Recebi este lindo relato que é também um alerta de algo que pode acontecer com qualquer mulher nas redes sociais.
Recentemente li uma reportagem sua no Intercept sobre os mascus. Acredito que em setembro de 2018 eu sofri um ataque que veio deles. E não faço ideia do porquê.
Era feriado de 7 de setembro, um dia depois do atentado a Bolsonaro, e eu comecei a receber muitas mensagens me ameaçando de morte nas minhas redes sociais. Perguntei a uma das pessoas que me atacavam o que estava acontecendo. E eles me enviaram uma montagem. Extremamente tosca e mal feita. A montagem era um documento com colagens de fotos: uma minha e de diversas outras mulheres que eu não conhecia. Tinha meu nome completo, minhas redes sociais. A montagem me acusava de ter passado a faca para Adélio Diniz, o homem que atentou contra o Bolsonaro. No dia eu estava trabalhando, fazendo estágio, em Minas Gerais, mas bem longe de Juiz de Fora.
A fake news se espalhou. Primeiro no twitter, Facebook e whatsapp. Muitas invenções. Muitas mensagens de ódio, mensagens misóginas. Muitas querendo "cancelar meu CPF". Depois divulgaram meus dados e dados dos meus familiares. Foi muito assustador. Eu fiquei em pânico, morria de medo de sair de casa. No domingo a polícia federal veio na minha casa "tentar me ajudar". Uma abordagem que me deixou com mais medo ainda. Quando eles chegaram achava que eram apoiadores do Bolsonaro querendo me matar.
Quando me acalmei e eles provaram serem policiais federais, quis prestar depoimento e levei todos os materiais que tinha de ameaça a mim. Descobri que a primeira pessoa que postou no Twitter era um perfil fake e anônimo e que tinha postado a montagem através de um link do fórum 4chan.
Quando me acalmei e eles provaram serem policiais federais, quis prestar depoimento e levei todos os materiais que tinha de ameaça a mim. Descobri que a primeira pessoa que postou no Twitter era um perfil fake e anônimo e que tinha postado a montagem através de um link do fórum 4chan.
Eu não conhecia na época esse fórum. Mas levei isso a PF, que parece ter ignorado. Eles diziam apenas que não era competência deles seguir com a investigação por se tratar de crime cibernético contra a honra. E a policia civil dizia ser competência da federal por ter envolvido um presidenciável. Nunca levaram o inquérito a frente.
Eu procurei o Ministério Público, que também disse que era pra desistir e seguir minha vida. Não iam achar culpados e seria muito difícil tirar as montagens das redes sociais. Cansada e com medo eu segui. Segui com vários medos. Mas segui.
Eu procurei o Ministério Público, que também disse que era pra desistir e seguir minha vida. Não iam achar culpados e seria muito difícil tirar as montagens das redes sociais. Cansada e com medo eu segui. Segui com vários medos. Mas segui.
Hoje faz pouco mais de dois anos do ocorrido e isso tem mexido muito com minha cabeça. Eu sempre pensava: por que eu? E as pessoas também me perguntavam, perguntam até hoje, e isso me deixa mal. Mas não foi só eu. Pelo menos cinco meninas foram apontadas como a "mulher da faca" e ela sequer existiu. Era uma apoiadora do Bolsonaro. Patético. Acredito que todas essas fake news se comprovam agora como um método do governo, de identificação com esses grupos intolerantes e uma forma de desviar a atenção. Tempos horríveis.
Fico com medo de outras mulheres passarem pela mesma coisa agora que é ano eleitoral. Fico com medo pois parece ser um método e nesses tempos sombrios parece que a misoginia está se entranhado nas instituições políticas. Bom, estou escrevendo, primeiro pois quero dizer que você é uma mulher extremamente forte por ter aguentado toda essa violência durante tantos anos. E para dizer que me inspiro em você.
Esses dois últimos anos também foram os últimos da minha graduação e me envolvi muito em pesquisa e temática de gênero. Tenho planos para um mestrado e quero seguir estudando feminismos. No início eu achava que essa escolha tinha se dado por que eu estava revoltada que crimes cibernéticos acometem mais mulheres. Depois de ler sobre você e os ataques que sofreu eu entendo que foi, também, um ato de resistência. Continuarei de cabeça erguida e mais forte que nunca, muito devido a sua força e luta. Eles não vencerão!
Minha resposta a ela: Muito obrigada pelo seu relato e o seu carinho. Nossa, você começou a ser atacada no dia seguinte ao atentado contra Bolsonaro?! Eles não perdem tempo mesmo...
Também já me associaram ao Adélio Bispo de várias maneiras. Parece que eu falei com ele por telefone no dia da facada. A linha dele devia estar congestionada de tanta gente que falou com ele (Manu, Jean Wyllys, Maria do Rosário etc)...
Deve ser terrível o que vc passou. Eles te escolheram como alvo e fizeram doxxing com vc (por isso conseguiram os seus dados e dos seus familiares). Provavelmente vc nunca vai saber quem foi. Às vezes é um carinha que era apaixonado por vc na escola e vc nem sabia e nem dava bola, e ele guardou esse rancor e viu uma chance de se vingar ao encontrar um grupo misógino. Ou um ex-namorado. Ou alguém em que vc deu um fora. Eles alvejam meninas e mulheres por qualquer motivo fútil nesses chans.
Tão revoltante quanto o que fizeram contigo foi a reação da PF, da polícia civil, do Ministério Público... Impressionante como estamos sozinhas e como não temos a quem recorrer.
Fico feliz que teve um lado bom: vc passou a estudar gênero e vai continuar no mestrado. Que vc continue forte e de cabeça erguida.
Por essa e outras que eu não vi vantagem na Lei Lola, me desculpe Lolinha não é pessoal contra você! Pois as Delegacias especializadas pra defender as mulheres, geralmente não é sempre, costumam ter delegadas que entendem e apoiam as mulheres vítimas de violência e são muito mais empáticas que os homens brancos, cis e de extrema direita que são os delegados federais, eles sempre vão dar preferência a investigar políticos (que sejam de esquerda, como o PT) que defender a população, pode ter certeza.
ResponderExcluirAbraço à Lola e a autora do Quest Post, meu carinho e solidariedade a vocês duas.
Força! Que você continue superando estás tenebrosidades nestes tempos mais tenebrosos ainda!
ResponderExcluirUma colega de classe de uma especialização que fiz teve fotos dela, publicadas no perfil que ela tinha no Facebook, usadas pra criar perfis falsos em sites de prostituição. Além das fotos, os anúncios forneciam o número do celular dela. Ela soube dos perfis por ter recebido telefonemas de homens interessados em marcar um programa. Ela desconfia que quem criou os perfis foi um colega de classe, com quem ela flertou mas que a fez recuar no flerte, por tê-la ameaçado quando ela se recusou a sair com ele uma segunda vez. Ele teria dito que ela se arrependeria pela recusa. Além disso, no grupo da especialização no WhatsApp, ele fazia propaganda em favor do Bozo e esculhambando Haddad (isso foi em 2018). Enfim, quem fez o que fez com a autora do texto pode ter sido um mascu que se sentiu rejeitado. Eles se sentem vítimas quando são rejeitados e com frequência jogam baixo.
ResponderExcluirE o Adélio precisava da ajuda de alguém para lhe passar uma faca, porque ele tem trauma de infância com este objeto e por isto não consegue transportá-lo por conta própria! E evidentemente ninguém tem a menor dúvida de que o poder judiciário, o MPF e as polícias estão envolvidos até o último fio de cabelo com o governo federal e por isto se negaram e continuam negando a investigar o caso dessa moça. E também por isso nunca ficaremos sabendo quem foi o mandante do assassinato da candidata ao senado Mariele Franco, crime que beneficiou a familícia do governo federal!!
ResponderExcluir"Fakeada", não "facada" né?
ResponderExcluir