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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

MADONNA E BASQUIAT NAMORARAM ANTES DA FAMA (DELA)

Hoje fiquei sabendo de uma curiosidade muito interessante.

No começo da década de 80, quando a megastar Madonna ainda era desconhecida, ela namorou com Jean-Michel Basquiat. Certo, nem todo mundo sabe quem foi Basquiat, então explico: foi um grande artista americano (apesar desse nome francês). Tem até um filme sobre ele, chamado... Basquiat (de 1996, veja trailer). Nessa época do namoro com Madonna ele ainda não ganhava em média o 1.4 milhão de dólares por ano que viria a receber com a sua arte nos anos seguintes, nem seus quadros valiam tanto (em 2017 um deles foi adquirido num leilão por US$ 110 milhões), mas ele já era muito famoso, com várias exposições. Lamentavelmente, Basquiat morreu jovem, aos 27 anos, em 1988, de overdose de heroína. 

Uma das anedotas (reais) dessa época é uma narrada pelo dono de galerias de arte Larry Gagosian. Em 1983 em Los Angeles, ele foi apresentado à namorada do artista. Basquiat  a apresentava assim: "O nome dela é Madonna e ela vai ser grande". 

Não se sabe muito sobre o relacionamento do casal (tem um curta-metragem sobre isso), mas em 2015 Madonna contou num programa de rádio que, quando se separaram, Basquiat pediu de volta todas as pinturas que tinha feito e lhe dado de presente. "É minha arte!", insistiu ele. E ela devolveu. Então ele pintou tudo de preto para se vingar pela separação. "Eu não devia ter devolvido os quadros", arrependeu-se depois a rainha do pop. Não mesmo!

A primeira retrospectiva da obra de Basquiat foi no Whitney Museum of American Art, em Nova York, em 1992. Uma das principais patrocinadoras foi... Madonna. Ela sempre disse que, quando fizesse seu primeiro milhão, iria comprar arte. E virou colecionadora. Hoje ela, que ajudou bastante a popularizar Frida Kahlo, tem um acervo de cerca de US$ 100 milhões.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

MINHA MÃE NÃO ACABOU UM QUADRO. VOU EMOLDURÁ-LO

Minha querida mãe, que morreu de câncer em março, sempre foi artista. 

Além das fotos (ela registrou lindamente toda a nossa infância, e inspirou meu irmão, que é fotógrafo profissional), ela pintava, desenhava, esculpia. Lembro de um quadro lindo (que infelizmente não ficou comigo e se perdeu) que ela fez. Era uma árvore em preto e branco, cada folha um pedacinho de nanquim. 

Quando ela foi morar em Joinville com a gente, fez vários cursos de arte na Casa de Cultura. Ela amava, e todo mundo a adorava. Aqui em Fortaleza não encontrou um curso, não sei se procurou direito, se foi desleixo meu. Ela fez durante anos muitos cursos de extensão (era presença assídua nos meus) na UFC, mas nada relacionado a artes. Mesmo assim, pintava de vez em quando, em casa. O maridão construiu um cavalete pra ela. 

O principal quadro que ela estava fazendo (foto acima) ela nunca terminou. Acho que ela o começou quatro ou cinco anos atrás. Ela queria colocá-lo na entrada da nossa casa, na garagem (uma área coberta, obviamente, mas que pode ser vista da rua). Pessoa prática que sou, sugeri que ela pintasse o número da nossa casa no canto do quadro. Ela achou minha ideia ridícula (o maridão também. Sou sempre voto vencido por aqui). 

Temos várias obras dela por aqui. Inclusive encontrei dois belos desenhos que eu nem me lembrava de ter visto. Vou emoldurá-los e pendurá-los em algum lugar de destaque. Mas eu sempre pensava naquele quadro inacabado. Pensava que alguém poderia acabá-lo, como uma forma de homenagem. Perguntei no Twitter agora à tarde se alguém de Fortaleza com veia artística forte se habilitaria. Muita gente respondeu carinhosamente propondo pra deixá-lo assim mesmo. Respostas bem comoventes!

Então vocês me convenceram! Também acho o quadro lindo do jeito que está. Vou emoldurá-lo e pendurá-lo, talvez não na garagem, por medidas de segurança, e também para preservá-lo por mais tempo, mais longe do sol. Mas será num lugar de destaque, na sala, bem na entrada. Quando fizer isso tiro uma foto pra vocês verem. Agradeço demais todas as respostas e a sensibilidade. Vocês são uns amores!

Este quadro ela fez em Joinville em 2009. É Shakespeare e eu. Não tenho foto do quadro acabado. Ela deu de presente pro meu orientador de doutorado, grande especialista em Shakespeare.

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

DIVA, OU POR QUE UMA VAGINA INCOMODA TANTO?

A artista plástica Juliana Notari construiu uma vagina de 33 metros na Usina Santa Terezinha, zona rural de Pernambuco. Com isso, está provocando a maior raiva da extrema-direita brasileira desde o QueerMuseu, em 2017. 

A instalação artística, feita à mão, chama-se "Diva", e é linda. Vermelhona, brilha. Chama muito a atenção. E sua autora está sendo trucidada nas redes sociais por conta desse destaque.

Tipo: alguma moralista de plantão reclamou: "cenário de filme pornô". Porque essa gente detesta filme pornô, né? Tem até incel marcando um "punhetaço" ao redor do "bucetão". "Vá em celibato para melhores efeitos", recomenda o cartaz. 

Olavão, o guru dos palavrões, escreveu num tuíte: "Por que estão falando mal da buceta de 33 metros em vez de enfrentá-la com um pirocão?" Pra variar, ele não é nada original. O que mais se vê nos comentários são menções a um pênis gigante, como se uma vagina não pudesse existir por conta própria, como se uma vagina não fosse nada, um vazio a ser preenchido por uma rola ou pelo corpo de um bebê (de preferência macho) saindo de lá.

A ideia da vagina como uma fenda na Terra não é exatamente uma novidade. Tampouco é a ligação da natureza com o corpo feminino. A arte de Juliana é uma vulva e uma ferida ao mesmo tempo. Como diz a artista, "Se fosse só a vulva, eu teria feito os grandes lábios, o clitóris. É uma ferida também. A partir do momento que ela aparece, o campo de interpretação da obra se abre para outras dimensões, como a da exploração da terra pelo capitalismo". 

Em entrevista ao Metrópoles, Juliana explicou: “Eu busco tratar da reflexão acerca da desigualdade de gênero e também da destruição do planeta Terra, como entidade e ser vivo. A vulva representa o nascimento, de onde vem a vida, e a obra construída na terra relembra para onde todos vão após a morte, de volta à natureza". 

Esse tipo de arte se chama Land Art. Tem nome, não é invenção. O projeto Usina da Arte, inspirado no Instituto Inhotim, ocupa uma antiga usina de açúcar que faliu na década de 1980. Assim, faz "um ajuste de foco, em que a decadência da monocultura canavieira dá lugar à potência plural e transformadora da arte". A descrição do projeto é inspiradora: "A terra, o maquinário e as instalações físicas da antiga usina foram convertidos em ateliês, galerias, salas de aula: espaços para a criação, produção e exposição da arte, em diálogo com a fauna e a flora locais".

Ou seja, pra quem reclama dos danos que a land art de Juliana causou ao meio ambiente, é bem o contrário. O projeto ajuda a manter de pé um espaço que havia sido abandonado. Transforma uma usina falida em museu ao céu aberto. Além do mais, Juliana afirma que não houve desmatamento para a instalação e que a resina usada não tem contato com a terra. 

E convenhamos: não há muitas coisas mais patriarcais que um engenho de cana de açúcar. Como diz Juliana: "Além de questões de gênero, a obra tem como objetivo combater a lógica capitalista de exploração do corpo e da terra, como se os recursos fossem ilimitados".

A revolta contra a instalação da Juliana não é tão diferente do que aconteceu em Belo Horizonte no final de novembro. Um morador de um prédio entrou na Justiça para remover um belíssimo mural da artista Criola. O bolsominion alega que "não é uma simples pintura, é uma decoração de gosto duvidoso". A obra, que se chama "Híbrida Ancrestral: Guardiã Brasileira", mostra uma mulher preta, uma cobra coral e um útero.  

"Gosto duvidoso" é a expressão na ponta da língua da maioria das pessoas que teima em censurar a arte. Uma leitora, a Marcia Mattos, comparou o fuzuê gerado por "Diva" ao famoso quadro de Courbet, "A origem do mundo", uma obra de 1886 que ainda provoca escândalos. Mas por quê uma vagina seria tão polêmica? (Agora fiquei sabendo, através da Marcia, que o quadro já pertenceu ao psicanalista Jacques Lacan, que o mantinha em sua casa de campo, atrás de um biombo). 

Levou onze meses e a mão de obra de vinte pessoas para "Diva" ficar pronta. Teve bastante gente nas redes sociais pondo em disputa a autoria da obra. Afinal, se foram homens que cavaram, por que a artista seria a Juliana? Não sei se esse tipo de crítica é ignorância ou má fé. Por exemplo, um prédio do Oscar Niemeyer não foi construído por ele, e ainda assim o prédio é visto como sua obra. Um filme conta com uma equipe de centenas e às vezes milhares de pessoas, e, no entanto, geralmente é apresentado como "um filme de Steven Spielberg". 

Como bem lembrou uma leitora, a Karenzita, em Pernambuco há um outro monumento muito conhecida: a fálica Torre de Cristal, de Brennand, que os recifenses chamam de "Pica de Brennand". Será que o artista fez sua obra sozinho ou contou com a ajuda de toda uma equipe?

Também não faltaram críticas a uma das imagens, uma selfie que Juliana postou no seu Facebook, em que ela, branca, posa com a equipe que fez a escavação: "Eu e a equipe estávamos em harmonia, mas quando você vê a imagem, realmente, ela mostra a diferença de classes, a racialização. Tirei a foto e na minha branquitude reafirmei um processo de trabalho típico do contexto brasileiro", reconhece. 

Como artista, Juliana está acostumada a polêmicas. Em "Mimoso", performance de 2014, ela foi muito criticada por ser arrastada nua por um búfalo na ilha de Marajó, e por comer o testículo do búfalo castrado. Ela conta: "Realmente, era muito pesado. Mas nada como está sendo agora. A coisa extrapolou". Juliana vem sendo atacada nas redes sociais. 

Aqui o que ela escreveu no Facebook no penúltimo dia do ano: 

Em meio a tantas rochas no meio do caminho desse ano distópico, finalmente termino o ano com a obra Diva pronta! Foi um processo longo, quase 11 meses de muita persistência, convivência e aprendizado.

Diva no final das contas é uma grande escultura feita à mão. Como demonstrou Roberto, o engenheiro arretado responsável pela obra (e que bota a mão na massa!), não era possível usar escavadeira, pq ela não permitiria esculpir com precisão os relevos que precisava. Por isso, foram mais de 40 mãos para fazer Diva nascer, mais de vinte homens trabalhando num esforço hercúleo embaixo do sol a pino, em meio a muita música e piada.

Diva é uma Land Art, uma enorme escavação em formato de vulva/ferida medindo 33 metros de altura, por 16 metros de largura e 6 metros de profundidade, recoberta por concreto armado e resina.

Em “Diva”, utilizo a arte para dialogar com questões que remetem a problematização de gênero a partir de uma perspectiva feminina aliada a uma cosmovisão que questiona a relação entre natureza e cultura na nossa sociedade ocidental falocêntrica e antropocêntrica. Atualmente essas questões têm se tornado cada vez mais urgentes. Afinal, será através da mudança de perspectiva da nossa relação entre humanos e entre humano e não-humano, que permitirá com que vivamos mais tempo nesse planeta e numa sociedade menos desigual e catastrófica.

Só tenho a agradecer por esse longo e rico processo. Agradeço a Bruna Simões Pessoa de Queiroz, Ricardo Pessôa Filho, C Mabel Medeiros e a Bárbara Maranhão por acreditarem e apostarem na ousadia do projeto.

Agradeço a Roberto Gatis pelo profissionalismo, paciência e sensibilidade (que contradiz a fama dos engenheiros) e a todos os homens que trabalharam na obra: Felipe, Ricardo, Bergue, Irmão Elias, Lilo, Nem, Lorinho, Garanhão, Nó, Jau, Fernando, Pó, Renildo, Nando, Pombo, o filho do irmão Telmo e os que agora não lembro o nome.

Vida longa à Usina de Arte, esse projeto lindo coordenado por Bruna e Ricardo que tem revirado a paisagem histórica e cultural neste ponto da Mata Sul pernambucana.

PS: Diva é fruto da minha residência artística na Usina e de um convênio da Usina de Arte e do Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (MAMAM).

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

COMO EXPLICAR A LEI DA GRAVIDADE PARA QUEM AINDA CRÊ QUE A TERRA É PLANA?

Eu ia escrever um post hoje, mas aí ouvi o poema /desabafo/ manifesto / soco no estômago / registro histórico da Arnaldo Antunes, e vi que não tenho mais nada pra dizer hoje.
Ouçam, por favor (ou leiam). E espalhem. Pra entender tudo que está acontecendo. 
Esse erro que nenhum arrependimento será capaz de reparar 
quando for tarde demais 
Ainda dá para evitar
Ainda é tarde de menos 
Para conter o ódio, o horror e o ódio

quarta-feira, 18 de abril de 2018

POR QUE OS AUTORITÁRIOS ATACAM AS ARTES

Foi o Vinícius, que já traduziu um ótimo texto aqui pro blog, que traduziu o texto abaixo e o enviou pra cá. 
Segundo ele, é "um alerta interessante sobre como as artes são fundamentais para a nossa sobrevivência enquanto sociedade".
O artigo, da socióloga Eve L. Ewing, foi publicado pelo New York Times no ano passado, e serve para traçar paralelos entre as perseguições à arte nos EUA e aqui no Brasil
"Arte degenerada", exposição de arte em Berlim, 1937
Em 1937, líderes em ascensão do Terceiro Reich organizaram duas exposições de arte em Munique. Uma, a “Grande Exposição de Arte Alemã”, apresentava a arte que Adolf Hitler considerava aceitável e representativa de uma sociedade ariana ideal: representacional, apresentando pessoas loiras em posições heroicas e paisagens pastorais do interior alemão. 
A outra apresentava o que Hitler e seus seguidores chamavam de “arte degenerada”: obras modernas ou abstratas, e arte produzida por pessoas rejeitadas pelos nazistas -- judeus, comunistas ou suspeitos de serem uma coisa ou outra. A “arte degenerada” foi apresentada em caos e desordem, acompanhada por rótulos depreciativos, grafites e fichas catalográficas descrevendo “os cérebros doentes daqueles que manejavam o pincel ou o lápis”. Hitler e aqueles próximos a ele controlavam estritamente como artistas viviam e trabalhavam na Alemanha nazista, porque compreendiam que a arte poderia desempenhar um papel-chave na ascensão ou queda da sua ditadura e a realização de sua visão para o futuro da Alemanha.
"Não sei nada de arte mas
sei o que odeio" - Trump sobre
recursos para o NEA
Em março de 2017, o governo Trump propôs um orçamento nacional que inclui a eliminação do National Endowment for Arts [nota: agência governamental para arrecadar fundos e suporte às Artes]. O NEA atua com um orçamento de cerca de 150 milhões de dólares por ano. Como os críticos observaram, essa quantia representa cerca de 0,004 por cento do orçamento federal, tornando a decisão uma tentativa bastante ineficiente para cortar gastos governamentais. Muitos americanos têm protestado contra os cortes ao apontar as muitas formas pelas quais a arte enriquece nossas vidas –- como deveriam. As artes nos trazem alegria e entretenimento, podem oferecer um alívio das provações da vida ou uma maneira de compreendê-las. 
Mas como Hitler compreendia, artistas desempenham um papel de destaque no desafio ao autoritarismo. A arte cria caminhos para a subversão, para entendimento político e solidariedade entre criadores de coalizão. A arte nos ensina que outras vidas além das nossas próprias possuem valor. Como um bobo da corte que pode caçoar abertamente do rei em sua própria corte, artistas que ocupam posições sociais marginalizadas podem usar sua arte para desafiar estruturas de poder de maneiras que de outra forma seriam perigosas ou impossíveis.
Líderes autoritários ao longo da história intuíram esse fato e agiram de acordo. O governo stalinista da década de 1930 exigia que a arte seguisse rígidos critérios de estilo e conteúdo para assegurar que ela servisse exclusivamente aos propósitos da liderança estatal. Em suas memórias, o compositor e pianista Dmitri Shostakovich conta que o governo stalinista sistematicamente executou todos os poetas populares da Ucrânia soviética. Quando Augusto Pinochet tomou o poder no Chile em 1973, muralistas foram presos, torturados e exiliados. Logo após o golpe de Estado, o cantor e artista de teatro Víctor Jara foi morto, seu corpo crivado de balas e exibido publicamente como um aviso aos outros. 
No seu livro Brazilian Art Under Dictatorship [nota: já disponível em português, como o título Arte Brasileira na Ditadura Militar], Claudia Calirman conta que a diretora de museu Niomar Moniz Sodré Bittencourt precisou esconder obras de arte e aconselhar artistas a deixar o Brasil após autoridades entrarem em seu museu, bloquearem a exposição e ordenarem que as obras fossem desmontadas porque continham imagens perigosas, como a fotografia de um militar caindo de uma moto, o que era visto como algo embaraçoso para a polícia. Tal intervenção extrema pode parecer distante dos EUA de hoje, até nós levarmos em conta episódios como a condenação pública do presidente ao elenco de Hamilton, após o grupo ter feito um comentário razoavelmente inofensivo direcionado ao vice-presidente Mike Pence.
Em sua última rodada de doações, o NEA doou 10 mil dólares a um festival de música no Oregon para financiar uma performance de dança feita por pessoas em cadeiras de rodas e aulas de danças para pessoas que utilizam aparelhos de locomoção. Um centro cultural na Califórnia recebeu 10 mil dólares para sediar workshops organizados por artistas muçulmanos, incluindo um artista de hip-hop, um comediante e cineastas. 
Um coro em Minnesota recebeu 10 mil dólares para criar um concerto destacando as experiências da juventude LGBTQ, para ser apresentado em escolas públicas de St. Paul. Cada uma dessas doações apoia as vozes das mesmas pessoas que o atual governo tem zombado, descartado e prejudicado. Pessoas jovens, pessoas queer, imigrantes e minorias há tempos utilizam a arte como meio de desmantelar as instituições que nos silenciariam primeiro e nos matariam depois, e o NEA é uma das poucas instituições de grande alcance que apoiam esse trabalho.
Analistas americanos balançaram a cabeça em sinal de desaprovação quando o artista performático Danilo Maldonado foi detido e preso por criticar o regime de Castro, e quando o escultor e fotógrafo chinês Ai Weiwei foi posto em prisão domiciliar e seu estúdio demolido pelo governo. Mas mais perto de casa, é imperativo que entendamos do que se trata de fato o ataque de Trump às artes. 
Não se trata de fazer da América um lugar monótono e infeliz, nem se trata de uma crença na austeridade e em negar recursos às comunidades carentes. Assim como o desaparecimento de informações de sites do governo e a exclusão de repórteres críticos de reuniões na Casa Branca, essa ação sinaliza algo mais amplo e mais ameaçador do que a inabilidade de um grupo de pessoas em fazer seu trabalho. Se trata de controle. Se trata de criar uma sociedade em que a propaganda reina e a divergência é silenciada.
Nós precisamos das artes porque elas fazem de nós seres humanos completos. Mas nós também precisamos das artes como um fator de proteção contra o autoritarismo. Ao salvar as artes, nós nos salvamos de uma sociedade em que a produção criativa só é permitida na medida em que serve como um instrumento de poder. Quando o canário na mina de carvão faz silêncio, nós devemos ter muito medo –- não apenas porque seu canto era tão lindo, mas também porque era o único sinal de que nós ainda tínhamos uma chance de ver a luz do dia novamente.