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sábado, 16 de maio de 2009

BORDOADAS CARINHOSAS PARA CRÍTICOS DE CINEMA

Ataque dos clones

A crônica abaixo eu escrevi há uns sete anos, pelo menos. Talvez mais. Acho que vem a calhar com o que falei ontem, sobre como escrever resenhas críticas, que é o que tentei ensinar no estágio da sexta série. E também porque fiquei chateada com o que me aconteceu esta semana. Estou quase terminando o doutorado, você sabe. E gostaria muito de dar aula em alguma faculdade no semestre que vem. Numa entrevista, ouvi que há resistência ao meu nome por causa das minhas críticas de cinema. Pode isso? A pessoa disse que minhas críticas não têm teoria. Eu quis saber qual crítica de cinema pra jornal tem teoria, já que não há espaço ou público pra isso. Então ela disse que eu me exponho demais no que escrevo. Pô, quer dizer que onze anos de uma coluna semanal num jornal de grande circulação em SC contam contra mim, não a favor? Fiquei sem compreender qual a resistência contra a minha contratação: o meu estilo nas críticas, que certamente é fora do comum e não agrada a todo o mundo, ou meu estilo de me declarar abertamente feminista e de esquerda. E às vezes sou ingênua: eu pensava que era bom escrever de um jeito diferente. Agora me dou conta que bom é ser igualzinho aos outros, indistinguível. Um clone.
De qualquer
jeito, concordo com o Matt Groening. E ueba, encontrei o cartoon! (quem sabe você prefira ler a crônica abaixo antes, pra entender do que diabos estou falando).Cartoon do Matt sobre críticos (clique para ampliar).

Pouca gente sabe, mas, além dos oito leitores destas minhas crônicas, também tenho outros cinco por causa do Anexo, onde escrevo sobre cinema. Se eu sei somar direito, isso dá um total aproximado de 13 pacientes leitores! Um recorde! Claro que os leitores daqui não são os mesmos das críticas cinematográficas, o que é facilmente explicável – se já é difícil me aturar em um espaço, em dose dupla deve ser impossível.
Eu entendo. Bom, toda essa lenga-lenga é só pra introduzir que li na internet um cartum chamado "Como ser um crítico esperto de cinema", do Matt Groening, criador dos Simpsons. O desenho é muito fofinho e feroz. Atira pra todos os lados. Eu me identifiquei em várias questões. Uma delas é: "Você está qualificado pra ser um crítico inteligente? Você saliva com o prospecto de gastar uma carreira inteira escrevendo análises profundas de filmes para semi-analfabetos de 15 anos?". (A tradução é minha, sorry). Ah, antes de me mandarem ameaças de morte, esclareço que a opinião sobre a habilidade de leitura dos adolescentes é do Matt, não minha. Pois é, mergulhar em interpretações complicadas ao enfocar os filmes atuais já parece uma piada, e tem crítico (e público) que não se dá conta disso. Aí os experts enchem seus textos de jargões para esconder que eles estão tratando de uma porcaria qualquer. Porque, se a gente pensar bem, a produção cinematográfica de hoje está abaixo (ou acima, sei lá) da crítica. Até parece que o teen que vai ao cinema com sua turma pra ver Scooby-Doo está preocupado com o que um crítico vai achar da sua diversão. Pros profissionais da erudição, o Matt tem uma pergunta: "Só para críticos avançados: você consegue usar a palavra mise-en-scène num texto que alguém lerá até o fim?".
E, finalmente, Matt, o demolidor, encerra com mais uma provocação: "Se você não pode ser um crítico de cinema, talvez você possa ser um desses histéricos que escrevem cartas iradas para críticos inteligentes". Ui! Doeu!

quinta-feira, 27 de março de 2008

PROSTITUTOS DE CITAÇÕES

Ueba! Vamos ver quem fala melhor de um filme?

Stephen King tem uma coluna quinzenal (ou mensal?) na Entertainment Weekly, e as duas, coluna e revista, costumam ser bem fraquinhas. Na da semana passada ele começou mostrando seu enorme bom gosto ao dizer que adorou Jumper. Se alguém não entendeu a ironia, permita-me um esclarecimento: o King é aquele que acha O Iluminado do Kubrick um terror vazio que não assusta. Prefere sua versão pra TV, que é uma bomba. E ninguém em sã consciência, fora a mãe do Doug Liman (que dirigiu também Sr. e Sra. Smith, eca, e Identidade Bourne, oba), pensa que Jumper é uma maravilha. King ia redigir uma crítica sobre o filme, mas houve um certo conflito de interesses, já que o produtor do troço é um dos vários agentes do escritor. Então ele decidiu escrever apenas um blurb, uma citação pra ser colocada no pôster e anúncios, dizendo “This movie rocks!” (“Este filme é o máximo!”), assinado Stephen King, o que não é pouca coisa, porque o nome tem peso. Ok. O que me chamou a atenção foi que King revela ter redigido citações pra somente três ou quatro filmes na vida, e só pra produções que ele ama de paixão. Mais uma pra notória lista do mau gosto do escritor: você elogia publicamente quatro filmes na vida, e Jumper é um deles?! (minha crítica sai amanhã).

Mas o assunto polêmico das citações é atraente. Como vários filmes são lançados toda semana nos EUA, os estúdios precisam destacá-los. Iludem-se que críticos ainda têm algum poder de persuasão, e põem suas citações nos anúncios. O que a gente vê vai de elogios genéricos (como o do King – daria pra falar isso de qualquer filme) a besteiras monumentais como, só pra ficar num exemplo recente, escrever “uma das melhores duplas da história do cinema” pra... Na Hora do Rush 3 (nem me pergunte quem é a dupla, que eu não sei, mas deve ser tão importante como Ginger e Fred)!

Os críticos mais sérios e respeitados odeiam aqueles que emprestam seu nome pra todo e qualquer filmeco. Tanto que criaram um termo pra esses críticos de segunda categoria, quote whores (prostitutos de citações). A gente nem tem certeza se esse pessoal realmente comenta um filme ou só entrega algumas palavrinhas-chave pros estúdios. E ninguém sabe o que eles recebem em troca. Será que tem dinheiro na jogada (vulgo jabá), ou apenas benefícios, como entrevistas exclusivas com os astros? Difícil saber, já que trata-se de um assunto tabu. Mas a linha que separa os críticos “sérios” dos críticos “de aluguel” (há boatos que alguns deles nem existem, são só nomes inventados pelos estúdios) é tênue. Por exemplo, o Peter Travers é crítico da famosa revista Rolling Stone há anos. Ele escreve direitinho e faz algumas, não muitas, análises mais inspiradas. É também um dos grandes quote whores americanos. Até uma altura de sua carreira, ele tentava se defender. Dizia que era boa publicidade pra revista ter o nome divulgado em anúncios e pôsters. Agora que sua assinatura virou até prêmio dado aos Prostitutos do Ano, ele não fala mais sobre isso.

Francamente, quem se deixa influenciar por frases soltas que vêm no próprio anúncio do filme? E será que algum dia eu terei uma citação minha publicada? (meus detratores diriam que pra isso eu precisaria falar bem de algum filme). Ah, pena que O Nevoeiro (baseado num conto do King, que mundo pequeno) esteja indo direto pra DVD, sem passar pelo cinema. Eu já tinha até uma citação preparada: “O Nevoeiro (The Mist) é um misterpiece, uma obra-neblina”. Tá bom, tá bom, trocadilho infame. Mas as citações publicadas são ultra-infames!

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

MUITO PIOR SEM ELE

Ai, ai, parece que a transmissão do Oscar teve sua pior audiência da história! Pelo menos aqui nos EUA, apenas 32 milhões de pessoas (num universo de 300 milhões) ligaram a TV pra ver a Tilda Swinton fantasiada de bruxa ganhar atriz coadjuvante. Isso é muito pouca gente. Claro, existe um pessoal pra quem o Oscar tem tanta importância como o Superbowl tem pra mim. Mas eu fiquei surpresa quando, na semana passada, falei com uma americana que adora filmes, que vai ao cinema quase toda semana, e ela me disse não ter respeito algum pelo Oscar. É verdade que ela também contou que não ligava a TV durante o semestre acadêmico, o que me fez automaticamente pensar “Minha ídola!”. Mas se uma mulher que adora cinema não assiste à entrega do Oscar, certamente não é o adolescente que vê “Cloverfield” que vai ficar quatro horas em frente à TV vendo um desfile de alta costura.

Como o Oscar é, obviamente, parte da indústria pra promover filmes e render lucros vendendo espaço caríssimo pra comerciais durante a transmissão, essa queda contínua no Ibope preocupa. Parece que a última vez que a cerimônia teve um bom público foi em 2004, quando “Senhor dos Anéis 3” varreu os Oscars. Antes disso, só em 1998, com aquela vitória arrasadora de “Titanic”. Ou seja, o Oscar só chamou mesmo a atenção e virou um fenômeno cultural quando premiou os arrasa-quarteirões mais queridos da platéia. Por isso, muita gente defende que a Academia indique apenas filmes rentáveis. Se fosse esse o critério, entre os cinco nomeados, só “Juno” entraria. Não importa que “Onde os Fracos Não Têm Vez”, “Sangue Negro” e “Desejo e Reparação” sejam muito superiores a “Juno”. Só a comédia com a adolescente grávida arrecadou mais de 100 milhões nas telonas dos EUA. Os outros foram bem entre os críticos, mas qual a importância da crítica hoje em dia? Passou o tempo em que a Pauline Kael elogiava uma obra e isso bastava pra que o público comparecesse ao cinema, como ela fez com “Bonnie & Clyde – Uma Rajada de Balas”, por exemplo. Naquela época, um filme ficava meses, às vezes anos, em cartaz. Dava tempo do crítico recomendar o filme, amigos comentarem, e uma produção encontrar seu público. Hoje o filme precisa se pagar no seu final de semana de estréia.

Infelizmente, se Hollywood ainda faz alguma coisa que se salva entre os mais de 400 filmes que lança por ano, é por causa do Oscar. Pra quem gosta de cinema com alguma qualidade, dezembro é o mês pra se ver filmes nos EUA, porque é aí que são lançados os “oscarizáveis”. O resto do ano é um deserto. Se não fosse o Oscar, teríamos atrocidades como “Norbit” e “Transformers” (só pra citar dois filmes que foram indicados!) durante doze meses ininterruptos. E o “teríamos” inclui o resto do mundo. 90% das salas de cinema no planeta são ocupadas por filmes americanos. Hollywood conseguiu sua dominação internacional, e em seguida se encarregou de matar o cinema. Com tanta predominância, pode passar o lixo que quiser. Só o Oscar ainda segura as pontas. Bem ou mal, o Oscar é a última consciência do cinema americano.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

TÔ NO CLUBINHO!

Por que alegria de pobre dura tão pouco? Ontem fiquei com um sorriso de orelha a orelha, porque finalmente uma empresa de marketing me contatou. Calma, Bete, calma (gostei, Marla!), deixa eu explicar. Descobri, em novembro, muito por acaso, que os press screenings (exibições de filmes pros jornalistas) aqui em Detroit acontecem logo nos cinemas que eu mais frequento, em Birmingham, subúrbio de Detroit. Apesar da distância, é relativamente fácil chegar de ônibus a essas salas. Assim que descobri, tentei falar com gerentes, mandei emails, e nada. Como é duro falar com alguém em carne e osso por aqui! Só tem máquina atendendo telefone. Mais de um mês depois, uma boa alma decidiu responder uma das minhas mensagens, e me passou um outro número. Liguei várias vezes. Só no fim de janeiro consegui me comunicar com um humano. Expliquei a situação – que sou uma crítica de cinema do Brasil, temporariamente nos EUA, e que gostaria de ser convidada aos screenings. A mulher me enviou um email pedindo montes de dados, como circulação do jornal (mais ou menos 30 mil por dia do A Notícia), endereços, editoria, etc etc. Esta semana ela me disse que meu nome havia sido aprovado e iria ser incluído no Detroit Press List. Ueba! Tá, o que eu pensava? Pensava que as exibições seriam pela manhã, com sorte aos sábados, sempre em Birmingham, e que eu conseguiria levar o maridão sem que ninguém notasse. Não é bem assim. Logo em seguida chegou um outro email com a lista dos filmes que vão estrear aqui durante o mês. Eu tenho que comunicar quais desses filmes desejo ver. Enfim, há outras salas de cinema envolvidas (mais distantes; já fomos, e o transporte público até lá não é bom), geralmente as exibições são à noite, em dias de semana, e não sei se terei sucesso em entrar com o maridão escondido embaixo do meu casacão. E tem mais: quase sempre que vamos ao cinema, aproveitamos pra pegar dois filmes. Com os screenings vai ser bem a conta-gotas mesmo. Será que vale a pena?

Tem uma parte promissora, ainda a ser conferida: eu serei informada das entrevistas à imprensa que acontecerem por aqui. Desconheço se as campanhas de divulgação dos astros chegam a Detroit. Sei que o diretor e a roteirista de Juno deram coletivas aqui em dezembro, porque foi um carnaval, dessas coisas que seriam humilhantes pros críticos, se eles tivessem simancol. Por exemplo, um crítico babou em cima dos dois, não parou de falar que Juno era o filme mais lindo e maravilhoso e importante do século, que seria lembrado por gerações e gerações... Até o Jason Reitman e a Diablo Cody acharam que o carinha tava exagerando. Imagino que esse tipo de deslumbramento desenfreado deve acontecer o tempo todo, não só aqui em Detroit. Só fico pensando quem me faria perder o controle, pedir autógrafo, pular no cangote... Alguma sugestão?

domingo, 30 de novembro de 2003

LIBBY NÃO EXISTE

Fora a Pauline Kael, minha crítica favorita tem nome e sobrenome: Libby Gelman-Waxner. Desde 87 ela assina uma coluna absolutamente hilária na "Premiere", que é, lógico, o único bom motivo para se ler a revista americana. Só tem um problema: ela não existe. Parece que é o pseudônimo de Paul Rudnick, roteirista de "Será que ele é?". Bom, isso nunca me incomodou. Passei anos desconfiando que a Libby não poderia ser uma pessoa real, e ainda assim saboreando cada uma de suas palavras. Ela é minha inspiração. Ela entende que, numa época em que os filmes se tornaram superficiais, não tem sentido analisá-los como se fossem obras de arte. A maior parte dos críticos, por não ter mais o que analisar, contentou-se em resumir histórias. E dá-lhe texto sisudo e sem um pingo de criatividade dissecando, sei lá, a carreira do Eddie Murphy. Pra Libby, qualquer coisa com ar condicionado já é uma obra-prima.

E o que faz a Libby tão especial? Acima de tudo, o senso de humor e a recusa em se levar a sério. Ao contrário dos outros críticos, ela não tenta impressionar seus leitores com um conhecimento ilimitado sobre cinema. Ela sabe que é fútil, egocêntrica, maldosa – e irresistível. E ela tampouco incorre em outro defeito dos resenhistas, que é subestimar a inteligência alheia e explicar tintim por tintim. Ou o leitor entende as referências e o típico humor gay/judaico de Libby, ou dança. É por isso que ela tem tantos admiradores quanto detratores. Pelo menos uma vez por ano, ela reserva uma coluna pra comentar as cartas que recebe. Diz que fica comovida que tantos leitores se dêem ao trabalho de lhe mandar uma mensagem no meio de suas sessões de eletrochoque. Um leitor escreve que seu cachorrinho estava engasgado, mas ele lhe mostrou um artigo da Libby e o cão vomitou na hora. O comentário da Libby: "e eu não recebo nem um obrigado por salvar uma vida?". Uma moça chamada Jennifer a manda ler intelectuais franceses, "Cahiers du Cinéma", para aprender a criticar. Libby responde: "E tudo isso vindo de uma Jennifer". Claro que também jorram mensagens apaixonadas e prêmios.


Nos artigos, Libby quase sempre fala do marido, um ortodontista de meia-idade, e de seus filhos. Em várias ocasiões, ela pede pra sua mãe redigir a coluna, ou sua psiquiatra, ou sua melhor amiga... Por exemplo, para falar de como o cinema trata as mães, a mãe de Libby pretende escrever um livro com o título "Hollywood, Vá já para o seu quarto!". Vejamos o que Libby tem a dizer sobre alguns assuntos. Desculpe a tradução meio capenga, que é minha.


Sobre Michelle Pfeiffer: Meu marido me disse que, se ele tivesse que escolher entre eu e a Michelle, ele me daria um divórcio generoso e me deixaria ficar com o apartamento.


Sobre cinema: Cinema é sobre o quanto Dennis Quaid e Daniel Day-Lewis me desejam intimamente, mas como sou casada, eles só podem expressar seu tesão tirando a roupa nas telas e rezando para que, em algum lugar, eu esteja vendo.


Sobre Daniel Day-Lewis: Daniel é como o Laurence Olivier com genitais.


Sobre Sharon Stone: Em "Invasão de Privacidade", Sharon não quer ir à academia porque ficaria envergonhada com todos aqueles espelhos; isso vem de uma mulher que já teve câmeras nos lugares em que a maior parte de nós mal teve maridos.


Sobre Jim Belushi: Minha filha me pediu pra explicar a carreira do Jim Belushi. Falei que Jim tinha um irmão muito famoso chamado John que morreu e que o governo paga as empresas que fazem filmes pra contratar o Jim, como uma espécie de memorial.

Sobre fortuna: Noto que, depois que um diretor ganha seus primeiros 50 milhões de dólares, ele geralmente faz um filme sobre como é difícil ser uma alma sensível.


Sobre Elisabeth Shue em “Despedida em Las Vegas”: Elisabeth é muito talentosa, mas ela é a imagem que meu marido faz de uma prostituta, ou seja, uma loira maravilhosa que te ouve atentamente, te traz lanchinhos, te idolatra, te beija na testa e te põe pra dormir.


Sobre "Pescador de Ilusões": "Pescador de Ilusões" é para o público que achou "Campo dos Sonhos" sarcástico demais. No filme, Jeff Brigdes e Robin Wiliams tiram toda a roupa à meia-noite no Central Park, deitam-se no chão e olham as estrelas. O filme faz disso um ato de liberação mágica, mas os atores ficam se contorcendo para evitar nudez frontal, o que tira um pouco da magia. (...) Queria que passassem uma lei federal com estatutos sobre o que o Robin Williams deveria ser proibido de fazer na tela: 1) sorrir enquanto chora; 2) Abraçar um outro homem, que fingirá estar envergonhado; 3) tirar suas roupas como ato de liberdade.


Ainda sobre o pobre Robin Williams: Robin está ficando tão carinhoso que logo os únicos papéis disponíveis pra ele serão de Papai Noel ou Coelhinho da Páscoa.


Sobre sexo selvagem nos filmes: Se um carinha quisesse fazer sexo selvagem comigo, eu lhe diria a mesma coisa que digo a minha filha de sete anos quando ela insiste em ganhar um brinquedo ultramoderno: querida, se você ainda quiser isso daqui a um ano, aí veremos.


Sobre filmes de época: Já notou como Inglaterra e Estados Unidos são bons em coisas diferentes? Por exemplo, os ingleses são bons em fazer filmes de época densos e inteligentes, e os americanos são bons em boicotar esses filmes.


Sobre Lassie: O roteirista deve escrever como se todos os astros fossem a Lassie. Lassie não podia falar, atuar, ou agir de qualquer forma humana – ela é o modelo para os maiores astros de hoje. Imagina se ela tivesse chegado pro seu agente e falado, Ó, no meu próximo filme, quero fazer um réptil.


Sobre o merchandising abusivo da FedEx em "Náufrago": Esse tipo de posicionamento de produto é irritante. Fiquei imaginando o que aconteceria se o Tom Hanks trabalhasse pra O.B.


Ainda sobre "Náufrago": O filme nunca mostra o que o Tom Hanks faz relativo a sexo na ilha, e fiquei esperando que ele começasse a encarar aquela bola de vôlei de modo estranho e talvez lhe pagasse uma bebida.


Sobre "Babe, O Porquinho Atrapalhado": Depois de um tempo de “Babe”, senti como se uma nuvem de fofura radioativa houvesse coberto a Terra.


Sobre "Formiguinhaz": "Formiguinhaz" é como "O Triunfo da Vontade" passado no esgoto. ["O Triunfo da Vontade", para quem não sabe, é tido como propaganda nazista].


Sobre reviravoltas no roteiro: Adoro histórias com reviravoltas, tal qual "Édipo Rei", onde o herói acaba descobrindo que matou seu pai e casou-se com a mãe – ouvi dizer que a Disney está preparando uma refilmagem em forma de musical que se chamará "Ooops!".


Sobre "Proposta Indecente": Woody Harrelson dá uma palestra mostrando que até um tijolo pode aspirar ser mais que um tijolo – o que, imagino, explica o que Woody está fazendo como astro de um filme. (...) Demi Moore volta de manhã, após dormir com o Robert Redford por um milhão, e você espera o Woody gritar Yupi! A gente tá rica!, e a Demi perguntar, a gente?!


Sobre filmes populares: "Ghost" e "Uma Linda Mulher" representam típicas fantasias femininas – uma hora ou outra, toda mulher sonha em ser uma prostituta casada com um milionário, ou ser uma mulher cujo marido morreu.


Bem, agora que meus leitores conhecem um pouquinho da Libby, tomara que me entendam melhor. A diferença entre eu e ela, fora o talento, é que eu sou de carne e osso (muito mais carne do que osso, e tenho dúvidas se ainda tenho osso, mas...).

segunda-feira, 26 de novembro de 2001

O PAPELÃO DA CRÍTICA

Eu já venho querendo escrever isso faz tempo, muito antes do virulento e, perdoe-me dizer, insignificante ataque que recebi na semana passada. Não vou perder tempo respondendo a alguém que cita a "Veja" como referência principal ou que se descabela por eu ter falado mal de um caríssimo filminho infantil que precisa de tudo, menos de defensores. Para este senhor, meu artigo deveria haver-se baseado na parte técnica da super-produção, nos 900 músculos (nenhum no cérebro, imagino) de "Shrek". Não posso levar isso a sério. Só vou parafrasear o que o lascivo Kevin Spacey diz à adolescente em "Beleza Americana": "você gosta de... músculos?".
O que eu queria mencionar, como alguém que redige resenhas de filmes há três anos e meio e que aprecia o contato com seu minguado público, é o papel da crítica. E, para tanto, devo analisar o que aconteceu com o cinema. É até lugar-comum decretar que ele morreu. Mas que o conceito de "sétima-arte" está definitivamente enterrado, isso não resta dúvida. Hoje, e já faz umas duas décadas, o cinema é apenas um caça-níqueis, uma indústria de entretenimento que visa faturar bilhões de dólares com espectadores cuja idade média é de 12 anos. Existem pouquíssimas produções destinadas ao público adulto, e menos ainda ao público adulto pensante. Mais ou menos em dezembro, Hollywood lança uma dezena de filmes que, com sorte, possam ser considerados "adultos" o suficiente para serem indicados ao Oscar. Enquanto isso, o resto do mundo sofre com um esquema massacrante de divulgação que elimina a produção caseira (uma das raras exceções é a Índia).
Pessoalmente, não acho que filme tenha que fazer pensar, que tenha que passar alguma mensagem, que tenha que ser "cabeça" ou arrastado. Se o cinema é entretenimento, que entretenha, ora. Mas aí vai a pergunta: quantas películas cumprem este nobre objetivo? E não cansa assistir a montanhas de filmes absolutamente iguais? É isso mesmo que queremos – um filme que fica um fim de semana em cartaz, some, e depois, quando sai em vídeo, não nos lembramos se já o vimos ou não?
Minha ídola é a Pauline Kael, que foi crítica do "New Yorker" por décadas a fio, e, quando se aposentou, no começo dos anos 90, declarou que a maior vantagem de parar de trabalhar era "nunca mais ter que ver um filme do Oliver Stone". Ela era brilhante e conseguia dissecar o cinema como ninguém. Em um dos livros que escreveu, ela conta que, nos anos 70, as pessoas iam até ela e diziam, com entusiasmo: "Puxa! Você é crítica de cinema?! Você assiste a todos aqueles filmes?!". Já na década de 80, com a sétima-arte em pleno declínio, as pessoas mudavam o tom: "Você é crítica de cinema? Você tem que assistir a todos aqueles filmes?".
E isso que a Pauline teve a sorte de discutir clássicos. Ela ainda pegou a fase de "2001", de "Apocalipse Now", de "Taxi Driver", de "Caçadores da Arca Perdida", de filmes com aquilo que a "Cahiers du Cinema" chamava de filmes de auteur. Hoje, nem se eu entendesse de arte como a Pauline, eu iria tentar imitá-la. Sobre o que eu iria escrever, se analisasse uma produção atual seriamente? Sobre o busto postiço da Angelina Jolie? Ou sobre a perfeição tecnológica das bolhinhas que aparecem n’água quando o Shrek solta um pum?
O cinema mudou, e é natural que a crítica cinematográfica mude também. Não posso ser sisuda comentando algo puramente mercadológico. O que é crítica atualmente? Os artigos dos analistas consagrados mais parecem press releases. Eles se limitam a resumir a estória, geralmente elogiando-a. Não há sequer opinião nos jornais ou revistas. Todos tratam de ser os "idiotas da objetividade" (dos quais falava Nelson Rodrigues), esforçando-se em agradar a unanimidade. Eu leio críticas de cinema. Se elas me influenciam na decisão de ver um filme? É lógico que não! Aliás, prefiro lê-las depois do filme, só pra comparar opiniões. E nunca tenho chiliques se a opinião do jornalista é diferente da minha, pois sei que é apenas isso: uma opinião. Não existe certo ou errado. Não dá pra pôr um xis na alternativa correta. Quando a crítica se leva demasiadamente a sério, ela deixa de cumprir seu papel, e transforma-se em papelão.
Talvez, e apenas talvez, um crítico se distinga ligeiramente do espectador comum porque 1) consegue expressar sua opinião (a maioria das pessoas só sabe balbuciar "gostei" ou "não gostei" quando lhe perguntam sua opinião sobre qualquer coisa); 2) teoricamente, viu mais filmes, leu mais, e conhece mais a história do cinema que o cidadão normal (o que, infelizmente, muitas vezes não ajuda em nada); e 3) recebe o ingresso grátis (eu só entrei neste seleto clube este ano).
Portanto, eu optei por adotar um estilo – alguns vão precisar procurar a palavra no dicionário, não tem problema, eu aguardo, é na letra "e", tá? Escrevo em primeira pessoa, sou 100% subjetiva e honesta, incluo a reação da platéia, procuro ser divertida. E, acima de tudo, despretensiosa. Não tenho a menor intenção de persuadir alguém a não ir ao cinema. Pelo contrário, quero mais é que o público aumente, que as pessoas saiam de casa e lotem as salas, mesmo que seja para ver filme ruim. Sou uma otimista, e acredito que, algum dia, os filmes melhorem. E não desejo que as salas se encontrem às moscas quando isso acontecer. Não subestimo a inteligência dos meus escassos leitores; creio que eles têm o direito e a habilidade de julgarem por si próprios. Fico feliz ao receber mensagens como "não gosto de cinema..." e "não concordo com você, mas gosto do que você escreve". Minhas críticas são mais crônicas do que críticas; sou mais cinéfila do que crítica.
Honestamente, eu poderia, sem grande esforço, imitar os outros críticos e redigir verdadeiros tratados sobre filmes sem nenhuma importância e me zangar quando uma aventureira (sem diploma de jornalista, ó céus!) zombasse de assuntos que só especialistas pretensiosos devem explicar. Mas, se eu fizesse isso, quem me leria?

A MORTE DO CINEMA

Alguém duvida que o cinema vive a pior crise de criatividade dos seus últimos (e primeiros, diriam os otimistas) cem anos? É incontestável. Hoje em dia, os filmes são todos iguais e fatalmente medíocres. Se você acha que estou exagerando, tente fazer uma listinha dos dez melhores que assistiu no ano passado. Difícil? Que tal preparar uma relação dos dez mais importantes dos anos 90? E das duas últimas décadas? Missão impossível, certo?
Pois é, para entender este caso direito antes de assinarmos o atestado de óbito, vamos voltar no tempo e tentar descobrir o que deu tão errado. Pra começar, vamos nos ater a Hollywood. Os filmes americanos tiveram inúmeros problemas, como o código Hays, que determinava que casais dormissem em camas separadas, o surgimento da televisão, e o macarthismo, a chamada caça às bruxas, que podou e marginalizou vários talentos. Acima de tudo, os estúdios eram comandados por chefões que não entendiam nada de arte. Toda a equipe envolvida - diretores, atores, roteiristas - era de aluguel. Se é que havia um dono do filme, este era sem dúvida o produtor. Os atores, por exemplo, eram contratados por um prazo de sete anos e, durante este período, tinham de obedecer às regras de seu contrato. Mas, mesmo assim, Hollywood prosperou e criou clássicos memoráveis. Até hoje, 1939 aparece como o ano mais inspirado da história, quando foram lançados "...E o Vento Levou", "O Mágico de Oz", "No Tempo das Diligências" e "Ninotchka", entre outros.
Obviamente, o sistema falido tinha seus dias contados. Tanto que, no início dos 60, enquanto os Beatles dominavam o mundo, enquanto a revolução sexual germinava, enquanto tínhamos a nouvelle vague, o cinema novo e o neo-realismo italiano, Hollywood ainda fabricava veículos para Doris Day. Isso alienou o público, que não se sentia representado nas telas, e as salas se esvaziaram.
Nesta época, surgiram os primeiros diretores saídos das faculdades de cinema. Com pouco dinheiro e muita inspiração, esta nova geração conseguiu usurpar o poder dos produtores, fazer o que quisesse e trazer o espectador de volta, e os anos 70 floresceram com brilhantismo. Foi a era de ouro de Coppola, Scorcese, De Palma, Bogdanovich, Friedkin, Altman, Ashby, Spielberg e Lucas.
Todos os diretores mencionados acima criaram grandes clássicos, o que ajudou a situar o cinema americano como a meca mundial da sétima arte. Seus filmes começaram a ser distribuídos em grande escala para todo o planeta. As maravilhas européias, antes tão cultuadas, perderam espaço e, estranhamente, soaram datadas. Roger Corman, o rei das produções B, argumenta que os europeus só ficaram na moda enquanto os americanos não ousavam. Ou seja, porque eram mais explícitos sexualmente. Jack Nicholson acredita que "Blow-Up - Depois Daquele Beijo", de Antonioni, fez o estrondoso êxito apenas por conter o primeiro nu frontal feminino já mostrado. E eles têm uma certa dose de razão.
Ironicamente, os mesmos que revigoraram Hollywood foram os responsáveis pela pioneira pá de cal. Em 1972, "O Poderoso Chefão" ganhou rios de dinheiro, gerou uma continuação (coisa raríssima então) e estabeleceu novos padrões de distribuição de salas. Antigamente, um filme podia estrear em poucos cinemas de cidades maiores, permanecer meses em cartaz e ir encontrando seu público. "O Chefão" foi o pai dos blockbusters, os arrasa-quarteirões, e provavelmente o único adulto nesta categoria.
Em 1975 veio "Tubarão", de Spielberg, o primeiro a investir pesado em comerciais televisivos. Isso significou o fim da importância dos críticos da mídia escrita, que antes realmente influenciavam a carreira de um filme. E, em 77, George Lucas deu sua cartada definitiva com "Guerra nas Estrelas".
Depois deste enorme sucesso, os estúdios passaram a querer que todo e qualquer filme apresentasse igual desempenho na bilheteria. "Guerra nas Estrelas" atingiu em cheio um público já infantilizado pela televisão, que começava a encarar o cinema puramente como entretenimento, nunca como fonte de reflexão.
O próprio Lucas admite que seu público-alvo era composto por crianças de 8 a 12 anos. A fronteira entre filmes adultos e infantis passou a ser tênue demais. Antes, a Disney se encarregava de divertir a meninada, e tudo que os pais tinham de fazer era levar a prole ao cinema. Depois de "Guerra nas Estrelas", todos os estúdios decidiram se dedicar ao mesmo tipo de cinemão - aquele com narrativas convencionais, sem a mínima ironia, com personagens unidimensionais e finais sempre felizes (inevitavelmente com o assassinato do vilão da forma mais cruel possível, já que não se pode confiar na justiça mesmo).
William Friedkin, diretor de "O Exorcista", resume o que aconteceu por causa de "Guerra nas Estrelas": "É como McDonald's. O gosto pela boa comida desapareceu". O filme despertou a ganância pelo merchandising e pelas continuações. Até hoje, sucesso que se preza tem que ter no mínimo uma seqüência.
Os produtores encontraram a desculpa que precisavam para encerrar o ciclo de poder dos diretores quando "O Portal do Paraíso" quebrou um estúdio. Em 1980, este filme que custara US$ 44 milhões faturou quase nada, e os executivos se aproveitaram para tomar as rédeas da situação.
Logo, a lógica mercantilista dos anos 80, que continuou em pleno vigor na década de 90, criou um lapso em matéria de arte. Mas não de lucro, evidentemente. Pauline Kael, a mais influente crítica americana, hoje velhinha e aposentada, revela que, nos 70, quando contava sua profissão, o interlocutor elogiava: "Pô, que legal. Você pode ver todos esses filmes!". Na década seguinte, com a mediocridade em voga, passaram a lhe perguntar: "Você é obrigada a assistir a todas essas drogas?!".
Atualmente, Hollywood é controlada por homens de negócios sem um único osso criativo no corpo. São altos executivos que nada tem a ver com cinema, e que poderiam trabalhar em qualquer indústria com a mesma eficiência. O filme tornou-se um mero produto, como outro qualquer. E, como tal, recebe o mesmo tratamento dado a um, digamos, chiclete. Antes do lançamento, é alvo de inúmeras exibições-teste para constatar se é exatamente aquilo que o espectador deseja. Se não for, não há problema. Muda-se o final aqui, corta-se ali, inclui-se mais uma cena acolá. Enfim, o cliente sempre tem razão.
Com os custos nas alturas, não se pode ousar. Tudo deve ser mastigadinho e sem a mínima inovação para não desapontar ninguém. Para tanto, contratam-se astros com cachês astronômicos, chamarizes de bilheteria. E voltamos ao tempo dos veículos para as estrelas. O raciocínio é: "Está na hora de mais um filme para o Schwarzenegger. O que temos?". Stallone não conta com tanto prestígio interno, mas continua recebendo altas quantias pelo dinheiro que faz no exterior (como aqui). Primeiro os americanos se encarregaram de arrasar com o cinema internacional, e depois atiraram no próprio pé.
Hoje o filme é bom se cabe num trailler. Portanto, qual a diferença entre saber a história em dois minutos ou em duas horas? Aliás, como geralmente não há história, os traillers se esforçam em editar e exibir ao estimável público todos os efeitos especiais. Como diz Spielberg: "Se alguém consegue me contar uma idéia em 25 palavras ou menos, esta resultará num bom filme".
Previsivelmente, Lucas se esquiva de qualquer responsabilidade: "Por que as pessoas vão ver as 'sessões-pipoca' se elas não são boas? Por que o público é tão estúpido? Isso não é minha culpa. Eu apenas compreendi o que o público queria ver, e fui naquela direção". Ele até crê que os arrasa-quarteirões, no fundo, sustentam as obras mais baratas. Lucas acha que, com os multiplexes (centros com mais salas), os exibidores necessitam de mais filmes, o que cede espaço aos independentes.
Como pode conferir qualquer um que vai a um multiplex, isso não é verdade. Seria ótimo se fosse. Se há dez salas, três mostram o hit do momento (geralmente uma aventura), outras três exibem arrasa-quarteirões menores, como uma comédia leve para o público feminino, ou um terror para adolescentes, e as salas restantes apresentam produções equivalentes, às vezes cópias fiéis. Nas palavras de Robert Altman, um sobrevivente, diretor de "O Jogador" e "Short Cuts - Cenas da Vida": "Nos multiplexes não há um só filme que uma pessoa inteligente possa dizer, 'ah, quero ver isso'. Tudo virou um parque de diversões. É a morte do cinema".
Pra piorar o que já estava péssimo, as produções independentes americanas também ficaram mais caras, mais profissionais, mais voltadas a nichos de mercado. Há a produção direcionada para os homossexuais, para as mulheres negras, para adolescentes hispânicos. A qualidade da maioria é duvidosa. Mas, por geralmente serem um tiquinho menos acéfalas que o cinemão, astros aceitam aparecer nelas, por prestígio. E aí esses filmes independentes tomam lugar do "cinema de arte", mesmo que não tenham nada a ver com arte. Isso sem falar que 90% das produções sem estúdio vão direto para vídeo ou TV a cabo. Elas passam longe do cinema.
Qual a saída? James Cameron, o diretor de "
Titanic" que deve agradecer a Deus diariamente pelas pré-adolescentes que legitimizaram que um filme pudesse custar mais de US$ 200 milhões, não vê muitas saídas. Para ele, as produções não podem voltar atrás, reduzir os efeitos especiais e, conseqüentemente, os gastos. Ele defende uma "solução" drástica: dobrar o preço do ingresso, pura e simplesmente. Segundo Cameron, o público médio vai ao cinema só umas duas ou três vezes por ano mesmo, e vem pagando barato demais por este lazer.
Eu concordo mais com Coppola, realizador de "O Poderoso Chefão" e "Apocalypse Now" (hoje lamentavelmente reduzido a um diretor de aluguel, caso de "O Homem que Fazia Chover"), que resume assim a situação: "Aqui estamos nós, vinte anos depois de 'Portal do Paraíso'. Diretores já não têm mais muito controle, executivos fazem somas escandalosas de dinheiro, e os custos estão mais fora de controle do que nunca. E não temos um clássico há dez anos".
Se "Titanic" houvesse afundado, o processo de reestruturação teria se acelerado. Mas o fim se aproxima. Basta o próximo espetáculo de 200 milhões não render o esperado e falir alguns estúdios. O jeito será, então, começar tudo de novo, ressurgir das cinzas. Mudar o sistema. Repensar a distribuição. Reencontrar o público. Enfim, voltar a fazer arte.