Digamos assim: Frances McDormand salvou o Oscar 2018 de ser uma cerimônia sem momentos memoráveis. Já chego a ela.
O apresentador Jimmy Kimmel fez um serviço discreto com algumas boas piadinhas referentes à "má conduta" de tantos homens em Hollywood: "O melhor homem é o Oscar. Mantém as mãos onde a gente pode ver e não tem pênis" e, principalmente: "Vamos lembrar desse ano como o ano em que os homens fizeram tanta m*rda que as mulheres começaram a sair com peixes" (pra quem não entendeu, ele estava falando do romance entre diferentes espécies em A Forma da Água).
Foi legal quando Jimmy reuniu algumas pessoas famosas como Margot Robbie, Lupita Nyong'o, Gal Gadot, Mark Hamill, Guilhermo del Toro e Armie Hammer para atravessar a rua até o cinema mais próximo (que passava A Wrinkle in Time, de Ava DuVernay), interromper a sessão, agradecer ao público e distribuir doces e cachorros-quentes. Margot ficou um tempão dando chocolate pros espectadores, que não acreditavam no que estavam vendo.
Bacana também foi ter chamado Faye Dunnaway e Warren Beatty (a dupla inesquecível de Bonnie e Clyde) de novo para anunciar melhor filme, depois do fiasco do ano passado, em que, por causa de um envelope errado, La La Land, e não Moonlight, foi apresentado como melhor filme. Muita gente culpou Faye e Warren, que foram também vítimas de um erro gritante que jamais deveria ter ocorrido. Desta vez tudo deu certo, mas foi divertido ver o fofo diretor mexicano del Toro verificar o envelope quando subiu ao palco para agradecer o prêmio por A Forma da Água.
Dos nove indicados a melhor filme, apenas dois, The Post: A Guerra Secreta e Lady Bird: A Hora de Voar, saíram com as mãos abanando. Todos os outros ganharam pelo menos uma estatueta. Mas o grande vencedor foi mesmo A Forma da Água, que levou quatro (pra mim, é o melhor filme mesmo).
Outros momentos de destaque: a atriz Daniela Vega foi a primeira mulher trans a apresentar um Oscar. O filme que ela protagoniza, o chileno Uma Mulher Fantástica, ganhou melhor filme estrangeiro, também um fato inédito (filme sobre trans protagonizado por uma mulher trans ganhar Oscar). Um filme que defende os direitos trans dirigido por nossos hermanos sul-americanos... Muito bom!
Jordan Peele levou o roteiro original por Corra!, a terceira pessoa na história do Oscar a ser indicada por roteiro, direção e melhor filme na sua estreia. Mas seu discurso não foi nada de mais, assim como soou meio anti-climático a parte dedicada aos movimentos #MeToo e Time's Up.
E eis que teríamos uma cerimônia bem morninha se não fosse Frances. 21 anos depois de receber seu primeiro Oscar (por Fargo, dirigido por seu marido, Joel Coen), a protagonista de Três Anúncios para um Crime confirmou seu amplo favoritismo e ganhou a estatueta de melhor atriz.
Ao subir ao palco, ela começou agradecendo o diretor de Três Anúncios, Martin McDonagh: "Somos um bando de rebeldes e anarquistas." Agradeceu a irmã e o "seu clã", referindo-se a seu marido e ao filho, Pedro "McCoen": "Esses dois indivíduos dedicados foram bem criados por suas mães feministas -- eles valorizam a si mesmos e os que estão ao redor deles".
Em outras palavras: ela se assumiu feminista e, ao mesmo tempo, agradeceu à sogra feminista (e não há dúvida que homens criados por feministas têm boas chances de serem homens melhores).
Mas Frances não parou aí. No momento mais emocionante da noite, Frances pôs o "homenzinho" (o Oscar) no chão e pediu pras mulheres se levantarem:
Oscar no pé, mulheres de pé |
"Seria uma honra se eu pudesse ter todas as mulheres indicadas em todas as categorias aqui, de pé, comigo nesta sala hoje. Meryl, se você fizer, todas as outras vão fazer também. As diretoras, cinematógrafas, compositoras, produtoras, roteiristas, figurinistas... Todos, olhem à sua volta. Todas nós temos histórias pra contar e projetos pra financiar. Não venham falar conosco sobre isso na festa hoje. Convidem a gente pra ir até seus escritórios daqui a uns dias. Ou vocês podem ir aos nossos, o que for melhor pra vocês. E então contaremos tudo sobre esses projetos. Tenho três palavras para deixar com vocês esta noite, senhoras e senhores: cláusula de inclusão".
As mulheres se levantam |
Eu não conhecia esse termo, inclusion rider. , que foi citado numa palestra de 2016 por Stacy Smith, fundadora de uma Inciativa por Inclusão da Universidade do Sul da Califórnia. Qualquer astro ou estrela ou diretor ou roteirista mais conhecido, nas negociações do contrato, pode pedir uma cláusula de inclusão, ou seja, só aceitar fazer um filme se ele tiver diversidade (não só no elenco, mas na equipe técnica) de, por exemplo, personagens femininas e gente não branca.
Depois, nos bastidores, Frances disse que essa cláusula sempre existiu, mas nunca era mencionada por agentes. Foi só depois de 35 anos de carreira que ela ficou sabendo (e nós também).
Quer dizer, olha só o poder desse discurso. Não só comoveu um monte de gente (as câmaras mostraram mulheres chorando, orgulhosas, se abraçando), como ainda pode significar alguma mudança de verdade. Obrigada, Frances! Foi lindo!
União: indicadas a melhor atriz se abraçam após a vitória de Frances McDormand |
Quanto ao meu tradicional bolão do Oscar, Bells Aleixo, que não conheço, ganhou sozinho o bolão pago! Ele (acho que é um homem) acertou todas as vinte categorias, um recorde (outras pessoas já haviam acertado 100%, mas só no bolão grátis). Maura e Camila, que participam há muitos anos, ficaram em segundo, com 19 acertos. Vitor ficou em terceiro, com 18. E eu, Livia e Claudemir não fomos tão mal: acertamos 17 (meu recorde é 18). Parabéns a todas e todos que se arriscaram a apostar R$ 25! Bells, por favor, mande um email pra mim pra que eu possa depositar os R$ 350 do bolão na sua conta.
Meryl se entusiasma com o discurso de Frances, como fez com o de Patricia Arquette em 2015 |
Quanto ao bolão grátis, nenhum dos 113 votantes acertou 100%! O vencedor foi Jonisvan, com 19 acertos, seguido por Marcia e Janiane, com 18, e Hildérica, Lula, Livia, Rangel, Priscila, Andrei e Camila, com 17. Você pode conferir as tabelas com os resultados aqui (super obrigada mais uma vez por toda a organização, Júlio César! Não sei o que faria sem você. Aliás, sei: não promoveria mais o bolão!).
Olá, Lola
ResponderExcluirBells aqui :D
Parabéns pela organização do Bolão
Te enviei o email que pediu
Este discurso já é antológico, melhor coisa disparada do Oscar mesmo.
Abrçs
ano q vem, se deus quiser, será a vez da Lady Gaga levar melhor atriz
ResponderExcluirUé, quem sabe, hein??
ExcluirAinda bem que o Oscar já passou, não aguentava mais post sobre esse bolão. Sei que o blog é da Lola e ela escreve sobre o que quer, mas acredito que a Lola respeite a opinião das leituras e não vai se sentir desrespeitada poe uma crítica.
ResponderExcluirmelhor filme estrangeiro (uma "mulher" fantástica) e melhor roteiro original (corra) surpreenderam
ResponderExcluira injustiça ficou por conta de canção original, 'mystery of love' do me chame pelo seu nome>>>>>>>>>>>
mas esperar o q da categoria mais zuada do óscar?
e a ausência de 'in a heartbeat' em melhor curta animado (era pra ter vencido inclusive) continua intragável
Lola, infelizmente vou ter que discordar de ti em alguns pontos. Eu não achei a cerimônia fraquinha, achei melhor que a do ano passado, por sinal.
ResponderExcluirTambém esperava que se falasse mais sobre a Time's Up, mas a cerimônia não deixou a desejar ao apontar o preconceito racial, que assim como o machismo ainda está MUITO presente em Hollywood. É só prestar atenção nos maravilhosos comentários que a Tiffany Haddish e a Maya Rudolph fizeram quando foram apresentar duas categorias, o mesmo vale para o que foi dito pela Lupita Nyong'o e pelo Kumail Nanjiani. Também vimos vários comentários feitos sobre a questão do imigrantes, que o próprio Guillermo del Toro reforçou mais de uma vez ao falar claramente que ele é um imigrante, assim como muitos ali.
O discurso da Frances foi lindo sim, mas acho exagero falar que ''salvou'' algo que nem deveria ser salvo, pois a cerimônia não foi ruim de forma alguma. Outro discurso que eu amei foi o do Gary Oldman quando ele agradeceu a mãe e disse ''put the kettle on, I'm bringing Oscar home''. Como a fã de Star Wars que eu sou também adorei terem chamado o elenco para apresentar alguns prêmios e a parte que tu citou no post, quando homenagearam o público e distribuíram chocolates e cachorro-quente pro pessoal que estava no cinema do outro lado da rua também foi uma das minhas favoritas.
Agora o que eu particularmente achei de mau gosto foi terem chamado a Jennifer Lawrence, que é um nojo de pessoa (já fez piada de estupro, comentários insensíveis, racistas e transfobicos)pra apresentar um prêmio ao lado da incrível Jodie Foster. Em um ano em que estamos falando sobre diversidade é sério que vocês vão chamar a maior white femminist de Hollywood no palco? Pois é, esperar uma cerimônia perfeita é demais.
Achei tudo previsível no Oscar. O que não foi nada previsível e realmente salvou o Oscar, foi o discurso da Frances.
ResponderExcluirPessoas brancas fazem parte da diversidade.
ResponderExcluirNão sou de ficar acompanhando o Oscar e ontem assisti, só um pouquinho..., porém de uma maneira geral, incluindo os indicados de ontem/ sessão não acho um prêmio inclusivo.
ResponderExcluirPor isso não participo desse bolão! Vocês são muito profissionais: 20/20?? Parabéns Bells.
ResponderExcluirFabi.
Pessoas brancas TAMBÉM fazem parte da diversidade viu Lola? Vc está sendo extremamente RACISTA ao excluir/denegrir pessoas de pele mais clara.
ResponderExcluirFalando em Oscar, li alguns comentários hoje na internet dizendo que pessoas brancas estão sendo hostilizadas e até expulsas das filas dos cinemas ao tentarem assistir ao filme "Pantera Negra". Alguém sabe se a notícia de fato procede?
ResponderExcluirnossa, não sabia que a jen lawrence tinha essa imagem, anon 19h33. Quando ela fez esses comentários infelizes?
ResponderExcluirJoana X
Claro que procede, cão do mato. É o maldito racismo reverso, acontece todos os dias. Minha irmã é branca de olhos azuis e cabelo louro escuro e foi recusada em uma vaga de emprego ontem. Todos os dias a gente vê gente branca sendo morta pela polícia, sendo impedida de andar em elevadores sociais, impedida de se filiar em clubes (a gente tentou o clube Pinheiros, o Paulistano, o Hebraica, o Sírio e o Harmonia, mas lá é superdifícil entrar gente branca, a não ser como babá, vestida de branco para não sermos confundidas com os sócios). Somos a maioria trabalhando como domésticas, a pobreza nos atinge muito mais, nossos filhos têm mais probabilidade de serem mortos pela polícia, a maioria dos libertos de trabalhos com condição análoga à escravidão é de brancos, enfim, é muito difícil ser branco nesse país. E ainda todos os filmes produzidos por roliúdi só tem atores negros, as equipe são todas de negros, nós brancos não temos representatividade. E quando vamos assistir pantera negra somos expulsos das filas do cinema por esses negros racistas. Isso só acontece no bananil. Nada acontece feijoada...
ResponderExcluirSalvou do que? Esse Oscar foi a pior audiência da história
ResponderExcluirJen Lawrence faz piada sobre estupro mas ja foi vítima de divulgação de fotos nuas na Internet
ResponderExcluirEu e o monte de pessoas brancas que estávamos na fila do cinema pra assistir Pantera Negra semana passada não ouvimos nada. Minha mãe, que também é branca e assistiu ontem, não chegou em casa falando nada sobre isso.
ResponderExcluirAffe, pra quê eu estou respondendo essa merda? Vão tomar no cu seus mimados idiotas! Vão estudar, trabalhar, varrer a casa, lavar a louça ao invés de ficar inventando bosta na internet.
"Pessoas brancas fazem parte da diversidade."
ResponderExcluir---> E quem está dizendo que não faz? Está se falando aqui de uma premiação que até bem pouco tempo sequer reconhecia a presença de pessoas de outras etnias na indústria cinematográfica. Em 90 anos (90 anos!) de Oscar apenas 6 mulheres negras (me corrijam se eu estiver enganado) levaram a estatueta de melhor atriz. Enquanto isso um bebezão barbudo mimado vem aqui com gracinhas de "ai pessoas brancas fazem parte da diversidade". Vai criar vergonha nessa fuça, rapaz.
16:00 - e daí, mascu?
ResponderExcluirteve mais audiência q qualquer outro programa boboca pró-câncervadorismo
Eu assisti Pantera Negra e desculpa a franqueza mas achei o senhor de Wakanda incrivelmente parecido com o Trump, se trocasse por um personagem branco todo mundo veria a referência, chega a ser engraçado.
ResponderExcluirE para uma premiação que já deu Oscar de Melhor Filme para coisas como O Poderoso Chefão, esse Shape of Water chega a ser sub-ginasiano.
"Eu e o monte de pessoas brancas que estávamos na fila do cinema pra assistir Pantera Negra semana passada não ouvimos nada. Minha mãe, que também é branca e assistiu ontem, não chegou em casa falando nada sobre isso."
ResponderExcluirÓtimo que esteja sendo assim.
"E para uma premiação que já deu Oscar de Melhor Filme para coisas como O Poderoso Chefão, esse Shape of Water chega a ser sub-ginasiano."
ResponderExcluireu gosto do Del Toro mas esse filme é muito fraco, nossa, forçou demais a barra e acho que só ganhou mesmo porque preenche várias cotas ao mesmo tempo (gays, negros, gordos, deficientes físicos, homem branco malvadão) e achei um lixo a personagem principal aparecer pelada a cada 10 minutos, bem desnecessário e acho super esquisito ninguém estar apontando isso, pleno 2018 e o cinema ainda usa esse tipo de recurso sujo
Sou mulher e estou achando tudo muito chato, muito mimimi.......muito textão das lacrativas.
ResponderExcluirEsse Oscar virou palanque político. chato demais bora trabalhar.
10:19, quem deixa de trabalhar por causa dos discursos do Oscar? E tentando passer por mulher aqui, mascu? Tenta outra.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir"esse filme é muito fraco, nossa, forçou demais a barra e acho que só ganhou mesmo porque preenche várias cotas ao mesmo tempo (gays, negros, gordos, deficientes físicos, homem branco malvadão)"
ResponderExcluir---> Não tem cota nenhuma, troll. A Forma da Água é um filme metafórico sobre opressão social contra quem não está dentro dos padrões. A presença de personagens fora dos padrões é mais que necessária para o enredo. Engraçado que como tudo pra reaça é cota. Tem negro no filme? Cota. Mulher? Cota. Gay? Cota. Deficiente físico? Cota. A única cota de que não reclamam é a do homem branco heterossexual em todo e qualquer projeto da indústria cinematográfica.
"e achei um lixo a personagem principal aparecer pelada a cada 10 minutos, bem desnecessário e acho super esquisito ninguém estar apontando isso, pleno 2018 e o cinema ainda usa esse tipo de recurso sujo"
---> Única coisa minimamente racional no excremento que você emitiu pelos dedos. Existem sim cenas desnecessárias envolvendo a nudez da protagonista, mas a atriz não está dentro dos padrões de beleza e a intenção da maior parte dessas cenas não parece ser a simples objetificação.