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terça-feira, 7 de agosto de 2012

50 ANOS SEM MARILYN MONROE

Anteontem, dia 5 de agosto, fez cinquenta anos que Marilyn Monroe morreu. Eu li várias biografias dela, mas já tem vários anos, e não lembro direito. Só o básico: infância difícil, símbolo sexual, relacionamentos e carreira frustrantes, e uma morte precoce aos 36 anos pra lá de misteriosa.
Sempre gostei de Marilyn. Ela era uma ótima atriz e fez alguns grandes filmes, como A Malvada (tá, ela aparece pouco) e Quanto Mais Quente Melhor, dois clássicos que continuam maravilhosos, mesmo depois de tantas décadas. Sua cena com o vento do metrô levantando seu vestido em O Pecado Mora ao Lado é um dos momentos icônicos do cinema. Seu sorriso de boca aberta (que Shelley Winters diz que lhe ensinou) foi sua marca registrada. Seu corpo tipo violão hoje é descrito como gordo, o que eu considero uma piada.
Com sua beleza, inocência, e voz infantil, Marilyn fez enorme sucesso. Mas, como costuma acontecer com astros que ficam presos a um só papel, ela queria mais. Não se sentia bem sendo apenas uma deusa do sexo e atriz do que hoje talvez fossem vistas como comédias românticas. Ela desejava ser levada a sério, não ser pintada como loira burra. Queria um Oscar, e sabia que a academia raramente premia comediantes. Teve aulas no lendário Actor's Studio. Fez um filme dramático, Os Desajustados, com roteiro do seu então marido Arthur Miller, célebre dramaturgo e autor de obras-primas como A Morte do Caixeiro Viajante. Desajustados, o drama de 1961, parece amaldiçoado -– foi o último filme não só de Marilyn, como também de outros dois ícones, Clark Gable e Montgomery Clift.
As coisas mais recentes que vi e li sobre Marilyn foram três. Primeiro, vi o simpático Sete Dias com Marilyn (veja trailer) que rendeu a Michelle Williams, viúva de Heath Ledger, algo que sua personagem nunca conseguiu: uma indicação ao Oscar. O filme mostra um pouquinho do inferno que foi a viagem de Marilyn a Londres em 57, para filmar O Príncipe Encantado. Tinha tudo para ser um encontro eletrizante entre um grande sex symbol e um dos maiores atores de todos os tempos, Laurence Olivier. Mas Laurence, que era produtor, diretor e protagonista de Príncipe, odiou trabalhar com a estrela americana. Sete Dias faz parecer que o desncontentamento foi menos pelos atrasos constantes de Marilyn e mais por ela ter trazido sua treinadora particular de atuação.
Laurence, inglês, achava ridículo o “Método” de interpretação que prega que os atores devem vivenciar seus personagens. Em sua deliciosa autobiografia, ele escreve que acompanhou um dos rituais para elevar a autoestima de Marilyn. A treinadora dramática levava horas dizendo pra atriz, segundo Laurence: “Você é a maior mulher de nossos tempos, o maior ser humano de sua época; aliás, de qualquer época; não dá pra pensar em mais ninguém com a sua popularidade, nem mesmo Jesus".
A segunda coisa que vi sobre Marilyn foi um artigo na Vanity Fair de junho, assinado por Lawrence Schiller, que fotografou a estrela em duas ocasiões, inclusive em Something's Gotta Give, filme nunca terminado. Nem dá pra chamar Schiller ou o assistente de Sete Dias de oportunistas -– se você tivesse passado cinco minutos com a maior lenda do cinema, não escreveria um livro contando cada detalhe?
Schiller diz o que todos que conviveram com ela dizem: que nunca houve alguém que a câmera amava mais. Marilyn sabia perfeitamente quais eram seus melhores ângulos, suas melhores poses. Mas durante as filmagens de Something ela estava de mau humor, sentindo que o estúdio com quem tinha contrato (Fox) não a respeitava. Anos antes, quando ela havia feito Os Homens Preferem as Loiras, recebeu apenas 15 mil dólares, enquanto sua colega Jane Russell foi paga 200 mil. Quase uma década depois, Marilyn continuava ganhando menos que outras estrelas. Enquanto fazia Something, recebia 100 mil. Elizabeth Taylor fazia Cleopatra pelo salário de um milhão de dólares, uma nota preta em 62.
Foi por causa da atenção que o estúdio e a mídia davam a Elizabeth que Marilyn dedidiu ousar mais em Something. O roteiro dizia que ela deveria nadar numa piscina, se exibindo para Dean Martin, que a observaria de sua varanda. E que ela deveria aparentar estar nua. Para conseguir publicidade, Marilyn saiu nua de verdade da piscina. Algumas dessas fotos foram depois vendidas para a Playboy. Mas não adiantou. Havia um grande desgaste entre o estúdio e a estrela, que era campeã em falta de pontualidade. A Fox aproveitou que Marilyn havia viajado pra Washington, sem autorização, pra cantar a famosa Happy Birthday, Mr. President para seu amante John Kennedy (ano que vem fará meio século que ele foi assassinado; será um auê), e a despediu. Tolinho, o estúdio. Pense só quanta publicidade grátis gerou a voz sedutora da atriz desejando feliz aniversário pro JFK.
Schiller foi à casa de Marilyn um dia antes da morte dela, para fechar a venda das fotos do filme para a Playboy. Ela não tinha certeza se queria. De acordo com ele, a estrela disse: “Ainda é sobre nudez. É só pra isso que eu sirvo? Gostaria de mostrar que posso conseguir publicidade sem expor minha bunda ou ser demitida das filmagens”. Menos de 24 horas depois, ela estava morta.
Tudo indica que ela falou com Peter Lawford (ator e membro do Rat Pack e cunhado de JFK) pelo telefone na noite do dia 4 de agosto. Seu ex-marido Joe DiMaggio também havia ligado. E os boatos juravam que Bobby Kennedy, irmão do presidente (dizem que ambos estavam tendo um caso com ela), havia estado lá. Mas o fato é que ninguém sabe o que aconteceu, se foi a CIA que a matou como queima de arquivo, se foi suicídio, se foi uma overdose acidental com uma mistura de remédios. Creio mais nessa última hipótese. É só ver o bando de gente jovem que tem morrido dessa forma recentemente -– Heath Ledger, Michael Jackson, Amy Winehouse, Whitney Houston. 
A terceira coisa que vi sobre Marilyn foi o episódio nove da segunda temporada de Mad Men, excelente série sobre o mundo da propaganda em NY nos anos 60. Marilyn não é um personagem da série, mas durante alguns episódios os publicitários separaram todas as mulheres da América em Jackie (Kennedy) e Marilyn. E aí Marilyn, jovem, linda, bem-sucedida, desejada pelos homens e copiada pelas mulheres (o que Don fala de Ann Margret –- “todos os homens a querem, todas as mulheres querem ser ela”), aparece morta. É uma comoção geral no escritório. Quase todas as secretárias choram pelo triste destino da ídola.
Cinquenta anos depois, paramos de chorar. Mas Marilyn ainda representa um enigma que não conseguimos decifrar.
 

quinta-feira, 26 de agosto de 1999

JUSTA HOMENAGEM A UM MITO SEXUAL DO CINEMA

Ciclo de filmes de Marilyn Monroe exibe clássicos da diva mas deixa de fora algumas obras marcantes

Nesta semana, a Globo faz uma justa homenagem à Marilyn Monroe. Ótimo, outro dia tinha sido ao Al Pacino e Audrey Hepburn, agora só falta mudar o horário (a gente precisa mesmo daquela sessão de Intercine antes?) e escolherem melhor os filmes. Não que sejam ruins, longe disso, apenas não são os mais representativos. No caso de Marilyn, boas opções ficaram de fora.

Dos que foram programados, o único imprescindível mesmo é O Pecado Mora ao Lado, uma comédia interessante que, em inglês, leva o título original de The Seven Year Itch, ou "o comichão dos sete anos", que é o que aparentemente acontece com os homens após um certo período no casamento. Para trair sua esposa, o protagonista escolhe sua bela vizinha. Como a direção é de Billy Wilder, um dos grandes, o filme tem certa classe. E é fundamental porque inclui uma cena que entrou na memória da cultura pop - aquela, do vento do metrô levantando a saia de Marilyn.

Na verdade, apenas um dos filmes que Marilyn encabeçou tem status de obra-prima. É Quanto Mais Quente Melhor (1959), também de Wilder. Este título faltou na retrospectiva global, mas pode ser apreciado em vídeo. Conta a história de dois músicos desempregados, finamente interpretados por Jack Lemmon e Tony Curtis, que testemunham um massacre da máfia e têm que fugir da cidade. Para isso, disfarçam-se de mulher e integram uma banda feminina. Marilyn, óbvio, faz parte do grupo, e Curtis se apaixona por ela. A comédia traz ainda uma fala clássica, quando Lemmon tira o disfarce e dá seu motivo definitivo para não se casar com um homem, e ouve em troca: "bom, ninguém é perfeito". A propósito, apesar do resultado final, Wilder declarou que sua parceria com Marilyn "foi como ter trabalhado com Hitler".

Todos os diretores que se juntaram à Marilyn nos seus últimos anos foram unânimes em sua condenação à estrela. Que o diga John Huston, que dirigiu o filme final de Marilyn, Os Desajustados (1961), outro que certamente deveria fazer parte da homenagem. Marilyn chegava atrasada ao set todos os dias, às vezes bêbada ou drogada, tinha crises, não memorizava suas linhas. As filmagens se arrastaram por tantos meses, e o desgaste físico e mental fora tanto, que Clark Gable teve um ataque cardíaco e morreu logo depois. Muitos culpam Marilyn.

Outra obra significativa de Marilyn é O Príncipe Encantado (1957), um conto de fadas sobre um nobre que cai de amores por uma corista. A comédia não tem nenhum encanto especial a não ser marcar o encontro do maior símbolo sexual com o maior ator deste século: Laurence Olivier (é ele ou Marlon Brando, não tem jeito). Sir Olivier, em sua autobiografia, descreve como seu deslumbramento inicial por Marilyn descambou para uma repulsa total por causa de seu anti-profissionalismo (o dela). Marilyn, embora ciente do seu efeito sobre os homens, era extremamente insegura quanto ao seu talento. Por isso, precisava de uma "treinadora dramática", cuja função era convencê-la de sua importância. Olivier ouviu um desses monólogos: "você é a maior mulher de nossos tempos, o maior ser humano de sua época; aliás, de qualquer época; não dá pra pensar em mais ninguém com a sua popularidade, nem mesmo Jesus". Este ritual durava horas.

Marilyn morreu sob circunstâncias misteriosas (a CIA a matou? Os Kennedy? Fidel? Ou foi suicídio por meio de uma overdose?) em 1962, aos 36 anos. Foi uma formidável atriz cômica, como pode ser conferido em seus filmes.