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segunda-feira, 15 de setembro de 2008

SHHHH, YOU BASTARDS!

Já falei das minhas experiências nos cinemas americanos. Quando morava nos EUA (até o final de julho), parei de ir a um com quatro salas perto da minha casa, no centro de Detroit, porque os espectadores falavam durante toda a sessão, e de nada adiantava eu fazer “shhhhh” ou gritar “vim aqui ouvir o filme, não vocês, you bastards!”. E não era um papinho discreto, com voz abafada. Eram casais tagarelando, às vezes até discutindo, em alto volume. Isso não acontecia por causa do público ser mais pobre. Não era que nas salas dos subúrbios os espectadores, com maior poder aquisitivo, fossem um modelo de virtude. A grande diferença era que nesse cinema do centro não havia iniciativa pra educar o público. Provavelmente os espectadores nem sabiam que não se deve agir assim durante um filme. Já as redes suburbanas realizavam amplas campanhas. Numa delas, um curta-metragem fofinho mostrava um bebê chorando, gente conversando, pessoas falando ao celular, e implorava: “Não acrescente sua própria trilha sonora ao filme”. Outras apenas pediam, num aviso na tela antes da sessão começar, silêncio absoluto e respeito aos espectadores. E o pessoal obedecia.

Um dia, pelo jeito, houve um grande auê num multiplex de subúrbio que nunca tinha ido. A rede decidiu comunicar à imprensa as medidas que tomou. Isso é o que consta até hoje no “Código de Conduta da Cortesia Comum”:

Dentro do auditório, ninguém deverá

- falar de forma que atrapalhe o público.

- utilizar telefone celular, mandar mensagens de texto, usar pager, Bluetooth, Gameboy etc.

- colocar o pé em qualquer parte do assento da frente ou do lado.

- chutar ou empurrar o assento de outro espectador.

- correr no cinema, entre as poltronas, nas escadas, ou no lobby.

- permitir que crianças pequenas chorem, se comportem mal, ou perturbem de qualquer forma.

- jogar chiclete em qualquer lugar que não seja a lata de lixo.

- trazer comida e bebidas que não forem compradas no cinema.

- gravar com qualquer equipamento o que está sendo apresentado na tela.”

O comunidado também explicava que os funcionários seriam treinados pra fiscalizar e fazer respeitar essas regras, e que o espectador que não as cumprisse seria “convidado a deixar o cinema”, sem reembolso do ingresso, e se não saísse, a segurança seria usada para colocá-lo pra fora. E pedia pra que os espectadores que não se sentissem aptos a respeitar essas medidas procurassem outra rede.

Certo, os dois últimos itens protegem os interesses da rede, não necessariamente do público. E as outras regras são tão lugar-comum, tão óbvias, que a gente podia pensar que vêm do berço. Mas os EUA são um país em que até regras ridiculamente óbvias precisam estar escritas. Por exemplo, nos dormitórios da universidade proíbem-se pets (gatos, cães, pássaros, etc), só abrindo exceção para aquários até um certo tamanho. Mas o regulamento precisa especificar: “piranhas não são permitidas nos aquários”. Porque deve ter tido doido varrido que colecionava piranhas, entende?

Mas a iniciativa desta rede eu só posso aplaudir de pé. Já passou da hora das redes brasileiras implantarem algo parecido. Tem toda uma nova geração de espectadores que não entende que cinema é lugar de silêncio. A tela gigante e o som alto são de propósito. É uma atividade passiva: você assiste e escuta, assim como noutras atividades em que somos espectadores e ouvintes (concertos, boa parte dos espetáculos teatrais). Não pode ser tão impossível ficar sem conversar com o amigo durante duas horinhas, pode? Claro que há filmes que pedem irreverência e reações da platéia, mas todos? Ah, eu quero campanha no Brasil. Pode até chamar de “Campanha pra que a Lolinha Continue Indo ao Cinema”.

domingo, 7 de janeiro de 2007

EXPERIÊNCIAS CINEMATOGRÁFICAS

Aqui em Detroit, como no Brasil, praticamente não há mais cinemas na rua, só multiplexes dentro de shoppings. E em Detroit mesmo só existem uns dois multiplexes, o resto fica nos subúrbios. Aqui não tem esse negócio de estudante pagar meia (só no cinema de arte do museu perto de casa, onde o ingresso normal custa US$ 7,50 e, pra estudante, 5). Mas a verdade é que até agora nunca pagamos mais de 7,50 por uma entrada. É que, por causa do transporte público limitado, e por não termos carro, só vamos às sessões da tarde, que geralmente são mais baratas. Depois das 6 acho que sobre pra 9 dólares. Claro que os cinemas ganham muito mais dinheiro vendendo pipoca e refrigerante do que ingressos. Uma vez tivemos que pagar 4 por um maldito cachorro-quente que era puro sal. Era isso ou sair do multiplex pra comer lá fora e depois ter que comprar um bilhete novo pra entrar.

Melhor explicar. Olha, juro que não somos desonestos nem nada. No começo, quando a gente pegava dois filmes direto, um depois do outro, até pagava por cada filme. Mas aí descobrimos que não havia ninguém pra recolher os bilhetes pra segunda sessão. E que as salas ficam todas no mesmo corredor. Só há um bilheteiro na entrada do multiplex, não na entrada de cada sala. Ou seja, querendo (e a gente quer), dá pra pagar somente um ingresso e passar a tarde toda no cinema, vendo quantos filmes quiser. Um amigo americano explicou que tem tão pouco louco que faz isso que não compensa pros multiplexes contratarem mais funcionários pra fiscalizar essa gentinha.

Algumas (poucas) redes tentam dificultar a vida do cinéfilo de um ingresso só. Elas não dizem em nenhum lugar o que tá passando em cada sala. Pra saber onde tá passando, por exemplo, “Eu sou a Lenda”, só comprando o bilhete. Ou entrando em cada sala pra ver, o que faço sem dor na consciência.

Umas redes promovem boas campanhas pra educar os espectadores. Antes do filme começar, passam desenhos animados pedindo pra que o sujeito desligue o celular e “não acrescente sua própria trilha sonora”, conversando com o colega de poltrona. Nesses multiplexes o público se comporta mais civilizadamente do que nas salas sem campanhas educativas. Quando fui ver “O Gângster”, vários casais conversaram animadamente durante toda a sessão. Não adiantou fazer “Shhhh” ou gritar “Eu vim aqui ouvir o filme, não vocês, you bastards!”. Mas, enfim, pelo menos aqui tem campanhas. No Brasil o copo de refrigerante do shopping diz no máximo “Fale baixinho”. Que falar baixinho o quê! Cinema não é lugar pra tagarelar. Isso já virou praga no Brasil. Aqui, pelo jeito, é uma praga que já foi pior, e que estão tentando combater.

Outra diferença interessante é que por aqui o público que vai ao cinema é mais velho. Pensei que fosse só adolescente, como no nosso país tropical, mas não. No Brasil costumamos ser os tataravôs da sala. Em muitas sessões daqui é o contrário. Às vezes somos até os mais jovens. Tá bom, tá bom, não vamos exagerar.


Cinema Mudo

A greve dos roteiristas em Hollywood, a primeira desde 1988, é muito séria e vai afetar o mundo do entretenimento. É indiscutível que os roteiristas têm razão. Eles querem subir o valor que ganham por DVD vendido (de US$ 0,04 pra 0,08) e, principalmente, colocar no papel um bom negócio pra quando os estúdios começarem a ganhar dinheiro pela internet – o que ainda tá longe de acontecer. Quando surgiu o vídeo, os roteiristas não imaginaram os lucros formidáveis que sairiam disso e fecharam um acordo ruim. Não querem que isso se repita com as novas tecnologias. Mas e as consequências? Graças à greve, os estúdios vão perder uma montanha de dólares. A televisão americana (e a cabo que chega pra gente), já a partir do ano que vem, será invadida por reality shows. Sem ninguém pra escrever os diálogos, vamos ficar com as besteiras que saem das bocas dos Big Brothers da vida. E não quero nem pensar em como será a cerimônia do Oscar, em fevereiro. Imagina os astros tendo que improvisar suas próprias piadinhas! O cinema vai sofrer, mas talvez só em 2009. Os estúdios ainda têm material pra desenvolver pro ano que vem. No entanto, como um longa demora em média três anos entre sua primeira fase, o roteiro, e o produto final, é altamente provável que falte filme em 2009. Se eu fosse um cineasta brasileiro, aproveitaria pra filmar agora e estrear o filme daqui a um ano e meio. A concorrência desleal vai baixar um monte.