O MACHISTA E HOMOFÓBICO QUE TENTA SE PASSAR POR DESCONSTRUIDÃO

Este é o terceiro guest post da Naille Conceição, que é estudante, negra e feminista (e que escreve para o Obvious), para o blog. Super obrigada, Naille. 

Ele era meu amigo. Ele assistia séries, era divertido e parecia ter a sua própria idade, não cinquenta ou mais anos quando proferia seus discursos. Ele talvez possuísse alguma ideologia, mas não expunha. Também parecia ser cabeça aberta, talvez por que fosse cabeça de vento, tão aérea que sairia voando a qualquer segundo pelos ares. Ele era meu amigo? Me enganei.

A pessoa de quem eu falo é única, mas seu “tipo” é comum, e infelizmente existem vários por aí. O cara que adora se mostrar desconstruído, mas no fundo é tão preconceituoso ou até pior do que os outros. 

Conheci D no segundo semestre do curso que faço numa faculdade religiosa, onde já tinha sido vítima de racismo e machismo, esse último por parte de várias meninas. Meus pais querem que eu termine o curso, então meu único consolo foi encontrar alguém que fosse diferente deles e parecido comigo para ter uma amizade na qual se apoiar.

O escolhido foi ele, pois ele já tinha se relacionado com uma amiga minha. E lembro dela dizer “ele é legal, apesar de ser de lá.”. Fizemos amizade. No terceiro semestre, quando achei que iria escapar da minha “prisão” por que havia sido aprovada na UFBA para o curso dos meus sonhos, Jornalismo, fiquei com um pouco de tristeza pois não iria mais ver meu amigo.

Como ter alguma coisa
contra um candidato a
presidente que ainda ontem
espalhou este tuíte? Um
cidadão de bem tão honrado
e que respeita as mulheres!

Infelizmente não pude ir para a UFBA por diversos motivos, e iniciei o terceiro semestre. A mudança chegou. Os tons das conversas mudaram, se tornaram mais políticos e sempre culminavam no mesmo assunto: “O que vocês têm contra o Bolsonaro?" Por várias vezes ele defendia esse ser e achava graça brigar com feministas pela internet (eu sou feminista desde 2016 e nunca escondi, mas a primeira vez que afirmei isso para a sala toda foi quando estávamos falando de propagandas na aula de Marketing).

Desde então ele passou a atacar o feminismo com argumentos tão falhos como um queijo esburacado, chegando a dizer que não havia diferença entre assédio feminino e masculino. Ele havia sido assediado por que uma menina que o chamou de gatinho. No mesmo instante contei a ele as coisas infames que um grupo de homens havia me dito no dia anterior e fiz questão de salientar que estava de calça jeans na ocasião, quebrando o argumento da roupa.

Depois suas críticas passaram aos LGBT, em forma de piadas sem graça e imitações afetadas. De um dia para o outro D começou a me contar suas histórias sexuais sem que eu perguntasse, inclusive a vez em que ele “errou o buraco”. Passou a me perguntar coisas de cunho íntimo, sobre masturbação, virgindade e lesbianismo. 

Cansada, tive uma conversa séria com ele, que confessou estar tentando me tirar do armário, pois eu defendia os LGBT com tanta força que provavelmente eu era lésbica. Respondi que era hétero e que defendia sim os LGBT por questão de humanidade e empatia.

Não sei como consegui passar o semestre inteiro sendo amiga dele. Se você quiser me julgar pela demora em acabar com a amizade, pode. Eu mesma estou fazendo isso agora enquanto escrevo. Nos últimos dias de aula, ele vinha me recomendar livros, artigos e vídeos de homens difamando o feminismo ou dizendo que as mulheres não eram boas o suficiente para cuidar do movimento. 

Então explodi. Disse tudo o que estava entalado pelo Messenger e nesse momento ele realmente se mostrou. O que restava de sua máscara caiu e ele se mostrou como tantos outros: preconceituoso, ignorante e extremamente nojento. 

Escrevo esse texto hoje tentando alcançar quem pode estar na mesma situação que eu e não saber. Já li várias vezes que pessoas tóxicas diminuem nosso tempo de vida, nossa beleza e felicidade. Por favor, não demore tanto tempo como eu, elimine o quanto antes esses nódulos da sua vida. Vai te fazer bem. Garanto.