segunda-feira, 4 de maio de 2020

CRISE DE ANSIEDADE DURANTE A PANDEMIA

A saúde mental de muita gente fica comprometida durante a pandemia, o que pode piorar no confinamento. Pra quem já sofre de crises de ansiedade e pânico, não está sendo fácil de lidar. Publico hoje o texto da V, que prefere não se identificar.

Não tenho as credenciais necessárias para falar em termos psicológicos ou psiquiátricos sobre crises de ansiedade. Sei, por relatos de outras pessoas que as tem, que os sintomas variam de uma para outra pessoa, às vezes variam até mesmo em crises diferentes na mesma pessoa. Só posso falar por mim. Pelo que sinto, pelo que se passa comigo.
Sou paciente psiquiátrica. Sou bipolar, diagnosticada e tratada há muitos anos. E, mesmo com todo o tratamento psiquiátrico e psicológico, ao longo destes anos tive crises de depressão e mania. Pelo que leio e ouço, me parece que, para a maior parte das pessoas, a depressão é pior de lidar. Já tive episódios bem ruins de depressão, mas para mim, pior são as crises de mania. É quando eu aparentemente estou muito bem, me sentindo ótima, cheia de vitalidade, criatividade em alta, raciocínio super rápido e irritabilidade a mil. É quando, no meio do nada me sinto capaz de pular do alto de um prédio e voar. É assustador.
As crises de ansiedade vem a qualquer hora, às vezes por motivos bem aparentes, outras do nada.
Nesta última saída minha à rua, no último dia 13 de março, tinha ido vistoriar uma obra no Rio de Janeiro. O vírus já tava rolando, eu já andava preocupada, com meu álcool gel na bolsa. Mas fui de boa. Só que, na hora de voltar, eu sabia que o metrô estaria cheio, sempre está, mas esperar não era uma escolha, ficaria mais perto da hora do rush, o que só pioraria e eu estava sem ter como pegar um uber.
Entrei naquele vagão entupido com a respiração rasa. Não tinha, claro, lugar para sentar e, mesmo que eu alcançasse uma das barras, já estava com medo de encostar nelas. E nas pessoas à minha volta. Comecei a sentir o primeiro “sintoma” da crise de pânico chegando: aperto no peito, dificuldade para respirar. Tentei fazer exercício respiratório, o que sempre faço quando sinto uma crise de ansiedade chegando. Mas o medo de respirar profundamente era maior. Comecei a suar frio, ter taquicardia. 
Me encolhia em mim mesma tentando não encostar em ninguém, o que era impossível. Sabia que deveria estar com os olhos arregalados e que olhava em volta com medo daquelas pessoas. Tentava chamar meu lado racional, dizer a mim mesma que ainda não havia transmissão comunitária no Rio, mas nada conseguia me acalmar.
Algumas estações depois, talvez por perceber que eu estava panicada, um rapaz me ofereceu lugar para sentar. Deu para dar um pouco de alívio, consegui fazer uma tentativa de exercício respiratório para segurar a barra até chegar em casa. Normalmente ando no metrô olhando o Twitter ou jogando sudoku, desta vez não consegui, só queria chegar em casa e entrar num chuveiro.
Assim que saí do metrô, me encharquei de álcool gel, devia estar parecendo uma louca para quem visse a cena. Ainda estava com a respiração alterada e com taquicardia, mas a caminhada até em casa ajudou um pouco.
Quando entrei, fui direto para o banho, me ensaboei mil vezes. Queria ter certeza de que não havia ficado nenhum vírus em mim. (Só pra constar, nunca tive TOC  de limpeza, tenho outros, este não).
Desde então não saio de casa. No início eu contei os dias, para ver se aparecia um sintoma da covid-19. Depois não saí mais por entrarem as restrições.
Quem vai à rua, para as compras necessárias, são meus filhos. E a cada vez eu entro num frenesi de desinfetar tudo que chega aqui.
O dia em que meu psiquiatra deixou os remédios na portaria do consultório, foi um drama. Pedi que um Rappi pegasse e consegui fazer uma bagunça danada no pedido, endereço, tudo. Logo eu que me orgulho de lidar bem com a tecnologia. Quando chegou, eu, mais uma vez, taquei álcool 70 em cada caixa. Saco de plástico pra quarentena por uma semana, sei lá.
Com a pandemia, meus episódios de ansiedade aumentaram muito. No início eu não desgrudava das notícias e da internet. E passava mal. Sabia que, quando a doença realmente chegasse aqui, seria um caos. Sabia que, nas comunidades, seria um massacre. Percebi que eu estava aumentando consideravelmente o cigarro (e um dos meus planos para 2020 era largar), percebi que estava sentindo necessidade de um SOS (SOS= ansiolítico) durante o dia. Me afastei um pouco do noticiário e da própria internet. Não a ponto de me alienar, mas por saber que estava me fazendo mal psicologicamente.
É muito duro ver crescer o número de infectados, de vítimas fatais e saber que temos um governo que nada faz. Ver os casos subindo nos países mundo afora e o irresponsável da república minimizar, dizer que é “gripezinha”, que “gente vai morrer”, dizer "e daí?" e outros absurdos. É assustador ver “carreatas” de irresponsáveis, manifestações pedindo intervenção militar, enquanto teríamos que estar juntos, lutando pela saúde da população.
Para quem, como eu, lida com problemas psiquiátricos, esta quarentena, esta pandemia, é bem difícil de lidar. Eu, pessoalmente, sinto como deve ser a dor dos que perdem alguém ou que recebem o diagnóstico de si mesmos ou de familiares, amigos.
Tenho amigas na mesma situação que eu, problemas psicológicos/ psiquiátricos e tentamos nos apoiar, mas a falta de contato físico dificulta. 
Não impossibilita, mas dificulta. Estamos tentando viver um dia de cada vez. É o que resta.
Mas que falta sinto de um simples abraço...

4 comentários:

  1. A esquerda precisava exigir o impeachment de Bolsonaro, e não sua renúncia. Mas parece que a esquerda em geral, incluindo a Lola, é inocente de achar que esse homem renunciaria. Enquanto isso a extrema direita faz a festa no poder!

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  2. Acho q vc não lê nem meu blog nem meu Twitter. Eu sempre peço impeachment (e cassação da chapa). Nunca achei q ele vai renunciar. Aliás, há algumas horas estávamos falando disso no Twitter https://twitter.com/lolaescreva/status/1257435670777389056

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  3. V., muita força pra vc! Eu já tive crise de ansiedade e ataque de pânico + depressão e sei como e difícil de lidar. Imagino que deva ser ainda pior nesses tempos de pandemia. Como vc disse, nessa situação não resta nada a fazer senão tentar se focar no presente e viver um dia de cada vez. E seguir com o acompanhamento médico (pela internet) e os remédios. Espero de coração que vc fique bem.

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  4. Anon que disse ter sido vítima do Tio Astolfo, Marcelo não está solto. O alvará de soltura é falso. Consultei minhas advogadas e elas disseram que é falso e que Marcelo continua preso. E continuará preso por muito tempo. Não acredite no que chans e sites duvidosos como Wikinet dizem. No verbete sobre Marcelo, há muitas coisas que são verdade, mas também várias que são falsas. No meu, além de um monte de coisa falsa, há também a opinião deles sobre mim -- o que indica quem faz essas páginas.

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