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quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

CADÊ A GRAÇA DE NÃO OLHE PARA CIMA?

Estou  sem tempo e sem internet, mas bastante gente bacana me pediu pra ver Não Olhe pra Cima (Don't Look Up) e falar sobre ele, então lá vai: odiei o filme. 

Juro que entendi tudinho e concordo com ele politicamente. A cultura do espetáculo tomou conta do planeta e talvez a maior parte da população tenha mais interesse por fofocas do que por qualquer coisa minimamente importante, como, sei lá, a sobrevivência da Terra. Fiquei muito chocada no ano em que passei nos EUA fazendo meu doutorado-sanduíche (entre 2007 e 2008) porque, durante alguns meses, eu via TV (depois desisti). E as notícias giravam em torno da Lindsay Lohan. Parecia que nada mais relevante estava acontecendo que os apuros de uma jovem atriz. E não estou falando de canais de entretenimento ou sensacionalismo. Eram todos. 

Lógico que a gente não precisa ir até os EUA pra perceber que o mesmo se passa aqui. As pessoas adoram reality shows e dedicam todo o tempo e atenção a eles. Não importa que o Brasil tenha afundado de vez com a eleição de um fascista. Não importa que continuamos vivendo a maior pandemia de nossas vidas. O que importa é o que alguma sub-celebridade fez ou falou num programa feito pra nos manipular. 

Nesse sentido, Não Olhe para Cima é extremamente factível. Alguma dúvida que, se cientistas dissessem que daqui a seis meses um enorme meteoro vai acabar com o planeta, um monte de gente diria que o cometa não existe, que é tudo uma conspiração marxista globalista judaica para o domínio do mundo? Vemos isso todos os dias. Tanto que quase todo mundo no Twitter compara o personagem do Jonah Hill (que faz o filho mimado da péssima presidente Meryl Streep) ao Carluxo. 

Meu problema com o filme é que ele é longo demais, arrastado, repetitivo, chato, sem foco, e super sem graça. Os diálogos não me fizeram rir uma vez sequer. Eu e o maridão levamos três noites pra conseguir ver o filme inteiro. Achei o elenco estelar totalmente desperdiçado. Sou fã do Leonardo DiCaprio, mas é meio constrangedor ver o tanto que ele se esforça pra ser engraçado -- sem resultados. Talvez quem se saia melhor seja a Cate Blanchett como uma âncora de TV. 

Algo que me soou bem hipócrita foi o diretor Adam McKay (A Grande Aposta, Vice) incluir uma canção original cantada por Ariana Grande só pra ser indicada pro Oscar. É o tipo de música feita por encomenda pra ser apresentada na cerimônia.

E olha, mesmo ideologicamente Não Olhe para Cima tem suas fraquezas. Concordo demais com Tatiana Roque, coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ: quem causa o desastre no filme não somos nós, é algo vindo de fora, um cometa. E parece simples demais enviar uma missão espacial para resolver esse pepino. Mas a crise climática ignorada por tantos capitalistas selvagens é sim criada por nós. 

E, se o filme não está nem irritando os negacionistas otários de extrema-direita que ele critica, é sinal de que tem algo de muito errado com ele...