Semestre passado eu dei “Bartleby, o Escrivão” pros meus aluninhos de Literatura Americana II lerem. E, lá no meio da aula, tive uma epifania sobre por que o texto me afetou tanto.
Mas preciso começar do começo. “Bartleby” é um conto clássico da literatura em língua inglesa. Foi escrito em 1853 por Herman Melville, mais conhecido como o autor de Moby Dick. Sei que é uma grande falha do meu caráter nunca ter lido Moby Dick, mas o livro é longo, sobre caça às baleias, e não há meio na Terra que eu possa torcer pelo capitão Ahab (pô, ontem eu chorei lendo sobre a baleia encalhada em SC, aquela que continua agonizando na praia após falhar sua tentiva de eutanásia. Chuif. Até parece que vou desejar a morte de uma baleia num livro!). Sei lá, me interessar por Moby Dick é como me motivar a ler sobre as touradas de Hemingway. Pé no saco, se eu tivesse um. Mas disse isso pra minha turma (assim como disse que Hemingway e Moby Dick são considerados de interesse universal, mas Jane Austen, que trata de casamento e família, é vista como chick lit, literatura pra mocinhas. Se bem que é só mencionar Austen nas aulas que todas as alunas, e esta professora inclusa, soltam um “Ahhhhh” de amor incondicional. Enquanto os alunos se controlam pra não fazer careta), e um aluno disparou um “Shame on you!” (“Que vergonha!”) pra mim, já que até ele, que nem é grande fã de Literatura (prefere Fonética. Fonética!), disse ter vencido o desafio de ler o romance de Melville. Eu devolvi falando que, no belíssimo Para Sempre Alice, sobre Alzheimer, a protagonista decide fazer algo que nunca tinha feito na vida – ler Moby Dick – apenas após ficar demente. Mas estou sendo injusta com o livro, claro. É só que o tema definitivamente não me atrai.
Enfim, quando estudamos o período romântico/gótico da literatura americana, eu dou contos de Washington Irving (de quem menos gosto, e este semestre fiz a besteira de passar pros alunos A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça, filme do Tim Burton que não tem absolutamente nada, fora o título e a ambientação, a ver com o conto. E prefiro o conto), de Hawthorne, de Poe (meu preferido; adoro aquela ironia macabra), e de Melville.
“Bartleby, o Escrivão, Uma história de Wall Sreet” (procurei e não encontrei na internet a versão em português, sei que tem à venda por 10 reais como literatura de bolso; em inglês, tá aqui) é um conto mais longo (difícil de ler de uma sentada só, mas vale o esforço) que Melville escreveu como uma resposta emocional às más vendas de - olha a vida dando voltas - Moby Dick. É sobre um velho advogado que trabalha fazendo homens ricos ficarem ainda mais ricos, e contrata para ser um dos seus escriturários (profissão que já desapareceu?) um homem misterioso e passivo, Bartleby. No início ele trabalha bem copiando documentos, mas assim que seu chefe, o narrador da história, lhe pede para fazer algo minimamente fora de suas atribuições, como ajudar a revisar a cópia de outro escrivão, Bartleby responde: “I would prefer not to” (“Prefiro não fazer”, ou, de forma menos literal, “Acho que não”). O “prefiro não fazer” torna-se sua marca registrada, e o advogado narrador, que evita conflitos a qualquer custo, vai aceitando todas as “insurreições” de Bartleby, até que o agora ex-escrivão fica no escritório sem fazer absolutamente nada, além de olhar pela janela. Pra piorar, o chefe descobre que Bartleby está morando lá. Quando ele lhe pede pra sair, lógico que a resposta de Bartleby é “I would prefer not to”. Então o advogado decide abandoná-lo e transferir seu escri para outro lugar. Bartleby fica no prédio antigo, até que os novos proprietários o colocam pra fora. Daí ele passa a dormir na entrada do prédio, como se fosse um fantasma numa cidade-fantasma. Seu ex-chefe até o convida pra morar com ele, mas Bartleby responde com seu tradicional “I would prefer not to”. Finalmente, Bartleby vai preso. Na prisão, ele “prefere não comer”, até morrer de inanição, cadê o meu lenço? As últimas palavras do narrador são “Ah Bartleby! Ah humanidade!”.
Muito triste, né? Mas o conto até que é narrado de forma leve. O tema é que é absurdo e melancólico (tem quem diga que seja uma metáfora de escritores que não querem escrever). No trecho em que Bartleby é deixado no escri eu me lembrei de uma das cenas mais tocantes que já li, a de O Jardim das Cerejeiras, de Tchekhov. Nela, a família aristocrática inteira deixa a casa do jardim, prestes a ser demolida. Mas esquece, e tranca lá dentro, o velho empregado fiel, Firs, que a serviu durante toda a sua vida, geração após geração. E Firs se conforma, pensando que será resgatado, enquanto resmunga por seu mestre ter esquecido de levar o casaco. Chuif. Chuif.
Mas aí, ao analisar “Bartleby” com minha turma de literatura, é que percebi por que o conto tinha me afetado tanto. E foi algo incrível, porque não veio de repente, e sim em etapas. De repente, ao falar da história, eu me recordei de um dos meus primeiros empregos, como secretária-júnior num escri perto de casa, em SP. Eu tinha dois chefes, um calmo e mais ou menos bonzinho, e outro um crápula total, desses que pedem pra secretária comprar presente pra amante. E na casa onde ficava o escri havia um lindo cão, um Whippet (aqueles bem magrinhos de corrida), que pertencia ao patrão bonzinho. O cão vivia sozinho, e eu, naquele ambiente hostil de escri (eu recebia ordens de umas quatro secretárias-sênior, e dos chefes também, e nem sempre as ordens coincidiam), me apeguei a ele. Ele começou a dormir em cima dos meus pés, embaixo da mesa onde ficava a máquina de escrever elétrica (era 1987, ainda não havia muitos computadores). O chefe estúpido se zangava com a presença do cão aos meus pés. Nos finais de semana, o escri fechava, e o Whippet era deixado trancado dentro da casa. Eu ia lá dar banho nele, brincar, levá-lo pra passear. Pedia pro chefe bonzinho que o levasse pro seu sítio, onde havia outros cachorros. Como o escri era ruim pra se trabalhar, eu não nasci pra secretária, e não suportava o chefinho vilão, aproveitei uma greve geral para não ir trabalhar. O chefe-vilão ligou pra casa, furioso, perguntando por que eu não estava no trabalho, e eu respondi: “Estou em greve”. Ele gritou: “Não, você não está em greve, você está despedida!”. Pouco depois, felizmente, o cão foi pro sítio.
Um cão que podia muito bem ter se chamado Bartleby. Ou Bartleby era eu? Ou somos todos.
Enfim, quando estudamos o período romântico/gótico da literatura americana, eu dou contos de Washington Irving (de quem menos gosto, e este semestre fiz a besteira de passar pros alunos A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça, filme do Tim Burton que não tem absolutamente nada, fora o título e a ambientação, a ver com o conto. E prefiro o conto), de Hawthorne, de Poe (meu preferido; adoro aquela ironia macabra), e de Melville.
“Bartleby, o Escrivão, Uma história de Wall Sreet” (procurei e não encontrei na internet a versão em português, sei que tem à venda por 10 reais como literatura de bolso; em inglês, tá aqui) é um conto mais longo (difícil de ler de uma sentada só, mas vale o esforço) que Melville escreveu como uma resposta emocional às más vendas de - olha a vida dando voltas - Moby Dick. É sobre um velho advogado que trabalha fazendo homens ricos ficarem ainda mais ricos, e contrata para ser um dos seus escriturários (profissão que já desapareceu?) um homem misterioso e passivo, Bartleby. No início ele trabalha bem copiando documentos, mas assim que seu chefe, o narrador da história, lhe pede para fazer algo minimamente fora de suas atribuições, como ajudar a revisar a cópia de outro escrivão, Bartleby responde: “I would prefer not to” (“Prefiro não fazer”, ou, de forma menos literal, “Acho que não”). O “prefiro não fazer” torna-se sua marca registrada, e o advogado narrador, que evita conflitos a qualquer custo, vai aceitando todas as “insurreições” de Bartleby, até que o agora ex-escrivão fica no escritório sem fazer absolutamente nada, além de olhar pela janela. Pra piorar, o chefe descobre que Bartleby está morando lá. Quando ele lhe pede pra sair, lógico que a resposta de Bartleby é “I would prefer not to”. Então o advogado decide abandoná-lo e transferir seu escri para outro lugar. Bartleby fica no prédio antigo, até que os novos proprietários o colocam pra fora. Daí ele passa a dormir na entrada do prédio, como se fosse um fantasma numa cidade-fantasma. Seu ex-chefe até o convida pra morar com ele, mas Bartleby responde com seu tradicional “I would prefer not to”. Finalmente, Bartleby vai preso. Na prisão, ele “prefere não comer”, até morrer de inanição, cadê o meu lenço? As últimas palavras do narrador são “Ah Bartleby! Ah humanidade!”.
Muito triste, né? Mas o conto até que é narrado de forma leve. O tema é que é absurdo e melancólico (tem quem diga que seja uma metáfora de escritores que não querem escrever). No trecho em que Bartleby é deixado no escri eu me lembrei de uma das cenas mais tocantes que já li, a de O Jardim das Cerejeiras, de Tchekhov. Nela, a família aristocrática inteira deixa a casa do jardim, prestes a ser demolida. Mas esquece, e tranca lá dentro, o velho empregado fiel, Firs, que a serviu durante toda a sua vida, geração após geração. E Firs se conforma, pensando que será resgatado, enquanto resmunga por seu mestre ter esquecido de levar o casaco. Chuif. Chuif.
Mas aí, ao analisar “Bartleby” com minha turma de literatura, é que percebi por que o conto tinha me afetado tanto. E foi algo incrível, porque não veio de repente, e sim em etapas. De repente, ao falar da história, eu me recordei de um dos meus primeiros empregos, como secretária-júnior num escri perto de casa, em SP. Eu tinha dois chefes, um calmo e mais ou menos bonzinho, e outro um crápula total, desses que pedem pra secretária comprar presente pra amante. E na casa onde ficava o escri havia um lindo cão, um Whippet (aqueles bem magrinhos de corrida), que pertencia ao patrão bonzinho. O cão vivia sozinho, e eu, naquele ambiente hostil de escri (eu recebia ordens de umas quatro secretárias-sênior, e dos chefes também, e nem sempre as ordens coincidiam), me apeguei a ele. Ele começou a dormir em cima dos meus pés, embaixo da mesa onde ficava a máquina de escrever elétrica (era 1987, ainda não havia muitos computadores). O chefe estúpido se zangava com a presença do cão aos meus pés. Nos finais de semana, o escri fechava, e o Whippet era deixado trancado dentro da casa. Eu ia lá dar banho nele, brincar, levá-lo pra passear. Pedia pro chefe bonzinho que o levasse pro seu sítio, onde havia outros cachorros. Como o escri era ruim pra se trabalhar, eu não nasci pra secretária, e não suportava o chefinho vilão, aproveitei uma greve geral para não ir trabalhar. O chefe-vilão ligou pra casa, furioso, perguntando por que eu não estava no trabalho, e eu respondi: “Estou em greve”. Ele gritou: “Não, você não está em greve, você está despedida!”. Pouco depois, felizmente, o cão foi pro sítio.
Um cão que podia muito bem ter se chamado Bartleby. Ou Bartleby era eu? Ou somos todos.
Queria ser sua aluna.
ResponderExcluirPô, Lola. Não conheço ninguém que leia "Moby Dick" torcendo pelo Ahab. Talvez pela baleia. Mas o centro do romance é a jornada interior de Ismael.
ResponderExcluirBom, o seu argumento sobre Austen é o mesmo da Virginia Woolf, né? Temas masculinos são "universais", temas femininos são "menores". Mas agora me toquei que não li Austen, nem nenhuma das Brontë, nem Wharton. Tá, vou botar na minha lista. Mas você podia incluir "Moby Dick" na sua lista também. :-)
E o "Cavaleiro" - sério que você prefere o conto? É mais engraçado, claro. Mas o personagem é um sujeito tão desprezível! Esse sim, não dá para torcer.
Lola, aproveita e poe na sua lista "Cem anos de solidao". Recomendacoes do Oliveira. Ta lembrada dele? Nao é so pq vc acha que espanhol seja lingua de pobre que vcvai desprezar essa obra-prima.
ResponderExcluirAh proposito adorei seu texto. Amo falar sobre literatura. Pq vc nao fala mais de D.H. Lawrence? Eu amo "O amante de Lady Chatterley".
Ops, vou ter que confessar que...sim eu torci pelo Ahab quando li Moby Dick pela primeira vez...
ResponderExcluirDeve ser pq minha consciência ecologica não estava tão desenvolvida (foi a quase duas decadas)ou pq toda aquela obsessão vingativa dele me envolveu.
Tb prefiro o conto orignal do Cavaleiro Sem Cabeça.
Pena que meu ingles seja muitooo fraco.
Isso é uma das coisas que preciso melhorar.
Foi há quase duas décadas, Lord Andersen.
ExcluirQueria ser aluna tb!
ResponderExcluirLola, li uma versão infantil de Moby Dick aos 8 anos e me senti satisfeita. Não pretendo ler aquele calhamaço nem tão cedo. rsrsrsrs
Quanto a Austen, não dou conta! Não consigo terminar Orgulho e Preconceito de jeito nenhum.
Ah, continue falando mais de literatura ,vai! Delícia de post!
um beijo
Eu só li o Bartleby no ano passado, pq li o Moby Dick na adolescência e odiei. Enfim... Achei a coisa toda tão espetacular, e calhou de eu estar, na época, passando por um processo meio estranho de ansiedade, toc, essas coisas de doido, sabe? Que o livro caiu como uma luva - meio incômoda, é verdade - pro que eu tava vivendo. E explicava melhor q eu as angústias dessa vida. Tem livros que são assim, icônicos na vida da gente.
ResponderExcluirAh, eu também queria ser professora de quem queria ser minha aluna! Não que eu esteja reclamando: minhas alunas e alunos, principalmente os de Literatura, são ótimos, interessados, queridos. Hoje é o primeiro teste deles, vamos ver como se saem.
ResponderExcluirAlmanaque, putz, esse argumento é da Virginia Woolf? Eu vivo repetindo isso, e já ouvi de tantas fontes que não lembro mais que a original seja a Woolf. É uma reclamação constante de quem ensina Literatura e faz parte dos "culture wars". Aliás, isso vale não só pra literatura, mas pra tudo: temas masculinos são de interesse universal, temas "femininos" (por que casamento seria um tema apenas femininino, se mulheres se casam com homens?) são... femininos.
Sobre Cavalheiro, não acho o conto nenhuma maravilha, mas adoro as descrições de comida, de como o Ichabold Crane é descrito como um glutão arrogante e ridículo, e de como ele é influenciado por superstições. O cavalheiro não existe no conto, é só imaginação do Ichabold. Mas no filme eles nos mostram o cavalheiro decepando 155 cabeças, o lugar onde o cavalheiro vive, suas origens, etc etc. Acho um filme bem fraquinho. Só se salva a direção de arte. E a fotografia.
Juliana, não consegue acabar de ler Orgulho e Preconceito? Mas é uma delícia de ler! A linguagem da Austen é gostosa, me faz rir. Bom, sou suspeita pra falar, adoro ironia.
ResponderExcluirFabiana, taí: Bartleby parece a leitura perfeita pra quem tem TOC!
Lola,
ResponderExcluirvocê tá boa de juntar com o Charlie Brown! Numa série de tirinhas, ele passa as férias de verão todinhas enrolando pra ler Moby Dick e aí, no último dia, fica sentando na frente da TV na vã esperança de que algum canal, quem sabe?, vai passar uma adaptação do livro pra televisão...
Alguns clássicos são assim mesmo. A pedra no meu sapato atende pelo nome de Ulysses. Vou ficar devendo essa pro James Joyce. :P
abraço
Mônica
@madamemon
Por que só quem tem Twitter pode saber? Compartilho com vcs do blog tb o que coloquei hoje no Tw:
ResponderExcluirUm leitor do jornal catarinense em que escrevo, A Notícia, me enviou carta publicada na Cartas dos Leitores. Eu rio, mas fico impressionada. Diz a carta: “[Lola] tem todo o direito de ser materialista e desfrutar a vida segundo suas crenças pessoais de consumismo e luxúria. O que lhe falta é bom senso e respeito pelas pessoas que trabalham e têm família, e não têm como viver uma vida de artista como ela, que pôde até escolher em que país morar”.
E aí, Joguinho dos 7 Erros, anyone?
Eu gosto de Jane Austen e tb acho Orgulho e Preconceito facil de ler.
ResponderExcluirLola falando em ironia vc ja leu Douglas Adans e seu Guia de Mochileiro das Galaxias?
Sei que ficção cientifica não é muito a sua area de interesse, mas aqui ela é só uma desculpa p/ um desfiles das mais cinicas e devastadoras ironias que eu ja vi.
O artigo do Estadão sobre trolls é incompleto e superficial, mas tem uma parte que eu PRECISO decorar:
ResponderExcluir“A melhor forma de se proteger contra os trolls é entender que, de um jeito ou de outro, a piada só tem graça quando a vítima se sente atacada – e revida. Ao primeiro sinal de trollagem, descarta-se a possibilidade de argumentação razoável. O mais esperto a fazer é entender que cada nova resposta alimenta e revigora o troll.”
E pretendo, talvez pra quinta, se der tempo, escrever um post sobre este post sen-sa-cional que li hoje. Adoro quem fala sobre assuntos sérios e consegue ser hilário.
"And since a novel has this correspondence to real life, its values are to some extent those of real life. But it is obvious that the values of women differ very often from the values which have been made by the other sex; naturally, this is so. Yet it is the masculine values that prevail. Speaking crudely, football and sport are ‘important’; the worship of fashion, the buying of clothes ‘trivial’. And these values are inevitably transferred from life to fiction. This is an important book, the critic assumes, because it deals with war. This is an insignificant book because it deals with the feelings of women in a drawing-room. A scene in a battle-field is more important than a scene in a shop — everywhere and much more subtly the difference of value persists. The whole structure, therefore, of the early nineteenth-century novel was raised, if one was a woman, by a mind which was slightly pulled from the straight, and made to alter its clear vision in deference to external authority."
ResponderExcluir"A room of one's own", by Virginia Woolf
eBooks@Adelaide
2009
http://ebooks.adelaide.edu.au/w/woolf/virginia/w91r/chapter4.html
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLola, amei seu post. Fala mais de Literatura, fala. Sou obcecada por Poe. Mesmo. E Austen eu leio um por semana, repetidos mesmo, só pra lembrar como é inteligente ser irônica. Estofo. Mas, confesso, gosto mesmo e muito de Moby Dick e dos arrotos de macho do Hemingway. Você já leu Banquete com os Deuses, do Verissimo? É um jeito leve de tratar de grandes ícones e referências literárias e cinematográficas. Quem sabe você gosta. Bjs
ResponderExcluirPS. Quando é que eu vou poder votar no post da Rita?
Eu não conhecia esse Bartleby, e também não gostava de Ahab, mas já cheguei a escrever sobre o livro. Vendo este teu post, lembrei-me do artigo e fui buscá-lo, vou postá-lo aqui, mas antes...
ResponderExcluirNão gostei da Jane Auste, Orgulho e Preconceito, Senso e Sensibilidade (ela sabia fazer títulos, em inglês soa melhor), mas na altura que a li, procurava por livros com conteúdos eróticos para as minhas sessões de onanismo, mas ela não os tinha. Além de mais, não conseguia entender o pai daquelas meninas d' Orgulho e Preconceito, o costume deles não fazia menos sentido para mim.
O Monte dos Vendavais é o único das Bronte que li, e esse sim, impressionou-me sobremaneira, porque esperava mais condescendência de Heathcliff (ou lá como se escreve) e ele revelou-se-me odioso.
Amante de Chaterley, hum!, pareceu-me sobrevalorizado; boa escrita, mas considerando que foi proscrito por causa do erotismo que se lhe atribui, eu acho que isso foi uma injustiça, pois mesmo alguns romances-técnicos de Irving Wallace são mais eróticos... bem considerando a época... (oh, Fanny Hill!)
Quanto a Moby Dick, eis o que escrevi:
Quando eu tinha 14 anos li o Moby Dick de Herman Melville na versão juvenil, e não gostei lá muito, aliás, não gostei nada, pois não via piada nenhuma num tresloucado que saía do seu território para ir arpoar uma baleia no território desta, parecia-me o abuso dos colonizadores, hoje parece-me o abuso americano; era como ler uma tourada.
Mas como sempre deparo com Moby Dick como uma das obras-prima dos clássicos da literatura, tanto em outros livros, como em filmes, achei que devia lê-lo de novo, acreditando que hoje estou mais maduro literariamente falando. Entretanto, o livro era volumoso, 660 páginas, o que me mete medo logo à primeira, e de uma certa maneira parece-me um desperdício, pois posso ler seis livros no mesmo espaço de tempo que vou gastar para ler esse, o que é mais económico e frutífero (se os seis não forem livros de Paulo Coelho).
Entretanto, resolvi não economizar e ler o Moby Dick. O que dizem na síntese sobre o livro é que se trata da história de um pescador que tenta a todo custo caçar a baleia que lhe comeu a perna (e foi isso que mais fez com que eu não tivesse decidido a lê-lo), porém, essa descrição é uma injustiça ao livro, pois que Moby Dick é muito mais profundo que uma história de ódio e obsessão.
Ainda estou a ler o livro... ainda só li dois sexto dele, mas garanto-vos que é uma leitura que vale a pena. Parece um manual de pesca, mas tirando essa parte técnica, está a revelar-se uma viagem no espírito humano.
E para acrescentar mais palavras digo que a prosa do autor é esplendida, as vezes muito simplista e outras muito arranjada, mas apanhando-lhe o ritmo é cativante.
P.S.: Só não gostei que tivesse chamado a um preto de anjo das trevas (mas perdoo-lhe isso, porque ele é um fruto da sua época).
Bem, uns dois dias depois larguei a obra, porque tornou-se chata pa caramba, não parecia um manual de pesca, era mesmo um manual de pesca, tinha um parte onde ele falava de peixes que parece um piscis-zoólogo (ou lá como os doutos os diriam), eu julgava que lhe tinha apanhado o ritmo, mas cansei-me a meio. Definitivamente para mim, não é um bom livro, mas se se procedesse a cortes, era uma obra, talvez não prima, mas sobrinha.
E fiquei com vergonha de dizer ao pessoal que tinha abandonado o livro, depois do elogio precipitado que lhe tinha tecido, e ainda mais, tinha melhorado o artigo para escrever mais quando concluísse a leitura. Mas isso ensinou-me esta lição: podes falar mal de um livro que largar pela metade, mas nunca fales bem de um livro cuja apenas metade leste.
ResponderExcluirE já de Hemingway, não sei, ele é um Nobel, mas nunca consegui gostar dele, li três livro onde ele descreve a luta de um pescador com um espardate gigante (ou lá não sei que peixe), li Fiesta, e lembro-me o engraçado que foi num dos seus livros enquanto ele criticava um determinado escrito através de um personagem, eu usar as suas própria palavras para pensar em como não gosto dele.
Naquela altura antes de dizer que não gostava de um escrito tentava ler as obras deles, li 4 Hemingway, 5 Paulo Coelho, e senti-me no direito de não gostar deles.
Conselho meu: leia Moby Dick, sem medo. O livro fala sobre tudo, menos de caça às baleias. Fala de religião, sociedade, família, política, amor, economia, biologia, antropologia e até mesmo de metafísica. Só não há quase nada sobre baleias, com exceção do capítulo final.
ResponderExcluirMoby Dick é uma obra-prima justamente por isso: parte de uma mera caçada à baleias para discutir a própria existência do homem na Terra.
Sensacional!
Não sei, Crow, o Moby Dick que eu li, descrevia pescas e como!
ResponderExcluirEu comecei por admirar a obra exactamente por esse ponto onde nos concordamos: a viagem no universo interior humano. Mas quando alegorias, metáforas, e outras tantas figuras de estilo se misturam com a "linearidade" (não sei o termo correcto) torna-se difícil separar a subjectividade da objectividade.
De qualquer forma, a última vez que li o livro foi há quatro anos, e desde essa altura cresci um bocado mais, se ganhar coragem e seguir o teu conselho talvez me surpreenda... mas talvez eu não aguente leituras difícies.
Achei tudo tão triste... Ainda bem que teve um final feliz, o do cachorro.
ResponderExcluiroff topic ( ou não? como diria o Caetano...)
ResponderExcluirVc poderia publciar - ou enviar - a bibliografia que vc montou para o curso?
beijocas.
Lola,
ResponderExcluirTotalmente fora de tópico, mas quando vi a notícia lembrei de vc:
http://br.noticias.yahoo.com/s/13092010/25/mundo-berlusconi-diz-mulheres-busquem-maridos.html
Só o início, pra saber do que se trata:
"O primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, aconselhou as mulheres jovens a casarem-se com homens ricos. O líder italiano garantiu que sabe bastante sobre as mulheres e também sobre dinheiro."
Lola, falando em livros, o que tu achou daquela história toda do pastor americano que queria queimar o Alcorão?
ResponderExcluir(Pergunto isso porque, de minha parte, não consigo ser a favor de queimar qualquer livro; imediatamente me vem na cabeça a queima de livros na Alemanha em 1933, me parecendo que quem queima livros se torna um pouco mais parecido com nazistas.)
Nã, Koppe, quem queima um (?) livro parece-se mais com um cristão. Volta um bocado para trás na história, papas e pastores fizeram-no.
ResponderExcluirEsse pastor é apenas um fundamentalista convencido de ser o único a possuir a verdade, tal como o outro lado do espelho cujo livro ele quer queimar. Mas, pior, sabes, é que o pastor pertence a uma sociedade que, supostamente, é sustentada na ética grega, progenitora da cultura ocidental. O mundo árabe não tem a ética (de Aristóteles), "liberdade, fraternidade e igualdade", não diz muita coisa lá, de tal maneira que de uma certa forma se percebe porque são tão... fodidos de cabeça. Mas quando um supostamente ilustrado ocidental age da mesma forma... ui!, assusta mais.
http://ashikodi.blogspot.com/2010/02/anti-islamismo.html
Lola, eu sou mais da Linguística do Discurso que da Literatura, mas sempre adorei as aulas. Na verdade muitas vezes me fascinava muito mais a paixão que esses professores tem pela literatura e as interpretações e comentários maravilhosos que faziam, que os livros em si. Vai ver que com seus alunos que se identificam mais com outras áreas, também seja assim.
ResponderExcluirUm conto que gostei muito e que li uma vez pra uma disciplina, foi A volta do parafuso do Henry James, não sei se ele se encaixa nesse estilo, mas a tensão e o suspense que o autor conseguiu criar, eram incríveis...
A relação com os clássicos é complicada. Dentro do próprio curso, muitas vezes me pergunto se tanta unanimidade em relação a algumas obras é mesmo real ou se é mais um medo de ir contra a corrente. Talvez uma professora como você, que não vê problema em dizer que não leu ou não gostou de determinado clássico, seja exceção. Já presenciei várias vezes certos alunos e até professores, fazendo discursos tão inflamados a respeito de determinada obra, mas aparentemente tão decorados, que eu não me espantaria se alguns nunca tivessem realmente lido uma página do que estavam tanto elogiando... Acho que esse é um dos fatores que também me fez afastar da Literatura como disciplina de estudo, mas ainda gosto muito de ler.
Abçs Lola!!
Lola, que saudade do seu blog! Voltei quando Giovanni me falou que você apareceu na MTV. Bom, adoro literatura e acho que meu sonho é ser você quando crescer (mas sem consumismo e luxúria, hahaha). Como mera professora de inglês tenho o sonho de ver meus alunos se interessarem por leitura! Sempre passo no "Elementary" White Fang e "The call of the wild" apesar de muitos poucos só enxergarem "aquela história do cachorro". E no "Pre-Intermediate" tive muito sucesso com "Dracula", mas deve ser porque os vampiros estão na moda de novo. Snif.
ResponderExcluirComprei Moby Dick há um tempão, mas ainda não consegui ler (acho que preguiça). Poe é sensacional e a cara do Johnny Depp como Ichabod é muito boa, mas nunca li o conto.
Quando eu abrir meu próprio curso de inglês só vou usar Readers...Beijos!
Pentacúspide, sei disso. Inclusive em Atos 19:19 existe uma apologia à queima de livros, numa situação mais grave ainda, já que do Alcorão existem cópias, enquanto os livros queimados em Éfeso boa parte eram únicos e se perderam pra sempre.
ResponderExcluirMinha identificação com o texto também foi parecida com a sua, Lola. Eu era secretária de uma escola de línguas e saí para fazer a licenciatura dupla (que chocava com os horários em que eu trabalhava). Pois bem. Surgiu uma vaga para monitora de inglês e eu passei. Eis que eu teria que trabalhar diretamente com a mesma equipe da escola de línguas (era a escola da faculdade), só que agora numa atribuição diferente. Só que os professores pareciam não entender isso, e continuavam a me pedir coisas que eu fazia em tempos de secretária. Daí eu conversei com minha orientadora direta, que me aconselhou a ser educada e apenas responder 'i would prefer not to', hahahahaha. Daí que pouco tempo depois eu li o texto, na aula de literatura americana, e a identificação foi mais que imediata =D
ResponderExcluirSobre Melville, já leram o conto Billy Budd?
ResponderExcluirÉ uma obra dada como póstuma, que muitos julgavam perdida. Apesar da época em que foi escrita, trata-se de obra bastante polêmica, pois muitos críticos vêem conotações homossexuais no conteúdo da história, demonstrando que Melville sempre fora um desbravador com suas palavras.
Recomendo!
amo o escriturário. li no primeiro semestre, em TFL, e tudo o que eu pensava era:"putz, queria ser ele. aliás, eu sou ele."
ResponderExcluirmas minha paixão realmente é Poe. quanto a jane austen, acho que é fácil (li em inglês, apesar de nem ser fluente na língua em questão e mesmo assim adorei!)e muito gostoso de ler. e acho também que são histórias atemporais.
sabe um que me deixou angustiada? o velho e o mar. cara, é muito cansativo.
também queria ser sua aluna.
Onwn minha linda, amei o texto todo!
ResponderExcluirParabéns, peço permissão para publicar no meu sitio e citar a fonte: indicando teu sítio é claro!
Beijos!