Ontem o Dennis fez uma thread muito boa no Twitter sobre como o ensino particular vem explorando cada vez mais os professores.
Meu marido, que é professor de xadrez, também está passando por isso, e conheço mais uma penca de professores na mesma situação, tanto na escola e no ensino médio quanto na faculdade. Sabemos que está havendo uma precarização de todo o emprego no Brasil -- estão tentando vender a retirada de direitos trabalhistas como uma "oportunidade para o trabalhador empreender" --, e isso é muito acentuado na rede privada de ensino.
Publico aqui o texto de Dennis Almeida, bacharelado e licenciado em História pela USP. Ele está dando aulas de Literatura na rede particular de SP, depois de um tempinho em Minas, onde nasceu.
Hoje fui a um colégio e depois de fazer todo o processo seletivo, me avisaram que a contratação era mediante MEI (Micro Empresa Individual). Disseram que isto seria ótimo para mim e para a escola. Será mesmo? Segue um depoimento no calor desta experiência pela qual eu passei e sei que muitos colegas passam.
As condições que apresentaram: eu abro uma MEI, pago por ela o imposto de renda referente aos ganhos neste colégio, e escolho se contribuo para o INSS ou se invisto o dinheiro que iria para este fim de outra maneira. Tudo isso em um plano de banco de horas, com 9 aulas por semana.
O valor seria de R$ 42 a aula dada, e o salário mensal seria o número de aulas dadas a cada mês, e só. Sem hora-atividade, sem descanso semanal remunerado, sem dissídio, 13º e nem férias. Tem até lema para isso: aula dada, aula paga (cópia de um slogan de rede de ensino).
Preciso trabalhar, e estou com dificuldades de fechar o mês. Não está fácil para ninguém! Mas recusei-me a aceitar esta “oportunidade de deixar de depender de migalhas do governo e passar a empreender com o meu conhecimento”. Por princípios, por revolta, por ter um mínimo de dignidade, eu disse obrigado, mas não!
Este papo de MEI está começando a aparecer nas escolas e faculdades particulares, sorrateiramente, embrulhado em uma embalagem do culto empreendedor. “Deixe de depender da previdência, escolha a maneira de investir e gastar o seu dinheiro, seja livre!” e outras historinhas pra boi dormir.
Como professores, temos de nos unir contra a precarização da nossa profissão (em mais um nível, pois já somos precarizados). Já estamos sendo demitidos por sermos acusados de doutrinação por pais que se organizam em grupos de WhatsApp e usam o valor da mensalidade para intimidar os mantenedores, que entre perder uma ou algumas mensalidades ou trocar o profissional, não veem problemas em nós demitir.
Sem as garantias da CLT, as coisas ficam ainda piores. A intimidação será maior ainda, em uma realidade em que a classe docente é vista como inimiga. Não é uma situação nova, apenas recrudesceu.
Sei que para muitos que não são professores, e já trabalham em uma realidade em que já são profissionais liberais, isso pode parecer exagero, mas o professor não pode trabalhar assim, pois a nossa função não é agradar aos pais, alunos ou mesmo ao dono da escola, mas ensinar. E aprender, tanto quanto ensinar, não tem de ser agradável, apenas necessário.
Intimidar professores deste modo é equivalente a intimidar um médico a dar apenas diagnósticos favoráveis para não perder a clientela. Imagine não ter o seu tratamento, que pode lhe salvar, apenas porque não aceita o fato que está doente.
Por isso, se você for professor, evite ao máximo aceitar essas condições de trabalho. Esta situação não te traz vantagens, nem te fortalece. Apenas te fragiliza enquanto profissional, além de fragilizar a sua classe de trabalho. Abrir mão dos seus direitos trabalhistas te deixará desprotegido contra este e outros tipos de abusos que possa sofrer na escola.
E se você não for professor, tenha empatia pelos professores. Queremos, tanto quanto bons salários, poder trabalhar sem medo de sermos demitidos por algo que dissemos ou, pior, acharam que dissemos. Só queremos dar a melhor aula possível, fazer um bom trabalho, sermos úteis de alguma forma para os nossos alunos com o pouco a mais que sabemos.
Leciono no interior de SC e passo por grandes dificuldades. Não quero parecer xenófoba, mas o que esperar de um lugar que elegeu o Bozo com 85%+ de votos? Numa das salas, tem uma turma onde tem mais crianças com sobrenome alemão e o sobrenome "esquesito" é justamente o sobrenome "tuga"(como é apelidado um branco de cabelos escuros e sobrenome português por eles), o tuga não é mal visto, nem eu. Sou branca estilo mediterrânea, mas tem uma menina, que é filha de uma mãe solo e mestiça. Mãe branca e pai negro e os outros meninos vivem infernizando ela. Chamando ela de "cabelo de bombril", já vi ela chorando várias vezes, ela tem problemas pra conseguir equipe, ninguém conversa com ela, anda meio deprimida, sinto muito pena dela, mas não sei o que posso fazer pra ajuda-la. Tentei conversar com o pai de um dos alunos e ele soltou que "a cidade ta ficando mais violenta e suja porque esta menos branca", fiquei sem resposta. Tem gente abertamente racista. Ña minha experiência em outros estados, os racistas pelo menos tentavam esconder e disfarçar.
ResponderExcluirTriste seu relato, mas isso é normal no sul, interior e litoral de São Paulo, Espírito Santo e algumas cidades do interior do Rio de Janeiro, como no interior dos Estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás onde residem muitos sulistas e isso é passado de uma geração para outra. São racistas, segregacionistas, preconceituosos, cruéis e até violentos contra quem foge do padrão europeu ideal para eles. Menciono isso com conhecimento de causa, sou paulistana descendente de indígenas, resido no meio oeste catarinense e só estou aqui devido o meu marido ter uma carreira consolidada onde moramos e eu ter um comércio online e concilio com venda de lanches, porém saio para cidades maiores, pois sou boicotada onde moro, porém tem muito comércio a fechar as portas na cidade, mas está assim no Brasil inteiro. Precarização em geral a começar pela saúde e educação que são necessárias, essenciais.
ExcluirSim so tem racismo no sul, o norte/nordeste um paraíso de tolerancia
ExcluirNada de novo sobre o sol. A tendência é piorar com Guedes e Biroliro. Quero saber quando toda a classe trabalhadora for devidamente escravizada quem vai pagar escola privada. Essa rapaziada do setor de bens e serviços parece não entender que está dando tiro no próprio pé.
ResponderExcluirBom, eu já disse isso aqui em um post publicado há algumas semanas, mas não custa repetir... também dou aula e a faculdade em que eu trabalho foi comprada por um desses grandes grupos multinacionais da área de educação, e uma das primeiras providências tomadas por eles foi reduzir a carga horária de 4 horas-aula para 3 horas-aula. Maneira bem "esperta" de reduzir legalmente o nosso salário, já que o valor da hora-aula (referência salarial do professor) foi mantido. E de quebra ainda tiraram o adicional noturno, pois a aula passou a terminar antes da 22:00 (não que fosse uma grande fortuna, mas ajudava...).
ResponderExcluirSobre a retirada de direitos trabalhistas, tenho ouvido várias pessoas dizerem que não querem depender do Governo e preferem guardar o dinheiro que iriam pagar ao INSS. Bom, o problema é que o INSS não é só aposentadoria, também é previdência social. O sujeito guarda, por exemplo, 10% do salário todo mês para fazer um pé de meia que seria a sua aposentadoria no futuro. Legal. Mas o que acontece se a pessoa precisa se afastar por doença ou por um acidente de trabalho? Vai fazer como, sem o auxílio-doença que receberia caso estivesse contribuindo com o INSS? Dependendo do tempo afastado do trabalho, a grana guardada vai embora rapidinho...
Nas redes públicas, os prefeitos e governadores estão promovendo retirada de direitos trabalhistas e redução futura de salários ao alterarem o plano de carreira.Em Porto Alegre o PSDB transformou os aumentos trienais em quinquenais e reduziu o percentual de 5% para 3%. Em 30 anos o salário dos professores municipais que atualmente é o dobro dos estaduais do RS, ficará igual ao da rede estadual, ou seja nivelamento por baixo. Sem contar que fechou laboratórios e projetos extracurriculares. No estado o governador também tucano acabou com a licença prêmio e pretende também alterar o plano de carreira para reduzir mais ainda o salário, que é um dos menores do país (1240 pilas para 20 h semanais). E bibliotecas, laboratórios de ciências e de informática nem pensar, ele está fechando tudo!!!!Escola pública é apenas professores em aula!!! Não é de se admirar que dezenas de alunos passem o turno inteiro fora da salas de aula!!!!!!!
ResponderExcluirCara Anônima das 16:49, você não é xenófoba, é racisnófoba. E ainda bem.
ResponderExcluirCão do Mato, tem uma conta simples que eu gosto de apresentar. Digamos que você queira se aposentar ganhando 5.000 por mês. Digamos que você aplique em qualquer aplicação que dê 6% ao ano, mais inflação (poupança, basicamente, mas tenho dúvidas se poupança ainda dá 6% real ao ano). Pergunta: quanto você precisa ter na poupança para ter uma renda mensal de 5 mil? Resposta: 1 milhão. Se você tiver 1 milhão aplicado na poupança, ela rende 5000 por mês. Saque 5000 todos os meses e, no mês seguinte, seu 1 milhão terá rendido mais 5000. Então, vire para o fulano que diz que vai economizar no INSS e pergunta, se você pegar seu INSS e colocar na poupança, em quantos anos você terá 1 milhão de reais? Aliás, em quantos anos terá 1 milhão se poupar tudo o que poder a partir de hoje?
Brasil = precarização geral de tudo, todas, todos e todes!
ResponderExcluirNa era da Internet, com os recursos audiovisuais que temos, ter mais de um professor por disciplina no mundo é desperdício de dinheiro. Pega um prof top, grava um curso e boa
ResponderExcluirPois é Paulo, e na linha do q o Cão do mato disse, o Fulano resolve sair do emprego CLT e ir prum MEI pra "investir" o dinheiro do INSS, como grande empreendedor q é. Investe por 3 meses, no quarto mês ele sofre um acidente, quebra a perna e fica 6 meses de cama. E aí, aconteceu o q?Se fo**u de verde e amarelo.
ResponderExcluirLamentável, mas os brasileiros caem em golpe de bilhete premiado, embora os meios de comunicação em massa avisem o tempo todo. Em terra com um povo assim professores além de desvalorizados são marginalizados, perseguidos, mas parte da população elegeu Jair Bolsomijo, cambalacheiro é chamado de professor, filósofo, jornalista e por aí segue o estrago. Como diria a obra literária de Ignácio Loyola Brandão "Não verás país nenhum " se depender da inércia, comodismo, alienação de um povo que cai em conversa mole.
ResponderExcluirEstá fazendo o q disse que iria fazer. Nenhuma surpresa.
ResponderExcluirPergunta off...
ResponderExcluirNos "Arquivos do Blog" mostra postagens de 1998, mas tem um banner dizendo que completa 11 anos de blog. Há quanto tempo esse blog existe de fato?
O blog tem 11 anos, começou em janeiro de 2008. Mas há textos meus de 1998 até 2007, ou seja, antes de eu começar o blog. Eu os publicava no segundo maior jornal de Santa Catarina e num site. Quando comecei o blog, tentei trazer o máximo de textos meus pra cá (muitos desapareceram).
ResponderExcluirBostanazi asqueroso falou mais uma grande merda, pra variar:
ResponderExcluir“Brasil não é “paraíso gay”, mas quem quiser vir fazer sexo com mulher, fique à vontade”
https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/bolsonaro-brasil-nao-e-paraiso-gay-mas-quem-quiser-vir-fazer-sexo-com-mulher-fique-a-vontade/
https://uploads.disquscdn.com/images/6e71d81d95f77e846955cb63850e51e8e0bb456886b939d7869e2d947ba68673.jpg
Simplesmente não aceitem serem contratados pelo MEI e pronto.
ResponderExcluirPatrões e empregados querem a mesma coisa: O lucro. Ou seja, após receberem seus pagamentos e pagarem todas as suas despesas, quanto mais sobrar (o lucro) melhor.
Contudo o empregador tem uma vantagem: Mão de obra é abundante.
Verdades absolutas do pós-modernismo:
ResponderExcluir- A desconstrução não pode ser desconstruída.
- A construção social não é socialmente construída.
Quem discordar disso é UNIVERSALMENTE fascista
Oi, Lola, eu sou o Anon de 26 de abril de 2019 20:50.
ResponderExcluirAgora entendi! Parece que o Blog foi iniciado em 1998, mas de qualquer forma você escreve há muito tempo(e se bobear até bem antes de 1998)...isso sim é persistência. Parabéns.
Muito obrigado pela atenção.