GUEST POST: POR QUE VOTO DILMA E NÃO AÉCIO?

Publico hoje a opinião de Camila Fernandes, 24 anos, mãe de uma filha e esperando mais um, casada, servidora pública, acadêmica de Direito da Universidade Federal de Rondônia e simpatizante do movimento feminista.

Eu sei, eu sei, a maioria das pessoas não tem o menor interesse em saber por que votamos em um e não em outro candidato, a menos que coadune com sua escolha e juntos possam defender uma candidatura.

Nunca fui fã de carteirinha da Dilma, mesmo porque políticos não são ídolos, não merecem endeusamento de ninguém, mas sou favorável a muitas políticas públicas implementadas pelo PT, não ignorando, claro, todos os escândalos de corrupção que envolveram o partido.

Votei no Eduardo Jorge no primeiro turno, porque sua coerência nos debates e suas propostas de mudança me despertaram certa admiração. Foi um voto ideológico, embora pouco fosse o efeito nas urnas. Infelizmente meu candidato apoia o tucano Aécio, e se eu pudesse retirar meu voto, o faria.

O PT implementou diversas políticas afirmativas, como Bolsa Família -- embora sua tímida criação tenha se dado no governo FHC por meio do Bolsa Escola e pagamento de R$ 15 para cada criança que estudava, ou seja, se seu filho era bebê, sem chances de receber o auxílio --, PRONATEC, um incentivo à profissionalização técnica de milhares de brasileiros, 

EJA, uma garantia a milhares de adultos que não concluíram o ensino fundamental e médio, PROUNI, talvez o mais expressivo acesso de milhões de jovens ao ensino superior, coisa antes jamais atingida no governo tucano, 

Luz Para Todos, beneficiando milhares de famílias moradoras da zona rural, e dentre outras, talvez a transformação mais importante para o Brasil: saímos do mapa da fome.

Fiquei decepcionada, certo dia, em um grupo de Direito da nossa querida universidade, ao ver comentários inflamados em alusão aos beneficiários do Bolsa Família. 

As palavras que me chocaram foram "pobres e vagabundos". Sim, pobres e vagabundos que recebem o auxílio absurdo de R$ 70 por mês. A maior decepção foi ver que isso vinha de estudantes de Direito, que misturados ao uníssono de vozes de uma infeliz comunidade do Facebook, dão aos pagadores de impostos como nós o tratamento de desocupados e "pobres". 

Não pessoas pobres por falta de oportunidades suficientes, pobres porque são uma calamidade social e merecem, claro, todo o desrespeito. Talvez apenas por esse motivo, eu poderia votar na Dilma, porque fui tomada pela extrema revolta de ver tantas pessoas (nordestinas como três dos meus avós são) sendo xingadas e ofendidas por exercerem o direito de voto. Pessoas xingadas por alguns estudantes de Direito por exercerem uma garantia.

O governo FHC, que mal acompanhei devido a minha tenra idade, foi um governo da elite para a elite. Meus pais costumam falar que, naquela época, havia pouquíssimo acesso a bens de consumo, era necessário poupar muito para que um filho pudesse estudar em boas escolas (e depois nas universidades públicas), e caso não lograssem êxito no vestibular, que dureza seria pagar uma faculdade particular.

Aécio foi o terceiro mais votado em Minas Gerais, o Estado que governou entre 2003 e 2010 e onde, supostamente, teve 92% de aprovação. Parece uma matemática simples de fazer: muita aprovação, muito voto. Porém, no caso de Aécio a coisa fugiu da lógica: muita aprovação, nem tantos votos. Por que será? Acho que esse angu tem mais caroço do que imagino. Talvez isso tenha acontecido porque ele construiu dois aeroportos próximos às suas "humildes residências" com o dinheiro público. Claro, aeroportos são construídos com o dinheiro público, mas por que tão próximos às suas fazendas?

Aécio é conhecido em Minas por camuflar casos de corrupção. Antes da cassação dos mandatos, dois de seus "parceiros" partidários renunciaram ao cargo. Um dos helicópteros de um amigo foi apreendido com quase meia tonelada de cocaína. Há algo errado no Reino da Dinamarca, ou não?

Houve muitos escândalos de corrupção no Governo Lula, e há também no Governo Dilma, mas o mais surpreendente de tudo, sobremaneira no Brasil, é que há investigação e posterior punição aos envolvidos. Quando poderíamos imaginar que José Dirceu estaria hoje cumprindo regime semi-aberto, após ser condenado a 10 anos e 10 meses de prisão? Lamentável sempre é, mas me traz segurança saber que pelo menos boa parte dos envolvidos está cumprindo pena, sendo punido na forma da Lei. Pior seria se tudo fosse arquivado e esquecido pelo povo, como já foi feito tantas vezes antes.

Espero, sempre, que o melhor seja feito ao Brasil, mas dia 26 volto às urnas para votar 13, em solidariedade aos milhões de nordestinos que votam na Dilma e são beneficiados pelo seu governo, e são um povo batalhador, extremamente trabalhador, hospitaleiro e que sofre com as mazelas sociais sem perder a empatia e a vontade de crescer.