O MAL QUE ALGUNS FAZEM

Na quinta passada, alguém pôs no Twitter uma cena real de uma moça que está esperando pra entrar numa casa. 

Passa uma moto, para perto da jovem. Ela imagina que é assalto e já pensa em entregar o celular. O motociclista abre sua calça, se masturba, e arranca com a moto (o vídeo do tuíte que gerou indignação foi removido, mas os comentários estão lá. O vídeo pode ser visto aqui).

Só ao dar RT nisso, dezenas de mulheres compartilharam suas histórias. Todas já passaram por isso.

A L. me mandou o seu relato. Pedi sua permissão para publicar, e ela deu, com a condição de que eu jamais revele seu nome a ninguém. O seu relato:

Eu passei por situações horríveis e eu nunca vou falar porque, na época, eu não consegui acusar, eu não tive abertura dentro da família. Eu era pequena. Eu tentava fazer investidas falando mal do sujeito e pessoas da minha própria família ficavam irritadas, defendiam. 

Foi ao ponto que eu pensei em loucuras. Um dia, na aula, a professora da sétima série explicou muitas coisas e eu tive a certeza de que eu precisava reagir. Depois disso o cara me ameaçou de novo e eu falei que ia contar tudo. Que ele não encostasse mais em mim. Ele me disse: conta! Conta tudo pro teu pai. Ele vai te dar uma surra! Daí eu respondi: não! Ele vai te matar! 

Nunca mais, depois daquele dia, ele ousou tocar em mim. Depois eu fui estudar noutra cidade e tratei de casar cedo pra não voltar pra casa. Graças a Deus, meu marido me apoiou. Eu precisei contar para ele, porque durante à noite eu tinha pesadelos e dava socos no ar, acordava aos gritos, levava sustos quando ele me tocava. 

Meu marido me apoiou muito. Meu marido é a melhor pessoa que conheço. Estamos juntos há 25 anos. Ele sabe quem é o sujeito pois o cara ainda trabalha para minha família. Há pouco tempo o sujeito tentou se aproximar num evento para me cumprimentar. Meu marido se atravessou na frente e fez que ia bater nele. De fato não ia bater, mas naquele dia o homem que abusou de mim viu que alguém mais sabia de tudo e nunca mais se aproximou. Agora passa longe. 

Cada vez que eu leio tuas matérias, eu choro. Eu agradeço por tu existires e por lutares pelas mulheres. 

Estou confiando a ti minhas angústias mais profundas com a certeza de que isso vai te dar mais força para seguir lutando por nós.  

Eu tenho medo de falar sobre isso. Jamais vou falar. Tenho medo de ser apontada na rua... Agora, chego a estar nervosa por imaginar que mais alguém vai saber de tudo isso. 

Por isso, em sigilo, eu te conto e te peço que continues :

Lute, Lola, lute por nós. 

Eu te admiro muito.