmente são marido e mulher.
Em Siem Riep, onde ficam os templos de Ankgor, conheci um italiano cuja namorada era cambojana. Ela me contou que vinha de uma família paupérrima, que dependia quase inteiramente de seu dinheiro, inclusive para sustentar os irmãos mais novos, que não eram poucos. Me disse também que não podia contar ao bisavô que trabalhava em bar, pois ele ficaria triste. Por fim, contou que assim que chega em casa para visitar os parentes, a família já pede dinheiro.
O italiano fez o que muitos turistas fazem, arrumam uma namorada temporária, ajudam com dinheiro quando estão lá, às vezes enviam remessas mensais. Elas, por sua vez, trocam de namorados conforme suas necessidades financeiras e a generosidade e disponibilidade do pretendente.
Mas justiça seja feita, a grande clientela das prostitutas na Ásia não são os turistas, e sim os próprios asiáticos. A diferença é que o turista paga melhor, bem melhor.

Em breve publicarei a segunda parte do texto da Camila, em que ela descreve o tráfico de escravas do sexo.