"OBSESSÃO PELO COLEGA QUE ME PERSEGUIU"

A S. me enviou este email:

Faz séculos que penso em te escrever, por diversos motivos. Já comecei mensagens diversas vezes, mas acabo desistindo. Ocorre que queria contar algo que me incomoda muito.

Sou professora universitária. Quando ainda aluna de pós-graduação, um professor mais ou menos da minha idade se aproximou de mim. 
Ou melhor, nos aproximamos e nos tornamos amigos. Na época eu namorava um colega e estava feliz com meu namoro, não tendo qualquer intenção além da amizade com o professor, que chamarei de V. 

V. é um professor reconhecido e respeitado pelos colegas (não todos, mas sobretudo aqueles que foram seus professores), considerado uma espécie de gênio. Concluiu seus estudos e se tornou professor muito cedo. 
Depois de alguns meses de amizade e convivência intensa, V. começou com conversas estranhas, onde me relatava suas preferências sexuais (mulheres assim ou assado, que fazem isso ou aquilo). Eu achava estranho e inadequado, mas não dizia nada, apenas ria, constrangida. Ele nunca pareceu alguém com relações pessoais tranquilas, me contava também coisas sobre sua família, tinha problemas nos relacionamentos em geral. 

Numa festa, ele deu em cima de mim, na frente de todos -- seus e meus colegas -- inclusive do meu namorado. Ele estava claramente alcoolizado. Eu simplesmente me afastei dele na festa. 

A partir de então ele parou de falar comigo e de olhar na minha cara. Cerca de uma semana depois, enviei um e-mail dizendo que ele parecia ocupado naquela semana, já que não havíamos nos falado (eu não tinha certeza que era proposital ou não quis acreditar). 
Ele me respondeu com uma mensagem extremamente agressiva, me xingando dos xingamentos machistas usuais (puta, vaca, etc). Eu ainda insisti que achava que havia um mal entendido e que devíamos conversar pessoalmente. Ele respondeu que se eu quisesse encontrá-lo para "dar" para ele, ótimo; senão, que era uma vadia. Respondi dizendo que não queria e que lamentava a atitude dele e perder uma amizade.

Ele me evitou desde então, não dirigiu mais a palavra a mim, saía das rodinhas quando eu chegava (tínhamos muitos amigos em comum). Cheguei a cursar uma disciplina com ele, onde ele ignorava minhas perguntas, simplesmente fingindo que não ouvia. Me intimidei, me calei. Ninguém soube do ocorrido, exceto meu namorado.

Alguns anos depois, passei num concurso para o mesmo departamento e ele me cumprimentou pelo concurso, me estendendo a mão. Tivemos uma convivência amena nos primeiros anos, até que as divergências políticas começaram a aparecer e nos tornamos oponentes dentro do departamento. 

Como se não bastasse, desde a época do ocorrido, ele se interessou pela minha área de pesquisa e é hoje a pessoa do departamento que trabalha nos temas mais próximos aos meus. Assim, participa de seminários e eventos, inclusive os organizados por mim.

V. é uma pessoa bastante maquiavélica, já tendo perseguido um colega do departamento, motivo pelo qual quase foi aberto um processo administrativo.

Enfim, morro de ódio dele e tenho uma certa obsessão com o assunto. Acho que ficou tudo muito mal resolvido. Faço terapia, mas sem progresso nessa direção. Infelizmente, apaguei na época todas as mensagens que ele me mandou, pois queria excluí-lo da minha vida e não tenho prova de nada, exceto pela minha memória e a de alguns colegas/amigos. 

Morro também de medo de ele tentar fazer algo contra mim: pode ser parecerista, estar numa banca. 

Não sei se sofri assédio, nem se poderia ter feito algo diferente. Isso foi apenas um grande desabafo.

Minha resposta: Querida S., creio que você sofreu assédio sim. E, infelizmente, a academia (não só aqui no Brasil) é um mundo pequeno. Trabalhando na mesma área de pesquisa, então... Complica mesmo. 
Como você mesma diz, você tem uma certa obsessão por ele (e ele por você).
Ele pode te prejudicar. Afaste-se o máximo possível. Ainda que ele participe dos mesmos eventos, faça o possível para tratar tudo com profissionalismo e deixar o passado pra trás. É provável que ele não consiga fazer isso, mas aí é problema dele.
Continue com seu trabalho e tente não se deixar afetar por um sujeito maquiavélico que já te perseguiu bastante. É o melhor que posso sugerir.