Você não
faz ideia dos sacrifícios que fiz pra ver Anjos e Demônios. Na primeira tentativa, o cinema tava lotado. Na segunda, tive de fugir de uma aula no meio da semana pra pegar a última sessão. Mas valeu a pena, porque o filme tem bom ritmo e não deixa a peteca cair. Se ele fosse minimamente monótono, eu teria dormido o sono das justas. Não fiquei nem um pouco sonolenta. E olha que eu mal tinha critério pra comparação: não li os livros do Dan Brown, nem lembro de Código Da Vinci. Lembro só do penteado do Tom Hanks naquele filme onde, se não me falha a memória, o Louvre vai pelos ares. Eles acabam com Paris mas tudo que a gente pensa é como o penteado do Tom entra na galeria dos piores da h
istória de Hollywood (disputando fio a fio com o do Kevin Costner em O Guarda-Costas).
Desta vez a cidade-alvo é Roma, e o Tom tá mais jeitoso. Não que, sinceramente, ele esteja bem no papel, porque é um papel bem sem graça esse do professor Langdon. Tudo bem que desde o Indiana Jones que um acadêmico não mexe tanto o esqueleto num enredo (eu posso garantir que meu doutorado não foi assim, mas também, eu
sou mulher. E casada. E quando levei o maridão pro doutorado-sanduíche em Detroit, minhas amigas chiaram: “Ugh! Levar marido? É como levar marmita prum banquete!”). Mas eu tive a impressão que podia ser qualquer ator acima dos 45 anos interpretando o Landgon.
Quem faz a única mulher no filme é mais genérica ainda. É uma cientista (A
yelet Zuzer, atriz israelense presente em Ponto de Vista e Munique, mas duvido que alguém a reconheça) que está desenvolvendo um gás ou anti-matéria capaz de gerar energia. Lógico que o plano dá errado: uma lendária organização, a Illuminati (o nome é mais legal que Opus Dei), recolhe o vidrinho e ameaça explodir o Vaticano. E logo quando Roma está lotada porque o papa “popular e progressista” (ha! Progressista! Só na ficção mesmo!) acabou de bater as botas, e os cardeias têm qu
e se reunir pra escolher um novo (novo é um modo de dizer. Imagino que com menos de 65 anos não dê nem pra se candidatar). Esse é um dos raros rituais da igreja católica que me fascinam: o pessoal ficar trancado e soltar a fumaça branca pra avisar que há um novo papa. Inclusive, na saída do cinema, o maridão disse pra mim, “Sua mãe ia adorar o filme”. Eu respondi: “É, ela gosta da fumacinha”. Ele: “Não, não é por isso
. É pelo tour de Roma”. De fato, Anjos é como um “Onde está Wally?”, versão com igrejas.
Como o filme toca, sem se aprofundar, na questão de fé vs. ciência, vou aproveitar pra puxar a orelha dos cientistas. Seguinte: criar uma matéria que pode alimentar a eletricidade de uma cidade de médio porte durante um mês? Sou a favor. Opa, mas existe o risco dessa matéria aí explodir o planet
a? Vamos conversar. E nem vou reclamar do fato de só haver uma mulher em Anjos inteiro, porque a trama se passa no Vaticano, e lá se você não tem um pênis você se contenta em ser freira, que não reza missa nem nada. No laboratório onde Ayelet trabalha também só há homens. E o grande mistério do universo passa a ser por que, entre todos os homens do mundo, a moça tem que ficar grudada logo com o Tom Hanks?
Porque, convenhamos, o Ewan McGregor é um pedaço de mau caminho. Ele faz o Camerlengo, termo que nunca tinha ouvido falar, e que é meio quem fica no poder, burocraticamente falando, enquanto os bam-bam-bans não escolhem o próximo papa. Vou trocar o r de lugar e adotar o palavrão como insulto: “Maridão, seu carmelongo!”. Aí rima com camundongo. O original rima com mulherengo, que combina mais com o Ewan. Este parágrafo foi só pra deixar claro que, se o
Ewan fosse papa, eu me converteria ao catolicismo.
Além do Ewan, tem outros pontos bacanas no filme. Um deles é o humor. O público da minha sessão riu alto quando, num momento de suspense, apareceram botas espreitando o protagonista. Mas a câmera sobe e mostra que não há ninguém dentro das botas. E tem o reloginho do Mickey que o Landgon usa, que é uma graça. Gosto também que eles façam a gente suspeitar de todo mundo, menos do professor e de um inspetor com barba
(que parece abobalhado demais pra poder bolar algum esquema). E, apesar do personagem central não estar muito bem desenvolvido, eu até aprovo que ele não tenha vida pessoal. Tudo que ele faz durante essas 24 horas é ir de igreja à igreja, com algumas paradas na biblioteca. Mas é assim mesmo que deveria ser se você tem prazo pra salvar uma parte do mundo. Ele não come, não dorme, troca de roupa uma vez, e se estrepa quando tem que responder se acredita
em Deus. Dá mais voltas na resposta que o FHC diante da pergunta do Boris Casoy, na fatídica eleição pra prefeito de SP em 1985.
É verdade que cansa um tiquinho que várias vezes eles parem a trama pra dar palestras pra algum personagem que, na verdade, representa o público ignorante. Eu queria levantar a mão e gritar “Presente! Público ignorante comparecendo! J
esus Cristo, eu estou aqui!”. Eu não sabia de várias coisas, e gostei de aprender. Tipo um papa aí ter cortado os bilaus das estátuas do Vaticano e colocado folhas de parreira no lugar, pra que os efeitos castratórios não ficassem evidentes. E a câmera focaliza uma das folhas na estátua. Tá, fica estranho quando o Ewan, um padre jovenzinho, invade um lugar cheio de cardeais idosos (como a hiera
rquia é importante nas religiões!) pra falar pra eles sobre os últimos quatro séculos de luta entre fé e ciência. Eu torcia pra que algum cardeal mais velhinho o interrompesse e falasse: “Você tá contando isso pra mim? Eu vivi tudo isso! Eu tava lá!”. Mas a maior parte dos velhinhos vermelhos (adoro o uniforme deles!) não fala nada. Quem leva a pior é um dos dois ou três religiosos negros no filme. Ele faz umas caras de “Não sei o que estou faze
ndo aqui. É pra eleger quem mesmo?”. Achei sacanagem suprema do Ron Howard.
Fora isso, tem uma cena interessante na biblioteca do Vaticano. Há pouco oxigênio lá dentro, pra ajudar a preservar os livros. Um guardinha que tá acompanhando o Tom tem falta de ar, porque fuma. Ele quase morre lá dentro quando o ar é cortado (não entendi até agora por que isso acontece. Afinal, há um vilão que mata todo mundo sozinho, mas é contra matar o Tom, que é seu único obst
áculo). Depois dessa parte na biblioteca, eles acrescentam uma cena esquisita que não sei a que veio: o guardinha é visto fumando do lado de fora. Isso é lobby tabagista, né? Só pode ser. Mas minha cena preferida é quando o Tom faz uma pergunta difícil pruma guia numa igreja-museu e ela sabe a resposta no ato! De repente o lobby tabagista é fichinha perto do lobby dos guias de museu.


Desta vez a cidade-alvo é Roma, e o Tom tá mais jeitoso. Não que, sinceramente, ele esteja bem no papel, porque é um papel bem sem graça esse do professor Langdon. Tudo bem que desde o Indiana Jones que um acadêmico não mexe tanto o esqueleto num enredo (eu posso garantir que meu doutorado não foi assim, mas também, eu

Quem faz a única mulher no filme é mais genérica ainda. É uma cientista (A



Como o filme toca, sem se aprofundar, na questão de fé vs. ciência, vou aproveitar pra puxar a orelha dos cientistas. Seguinte: criar uma matéria que pode alimentar a eletricidade de uma cidade de médio porte durante um mês? Sou a favor. Opa, mas existe o risco dessa matéria aí explodir o planet


Porque, convenhamos, o Ewan McGregor é um pedaço de mau caminho. Ele faz o Camerlengo, termo que nunca tinha ouvido falar, e que é meio quem fica no poder, burocraticamente falando, enquanto os bam-bam-bans não escolhem o próximo papa. Vou trocar o r de lugar e adotar o palavrão como insulto: “Maridão, seu carmelongo!”. Aí rima com camundongo. O original rima com mulherengo, que combina mais com o Ewan. Este parágrafo foi só pra deixar claro que, se o

Além do Ewan, tem outros pontos bacanas no filme. Um deles é o humor. O público da minha sessão riu alto quando, num momento de suspense, apareceram botas espreitando o protagonista. Mas a câmera sobe e mostra que não há ninguém dentro das botas. E tem o reloginho do Mickey que o Landgon usa, que é uma graça. Gosto também que eles façam a gente suspeitar de todo mundo, menos do professor e de um inspetor com barba


É verdade que cansa um tiquinho que várias vezes eles parem a trama pra dar palestras pra algum personagem que, na verdade, representa o público ignorante. Eu queria levantar a mão e gritar “Presente! Público ignorante comparecendo! J



Fora isso, tem uma cena interessante na biblioteca do Vaticano. Há pouco oxigênio lá dentro, pra ajudar a preservar os livros. Um guardinha que tá acompanhando o Tom tem falta de ar, porque fuma. Ele quase morre lá dentro quando o ar é cortado (não entendi até agora por que isso acontece. Afinal, há um vilão que mata todo mundo sozinho, mas é contra matar o Tom, que é seu único obst
