Poucos dias antes do segundo turno em outubro de 2018, eu publiquei um post chamado "Por que não votar em Bolsonaro".
Olhando pra trás, vejo o pouco que a gente sabia sobre esse traste. Lógico que eu e milhões de pessoas avisamos. Lógico que a gente estava certa. Lógico que o post tinha dezenas de motivos para nunca votar num cara desses. Mas, até então, a gente se baseava nas suas inúmeras declarações misóginas, racistas, LGBTfóbicas, e seus quase trinta anos como deputado federal dos mais ineptos. Hoje, depois de quatro anos, sabemos muito mais. Seu governo é uma prova viva da tragédia.
Óbvio ululante que todos os motivos que listei em 2018 continuam: ele defende a tortura e a ditadura militar, defende bandidos (o exemplo que dei foi que, em 1999, ele foi o único deputado que votou contra a cassação de um suplente que matou a deputada Ceci Cunha e toda sua família para ficar com seu mandato), que não seria respeitado no exterior (that's a bingo), que queria armar a população (conseguiu, mas foi uma péssima ideia: 60% das armas usadas hoje no crime vêm dos CACs -- Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador; ou seja, a política armamentista de Bolso armou o tráfico), que é corrupto (naquela época, a gente só sabia da Wal, não dos 51 imóveis que ele e sua familícia compraram com dinheiro vivo),que era (e obviamente continua sendo) apoiado por nazistas e pela Ku Klux Klan, que é uma ameaça à democracia, que odeia mulheres (aqui 95 razões pelas quais nenhuma mulher deve votar em Bolso).
Alguns motivos para não votar em Bolso nem que a vaca tussa:
700 mil brasileiros morreram de covid. O maior responsável foi o comandante da nação, que tratou a doença como "gripezinho", disse "e daí?" para as vítimas, imitou pacientes com falta de ar, afirmou "não sou coveiro", espalhou (e segue espalhando) todo tipo de fake news (como que cloroquina funcionava e que tomar a vacina fazia virar jacaré), atrasou a compra das vacinas, por pouco não negociou propina de um dólar por vacina, deixou no ministério da saúde por um ano um general incompetente que nada tinha a ver com a área da saúde (e cuja ex-mulher, hoje, revela que ele deu festas durante a calamidade da falta de oxigênio em Manaus). Enfim, um dado só já é suficiente: o Brasil representa 3% da população mundial, mas 11% das pessoas do mundo que morreram de covid eram brasileiras. Como explicar isso?
E não é só: por causa de sua campanha negacionista contra a vacinação, o Brasil (que já foi modelo para o mundo em termos de cobertura vacinal para crianças) corre o risco de voltar com doenças que já estavam erradicadas, como a poliomielite.
Bolso não deu um centavo de reajuste aos servidores públicos durante quatro anos, apesar da inflação anual chegar aos dois dígitos. Foi o único presidente em vinte anos a terminar o mandato sem reajustar salários. Não só isso: seu principal ministro, Paulo Guedes, sempre mostrou seu ódio por nós, nos chamando de parasitas e zombando que jogou uma granada no nosso bolso durante a pandemia. Pense no seu salário valendo no mínimo 30% menos. É a inflação acumulada dos últimos 4 anos. Como tampouco tivemos reajuste no governo Temer, nosso salário está pra lá de defasado. Como um servidor público pode votar no pior presidente de todos os tempos é um mistério pra mim.
Bolso não construiu universidades nem institutos federais nem creches nem nada. Os investimentos nas universidades públicas caíram literalmente pela metade entre 2019 e 2022. A ciência foi totalmente deixada de lado. Com isso, a fuga de cérebros só aumenta.
Bolso cortou a verba da educação e da saúde a ponto das crianças em escolas estarem comendo apenas biscoito mofado ou repartindo ovo na merenda escolar. Ano que vem será pior, pois o orçamento já está comprometido. Para a educação infantil, a previsão é de apenas R$ 2,5 milhões, quase 98% a menos que em 2022. Para o ensino médio, o corte previsto é de 80%.
Bolso vive negando, mas há corrupção de sobra no seu péssimo governo. Orçamento secreto, ou Bolsolão, é muito pior que qualquer mensalão. As somas envolvidas são infinitamente maiores. Tem muita coisa que, graças ao sigilo de cem anos (que Lula promete quebrar), a gente só vai saber quando este governo acabar e quando começarem as investigações. Há vários escândalos no MEC, como pastores que sequer faziam parte do governo cobrando propinas para liberar recursos da educação nas cidades, o que derrubou o ministro da Educação Milton Ribeiro. Esses pastores não agiam a pedido do sinistro, ele mesmo um evangélico, mas de Bolsonaro. Foi isso que Ribeiro declarou numa reunião gravada sobre seu chefe, que havia dito que colocava a cara no fogo por ele.
Basta comparar: Lula criou o Portal da Transparência. Bolsonaro criou o orçamento secreto, o oposto de qualquer transparência, pra se manter no poder. Sem qualquer prestação de contas, os escândalos de corrupção se multiplicam (como cidades pequenas gastarem milhões para extrair dentes, por exemplo).
O Brasil voltou ao mapa da fome. Tinha saído em 2014, e agora retornou com força total: 33 milhões de brasileiros vivem em situação de insegurança alimentar. Eram 19 milhões em 2020. Mas, na realidade, 152 milhões de brasileiros vivem com algum grau de insegurança alimentar. Bolso e seus filhos já negaram esses dados diversas vezes, afirmando que é impossível receber Auxílio Brasil de R$ 600 e passar fome. Basta sair às ruas para ver como explodiu o número de pessoas sem lugar pra morar, vivendo nas avenidas, embaixo de pontes e viadutos.
A mortalidade infantil cresceu: há 11,51 óbitos para cada mil nascidos. A mortalidade materna também: subiu 223%! O governo acabou a verba de vários ministérios, como o da Mulher, Família e Direitos Humanos. Em 2020 o orçamento foi de R$ 100 milhões (que Damares não usou, permitindo que a violência contra as mulheres corresse solta). Sabe de quanto foi este ano? R$ 9,1 milhões.
Os planos de Guedes sempre foram conhecidos. Desde 2018 havia o medo que ele acabaria com o 13o, por exemplo. Mas agora ficamos sabendo que, no dia seguinte às eleições, se Bolso ganhar, Guedes iria anunciar seu projeto para desindexar o salário mínimo e as aposentadorias da inflação. Na verdade, durante os quatro anos de Bolso, não houve qualquer ganho real do mínimo. E vale lembrar que a Reforma da Previdência, que diminuiu tremendamente ou acabou com a aposentadoria de todos os brasileiros, foi aprovada durante este governo. Note que ninguém mais fala nisso. Nem Bolso nem nenhum de seus ministros (nem os analistas políticos) apontam a reforma como um dos grandes feitos do governo.
O desmatamento da Amazônia é um projeto bem sucedido do governo Bolsonaro, que acabou com as fiscalizações, permitindo que terras indígenas fossem invadidas pelo agronegócio, pelo garimpo, pelo crime. O desmatamento cresceu quase 57% no governo que teve um sinistro do meio ambiente acusado de tráfico de madeira e que aproveitou a pandemia para "passar a boiada". Em 2019, no Fórum Econômico Mundial, uma cena constrangeu o Brasil e o mundo: Bolso ofereceu a Al Gore, ex-vice-presidente dos EUA e ativista ambiental, explorar a riqueza da Amazônia com os americanos.
Muito disso era previsível. Mas realmente havia coisas que a gente nem imaginava. A revelação de "pintou um clima" com meninas de 14, 15 anos, veio só agora no segundo turno. E talvez o pessoal do Rio soubesse da ligação da família Bolsonaro com a milícia, mas, pro resto do país, foi uma surpresa. Em qualquer país do mundo, um presidente que fosse vizinho do assassino de Marielle Franco (e que se reuniu no mesmo condomínio com outro dos assassinos duas horas antes da execução) jamais terminaria seu mandato.
Seu governo foi tão, mas tão catastrófico que, se você perguntar a seguidores fanáticos dele quais foram suas realizações, eles não sabem responder, ou respondem com fake news, citando obras de Dilma e Lula, ou com besteiras tipo "acabou com o comunismo e a ideologia de gênero" (coisas que nunca foram ameaças no Brasil ou que nem existem). O próprio Bolso não tem resposta. Ao ser indagado qual foi a maior conquista de seu governo, ele disse que foi ter feito as pessoas usarem verde e amarelo. E, se todos os dados provam que a administração foi terrível, pode acreditar: um segundo mandato de Bolsonaro seria muito pior.
Sinceramente, eu pensava que esta eleição não seria difícil. De um lado, temos um ex-presidente que deixou o governo com 87% de aprovação e que é considerado o melhor presidente da história do Brasil. Do outro, temos o pior presidente da história. Saber que quase metade da população ainda quer dar a ele uma segunda chance me faz desacreditar no país. Mas tenho fé de que domingo sairemos deste delírio coletivo. O Brasil não sobrevive a mais quatro anos desta hecatombe.
Amanhã é um plebiscito em que escolheremos entre manter a Constituição ou perdê-la. No 1o turno o bolsonarismo elegeu uma quantidade suficiente de parlamentares pra implodi-la e colocar no lugar dela uma Constituição como a do Chile, da época de Pinochet, ou a da Venezuela, de Maduro, ou fazer uma mistura das 02 com a de outros governos autoritários que se põem acima de qualquer Constituição. A primeira coisa a cair vai ser a independência do Judiciário. Vão acuar o STF e os ministros que compõem aquele tribunal. Vão torná-lo um mero confirmador de PECs que vão nos tirar direitos e com eles renda direta (diminuição de salários, aposentadorias, pensões... ) ou indireta (a gratuidade do SUS, do ensino superior público...). Quem você acha que os muitos ricos vão querer que pague a conta da PEC da reeleição, eles, que com o poder do dinheiro tem também muito poder político, ou nós, que além de não termos tanto dinheiro como eles (aqui a distância é extremamente abissal. João Amoedo, por exemplo, tinha 425 milhões de reais em agosto de 2018. E nem é dos mais ricos entre os muito ricos), somos desunidos por nossas subjetividades? Eu vou votar 13 amanhã, mas votaria em qualquer candidato ou candidata que não representasse perigo à Constituição de 1988. No 2o turno amanhã, essa opção é 13. Estou rezando muito pra que a maioria tenha a lucidez de escolher salvar a Constituição de 1988. Se essa Constituição for ainda mais destruída do que já está sendo, a vida das pessoas comuns, como eu e vocês (eu não conheço pessoalmente nenhum João Amoedo...), vai piorar muito, em todos os sentidos. E eu não quero uma vida pior. Quero uma vida melhor pra todo mundo.
ResponderExcluirNunca fui fã do Alexandre de Moraes. Há muitos anos comprei e li o curso dele de Direito Constitucional. Ele já esteve muito em alta pra quem trabalha na área jurídica, nessa área do Direito Constitucional. Hoje em dia os nomes em alta, na cotação da bolsa de valores, sao outros... Mas a gente precisa reconhecer que ele é aquele cara certo no lugar certo na hora certa. Não fosse ele, essas eleições estariam sendo mais desequilibradas do que já estão sendo. Bolsonaro tem em seu favor o fundo eleitoral e o orçamento secreto. As doações vultosas do agronegócio e de empresários asquerosos como o véio da Havan. Fernando Horta desconfia até que gente podre de rica, como Elon Musk, esteja financiando a extrema direita no mundo, em países como o Brasil e em outros. Mesmo assim, Bolsonaro está atrás nas pesquisas aqui no Brasil. Nesse contexto, a vitória de Lula amanhã vai ser bem maior do que a diferença numérica de votos vai fazer crer. Alexandre de Moraes ajudou a atenuar os desequilíbrios. Pode ser que nem tenha sido intenção dele agir assim. Mas mesmo que isso tenha acontecido, eu dou a ele os parabéns. E também meu muito obrigado. Ele está sendo uma figura decisiva nesse 2o turno.
ResponderExcluirA votação já começou!!! 29/out/2022 - 16h00
ResponderExcluirhttps://twitter.com/CentralEleicoes/status/1586432683168571392#m
Será que tem passe livre pra ir votar na Nova Zelândia hoje ainda? :-D
ResponderExcluirAMANHÃ EM COMEMORAÇÃO A REELEIÇÃO DO MITO EU ABATEREI O PORCO E O BROXA DO SILVINHO E FAREI UM BANQUETE DE LEITÃO ASSADO E UM DELICIOSO GUISADO DE ENXADRISTA. NOS VEMOS AMANHÃ, PORCOLORES!
ResponderExcluirAinda há esperança de um Brasil melhor, de pessoas melhores
ResponderExcluirGostaria muito que pudéssemos enxergar, no Brasil, todos na mesma direção. A direção do bem estar geral, sem privilégios, com caráter.
Seu candidato, meu candidato devem ter o mesmo propósito. Cabe a nós debater civilizadamente o certo e errado, tendo como partido o Brasil sil sil!
Sempre digo que nossa política é uma novela. A diferença é que novelas todos acompanham fielmente. A política não. Não podemos esquecer o papel que cada político representa na história da nossa vida.
Tomar partido do Brasil, sem idolatrar político NENHUM! Bora, Lulinha! Estamos de olho